domingo, 14 de julho de 2013

Piano bar: entre a recusa e a aceitação.

A letra é de Humberto Gessinger- Engenheiros do Havaii- que embalou minha adolescência, juventude. A montagem/clip esta no youtube e é criação de juniortowe2008. Mas, se tanto letra e vídeo são belos, em verdade, quero recortar apenas as duas primeiras estrofes da letra para pensar relacionamentos de forma geral e de casais em especial.


O que você me pede eu não posso fazer
Assim você me perde e eu perco você
Como um barco perde o rumo
Como uma árvore no outono perde a cor
O que você não pode, eu não vou te pedir
O que você não quer, eu não quero insistir
Diga a verdade, doa a quem doer
Doe sangue e me dê seu telefone
Todos sabem que os relacionamentos são tensos. Conviver é perigoso. Mulheres têm TPM, variações hormonais e explodem.... ora de candura, ora de ternura, ora de raiva, ora sem motivo aparente a não ser aquela gestação invisível que precisa ser parida. No entanto, a maior influência vem da lua, este astro romântico. E pobre coitado do homem que não sabe disso. Mas, não quero falar da lua. Quero falar dessa relação louca que desenvolvemos. Mais precisamente, quero falar da loucura de pedir ao outro, justamente aquilo, que ele não pode nos dar. Pelo menos não para aquela pessoa, muito menos naquele momento.

E me ocorre duas coisas: uma- se fazemos isso de forma consciente ou inconsciente? Duas- se fazemos tendo como finalidade terminar a relação?

Respondendo as duas de uma vez só, acredito que haja uma inconsciência intencional, ou seja, queremos que algo termine, queremos que algo acabe, não necessariamente, a relação. Pelo contrário até, muitas vezes se deseja que a relação se transforme, mas a falta de clareza acaba levando a relação à berlinda.

Na letra dos Engenheiros a relação é pensada e discutida pela ótica de um. Esse um tenta explicar ao outro os seus limites e isso não é uma tarefa fácil. Nem para quem realiza o comunicado, nem para quem o recebe. Quem o realiza, provavelmente, já o tenha feito outras vezes, de outras formas, em outros carnavais e com outras fantasias. Quem recebe se depara com uma situação na qual pode estar imprensado na parede, diante do seu limite. E toda questão é: como cobrar? Como pedir ao outro aquilo que ele não pode dar? Por outro lado, como não cobrar? Como não pedir ao outro aquilo que a gente deseja?

Assim, se de certo modo, acho que não podemos, nem devemos fazer tais exigências. Por outro lado, não se pode exigir que a pessoa que realizou o pedido se acomode e viva insatisfeita, permanecendo numa situação que ao que tudo indica a faz infeliz. Tento exemplificar: frigidez, impotência, depressão são motivos para se terminar uma relação? Sim? Não? Depende? Bebida, traição, toalha molhada em cima da cama, calcinha pendurada na torneira são motivos para se terminar uma relação? Muitas vezes mais do que terminar, retirar essa pessoa do seu convívio? A maioria vai dizer que não, mas a maioria terminou relacionamentos por motivos similares a esses.

É aqui que se relacionar é complicado, é tenso, é árduo, é difícil e é a um só tempo útil e inútil ficar brigando. Útil porque as pessoas podem mudar. Inútil, porque as pessoas não mudam. Mais precisamente, há coisas que nós mudamos, deixamos de fazer, de realizar, de praticar. A namorada pode deixar de conversar com um determinado amigo devido ao ciúme do namorado. O namorado pode deixar de jogar futebol cinco vezes na semana por carência da namorada. O marido pode voltar mais cedo para casa a pedido da esposa. A esposa pode falar menos das atividades do dia para não entendiar o marido. Isso é possível fazer. Mas há princípios que talvez o outro não possa, em detrimento de deixar de ser ele mesmo, abrir mão. Assim existem mudanças que se solicitadas ao outro só podem ser atendidas se a pessoa deixar de ser quem ela é, ou o que ela foi até aquele momento. E em parte é melhor procurar outra pessoa do que desejar essa mudança.

Relacionamentos terminam, findam. E todo término é prenuncio de morte, ou melhor, sensação de morte, mesmo que gere alívio. Mesmo que temos ciência da vida eterna. Mas, o término faz parte do ato de se relacionar.

Enfim... há pedidos nossos que nunca serão atendidos, que o outro, simplesmente, não pode atender, pois se não, ele já não é mais ele. Ele é outro. 

E aqui é talvez um dos x da questão que escapa a nossa consciência: o que de fato queremos? Quem de fato amamos ou estamos apaixonados? Se estamos em busca de um par perfeito, um ser idealizado na própria cabeça, é fácil, simples, ao não encontrarmos as características que desejamos, imediatamente, mudarmos a nossa afecção. Mas, isso significa que não estamos apaixonados, ou envolvidos com o outro e sim com nosso mundo ideal.
Se por outro lado, nos apaixonamos pela pessoa e descobrimos que ela é assim, vivencia-se a relação. O meio termo entre o egocentrismo da primeira experiência e o altruísmo da segunda é a clareza- dos sentimentos, da linguagem, do diálogo. Ou seja, aquele papo chato, mas real e verdadeiro: “te acho uma pessoa super bacana, mas você não é a pessoa com quem quero ter meus filhos”. Ou, “gosto demais de você, mas te prefiro como amigo(a) do que namorada(o)”. Ou, “você é a mãe dos meus filhos, mas eu desejo a sua amiga”, o inverso é recíproco: “você é o pai dos meus filhos, mas eu não te desejo mais como homem”.

Parece que é fundamental termos esses dizeres, essas conversas para diminuirmos nossas dores, amarguras e infelicidades.


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