domingo, 16 de fevereiro de 2014

Feminino

ACOLHENDO O FEMININO.

Este é o nome que Beatrice (entidade espiritual) pediu para que déssemos ao nosso trabalho que aborda uma entrada no campo emocional. Mais do que entrar no campo emocional, o trabalho tem como sentido abraçar, recepcionar nosso aspecto feminino.

Beatrice tenta mostrar que o feminino não é a mulher. O feminino passa pela mulher, corresponde a ela, mas não a define propriamente dito. Numa leitura bem próxima a analítica, ela tenta salientar, que os homens também possuem o feminino- anima. Assim, como as mulheres possuem o masculino- animus; sendo um equivoco apresentar uma oposição entre o masculino e o feminino nos moldes de homens contra mulheres. A questão é outra.

E é nesse outro que ela abre as portas para os campos social e existencial, nos mostrando, como apartamos essa energia de nossas vidas. De como, sejamos homens ou mulheres, separamos o feminino de nossa convivência. De como espezinhamos, desprezamos, ignoramos esse feminino de uma forma ruidosa, desrespeitosa, negligenciando tudo o que corresponde a esse princípio que os taoistas denominaram muito bem como Yin. 

Assim, acolher o feminino é a um só tempo abrir espaço em nossa subjetividade, em nossa interioridade, como também permitir que ele adentre o social, a sociedade, as nossas formas de fazer e de se relacionar. Permitir o feminino em nós abre campos e espaços para ele ocupar um lugar no mundo. 

Essa manifestação que podemos sentir e visualizar em alguns atos, salientam que fazemos o mesmo só que de forma diferente. Na lógica binária do pensamento yang, do terceiro excluído como premissa inevitável, abre-se espaço e lugar para uma lógica na qual o diferente se faz igual. Não em uma igualdade normatizadora e sim numa igualdade em que se respeita a diversidade, a alteridade, o não eu, com sua singularidade repleta de direitos e significados como a minha. 


No campo familiar avistamos a figura paterna demonstrando afeto, emoção e cuidando dos filhos não no sentido de proteção, mas de carinho, afetividade. Em vários lugares, essa força começa a se fazer notar, o que não a impede de ser rechaçada, discriminada, especialmente quando ela desponta em homens. Afinal, como lidar com a própria doçura? Como lidar com a própria candura e ternura sem ser taxado de homossexual? E, nada contra a homossexualidade, que em parte é uma manifestação desse mesmo principio feminino que falamos, mas aqui numa esfera que não se faz genital; sexual ela sempre é, por isso assusta tanto. 

Nessa ótica, Beatrice nos mostra que acolher o feminino é receber nossa subjetividade, nossa afetividade, nossa interioridade. Parece simples, mas pouco de nós damos espaço para isso. Poucos de nós lidam com o campo emocional com a mesma seriedade que damos ao corpo físico e ao corpo mental. Pouco de nós prestamos atenção ao nosso prazer, ao nosso desejo não por sexo em si, mas pelo gozo, esse prazer mais prolongado, mais demorado, mais compartilhado. O gozo é o prazer da alma, na alma. É o roçar sussurrante do espírito. E nossa sociedade, cada vez mais hedonista e sexualizada, se faz menos amorosa, porque o amor é o gozo supremo, mas nosso desejo é pelo prazer rápido- fast-food (foda rápida). 

Sem lugar para o afetivo, para o emocional, os prazeres são furtivos, breves, rápidos, desencontrados, desmotivados e nada contra, mas é o prazer que não alcança o gozo. É o prazer que rapidamente chega à finalidade- a ejaculação- mas não chega ao sentido. Talvez, porque, o sentido, o sentir, não possa ser dado nem na racionalidade estrita e nem na instintividade básica. Talvez, porque o gozo se de no encontro de dois, na criação do três, na aceitação do quatro, na confluência dos muitos.


Acolher o feminino é então uma dinâmica, uma oficina que desenvolvemos com o sentido de nos movermos, ou melhor, de percebermos o nosso movimento amoroso, sossegado, tranquilo, calmo, paciente, que nos possibilita acolher partes nossas, aspectos nossos que não escutávamos, não ouvíamos, não damos atenção, mas que tem coisas importantes a nos dizer. 





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