quinta-feira, 6 de maio de 2010

Avatar II


Sistema Inteligentes 




É para mim a parte mais louca do filme. Porque atualiza todo os ritos primitivos dos iorubas, dos ameríndios e de tantos outros povos pagãos que viviam em ressonância direta com a natureza. O filme avança e mostra uma relação que é dita, falada pelos pajés, babalorixas, mas cuja apreensão nos é muito difícil, perceber: a natureza como luminosa, florescente, viva. O cara consegue dar pistas disso e conduzir os expectadores para uma analogia direta com os sistemas integrados e inteligentes. 

Na ficção científica hollywoodiana todos estes sistemas inteligentes referiam-se a máquinas, a computadores. Em determinado momento eles ficavam inteligentes e dominavam os humanos: Matrix, Eu Robô, IA são os que eu lembro e trabalham nessa linha. 

Avatar abre para um sistema inteligente orgânico, no qual tudo e todas as coisas estão interligadas, associadas. Toda natureza dialoga com todos os seres viventes. Predador e presa, árvores e bichos, humanos e animais compõem uma rede sistêmica na qual todos se afetam, se comunicam e compartilham de um mesmo princípio inteligente. A sabedoria esta no reconhecimento dessa conexão e no uso consciente da mesma. Aqui a piração foi total, porque recordei de uma psicografia que estávamos fazendo sobre o povo africano. E a moça que passava as mensagens chamava esse mundo de Encantado. E pelos olhos dela, eu ia vendo o Encantado. A saber, a natureza viva. Toda planta, todo bicho, cada arvore como sendo um ser brilhante, luminoso, falante de suas potencialidades e de seus usos. Nada era secreto, nada tinha segredo. Elas estavam lá falando do que viram, do que sabem, de onde vieram, dos nossos antepassados, em especial aqueles que conseguiam ver o mundo assim. Tão bem retratado, ilustrado em Avatar. 

Em Avatar além deles nos levarem para esse mundo encantado, luminoso, no qual a natureza é viva, inteligente e comunicante; eles exploram o recurso ficcional das "fibras óticas" para mostrar como se dá essa conexão. Cada ser teria em si mesmo o seu plug com os demais seres. Mostrando relações que seriam exclusivas e outras que poderiam ser coletivas. O filme então descortina um universo energético, campos energéticos que ignoramos, que desprezamos, mas que estão aí. Os índios ao montar em um cavalo dialogam com a alma dele, os indianos ao tirarem leite da vaca dialogavam com a alma delas, os africanos ao caçarem dialogam com a alma do animal a ser abatido. Tudo se conecta. Tudo se encontra conectado e integrado. 

Esse processo de conexão fica melhor representado quando da tentativa de cura da doutora. Ali tudo se une, inteligentemente, harmonicamente. É belo. 

É um filme belo. Não vi os recursos de 3D que são revolucionários. Não sei das pistas e do mito e a saga do herói captada por muitos. Para mim o fundamental é que foi o primeiro filme de grande produção que vê a natureza como um sistema integrado, inteligente. Com isso re-estabelece e da um novo olhar para as ditas culturas primitivas que sempre souberam disso. Ali no filme se aposta que não há necessidade de desacordo entre tecnologia e natureza, que evolução se faz com blocos de cimento ou com chips de silício; o filme aponta, diretamente, que tecnologia se faz com alma. Avançado tecnologicamente são os povos que sabem utilizar da sabedoria da natureza, a adaptando e a alterando de forma harmônica. Foi isso que Somater me disse em 1996, quando eu lhe pedia e reclamava que todo mundo recebia técnicas alienígenas e eu nada. Ele me mostrou o que eles entendiam por tecnologia e ficamos passeando por lugares e paisagens muito similares as de Avatar. Lugares com imensas grutas, grandes arvores, lagos, flores, no qual nunca faltavam o céu e o ar livre, nunca. E as possibilidades de cada povo ali eram imensas, os usos do magnetismo e de outras forças eram espantosas devido às impossibilidades instrumentais, mas os lagos eram telas de LCD, ou de plasma, as arvores eram bibliotecas digitais, eles viam e liam tudo o que havia para ser lido e visto, isto no nosso passado muito recente e igualmente muito distante. 

Depois ele me levou a lugares no qual havia grandes prédios, imensos laboratórios, todos os lugares hermeticamente fechado, higienicamente limpo, tudo branco, alvo, quase translucido. Eram imagens perfeitas de laboratórios científicos e logo pude reconhecer que se tratava de alta tecnologia. Qual não é a minha surpresa ao ver que estávamos no umbral. Tecnologia de ponta, que vem da exploração e extinção dos recursos naturais, da utilização de mão de obra escrava, da exploração do trabalho, da supra valorização da inteligência em detrimento do emocional e espiritual, enfim da desarticulação entre os seres humanos e os outros seres vivos. Os humanos dominam tudo e ficam maquinais. Otto Lara Resende ao fazer uma visita aos países desenvolvidos na década de 60 voltou de lá com um comentário que Nélson Rodrigues imortalizou: " o desenvolvimento humaniza as maquinas e maquiniza os homens." 

Creio que Avatar seja o primeiro filme de ficção que quebra esse ciclo. É o primeiro que re-integra os humanos a natureza. Aponta para a necessidade de se ter e de se criar corpos em melhores condições para suportar a energia luminosa do espírito. Mostra que uma civilização não precisa destruir a outra, elas podem cooperar mutuamente e aprenderem uma com a outra. Eu presto homenagens a Avatar, que se transforme em febre, que ative na memória de cada humano do planeta um momento no qual se vivia em harmonia com a natureza e tinha-se um profundo desenvolvimento tecnológico. Nem sempre instrumental, mas às vezes também. 

Kélsen André




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