sexta-feira, 9 de maio de 2014

Getúlio: uma sobreposição.



O filme está em cartaz. Não teve muito alarde, muita badalação, pelo menos, não vi. Fato é que o filme é lançado num momento muito especial, já que por intermédio do filme- Getúlio- pode-se estabelecer uma análise muito bem situada do Brasil atual. o filme chama-se Getúlio, mas os traços golpistas, oportunistas que o filme discorre, bem poderia ser denominado- Lula, ou Dilma. Vejamos:

Descobri a importância do cinema vendo Caramuru. Aquela apropriação do nosso romance, da nossa história, contada agora de forma imagética, projetada numa tela imensa, ampliava a nossa própria história, a nossa cultura, o nosso fazer no mundo. Foi somente ali, naquele momento, que pude conceber o cinema como arte. Aquela retratação, ou melhor, aquela possibilidade de nos identificarmos conosco, de nos vermos refletidos, espelhados é maravilhoso. Isso não tem preço, não tem nada igual. É de uma força impactante. Uma força que os nazistas usaram para se convencerem que eram de fato uma raça pura e superior. Uma força que a indústria cinematográfica americana movimenta, universaliza, seduz, hipnotiza criando e construindo uma imagem deles que já não importa se é real, porque, eles passaram a se ver assim. É uma indústria que vende ilusões, que fabrica um imaginário que mesmo estando longe do real, constrói uma identificação.


Usamos pouco dessa força. Na verdade, usamos essa força como bem nos lembra Nélson Rodrigues, como narcisos às avessas, cuspindo na própria imagem. Temos uma necessidade de mostrarmos a realidade e esse nosso real é muito cruel, por vezes estúpido para conosco mesmo. A idéia que quero passar é que nenhum povo cria um imaginário real do que se é, pelo contrário, vendem uma ilusão como bons estelionatários e se agarram a ela, se fiam por ela, se convencem dela e se fazem potência mundial. Nunca houve uma potência que se condenasse na sua forma de se ver e se imaginar. 

Falando nessa cinematografia que explora presidentes, quero ressaltar Margareth: a dama de ferro. Lincoln e JFK: a verdade que não quer calar. Todos contam uma história que educa o olhar, que faz com que vejamos cada um desses homens, repletos de erros (como todos os humanos) com mais condescendência. Quando acabei de ver Margareth eu quase encaminhei carta ao Vaticano solicitando a sua canonização e sabemos que o seu governo foi marcado por profundos desafios. Ela ao lado de Reagan retomaram o neoliberalismo. Ambos liquidaram os sindicatos, os direitos sociais, o tempo pode ter lhes feito justiça, mas não me cabe aqui julgar, nem analisar, porque quero falar apenas de Getúlio.



Pois bem, acabei de chegar do cinema. Fui ver Getúlio. O filme tem a produção da Carla Camurati, a donzela, que re-descobriu o império com o filme Carlota Joaquina. Ela nos trouxe uma visão do império que não tínhamos, que não estava nos livros de história oficiais, na verdade, nem Carlota existia como personagem histórico. Agora, ela retorna com Getúlio. Um Getúlio que talvez somente o povo e os familiares conhecessem. Um Getúlio difícil de aquilatar, de mensurar por todas as contradições que lhe é peculiar, que são inerentes a todo ser humano.  Mas, o filme tenta colocar Getúlio nos braços do povo de novo. E o filme toca, menciona, discute questões que estão à baila hoje, como: a criação da Petrobras, o petroleo é nosso, os ataques da opinião publica ao presidente. Eis a sobreposição mais clara e evidente que quero fazer.

Enquanto eu via o filme, eu tive a indelicadeza de discar para o cabinete da Dilma e para casa de Luis Inácio. Ligava e deixava mensagem dizendo: “corram imediatamente ao cinema. Vá antes de Aécio. Caso sintam-se constrangidos de sentarem-se na primeira fileira, contactem a Carla Camurati e solicitem uma fita para verem atentamente. Dispensem a pipoca.”

Toda situação tem que assistir o filme com urgência, com premência. A oposição é desnecessário, eles nunca, deixe-me repetir, nunca, mudaram de cena, ou de roteiro. Nunca houve um só presidente na história desse país que tendo se aliado as classes mais populares não fosse enxovalhado noite e dia, dia e noite, diuturnamente, não pela oposição, mas sim, pela imprensa. Getúlio, Jango, Jânio, Juscelino, Lula, Dilma e me desculpem... vou dizer a boca pequenas- Collor. O caçador de marajás caiu por motivos que a nossa cinematografia um dia vai investigar, mas nada a ver com corrupção. A casa da Dinda é casa de santa perto dos escândalos do governo FHC, Lula e Dilma. 

Eu ia vendo o filme, e Paulo Henrique Amorim ia vindo a minha cabeça, Mino Carta ia vindo palavra por palavra. Diante do filme até quem não acreditava começa a acreditar que o PIG existe, isto é, o PARTIDO DA IMPRENSA GOLPISTA. Carlos Lacerda foi o seu mais fiel exemplar, mas ele tem muitos seguidores. Nas palavras ainda de Nélson: “Carlos Lacerda é o assassino de um suicida.” E o dramaturgo naquela sua observação genuína e fidedigna, contava que o tiro de Getúlio matou a ambição e a sanha desvairada de Lacerda. Vendo Lacerda fico a pensar: o que querem os Azevedos, os Jabores e outros tantos? O suicidio da Dilma? O assassinato passional de Dilma por Lula e Lula por Dilma? O golpe de Estado? 

Não sei. Sei que recomendo a todos verem o filme. A verem com atenção, não porque tememos a possibilidade de um golpe, não, esses já faleceram ou já estão na reserva, esperando a hora de serem escalados para jogarem no time do céu, ou do inferno. Mas, recomendo que vejam para que reflitam se a popularidade da Dilma caiu porque o governo é mesmo um desastre, um ‘mar de lama’, ou porque desde o primeiro dia que Luis Inácio colocou os pés no Planalto não houve um dia, uma semana que o seu governo e a sua administração não sofresse ataque. A Veja revista que ninguém deveria mencionar, não passa uma semana, sem produzir um factóide, sem explorar um fato mínimo ao máximo, com ou sem provas. Nessa direção, não há popularidade que suporte ataques tão veementes, acintosos, constantes. Até o nome de um santo passaria a receber rejeição.   

O que eles fazem é desonesto, é desumano, é covarde, é hediondo. Por muito menos, mais infinitamente, muito menos, Obama se indispôs com a Fox. Por muito menos Cristina na Argentina, Chaves na Venezuela fecharam jornais impressos e redes de Tv. Aqui mencionar uma regulação da mídia é visto e colocado como ataque.
É trágico, porque eles se aliam não ao melhor para o país e sim o melhor para eles. Venderam a imagem de um salvador da pátria, um caçador de marajás e de corruptos e quando esse caçador ousou mais do que o script passado, sofreu impeachment. Eu não pintei a cara, mas fui às ruas. Hoje me pergunto: o que de fato aconteceu? 

No entanto, o mais desolador no cenário atual é que ao menos no tempo de Getúlio, a oposição tinha voz no plenário. Hoje, a voz da oposição são os meios de imprensa na venda dos seus jornalões e por vezes nas pesquisas de opinião.

O governo petista é desastroso, eles têm aliados que são melhores do que quaisquer inimigos, adversários; mas a oposição tucana é vergonhosa. Um partido de centro esquerda que se aproxima do discurso de direita e extrema direita para conseguir apoio e espaço é um tipo de náusea. Serra, Alckim, Aécio são um tipo de três patetas modernos. FHC é um Walt Disney sem Mickey. No final... pobre de nós brasileiros, cujo governo/situação tem aloprados que são piores do que os inimigos. E tem uma oposição que é inapta, débil, infantil, tosca, covarde, canalha. Luta pelo poder mesmo que isso signifique trair o próprio povo. Aliás, nunca, em nenhum momento se alinharam com o povo. A casa grande e a senzala permanece. Um adendo, apesar do desastre da administração petista, eles têm uma qualidade que cobre milhões de pecado- eles não cospem na cara do próprio povo. Eles têm a ousadia de fazer com que os excluídos da nação se sintam brasileiros. Isso é pouco, mas é muita coisa.  

Precisamos todos ir vermos Getúlio. E, ao acabar carregarmos homens como Patrus Ananias nas costas, ou propormos desobediência civil. Precisamos todos começar a ler o script dos Donos do poder para não sermos massa de manobra, para não alijarmos os poucos que lutam por nós. 

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