sexta-feira, 10 de junho de 2011

Sssssilêncio



Lipovtiski no seu livro “A era do vazio” nos diz que constituímos uma sociedade de surdos. Refere-se o autor a amplificação do som, seja em casa, nos bares, nos carros e acompanhado dele vem também os ruídos. Dentro dessa mesma ótica, a principio oposta, mas em sua essência correlata, utilizamos fones de ouvido, celulares, cada um como demonstração do individualismo da nossa sociedade. Demonstração de que o próximo a mim é alguém que ignoro, de que se vejo, pelo menos não escuto. Estamos cada vez mais ensimesmados. Mas a minha questão ao escrever tudo acima é me perguntar: alguém hoje sabe o que é silêncio? Acredito que muitos passam a vida inteira sem nunca terem feito silêncio.

Os meditadores têm uma máxima famosa: “antes de meditar o mundo era claro e eu escuro, depois que passei a meditar o mundo ficou escuro e eu claro.” Essa frase representa a situação de pavor que o silêncio provoca e produz. Os primeiros momentos de imersão no silêncio é similar a adentrar a escuridão. Fugimos tanto de nós, de um contato conosco mesmo, nos entorpecemos tanto com as vozes de fora, que nos ouvir é uma dor, um sofrimento, uma luta, uma batalha, um tormento. Mais do que provocar bem estar emocional, espiritual, o silêncio produz fobias, síndromes das mais variadas. Há pessoas que tendo escutado por uma única vez uma voz interna que irrompeu das suas profundezas não mais saiu de casa, nem de si mesmo, tentando impedir essa voz de voltar a falar.

Mas se falo do silêncio, preciso distingui-lo do silêncio da boca, do silêncio do corpo, até mesmo o dos pensamentos, eu quero focar é o silêncio da alma. É estranho chamar isso de silêncio, porque em verdade é a escuta de SI MESMO. Mas, para a gente se escutar, todos os canais a nossa volta precisam se silenciar. É como se fosse um comando no qual desativássemos nossos controles autômatos e abríssemos para um comando instintivo, natural, espontâneo. Igual quando se pisa no espinho e recolhe-se o pé e grita-se ai. Ações imediatas. O silêncio aproxima e conecta o pensar-falar-agir como uma única função, um único estado e não três distintos e antagônicos. Pensa-se uma coisa, fala-se outra coisa e age de uma forma que nem se pensou e nem se falou.

Diante de tudo isso, os amigos me passaram a orientação de me silenciar por um minuto antes de iniciar qualquer atividade. Ou seja, antes de iniciar qualquer ação, parar um minuto e fazer silêncio. Antes de dirigir: um minuto de silêncio. Antes de comer: um minuto de silêncio. Antes de iniciar as aulas: um minuto de silêncio. E como é difícil. Como que em trinta segundos temos a impressão de que seremos engolidos pelo mundo, de que tudo esta andando, correndo e você parado. De forma que essa prática eu não consegui levá-la adiante, não consegui incorporá-la a minha rotina e ao meu cotidiano. De todo modo ela me ajudou a refletir o quanto a nossa pressa, a nossa busca é sem sentido. Por isso ela é cada vez mais célere. Quanto menos sentido tem nossa vida, mais rápido precisamos ser. Porque se houver um minuto de intervalo, esse non sense se volta sobre nós na mesma velocidade que fugimos dele. É uma energia paradoxal, porque se corre dela para que ela não nos alcance, mas é justamente por correr que ela nos alcança. Se estivéssemos calmos, tranqüilos, na nossa, esse nada que funga nossos cangotes, passaria. Como estamos a mil por hora a gente o gera, o produz e conseqüentemente, somos engolidos por ele.

Que tal um dose de silencio, uma vez por dia?

Bjs em todos. Eu vou tentar voltar para a prática. 

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