sexta-feira, 2 de maio de 2014

Espiritismo e alternativas


Kardec pensou o espiritismo sobre um tripé: ciência, filosofia, concepção moral, pelo menos, foi assim que o lemos aqui no Brasil. Estudiosos kardecistas, mais rigorosos, gostam de apontar que nunca houve um tripé e sim uma cadeira de quatro pés.

O kardecismo no Brasil virou espiritismo. Isto é, se fez religião. Uma religião que tem matrizes católicas muito fortes e proeminentes (haja vista a quase canonização de Chico e a romaria para Uberaba). Esta mesma religião tenta guardar o seu lugar marcando posição diferenciada, distinta das religiões de matrizes afro. Enquanto esses de maneira geral se assumem espíritas, os espíritas tentam mostrar-se hierarquicamente mais evoluídos e assim, diferentes, mais europeus, civilizados, brancos.



Foi numa contenda como essa que Zélio de Moraes fundou a Umbanda. Movimento lindo, de renovação e integração das mais diversas práticas e culturas. Uma descrição mais exata de como se dá o ecumenismo pelo cosmos a fora. Todos juntos, misturados, dando o melhor de si para ajudar a si mesmo e aos outros. Isso independe de sexo, origem, nacionalidade, idade, ou quaisquer outras diferenças que erguemos. A Umbanda implodiu com todas elas, embora haja terreiros que não se sintam felizes com essa integração.



Outra alternativa ao modelo de espiritismo sai com Waldo Vieira. Waldo trabalhou anos com Chico Xavier, para muitos seria o seu substituto. Waldo cuja psicografia de Tolstoi não permitiu ver a diferença entre o autor, tamanha a fidedignidade do texto, abriu uma porta esplendida para todos nós. A projeciologia. Waldo faz uma pergunta que foi basicamente: se eu posso contatá-los do outro lado, porque vou ficar esperando eles desse? 


Não temos dúvida em dizer que a projeciologia, a conscienciologia se tornou, se fez, a cara de Waldo. Uma experimentação científica, rigorosa, meticulosa, por vezes desprovida de muitos sentimentos. Mas, a técnica, a proposta, abre as portas para a auto-ajuda. Obvio, que Waldo, não deve gostar do termo, mas o que ele fez, enquanto busca inicial, foi fornecer condições para cada um, sair do próprio corpo e encontrar seus entes queridos, visualizar o mundo espiritual, sem necessitar do trabalho mediúnico para tanto. Nessa proposta abriram-se as portas para se pensar e repensar a mediunidade por outro viés.

Na direção da ruptura tivemos Luís Gasparetto. Gaspa caminhou decisivamente para a auto-ajuda. Criou, construiu, expandiu, mantém e banca um espaço no qual ensina as pessoas a lidarem com as suas próprias forças. Gaspa esta revolucionando o mundo psíquico. É uma pena que ele não publique suas pesquisas, mas o trabalho dele de empoderamento mediante o uso consciente das forças que eram consideradas de outros (entidade, ou do médium) são sensacionais.


O que quero salientar é que para Chico espiritualidade é moralidade. O componente moral direciona, supervisiona as praticas. Nesse formato Chico conseguiu unificar o espiritismo, colocando o seu cerne não no Livro dos Espíritos, no estudo, na cientificidade, mas no Evangelho. Isso foi importantíssimo para que não perdêssemos tantos médiuns como perdíamos. A aproximação da faculdade mediúnica com o ideário da santificação possibilitou o triunfo de inúmeros médiuns, dirigentes e do próprio espiritismo em nossas terras, não sem razão, basicamente, só entre as nossas terras.




A unificação realizada pela Umbanda já registrei acima e um dia as pessoas vão se abrir para ver que a espiritualidade nunca foi diferente. Qualquer vidente atento pode constatar que na missa há monges budistas, caboclos, tibetanos. Nos centros kardecistas há cohans, pretos-velhos, exus; nos terreiros há padres, médicos, mentores, trabalhando como erês, ciganos e outros. Entidades se movem pela luz e se firmam pela luz, o resto é estultice nossa, humana, demasiadamente humana.

Uma estultice que um segundo de consciência fora do corpo retiraria. E essa é a integração promovida por Waldo. De muitas formas, ele retoma a pesquisa, a experimentação, a necessidade de se cortar a dependência do contato espiritual estritamente pelo médium e dar meios para cada um alcançar o conhecimento do outro lado. Ele é o primeiro a dar um tapa na face da prepotência mediúnica ao fundamentar um método no qual se pode acessar o plano espiritual por si mesmo.

Gasparetto pega os elementos da umbanda e aplica no seu viés psicológico. Ao término, nós temos a dimensão de psique expandida para um nível que somente os kardecistas trabalham, sob o nome de umbral, sem saber que isso é parte, criação, de um estado mental coletivo. Se apenas essa linha no trabalho de Gaspa já é genial fornecer mecanismos de cada um acessar/incorporar suas forças e fazer uso para resolver a própria vida é a integração que todas as correntes psicológicas buscaram e buscam até hoje e por vezes falham.

De todos esses caminhos, eu gosto da arte. Gosto de pensar a espiritualidade pelo viés artístico. A arte é a própria transcendência. No criar, cada um se faz co-criador e isso expande nosso ser, nosso viver. Quando criamos nos conectamos, passamos a ser. Gosto de pensar a vida como essa obra de arte que nos cabe produzir, gerando o belo, criando o formidável, expressando o encantamento. Gosto de aproximar a espiritualidade dessa vertente, desse sentido, dessa direção. O resultado é a criação de si mesmo. E, nada pode ser mais artístico do que isso.

Por esse viés estamos abrindo o ATELIÊ DO ESPAÇO INTERIOR para aqueles que desejam ampliar a sua sensibilidade, as noções de co-criação. 



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