terça-feira, 15 de novembro de 2011

O câncer e poder: Lula e o SUS



O que sempre desconfiamos se revela e se mostra com uma clareza cristalina: o poder come por dentro. Devora as entranhas. E sobre esse prisma que quero pensar três tipos de câncer e três tipos de personagens afins entre si e afins para uma parcela esmagadora de brasileiros, EU DISSE DE BRASILEIROS e depois retomo a distinção. Retomo agora, mas antes preciso salientar que falo do câncer de José de Alencar, Dilma Roussef e Luís Inácio da Silva.
O nome José de Alencar me remete ao escritor romântico, que desenhou o Brasil valente, cordial, nas suas penas. Zé foi esse homem, nascido pobre, construiu um império. Mas, o importante do império construído por ele era a beleza que seus funcionários ( dois deles me contaram) da humanidade e brasilidade que ele tinha no trato ao semelhante. Rico, patrão, podemos dizer burgues, nunca foi coronel, nunca foi senhor feudal modalidade tão afeita os nossos "homens bons". José de Alencar era um tipo raro, uma espécime rara, porque mesmo rico, podre de rico, sempre se viu brasileiro. Sua riqueza, sua grandeza econômica, política, social, trabalhista vinha disso: foi um brasileiro, nunca cuspiu na sua própria imagem e jamais permitiu que cuspisse na frente dele.  
Dilma é uma mulher de posses, de renda, mas com um sentimento de brasilidade. Dilma desde a juventude, talvez antes, soube o que é nação, o que é Brasil. E assim, identificada a uma causa, lutou contra a ditadura, lutou e luta pelo sentimento de igualdade. Um sentimento que a elite desse país nunca se identificou. Eles desconhecem completamente o que seja isso.
Luis Inacio da Silva, Lula. Homem que aprendi a amar, a admirar, vendo minha mãe o apontado com o dedo para a televisão, lá em 1979, 1980; quando professores aqui de Minas faziam greve e minha mãe grevista me falava de Ducci, Carlão e outros tantos, que mais tarde, ou, concomitantemente, viriam a fundar o Partido dos Trabalhadores. Hoje PT, um partido como qualquer outro. Cresci vendo o “sapo barbudo”. Cresci vendo sua coragem, sua crueza, sua mudança, ele ficou mais polido. O Lula de 1989 teria causado uma guerra civil, que eu lutaria lado a lado com ele. Teria feito reforma agrária na marra, teria deixado que toda a avenida Paulista e adjacências pegasse o avião e apagasse a luz ao sair. Mas, o Lula de 2002 era outro.
Mentira, era o mesmo e o seu câncer na laringe mostra o tanto de sapo que ele engoliu. Mostra, claramente, o tanto de sapo que ouviu. A mídia desse país e aí estamos falando do PIG (Partido da Imprensa Golpista) o atacou de todas as formas, de todos os jeitos, de todas as maneiras e ele não revidou. Obama e os democratas revidaram aos ataques da Fox, Sarkozy revidou aos ataques dos jornais franceses, Berlusconni implantou uma ditadura na Itália, Ivo Morales, Chaves fecharam jornais, Aécio demitiu jornalistas; Luis Inácio engoliu os ataques, a má vontade, a fúria, o ódio daqueles que não são brasileiros, NUNCA SERÃO.
Sim, essa é a grande temática do nosso país. Os brasileiros são os que não têm direito de ser. Os brasileiros são os mulatos, os crioulos, os mamelucos, os cafuzos, os com-fusos perdidos na identidade que ninguém ousa assumir. Já que os portugueses sempre desejaram ser ingleses, depois franceses; atualmente americanos. Nesse não lugar, os nascidos aqui das miscigenações nunca tiveram lugar. Nunca se teve um sentimento de identidade. Nunca nos abraçamos com a sensação de sermos filhos de uma mesma pátria, uma mesma mãe. Cada brasileiro é um bastardo renegado a sua sina e a sua sorte. Olha para o outro como um não igual, como que pertencente a um não lugar, que ao invadir o território, o juramos de morte. Os lugares no Brasil são muito bem definidos. A Casa Grande para os brancos, a senzala para os negros e entre um e outro, os sem lugar.
Esse ódio esta cada vez mais visível. Abre-se a internet e a lemos, a vemos, a ouvimos. Essa elite e hoje ela tem cara, tem rosto, tem cheiro, tem conta bancaria, mas o pior, tem seguidores raivosos, furiosos, que pedem para o presidente metalúrgico, nordestino, mulato, pobre, analfabeto ser tratado no SUS.
Finalizando:
O nordestino, o sapo-barbudo, o metalúrgico, o "comunista comedor de criancinhas", tem que tratar sua doença no SUS. Ele deve voltar ao lugar dele. Esse maldito que ousou fazer distribuição de renda. Ousou mostrar que os sem lugar nunca desejaram tomar a Casa Grande, tão pouco, submeter-se as condições da senzala, os sem lugar desejavam um tratamento de igualdade aos seus irmãos que habitam os dois territórios ocupados. E nessa vacância, sonham, desejam, que a pátria seja mãe de todos e para todos. Mas não pode!
Eles nunca cederam, eles nunca deram, eles nunca dividiram e nunca lhes foi tirado, a não ser por roubo, fúrias individuais que aumenta as desigualdades e mazelas coletivas. Esta na hora, passou da hora, deles cederem se não por regras democráticas, pelas balas de fuzis. Fato é que os filhos dos pretos, dos pobres, dos nordestinos, dos favelados, precisam parar de chorar por injustiça.
Quanto ao tratamento do meu presidente, espero que ele engula menos sapo. Espero que os seus se identifiquem com ele e pensem: “será justo pagar com a própria alma, o próprio corpo, para que os urubus se saciem? Até quando vamos tolerar que os bons sucubam para que a corja maldita tenha overdose? Até quando suportaremos que enquanto trabalhamos, eles nos oneram e nos chicoteiem?” A recuperação de Lula passa inclusive por falar o que pensa, seja para os amigos traidores e canalhas, seja para os canalhas e traidores que sempre foram desafetos e inimigos.
Quanto as redes anti-sociais, toda essa coragem furiosa é porque de fato somos coletivamente cordatos. Claro que tem um nordestino com faca nos dentes, um homossexual com gilete na boca, um negro com arma na cintura; mas ainda não aprendemos a atirar na pessoa certa, a sangrar a elite correta. Enquanto isso, somos massacrados como se fossemos minoria, suportando o incentivo covarde e silencioso de uma mídia e grupo de pessoas que vociferam o tratamento do presidente da Republica no SUS, mas não para que se garanta a igualdade e sim para que se demarque o lugar de cada qual. Afinal, alguém pediu que José de Alencar tratasse lá? Alguém pediu que Dilma se tratasse no SUS também? Alguém mencionou isso para Mário Covas? Alguém sugeriu isso para Rute Cardoso? Algum dos raivosos já esbravejou por um segundo, melhores condições de tratamento para os milhares de brasileiros que passam por esta doença e a indiferença burocrática, social e estatal? Não me recordo. E para refletirmos ainda mais sobre isso, Cristovam Buarque tem um projeto de que os filhos dos políticos estudem em escola publica, nunca ouvi nenhum clamor da elite para que isso seja votado. Nenhum movimento raivoso, irado na redes sociais. A res-publica (coisa de todos) só é validada entre nós para colocar cada um no seu lugar, isto é, os pretos, índios, pobres no SUS e a elite na rede privada, seja de aposentadoria, de saúde, de educação. Sempre há o deles e o do resto, o dos outros, o dos não iguais. Não iguais, porque embora eles façam questão de registar a diferença, eles nunca respeitam o diferente. 
De todo modo, quero acreditar que o gigante esta levantando, e nessas horas, as terras mudam de dono, o capital de lugar, as igrejas de crenças. Sangue rola, cabeças são perdidas, literalmente. E uma nova ordem se instala. A Republica se instituí. 



Um comentário:

  1. Genial!! Dois artigos de carta capital edição de 4 de dezembro, abordam a mesma temática, com a mesma elegância.

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