quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Complexo de Alemão/5

5. Psiq. Grupos de idéias inter-relacionadas que tem um denominador emocional comum o qual influencia, significativamente, as atitudes e comportamentos de um individuo.
Solução? Não há mais solução, cara. A própria idéia de "solução" já é um erro. Já olhou o tamanho das 560 favelas do Rio? Já andou de helicóptero por cima da periferia de São Paulo? Solução como? (Marcola).

Quando comecei a psicografar sobre o trafico, para mim os mentores espirituais me levariam para ver as refinarias, as fabricações, as negociações. Para mim, eu veria e saberia os esquemas dos empresários envolvidos, das autoridades, etc. Nada disso. O entendimento do trafico e analise sobre as drogas realizadas pela espiritualidade eram mais amplas do que quem vende, quem compra. Eles mostravam como as drogas eram e são o novo “médium” da humanidade, outros nos alertavam de como estávamos diante de uma das pragas do apocalipse e em vão ficamos a espera de gafanhotos, outros nos mostravam como essa energia adentrava o mundo televisivo, cinematográfico, fonográfico, de maneira geral a tonica era mostrar como havia uma articulação muito bem estruturada entre as entidades envolvidas com o trafico, seja neste ou em outro plano e não havia a menor articulação, sequer ocupação daqueles que se opunham a esta energia. Era frustrante ver como éramos incipientes, inocentes, ignorantes acerca das drogas e estou pensando em professores, médicos, pais, policiais. Nós não nos inteirávamos dos sustentáculos do trafico e era esse alerta que eles desejavam passar.

Numa dessas aprendizagens mais marcantes fui conduzido a uma comunidade fluminense e lá assistíamos um grupo de encarnados, negociando com desencarnados, aumento na porcentagem dos lucros. Saí de lá sem entender o que encarnados e desencarnados poderiam ter para negociar. Semanas depois, quando retornamos numa operação “desmancha e desfaz”, percebi que a negociação era sobre vidas humanas, ectoplasmas. O trafico real é o energético. Para encarnados o dinheiro, para os desencarnados o sangue, a crueldade, alimentado a base de chacina e barbaridades, independente de quem a pratique- policiais ou traficantes. Tudo alimenta o mesmo grupo.

Assim, mesmo preso, os caras sentem-se soltos, porque a energia que isso alimenta é enorme. A sensação de poder proporcionada é imensa. Para encarnados e desencarnados o poder, o controle, a sensação de onipotência, a arrogância confiante, produz uma sensação de indestrutibilidade.

O ponto é que é uma ilusão acreditar que fazendo um combate brutal e mortal contra o trafico se ganha alguma coisa. É igualmente um erro acreditar que o poder da organização é material. Em sua grande maioria, os traficantes no controle são controlados por entes desencarnados. De maneira, que sem orientação espiritual, nenhum combate ao trafico resulta em êxito. Por outro lado combate-lo já é uma perda, pois é do sangue, do medo, da raiva, que ele se fortalece.

Bjs em todos.

Complexo de Alemão/3



Confuso, complicado, intricado. [opõe-se a simples].

Mais que isso, eu sou um sinal de novos tempos. Eu era pobre e invisível. Vocês nunca me olharam durante décadas. (Marcola).
Quando o helicóptero da policia sobrevoava aquela centena de homens armados, correndo, a opinião publica não teve dúvidas... Duvidas do que? Deveriam ter fuzilado todo mundo.

Um amigo me contava que academia na qual malha não teve outro comentário: por que não fuzilaram todo mundo? Meus colegas de pelada, também não entendiam porque não realizaram a execução sumária. E a resposta tímida, às vezes energéticas e férricas se referiram ao helicóptero da Globo, sobrevoando lado a lado com a da policia e filmando tudo ao vivo. Para todos o helicóptero da Globo foi o impossibilitador do massacre, da chacina, do extermínio. O helicóptero da Globo e o grupo de reportagem, de repente, se tornaram o super-ego da população brasileira. Mas o desejo da mass media era o do massacre. O desejo era o do Call of Duty. O desejo era de que os traficantes pagassem com a vida e com o sangue todo sangue e vida que derramaram e retiraram.

E é isto que me parece confuso. A opinião publica, a mídia em geral têm a certeza de que se matando traficantes no morro, com idade média de 15 a 24 anos resolve-se o problema do tráfico no Brasil. Em nosso imaginário não temos dúvidas de que penalizando com a vida, seja com a introdução da pena de morte, seja por extermínio, como já faz a policia; os traficantes de chinelo de dedo, metralhadoras israelenses e moto importada, venceremos o trafico no Brasil e resolveremos esse problema na América Latina. Seria fácil se fosse tão simples. O México partiu para essa linha de enfrentamento ao trafico e perdeu e esta perdendo. A Colômbia nem precisa mencionar. Diferentemente do Estado, o traficante pode agir fora da lei e a margem dela. O Estado, mesmo contra esse traficante, tem que agir dentro das leis que ele afiançou e garantiu. Isto quer dizer que os cartéis podem partir para o esculacho das vitimas, já o Estado de posse do traficante tem que preserva-lo e garantir o direito a vida e a plena defesa. Coloco mais uma resposta de Marcola:

Vocês é que têm medo de morrer, eu não. Aliás, aqui na cadeia vocês não podem entrar e me matar. Mas eu posso mandar matar vocês lá fora. Nós somos homens-bomba. Na favela, tem cem mil homens-bomba. Estamos no centro do Insolúvel, mesmo. Vocês, no bem e eu no mal e, no meio, a fronteira da morte, a única fronteira. Já somos uma outra espécie, já somos outros bichos, diferentes de vocês. A morte para vocês é um drama cristão numa cama, no ataque do coração. A morte para nós é o presunto diário, desovado numa vala. Vocês intelectuais não falavam em luta de classes, em "seja marginal, seja herói"? Pois é: chegamos, somos nós! Ha, ha. Vocês nunca esperavam esses guerreiros do pó, né? Eu sou inteligente. Eu leio, li 3.000 livros e leio Dante. Mas meus soldados todos são estranhas anomalias do desenvolvimento torto desse país.”
Guantanamo só é possível a mentes fascista como a de Bush. A repressão ao trafico realizada no esculacho ao traficante, só é possível, quando o policial assume para si que é também a vitima vitimada, o carrasco e o juiz. E tal pratica, por mais legitima que seja ao individuo, ela é desastrosa enquanto sociedade civil e organizada. Simplesmente porque iguala o Estado àquilo que ele deveria combater e se opor.

Então como se combate o trafico? a- Evitando a corrupção, b- acabando com a criminalização do usuário, c- impedindo a lavagem de dinheiro, d- fazendo pressão sobre os barões do trafico. E no RJ criou-se uma quinta alternativa, que foi a ocupação pacifica, mas mantendo a presença do Estado nas comunidades. Da para imaginar um local no qual a policia, o carteiro, o funcionário público de forma geral não tinham acesso a mais de 8 anos? Esse era o complexo do alemão, na verdade um campo de concentração em que encontravam-se moradores aterrorizados e vitimados por esse muro de Berlim invisível, mas compacto. E a perversidade dessa lógica que se estabelece contra esse morador, esse trabalhador é surreal. Primeiramente, o Estado lança o desprezo, em seguida os traficantes feudalizam a área, finalmente o Estado tenta retomar os campos invadidos lançando sua Gestapo para trucidar e cercear todos os campos de concentração. O que somente a população percebe e entende é que ela é a única vitima de um mesmo desmando e autoritarismo, seja ele do Estado, seja ele do poder paralelo.

De maneira que, enquanto não empreendermos as reais ações, internacionalmente até, de enfretamento as questões das drogas, vamos ficar com nojo e querendo matar garotos de 22 anos. Estaremos também permitindo que policiais morram nessa luta inglória na qual nem um e nem outro são os verdadeiros inimigos. Enquanto se fecha os olhos os tentáculos do trafico abraçam e açambarcam múltiplos espaços. Aqui em Bh temos um vereador oficialmente eleito pelo trafico. Temos um senador usuário de cocaína, para muitos, dependente. No Rio temos uma bancada eleita pelas milícias. No Brasil como um todo, na América Latina de forma especial é difícil encontrar autoridades que não tenham ligação com algum cartel ou grupo de traficantes. A CPI do narcotráfico deu um breve apanhado: empresários, juizes estaduais, federais, deputados estaduais e federais, prefeitos, sargentos do exercito, da marinha, da aeronáutica, policiais federais, civis e militares. Não houve um ramo no qual o trafico não estivesse presente e atuante. Mas o empresário que faz a conexão Brasil-Africa, Brasil-Europa com uso de submarino já foi citado alguma vez? Respondeu por algo alguma vez? Os oficiais da Marinha que envolvidos com o trafico perderam seus cargos? O agricultor que a cada 10 hectares de terra que possui planta um de maconha e agora expande negócios para terras bolivianas com a coca é chamado de traficante? O químico que auxilia no processo de refinamento da coca é traficante? O garoto que na balada vende dez comprimidos de estase e distribui outros quinze para amigos é traficante?

No entanto, é melhor acreditarmos que o Fernandinho Beira Mar tem uma plantação de coca no quintal da casa dele e que o Elias Maluco com a sua frota de avião transporta para ele da Colômbia até a chegada no Brasil. Daí em diante o Marcinho VP com seu submarino transporta para a Europa e Marcola distribui por uma outra rota para África e América. É triste acreditarmos, que o trafico se resolve com a prisão do traficante preto, sem camisa, chinelo de dedo, corrente de ouro no pescoço, seja ele psicopata ou sociopata, como os mencionados acima, ou não. O problema começa a ser solucionado quando se prende quem ganha o que ganha no atacado e não no varejo. Quando se enfrenta a movimentação e a especulação que essa gente faz no mercado imobiliário, no mercado financeiro. Porque para criaturas normais a moeda do mundo é o ouro e o dólar, mas no mercado paralelo, a cotação é dada pela grama da coca.

Independente disso, fato é que quem opera essas grandes quantias, seja pelo mercado de armas, de drogas, de seres humanos nunca foram presos em lugar nenhum do mundo. Melhor, já foram, mas em seguida substituídos por outro Cartel, ou seja, é publico e notório, em todo mundo, que quando o Estado derruba um Cartel, geralmente, o que esta acontecendo é uma luta tácita por um novo acordo percentual da distribuição internacional do mundo das drogas. O que esta acontecendo realmente é uma nova sucessão de poder. Nessa disputa policiais vão para frente das metralhadoras, traficantes para o fundo da vala e poderosos dos dois lados, que são um lado só, lucram alto. A população, os ingênuos continuam perdendo e acreditando que a solução é metralhar os fuzilados da vida. Digo isso, porque no processo de pacificação do Rio tem ditos marginais peliculosos, irrecuperáveis trocando o trafico para serem ajudante de pedreiro. O que vem ao encontro da pesquisa da Onu que ressalta que a violência não é derivada da pobreza, e sim, da falta de oportunidade e possibilidade.

O descaso do Estado fez com que a única distribuição de renda dentro das favelas fosse o trafico. Numa lógica maluca, todos ganham: do fogueteiro ao dono da boca. Dentro dessa mesma lógica todos morrem- do dono da boca ao fogueteiro.

Complexo de Alemão/2


2. Observável sob diferentes aspectos.


Vou dar um toque, mesmo contra mim. Peguem os barões do pó! Tem deputado, senador, tem generais, tem até ex-presidentes do Paraguai nas paradas de cocaína e armas. Mas quem vai fazer isso? (Marcola)
Aqui é uma visão que não me permitiu um sono calmo e tranqüilo. Em grande parte do mundo, senão no mundo inteiro, a policia tem uma banda podre. No caso da policia carioca é o inverso, lá se encontra uma ala honesta, eles são minoria. A promiscuidade das relações da policia do Rio com toda fonte de poder paralelo pode ser vista e entendida pelas milícias, armadas, paramilitares, formada em sua maioria por policiais e ex-policiais. A história é simples: depois do arrego do trafico, eles resolveram administrar as coisas por eles mesmos. Expulsaram os traficantes e passaram a traficar. Como isso ainda era pouco bizarro, eles passaram a cobrar proteção de comerciantes, moradores, fazer todo tipo de gato (contradição já que são ratos). Enfim, dominam e amedrontam as favelas, comunidades que um dia ajudaram a libertar.

No livro a “Elite da Tropa” o autor nos informa, que a chegada do Papa provocou ações higiênicas nas periferias cariocas. Buscou-se mais do que nunca diminuir os índices de violência, nem que para isso fosse preciso a falseação de dados. O falecido Michael Jackson para realizar as suas filmagens teve que contar com os beneplácitos do trafico. Tudo isso sinaliza para uma relação de parceria entre o trafico e o poder oficial, de forma um nunca contrariar o outro. Todavia, a apreensão de 8 toneladas de drogas, armas, motos no complexo do alemão indicam que o enfraquecimento do CV é o fortalecimento do Estado. A pergunta que tira o sono é: dede quando no estado do Rio há um estado desatrelado do poder paralelo? Se não há, enfraquecer o comando vermelho fortalece quem? Talvez em outro livro como “A Elite da Tropa” ou quem sabe em Tropa de Elite 6 viemos a saber.

Complexo de Alemão

Por complexo, assim diz o Aurélio:


(cs) adj. 1. Que abrange ou encerra muitos elementos ou partes. 2. Observável sob diferentes aspectos. 3. Confuso, complicado, intricado. [opõe-se a simples]. 4. Grupo ou conjunto de coisas, fatos ou circunstancias que tem qualquer ligação ou nexo entre si. 5. Psiq. Grupos de idéias inter-relacionadas que tem um denominador emocional comum o qual influencia, significativamente, as atitudes e comportamentos de um individuo.
Todos os significados se aplicam a favela do alemão e tentaremos discutir cada uma delas, ou especialmente algumas; como a de complexo pela ótica da pisq. As epigrafes foram retiradas de uma entrevista que Marcola, integrante do PCC deu ao Globo ou a Folha de São Paulo, não sei mais:

http://acertodecontas.blog.br/atualidades/entrevista-com-o-lider-do-pcc-marcola/

1. Que abrange ou encerra muitos elementos ou partes.

Olha aqui, mano, não há solução. Sabem por quê? Porque vocês não entendem nem a extensão do problema. Como escreveu o divino Dante: "Lasciate ogna speranza voi Che entrate!" Percam todas as esperanças. Estamos todos no inferno." (Marcola)
Falando de Dante e a sua descida aos infernos, trago aqui parte de minhas lembranças em um trabalho que desenvolvemos em desdobramento e psicografia anos atrás. Já faz quase uma década, que psicografamos um livro, cujo tema central era o tráfico. O inusitado, no entanto, é que o trafico referido era energético. O que conduziu o trabalho para as searas da prostituição e da mediunidade, temas que também se associam a trocas ectoplasmaticas.

Entre o contato com o mundo espiritual e o cruzamento de dados com o mundo físico é notório a muitos, que o trafico de drogas, de órgãos, de animais, de pessoas, de armas, assim como o mercado da pornografia são os que mais rendem lucros e dividendos no comércio mundial. A estranheza dos fatos é que esse mercado ilícito abastece e financia o dito mercado licito, de forma promiscua e escandalosa. Sendo que o rastro deixado dessa promiscuidade é a famosa lavagem de dinheiro. No entanto, a lavagem de dinheiro, anda ganhando níveis de sofisticação e de cumplicidade com o mercado formal, que já não se distingue mais dinheiro licito de ilícito. O efeito colateral mais recente dessa promiscuidade foi dada com o crash do mercado imobiliário americano, levando a bancarrota as bolsas do mundo todo.

Exemplo de como esse mercado funciona seria pela supervalorização dos imóveis. Valorizam-se os imóveis para que quanto mais caro eles ficarem, maior a possibilidade de se lavar o dinheiro em uma transação: única, legalizada e até mesmo com aval bancário. É notório para compradores e vendedores que o imóvel vendido não é compatível com o valor real cobrado, pelo contrário, mas... É desse lastro econômico que se efetiva e se efetua a lavagem do dinheiro. É uma matemática bizarra, lucrativa apenas para uma parcela minúscula e prejudicial para o mundo inteiro.

Em um cruzamento de dados talvez fosse possível fazer uma associação do Bum imobiliário com a contravenção. E como não poderia deixar de ser, este mercado pelo poderio econômico acaba colonizando outras esferas, como a política, a judiciária, a de comunicação. Finalizando, este é um mercado que infesta a todas as localidades do mundo. Especificamente, no Brasil, informações de Wálter Fanganiello Maierovitch dão conta da infiltração cada vez mais influente da Nadrinheta, máfia italiana, diretamente relacionada ao trafico de drogas, a lavagem de dinheiro, a corrupção, etc...