segunda-feira, 27 de maio de 2013

O que é um sonho?



Os japoneses estão criando uma máquina que decifra sonhos. É parecida com aparatos astrais que permitem e possibilitam adentrar os sonhos de outras pessoas. Na minha concepção a máquina falha, porque para eles o sonho é meramente uma função cerebral, um estado alterado da consciência (se é que acreditam na existência dela).

O sonho ao que tudo indica é mais. O sonho é a abertura para outra realidade. Uma realidade que ora é externa ao sujeito sonhador, ora é interna do sujeito sonhador, mas que invariavelmente independe. O interno e o externo têm cada vez se misturado mais e se confundido mais. Na ficção científica do mundo astral o sonho pode ser visto como uma função de onda, uma fenda orbital pela qual muitos seres que conseguem alargar esses espaços adentram. Similar ao filme Akira Kurosawa na qual adentra a tela de Van Gogh e vive aquele universo interno. Similar a uma sonda na qual utilizamos para visualizar o universo interno da pessoa. há máquinas nas quais conectadas aos lóbulos da pessoa consegue-se ver claramente seus pensamentos projetados numa tela. Os sentimentos são representando pelas cores e as emoções pelo odor. O conjunto de tudo isso é uma tela de cinema na qual entramos, caminhamos, ouvimos uma musica ser tocada. É algo inenarrável, mas vamos conseguir criar esse modelo no plano físico.

A percepção dos sonhos por essa ótica nos lançaria não mais para o mundo interno do sonhador e sim para a possibilidade de compreendermos o que são os universos paralelos e mundos multidimensionais. Vamos caminhar para essa direção, embora algumas compreensões conceituais sejam necessárias.
Basicamente, em Freud o sonho é um diálogo que a consciência, ou melhor, a inconsciência tem com seus recalques, seus desejos não manifestos. Nessa análise o sonhador é um sujeito no qual os objetos gravitam em torno da sua libido.


Em Jung os sonhos são representações simbólicas de estados ora individuais, ora coletivos. Nessa análise o sonhador é menos sexualizado e mais simbólico, ou melhor, nem tudo tem uma fonte sexual primária como advogou Freud, pelo contrário. E nesse contrário, o sonhador se identifica com todo o cenário, com todos os objetos e personagens que gravitam no seu sonho. Todas as representações são símbolos do self e da busca do sonhador em direção ao seu eu mais profundo.

Na concepção religiosa de cunho espiritualista o sonho é a emancipação da alma. O sonho não seria e não é um estado produzido internamente e sim uma comunicação na qual o espírito, fora da matéria corporal, recebe informações, viaja por lugares, encontra com parentes falecidos, vive a verdadeira vida.

No oriente de fundo budico o sonho é a ilusão, é Maya. O sonhar se equivale ao estado de vigília. É na meditação e pela meditação que o sonhador acorda, isto é, se ilumina; mais precisamente, compreende que tudo é sonho e é imperativo despertar dessas irrealidades.  

Essas concepções teóricas não conversam entre si. Somam-se a elas as descobertas neurológicas e fisiológicas do cérebro que apontam numa direção ainda mais mecânica e funcional dos sonhos. Numa direção quase inversa a apresentada pela concepção médica, mas nem tanto, temos a conscienciologia para quem o sonho acaba sendo a representação do estado de inconsciência social, espiritual, ética, no qual estamos. Nesse modelo, nada mais justo, do que enquanto o corpo dorme, sermos capazes de despertar o espírito, ou mais precisamente, sabermos que podemos acordar dentro do sonho e ficarmos conscientes dessa realidade.
Mas qual realidade?

Sonho e realidade se confundem. Assim como sonho e vida. É difícil desassociá-las e até mesmo defini-las. Afinal: o que é o sonho?

E se estivermos todos sonhando? E se você estiver lendo esse texto enquanto seu corpo sonha e depois de duas semanas, três meses depois que eu postar, você ter a nítida sensação de já tê-lo lido antes? E se formos como conta a Chuang Tsé uma borboleta sonhando ser homem? Isso muda alguma coisa?

Seria possível despertar e acabar com essas impressões ou entraríamos em outro sonho sem nunca acordarmos? Afinal, reencarnar-se para dormir ou para acordar?
E se a matéria na qual se tece o sonho for a mesma com a qual se tece a realidade, ou seja, da mesma maneira que no sonho você pode acordar, interromper, criar monstros, fantasmas não seria possível criar uma vida melhor? Quais forças e que quantum de energia seria preciso para isso? Mas, caso aprendêssemos a manipular esse tecido da matéria não ficaríamos ainda mais infantilizados do que já estamos? Refiro-me a cada vez mais não termos distância entre o desejo e a realização. A sociedade do consumo satisfaz ou se coloca a disposição para satisfazer todos os nossos desejos, mas alguém na altura do campeonato sabe mesmo o que deseja?

Segundo os budistas essa é a razão de não acordarmos. Os desejos adormecem e entorpecem a mente. Mas parar de desejar não pode ser um ardil? E achar que não se deseja e se iluminou uma armadilha ainda maior?

Mexer na estrutura dos sonhos, seja mecanicamente, seja espiritualmente é dar sustentação para um despertar coletivo. Um despertar que ajuda na sutilização da matéria. Na suavidade da vida. Em determinado momento todas as matrizes teóricas serão importantes para mostrar níveis de sonhos e quiçá dos sonhadores. Mas, independente do nível, creio que a grande surpresa será a descoberta de que todos estamos no mesmo sonho, isto é, no mesmo sopro de Brahma.




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