segunda-feira, 26 de março de 2012

Chico Anisio/Personagens



II
Sinto a falta de Chico, porque sinto falta do humor. A palavra humor me parece com húmus, humanidade. Um estado de espírito maior, um olhar maior para a vida. Algo que umedece o espírito, amplia e irriga a humanidade. O humor de hoje é carregado de indelicadeza, de aspereza, o humor de hoje quando não é uma ofensa é uma humilhação. Não tem finesse, sensibilidade. Falta no humor de hoje graça e inteligência. Porque o riso não é o mesmo que o humor. As vezes o humor prescinde da risada. O ser humano, naturalmente, ri da ofensa, da desgraça, da humilhação do outro. Mas, o humor.... o humor alegra nossa alma, desperta em nós uma consciência, uma ciência, que não tínhamos e possuíamos. O humor acende algo em nós. E aí os personagens de Chico são geniais.



Justo Verissimo: “Pobre tem que morrer. Pobre vive de teimoso.” Podem não acreditar, mas a criticidade política da minha e dos meus colegas veio desse personagem. Ali aprendíamos o olhar que a classe política, mediante os seus feitos, nos direcionava. Não era um dito entre eles, mas era um feito contra nós, que Chico ampliava e nos fazia ver.

Haroldo era o personagem que eu mais gostava: “sabia que eu te mordo, eu te mordo todinha, você sabia? Te mordo e te arranho!” Esse era um gay que agora se dizia hetero. Tinha uma “amiga” que o chamava para voltar para o reduto. Haroldo é um símbolo belíssimo, divertidíssimo. Fala dos conflitos, do dilema em assumir a homossexualidade, na busca patética em querer ser hetero para agradar a sociedade. Jean (ex BBB) na sua marcha contra a bancada religiosa da câmara federal, poderia lançar Haroldo como sendo o homossexual curado pelo poder do divino espírito santo, a pomba louca.
Estranho, que a mesma simpatia que eu tinha por este personagem, eu não tinha pelo Coalhada. Aquele jogador de futebol fracassado, alcoólatra, me perturbava, me incomodava. Mas é um símbolo recorrente. Na minha adolescência poderíamos falar de Josimar (lateral direito), hoje podemos pensar em Adriano, Jobson e tantos outros.


Jovem foi a referência discursiva minha e dos meus colegas. Jovem fez uma aproximação entre nós e nossos pais. “Pô pai, jovem é outro papo!” nos mostrava a singularidade de nosso discurso, as vezes até a baboseira e a sandice dele.


Professor Raimundo o preferido de muitos, da maioria era o espaço em que Chico manifestava sua solidariedade com antigos colegas esquecidos, novos colegas que chegariam. Tom (Canabrava) foi um que teve as portas abertas e como não poderia deixar de ser diferente, a fechou na cara de Chico. Nerso da Capetinga. Era um quadro genial.

Alberto Roberto era mais do que o Máximo. Era o excepcional. Para mim a representação do artista que se acha. Pena Luana Piovani nunca ter visto Alberto Roberto, talvez ela se situasse um pouco mais, ou melhor, um tanto menos, bem menos. Aquele ator cuja época já tinha passado, que vivia de um glamour que já não possuía mais. No entanto, tirava sarro dos próprios artistas: “novela das sete! Novela das oito!”

Alguns eu nunca entendi ou gostei, como Beto Carreiro o vampiro brasileiro que era de um sucesso estrondoso, mas que eu não achava graça.

E meses atrás quase liguei para meu filho, que gosta de imitação, gosta de humor, para ver Chico. Hoje tem o pessoal do stand up e eu fico pensando: “por favor, voltem a sentar! Façam humor sentados” Como esta cansativo esse humor sem graça, esse humor que acredita que rir é ridicularizar e caracturizar o outro. É um humor sem graça, como o humor do Pânico, do Zorra Total e tantos outros por aí. O que não significa que não tenha talento, eles só não tem graça, embora aqueles que assistem consigam rir. 

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