quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Karma, controle e amor: relacionamentos




A vida poderia ser bem mais fácil se a gente não a complicasse tanto. E o que complicamos na vida? Isso, de ela não ser do jeito que a gente espera, que a gente programou, de ela insistir em ser diferente. Os filhos não são como a gente deseja, os animais não faz o que a gente espera, o patrão não reconhece nosso valor, Deus não revela para os outros nossos talentos, a namorada não sabe falar russo; enfim.... a gente pensa uma coisa e parece que existe outras vontades no universo além da nossa. Frustrante não? O filho, os pais, os namorados terem vida própria. Até os animais de estimação ter vida própria. Pior de tudo ainda é Deus sabendo do seu esforço, da sua dedicação não colocar o mundo conforme a SUA vontade. Eu te entendo, não se desespera não.
Tenho atendido pessoas vivenciando o fim de relacionamentos, dos mais diversos: amorosos, sexuais, familiares, matrimoniais, filiais- relacionamentos. Os amigos do espaço colocam isso na conta do fechamento de ciclo no qual estamos vivendo. Segundo eles, pede-se neste momento, que cada qual assuma, de forma consciente, com muita vontade e desejo, o que quer. A pergunta que se faz é: não era assim antes? Infelizmente não.
Consciência nunca foi a moeda mais usada nos relacionamentos, sendo que a dimensão karmica deles é justamente essa, a falta de consciência nas escolhas.
Quando falo de karma estou falando mesmo de uma força atrativa que independe da vontade, do querer, um imã que atrai e que arrasta ‘ferros’ em sua direção. De forma análoga, nos relacionamentos somos arrastados uns para os outros, paixão, amor, química, feromônios; independente do nome estamos falando em todas as instâncias de uma atração que nem sempre se dava de forma consciente. Um autor do mundo esotérico chamou isso na década de 90/00 de “amor químico”. De todo modo, perguntados depois o que estávamos fazendo juntos, grudados uns aos outros- não respondíamos, não sabíamos. Não tínhamos consciência. Também não tínhamos liberdade, consequentemente, tínhamos pouca responsabilidade. Cumpria-se um dever, uma obrigação, que foi muito útil, auxiliou demasiadamente para criarmos uma atmosfera mais amigável. Afinal, quando um inimigo de morte dá o próprio ventre para que um desafeto nasça, retorne à carne, por pior que tenha sido a relação, ela foi exitosa.   
Hoje essa atração esta menor, ou seja, a força gravitacional, conseqüentemente karmica esta dando um refresco. Isto abre espaço para a consciência deliberar o que deseja, o que quer. E isto tem sido um transtorno terrível. A maioria de nós não é que não sabe o que quer, a maioria de nós nunca se permitiu realizar. A realização do querer sempre foi possível para poucos. A dinâmica karmica se fazia de maneira a muitos desejarem para apenas um concentrar essa energia e a realizar. Hoje, essa energia que estava concentrada em poucas pessoas esta aberta, mais fluida, passou a ser um código aberto, pode entrar, pegar, ficar a vontade. E justamente nisso nos perdemos.



Sempre fomos controlados. Alguém sempre teve o controle. Esse código aberto nunca esteve nas mãos dos próprios indivíduos. Aliás, fazer uso desse querer sempre foi tido como algo pecaminoso. Acesar isso era vender a alma ao diabo, fazer pacto com o maléfico. Conquistar as posses do mundo: física, econômica, sexual é para muitos um tipo de blasfêmia, de impostura, de perdição da alma. Poucos de nós sabemos o que fazer e como fazer nesse mundo cujos controles existentes são basicamente internos em que cada um de nós com nossos condicionamentos recebidos, com nossa cultura herdada, demarca até onde podemos ir.
Mas, este é apenas um lado da dinâmica, o outro advém da nossa dificuldade de soltar, largar, deixar o outro ir, ou seja, garantir ao outro a liberdade de se responsabilizar por suas escolhas sem poder colocar a culpa nas costas de terceiros. Não poder culpar terceiros por nossos atos amedronta muito mais do que sentir-se preso. Referente a isso, estamos vendo, lendo, ouvindo o aumento dos casos passionais. É difícil para uma série de pessoas reconhecerem que as mulheres deixaram de ser ferro- atraídas, puxadas em direção a um pólo masculino, isto é, reconhecerem que elas têm desejo e vontade. Na visão de muitos, quando uma mulher escolhe a separação, supõe-se que só pode ser porque ela esta traindo, afinal, como ela poderia ser sozinha? Uma rápida digressão e já volto:
{Conversando com Primavera percebi que as mulheres não têm corpo. Primeiramente, o corpo delas é do pai. Depois, este cede a mão para o marido. E no nosso imaginário, uma mulher não pode ser sem esse pertencimento. Elas não têm o direito de se apropriarem do próprio corpo delas, pelo menos não sem receber a alcunha de puta, vadia, vagabunda. Principalmente, das próprias mulheres. Não estou querendo dizer que a separação emancipa as mulheres. Mas a separação pode dar a mulher o entendimento tardio do que o sexo masculino descobre no primeiro olhar que os pais lançam para o filho: vai fazer o outro de objeto do seu gozo. Nascer homem em uma cultura machista já garante esse direito de fazer o outro objeto. Sendo homem, branco, adulto, hetero, rico esse poder parece não ter limites, freios. Pode-se tudo, o restante se compra. Mas isso é assunto para depois.}
Retornando.... Parece que os caras pensam, ou melhor, não pensam, mas se fossemos racionalizar o instinto, depurando-o e destilando-o ao máximo é algo nessa linha reflexiva que acontece- a mulher não é apenas a sua primeira propriedade privada, como é também uma parte dele. No nível do instinto é algo tão infantil, tão primário que é de fato selvagem e animalesco. A saída desse outro da vida dele é como uma amputação. A simbiose é tão profunda, a dor é tão grande, que nem ajuda esses caras conseguem pedir. Naquela aparente superioridade que eles exercem sobre as parceiras, escondem uma fragilidade inominável, porém similar a uma criança pequena com medo do escuro, do abandono, da vida. A diferença é que essa criança tem a força de um adulto e mata, ameaça, se este ser (seu objeto) quiser ir embora. Em suma, ele não tem a menor ciência de que ele é um ser individual e a sua companheira, seus filhos são outros seres igualmente individuais. De uma forma estranha, tudo é ele. E ele tem um direito divino de matar, cercar, cercear conforme o seu prazer ou a sua vontade.
De todo modo eu lido pouco com esses casos, a não ser no que se referem minhas alunas que as incentivo: saiam fora antes de entrar. Os casos que estão no meu cotidiano são o de dois seres que se amam, que se gostam, que se respeitam, mas que um ou os dois já não sentem mais tesão na transa. Sentem tesão em viajarem juntos, em conversarem sobre os filhos, em falarem sobre trabalho, em discutirem a política nacional, mas na cama.... algumas vezes fazem sexo pensando e imaginando outras pessoas. E quando essa outra pessoa sai da imaginação e ganha corpo, suor, toda essa relação de parceria, companheirismo descrita acima, azeda, mas por quê? Por que damos ao sexo essa importância toda? Na verdade, qual o lugar e a importância do sexo na relação?
Difícil de dizer, porque o sexo é a paisagem mais obscura de nossa cultura. Tudo gira em torno dele, mas nada sobre ele é dito diretamente. Tudo que esta envolto ao sexo é classificado como impuro, sujo, profano, pecaminoso. Os casais compartilham muitas coisas, mas os desejos profundos, as fantasias indolentes, sensuais são guardadas a sete chaves, às vezes, até da gente mesmo. Mas, afinal qual o peso do sexo numa relação para que devido a ele jogue-se tudo fora?

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