II
Sinto a falta de Chico, porque sinto falta do
humor. A palavra humor me parece com húmus, humanidade. Um estado de espírito maior,
um olhar maior para a vida. Algo que umedece o espírito, amplia e irriga a
humanidade. O humor de hoje é carregado de indelicadeza, de aspereza, o humor
de hoje quando não é uma ofensa é uma humilhação. Não tem finesse, sensibilidade. Falta no humor de hoje graça e inteligência.
Porque o riso não é o mesmo que o humor. As vezes o humor prescinde da risada. O
ser humano, naturalmente, ri da ofensa, da desgraça, da humilhação do outro. Mas,
o humor.... o humor alegra nossa alma, desperta em nós uma consciência, uma ciência,
que não tínhamos e possuíamos. O humor acende algo em nós. E aí os personagens
de Chico são geniais.
Justo Verissimo: “Pobre tem que morrer. Pobre vive
de teimoso.” Podem não acreditar, mas a criticidade política da minha e dos
meus colegas veio desse personagem. Ali aprendíamos o olhar que a classe política,
mediante os seus feitos, nos direcionava. Não era um dito entre eles, mas era
um feito contra nós, que Chico ampliava e nos fazia ver.
Haroldo era o personagem que eu mais gostava: “sabia
que eu te mordo, eu te mordo todinha, você sabia? Te mordo e te arranho!” Esse
era um gay que agora se dizia hetero. Tinha uma “amiga” que o chamava para
voltar para o reduto. Haroldo é um símbolo belíssimo, divertidíssimo. Fala dos
conflitos, do dilema em assumir a homossexualidade, na busca patética em querer
ser hetero para agradar a sociedade. Jean (ex BBB) na sua marcha contra a
bancada religiosa da câmara federal, poderia lançar Haroldo como sendo o
homossexual curado pelo poder do divino espírito santo, a pomba louca.
Estranho, que a mesma simpatia que eu tinha por
este personagem, eu não tinha pelo Coalhada. Aquele jogador de futebol
fracassado, alcoólatra, me perturbava, me incomodava. Mas é um símbolo recorrente.
Na minha adolescência poderíamos falar de Josimar (lateral direito), hoje
podemos pensar em Adriano, Jobson e tantos outros.
Jovem foi a referência discursiva minha e dos meus
colegas. Jovem fez uma aproximação entre nós e nossos pais. “Pô pai, jovem é
outro papo!” nos mostrava a singularidade de nosso discurso, as vezes até a
baboseira e a sandice dele.
Professor Raimundo o preferido de muitos, da maioria era
o espaço em que Chico manifestava sua solidariedade com antigos colegas
esquecidos, novos colegas que chegariam. Tom (Canabrava) foi um que teve as
portas abertas e como não poderia deixar de ser diferente, a fechou na cara de
Chico. Nerso da Capetinga. Era um quadro genial.
Alberto Roberto era mais do que o Máximo. Era o
excepcional. Para mim a representação do artista que se acha. Pena Luana
Piovani nunca ter visto Alberto Roberto, talvez ela se situasse um pouco mais,
ou melhor, um tanto menos, bem menos. Aquele ator cuja época já tinha passado,
que vivia de um glamour que já não possuía mais. No entanto, tirava sarro dos
próprios artistas: “novela das sete! Novela das oito!”
Alguns eu nunca entendi ou gostei, como Beto
Carreiro o vampiro brasileiro que era de um sucesso estrondoso, mas que eu não
achava graça.
E meses atrás quase liguei para meu filho, que
gosta de imitação, gosta de humor, para ver Chico. Hoje tem o pessoal do stand
up e eu fico pensando: “por favor, voltem a sentar! Façam humor sentados” Como
esta cansativo esse humor sem graça, esse humor que acredita que rir é
ridicularizar e caracturizar o outro. É um humor sem graça, como o humor do
Pânico, do Zorra Total e tantos outros por aí. O que não significa que não
tenha talento, eles só não tem graça, embora aqueles que assistem consigam rir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário