sábado, 19 de janeiro de 2013

JE$US S.A



 Vários sites de notícias trazem a informação de uma pesquisa realizada pela Forbes, cujas intenções, metodologia, financiador não estão disponibilizadas. A pesquisa trata dos cinco pastores mais ricos do Brasil. Não fica claro se a renda refere-se a patrimônio individual ou se institucional. Independente disso, os números suscitam muitas questões e a principal delas é a relação entre fé e negócios.

Sempre tivemos uma relação equivocada com a fé. Poucos viram ou entenderam que historicamente o avanço da fé, seja ela qual for, só é efetiva se vier acompanhada de um avanço econômico. As cruzadas, os Jihads são exemplos disso. Embora tivessem milhares envolvidos por amor, cinco ou dez estavam envolvidos por dinheiro e eles conduziram as relações. De todo modo, nunca foi explicito a exploração da fé como um grande negócio.

Quero deixar claro, que a relação fé e negócios não é exclusividade de uma orientação religiosa e nosso país de moralidade católica isso é sempre complicado. Haja vista a campanha de desmoralização que o “movimento espírita” promoveu e promove contra os Gasparettos, que a igreja faz com os padres que ganham com a venda de livros e músicas. Assim, de início, eu gostaria de promover a censura e repudiar o fato deles movimentarem tanta grana; mas não vou. Minha questão não é essa e sim outra, já que não tenho nada contra as igrejas ganharem dinheiro. Não tenho nada contra as pessoas ganharem dinheiro, mas é que esse mercado é inusitado. Afinal, quando se compra um produto sabe-se bem pelo que esta se pagando. Esse produto é material, palpável, você leva para casa, consome pelo caminho, devolve caso não goste. Quando se paga por uma peça de teatro, um filme, um espetáculo isso é mais imaterial, mas ainda temos alguma coisa que garante a relação de reciprocidade, sabe-se pelo que se pagou. Na fé isso é complexo. Pagamos pelo que? Recebemos o que? Ofertamos o que? Que troca é essa? Como estipula preço nessa negociação?

Eu já tive o hábito de ouvir Edir Macedo, pastor JJ Soares. Eles começam a falar e é difícil trocar de canal. Eles pela fala conseguem mudar a vida de muitas pessoas. como se avalia e ‘monetariza’ isso? Valdemiro Santiago libera ectoplasma até pela televisão. É um dos grandes médiuns de cura que já vi trabalhando. Mas, então, qual o preço disso? Se for para colocar preço numa vida resgatada, quanto se paga? Como transformar isso em produto?

Esse limiar é tenso, denso, difícil, complexo. Quero por um lado objetar a visão romântica, esdrúxula, covarde daqueles que postulam o “daí de graça o que recebeste de graça.” Que dinheiro é sujo e coisas do gênero. Esses nos seus discursos e nas suas práticas não conseguem retirar as pessoas da sua condição de submissão e miserabilidade. Repetem um discurso que por trás de uma aparente caridade, esconde a perpetuação da miséria, da pobreza, da fome. Essa moral escrava deveria desaparecer.

Nesse aspecto, o discurso evangélico é aos meus olhos mais benéficos do que o discurso católico. Assim como aos meus olhos o discurso da nova energia é mais benéfico do que o dos espiritistas. Esses novos discursos fazem a paz entre a fé e a prosperidade, entre o religioso e a riqueza. E o que reputo mais importante nesse discurso é a filosofia da abundância, da prosperidade. Nesse discurso as pessoas passam a compreender que são responsáveis pelas suas ações e atitudes e conseguem aceitar o fato de que uma casa espiritual tem custos. E aqui esbarramos em muitos imaginários.

O dinheiro é bom. É importante. Permite a cada um comprar aquilo que deseja. Retirou a sociedade da dimensão do escambo. Em todos os seguimentos aceitamos isso, menos no da fé. Achamos que a fé (por mais descrentes que somos) tem como dever marcar o lugar de um idílio no qual as relações de troca são feitas de maneira diferente. Não aceitamos que a fé funcione como mercado.  

Estamos acompanhando há no mínimo duas décadas uma transformação da fé.Sociologicamente, antropologicamente, nada mais natural se nos basearmos no modelo econômico que escolhemos viver. Há muito é sabido, até no reino mineral, que o mercado da fé é altamente lucrativo, sendo que Jesus é o produto mais rentável do ocidente. E nossa questão é: religião é um comércio? Jesus é um produto?

Para isso, categoricamente afirmo que não. Mas, então o que incomoda? Incomoda esse capital angariado não ser redistribuído. Ou se é não ser ainda mais. Incomoda o fato de esse dinheiro ser apenas de um e para um e não o capital de uma egrégora, a disposição de todos, porque é fruto do suor de todos. Porque dessa forma avançamos muito pouco, isto é, embora o discurso seja de prosperidade, a prática é ainda de miséria. A idéia é ainda de que tudo é para apenas um e não para outros mais. Isso esta longe de ser uma Eclésia, que dentro de uma perspectiva mercadológica poderia ser encarada como uma empresa S.A. No entanto, nos moldes assinalados, é uma empresa predatória, cujo trabalho é de todos, mas a lucratividade apenas de um.

Abaixo a reportagem reproduzida pelo Yahoo.

5. Estevam Hernandes Filho e sua esposa Sonia: Os fundadores da Igreja Apostólica Renascer em Cristo, Apóstolo Estevam Hernandes Filho e sua esposa, Bispa Sonia, supervisionam mais de mil igrejas no Brasil e no exterior, incluindo a Flórida. Juntos, o casal tem um patrimônio líquido estimado pelo site em US$ 65 milhões dólares, ou R$ 130 milhões. A publicação ainda lembra que em 2010, o astro do futebol brasileiro, Kaká, que era amigo do casal e membro da igreja, deixou a instituição, alegando que sua liderança fazia mal uso do dinheiro. Segundo informações, Kaká teria doado mais de R$ 2 milhões para a igreja quando era membro. (Foto: Divulgação)menos 

4. RR Soares: Segundo o site, Romildo Ribeiro Soares, ou RR Soares, é o mais ativo em multimídia entre os pregadores evangélicos. O religioso é compositor, cantor e televangelista. Como fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus, Soares é um dos rostos mais conhecidos na televisão brasileira. Com isso, sua fortuna estimada pela Forbes, é de US$ 125 milhões, ou R$ 250 milhões. (Foto: Divulgação)


3. Silas Malafaia: Líder da Assembléia de Deus, maior igreja pentecostal do Brasil. O pastor está constantemente envolvido em escândalos relacionados à comunidade gay. “Ele é defensor de uma lei que poderia classificar o homossexualismo como uma doença e é uma figura proeminente no Twitter, onde tem mais de 440 mil seguidores”, disse a publicação. A Forbes estima que sua fortuna esteja em US$ 150 milhões, ou R$ 300 milhões. O site também afirmou que Malafaia lançou uma campanha chamada “O Clube de Um Milhão de Almas”, que pretende levantar R$ 1 bilhão para sua igreja, a fim de criar uma rede de televisão global, que seria transmitida em 137 países. “Os interessados em contribuir com a campanha podem doar quantias a partir de R$ 1 mil, valor que pode ser pago em prestações. Em troca, os doadores receberão um livro”. (Foto: Divulgação)

2. Valdemiro Santiago: Após ter sido expulso da Igreja Universal do Reino de Deus, por algum desentendimento com Macedo, Santiago fundou sua própria igreja, chamada Igreja Mundial do Poder de Deus, que tem mais de 900 mil seguidores e 4 mil templos. Segundo estimativa da Forbes, seu patrimônio líquido é de US$ 220 milhões, ou aproximadamente R$ 440 milhões. (Foto: Divulgação)

1. Edir Macedo: O fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, que também tem templos nos Estados Unidos, é de longe o pastor mais rico no Brasil, com um patrimônio líquido estimado pela Forbes de US$ 950 milhões, ou cerca de R$ 1,9 bilhão. Macedo é escritor evangélico e já vendeu mais de 10 milhões de livros, todos ligado à religião. Seu grande investimento, porém, foi realizado na década de 80, quando adiquiriu o controle da emissora de televisão Rede Record, atualmente a segunda maior emissora do Brasil. Seus outros bens, segundo a Forbes, seria o jornal Folha Universal, o canal de notícias Record News, empresas do ramo musical, entre outros. (Foto: Estadão Conteúdo)

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