domingo, 1 de janeiro de 2012

3-o processo do envelhecimento: educando o corpo para a morte.



 Como a ordem do dia é a eterna juventude, Barbie, Vampiros e tantos outros- a velhice e a morte são esvaziadas. A tradição é perdida e posta de lado, mesmo porque na sociedade da pressa, da ultrapassagem, das invenções e descobertas, qual o lugar do velho? Se tudo é novo, tudo é fast, todo hoje já é ontem. Qual o valor do velho, da velhice?
Ao que parece não há lugar para sabedoria, para experiência acumulada, para anciãos. A memória boa não é a que guarda e sim a que deleta. A memória deve estar aberta para receber novas informações e não ficar guardando conhecimentos, possivelmente desnecessários.
O paradoxo disso é que estamos inseridos numa cultura da morte, justamente porque nada é eterno, nada é permanente, nada é para sempre. É uma sociedade em que tudo esta em constante mudança e até a mudança tem que mudar. O fluxo do tempo não pode ser simplesmente contínuo, ele precisa ser acelerado.
O lado mais latente desse paradoxo é a mensagem indireta que confessa e revela: “tudo é descartável, não se pode prender a nada, a ninguém”. Não se forma elos, vínculos. Há grupos e propósitos movidos por interesses em comum. Quando o interesse é alcançado o elo é rompido, a sociedade, o contrato é desfeito, desmanchado. De modo que de forma geral as relações são descartáveis, estão aí o aumento do número de divórcios que não me deixam mentir. Assim, como as novas relações entre pais e filhos- ninguém se prende a ninguém. Não nos prendemos mais nem as convicções religiosas. Muda-se de religião conforme a conveniência. Quero trair meu marido, mas a igreja falou que é pecado, encontra uma na qual não seja. Os desígnios antes eternos e perenes se adéquam ao meu interesse e vontade momentânea. Chega de acreditar no sofrimento para obter o reino dos céus e chega de ficar esperando tanto tempo por minha casa, meu emprego; mudo de igreja para que as transformações ocorram mais rápido. É um mundo fast.
Tudo isso não é ruim, mas ainda não é bom, já que não se distingue o outro do objeto. Já que não sabemos distanciar ou até mesmo compreender a violência que é ser tratado e tratar o outro como objeto de meu uso e do meu desejo. Objeto de posse, de relação descartável.
Assim, o impasse alcança a sala de aula, afinal a proposta de ensino é voltada para o alimento da alma, ao preenchimento de um vazio que devora todos os humanos. Mas se toda uma sociedade se volta aos valores do corpo, se rendem e devotam tudo ao corpo, um novo deus passa a ser adorado e novos profetas a discursarem sobre as maravilhas do novo reino dos céus. O reinado é consagrado na posse, no ter em detrimento da partilha e do ser. Abre-se, na verdade, alarga-se uma outra forma de evolução. Completamente baseada no corpo, no ter, na aparência, no mercado, na publicidade e propaganda. Na vendagem de si mesmo. A outra linha evolutiva que se deu na partilha, na solidariedade, na cumplicidade, na criação de laços amorosos, na explicitude do ser, no amor ao próximo, no respeito ao outro é paulatinamente, posta a margem. Afinal pra que amar e respeitar o outro?
Esse é o vazio atual. Mais do que um vazio é um dilema, um paradoxo que nos toma e nos preenche. O que nos torna humanos é podermos ser além do corpo. Sermos ele, com ele, mas além dele. Quando nos identificamos ao corpo somos bichos, “animais morais”. E na normatividade selvagem não há nenhuma razão para convivermos com a dor, a velhice e a morte sem devorá-las. Os mais fracos devem ser abatidos e subtraídos. O que nos faz humano, volto a insistir é que diante da dor, da velhice e da morte constatamos a nossa fragilidade diante da natureza. Fragilidade que as conquistas tecnológicas escamoteiam, mas não retiram. Somos frágeis, somos seres que doemos, envelhecemos, morremos e poucos sabem como atenuar essa angústia do corpo, esse apelo para que se de a ele não medo, não regras, mas compreensão e consciência de que ele é parte de uma estrutura maior.
São poucas as escolas que garantem essa formação, esse preenchimento do vazio, mesmo porque, professores não estão imunes a ele. Simplesmente, na busca insandecida pelo gozo do corpo, pela satisfação imediata do desejo, não há o que se ensinar, vivencia-se o ABSURDO no sentido existencialista. Nada se ensina, porque educa-se para as sensações e as mesmas são mutáveis, variáveis, fluidas, inconstantes.  
É um bom momento para se viver, mas também não é ruim morrer depressa. É um momento que apresenta um novo paradigma e como tal precisamos construir, criar nova forma de nos educar, de nos manter equilibrados e em equilíbrio com o todo que nos cerca.
Bjs em todos.

2 comentários:

  1. De fato, não respeitamos mais os velhos. É uma pena!!

    ResponderExcluir
  2. Sim, de certa forma tememos a velhice e o que ela representa, simboliza.
    Abraços.

    ResponderExcluir