sexta-feira, 17 de outubro de 2014

A Veste e a Vestal: a estranha combinação entre poder e política.

A candidatura de Marina Silva é super emblemática. Primeiro porque ela se apresenta como líder de uma “nova política”. Segundo pela relação que lhe foi atrelada entre política e religião. Terceiro pela combinação desses dois fatores que escamoteia o que há de mais velho e perverso ao longo da história.

PRIMEIRO:

Cada vez me convenço que a nova política é feita fora dos espaços partidários e eleitorais. A nova política parece ser uma ação de rede, suprapartidária construída muito mais por laços de consciência do que por questões ideológicas. A dificuldade de clareza do que seja essa nova política é que mesmo sendo uma música que muitos já dançam é difícil definir se estamos falando de um novo modismo? Um novo conjunto musical? Uma nova ideologia mundial? Uma nova religião? Um novo partido? Uma nova ideologia global? Não sabemos, não temos clareza e essa confusão, indecisão serve de base e proliferação para remendos velhos, ou para não perder o tom, vinho novo em odres velhos. De toda forma, Marina ficou confusa quanto ao que é essa nova política, lhe faltou consistência, experiência, maturidade para expressar esse algo ainda opaco, difuso. 

Posto isto, poderia falar de como vejo na beleza da Luciana Genro os germens dessa nova política. Todavia, ela não consegue dar a essa nova política uma nova ideologia. Se o PSOL abandonasse o discurso Lenista, stalinista seria uma 3ªvia altamente ilibada. Personagens como Fidelis (candidato a governador em MG), Marcelo Freixo, Luciana, Heloisa Helena e tantos outros não me deixam mentir, a partir do momento em que romperam com o próprio PT para levantar bandeiras da ordem do dia: união homoafetiva, aborto, legalização da maconha, política LGBT, fim da corrupção e tantos outros temas, que Luciana encontrou como debatedores apenas os candidatos de orientação religiosa. Era o velho e o novo frente a frente, pouquíssimos de nós compreendeu e percebeu isso. 

SEGUNDO:  

Foi perante essas temáticas que Marina escorregou, derrapou, caiu, deixando claro que a nova política não tem como estar atrelada a velha religião. Não se pode falar de nova política sem abolir o discurso religioso. Quero distinguir o religioso do espiritual. O religioso se apega a letra, a palavra morta. O espiritual transita por entre elas e por dentro dela. O espiritual vivifica a palavra e o falante. Marina esteve muito longe disso e digo mais, ela não é essa figura, pelo contrário. Não que ela não seja ética, não que ela não seja briosa, não que ela não seja orgulhosa; é justamente por ser tudo isso que ela não é. Há nessa nova política uma completa desmesura sobre a autoria. Não importa de quem seja a idéia, se boa, ela é utilizável. Isso é impessoal, sem vaidade, sem estrelismo. É o que vimos na Primavera árabe, é o que vimos no Ocuppy Wall Street, o que vimos nas ruas da França. É o que vimos nos não são por 0,25 centavos no Brasil. Não há uma liderança, uma voz única, há várias lideranças, muitas vozes.

Poucos personagens políticos mostram tanta vaidade quanto Marina. Ela no PT rompeu e foi para o PV ao perder espaço para uma desconhecida chamada Dilma. Neste após se lançar como candidata a presidenta e não lograr êxito rompeu e criou a REDE, sendo boicotada pelo PT, foi acolhida pelo PSB, no seio do PSB ampliou um racha que desmoronou o partido. Vaidade. Vaidade, tudo é vaidade. Mas, o ponto que desejo estabelecer é que mais do que vaidade são as convicções austeras, seguras que ela tem de política, que dificultam o novo. Afinal, como religiosamente aceitar o aborto? Como religiosamente, aceitar o casamento gay? Como, religiosamente, debater sobre a legalização da maconha? Religiosamente, seja evangélico, espírita, católico, umbandista, budista não é possível; mas espiritualmente é e deve ser. Jesus símbolo de parte dessas religiões discutiu assuntos que escribas e fariseus (Malafaias, Felicianos, Fidelix e Bolsanaros) reputavam tabus. E pôde assim fazer, porque não estava atrelado a uma antiga religião. Entendam, que ele é judeu, nasceu, cresceu, morreu judeu, mas nunca foi escriba ou fariseu. Fez uma nova política, que se tornou uma nova religião.

 E é nesse ponto que caminho para a terceira intervenção, mas não sem antes ressaltar que a pureza e a santidade que estão buscando nos meios políticos, não se encontra hoje, nem na religião. No entanto, se há um lugar no qual dever-se-ia ser santo e puro era no altar. No entanto, historicamente, estamos muito longe disso. As religioe$ sempre estiveram atreladas ao que há de mais podre, nefasto no poder. Hoje não é diferente, nem mesmo a hipocrisia. Roubam dos fiéis, fazem mal política, e, pior, péssima religião, porque dominam pela oratória falsa, vazia, repleta de medo e intransigência. São os lobos nas peles de cordeiro. E olhando para Marina as vezes não sei as quais interesse ela atende. Nem sei se ela sabe, que política é interesse. Fato é que ela não sabe que na política é dever sentar-se com todos, ouvir todos e atender as prioridades. Política é interesse e deve se buscar o bem comum, seja lá o que for isso. Tal posicionamento é diferente do pensamento religioso. Na religião não há negociação. O certo é certo, o errado é errado. Há céu e inferno. É um mundo preto e branco com matizes de escolhas acinzentadas. Na política o mundo é um arco-íris, todas as tonalidades tem que ser vistas, ouvidas. Marina como uma vestal buscou apenas os puros, acabou abrindo espaço para o espúrio, aécio no 2º turno. Ela acreditou que seria possível gestar apenas com os bons, os puros, mas esses, diga-se de passagem, raramente se aproximam da política e da religião. 

TERCEIRA:


Existem movimentos que são realizados a vista de todos, sem que todos vejam por ser tão óbvio. A tal da geração Brasil tem os caracteres 45. Em ano de eleição isso não é por acaso. Mais, é uma ação indutiva, manipuladora, desonesta. No entanto, essa ação é a ponta de um iceberg. É a ponta de medidas, ações, atitudes daqueles que querem uma mudança no poder e o poder é deles, não nos enganemos. Nada mais solitário, mais ilusório, mais insignificante para quem busca mudar alguma coisa do que a presidência da república. Não se chega a ela sem negociar com o diabo. E, as vezes que se chegou, numa dessas canalizações do povo, num desses raros momentos em que a vontade popular foi mais forte que a indução (Lula, Getúlio) criou-se várias formas de derrubá-los. O poder precisa de ser alimentado e felicidade, bem estar não é essa moeda de troca que o diabo pede.

O que estou chamando de diabo não é apenas uma figura satânica, o que estou nominando diabo são grupos organizados que movimentam a economia mundial. E esse dinheiro não vem do trabalho, não vem do cuidar da saúde, do policiar fronteiras, do lecionar, esse dinheiro vem dos temas que os candidatos não tocam, não falam, não mencionam como se não existisse: tráfico de drogas, de pessoas, de armas, prostituição, ou mais precisamente industria pornográfica, aborto. Temas e assuntos que passam longe, muito longe das discussões presidenciais em qualquer parte do mundo. Da-se as discussões econômicas uma importância sui generis, mas não se menciona que a economia oficial é serva da leniência e da lavagem de dinheiro desse mercado da exploração mundial. E, desculpa, o poder é deles e eles querem aécio na presidência.
Por que Aécio? Por que ele já esta sentado no balcão de negócios. Ele já negociou. Fará de tudo para ser presidente. De tudo. O que ele oferece em troca não é a própria alma e sim um povo todo, ou quase todo.

Finalizando, precisamos de uma nova politica. E essa tem que ser clara, não há nenhum ser humano capaz de lidar com essa engrenagem sozinho. Ela é corruptora por natureza. A nova política tem que ser uma nova consciência de que não aceitamos nem salvadores da pátria, nem vendedores dela, que no fim é a mesma coisa e o mesmo jogo. Nesse tabuleiro somos todos peças, quem ganha é um grupo que não quer ver seus interesses comprometidos. Peço, então que observem se houve queda não da inflação, ou do IPCA, ou do índice Bovespa, tudo isso é fachada. Observem essa movimentação pelo número de chacinas, guerras, assassinatos, preço da cocaína, o ouro branco do mercado negro. Observem pela especulação imobiliária, pela venda do crak de futebol, enfim pelas negociatas que são feitas na nossa cara, a nossa frente; como o lucro liquido dos bancos. 





Volto a afirmar, politica e religião se atrelam, porque dizem respeito ao poder. Não há poder maior na sociedade atual do que o tráfico de drogas, de armas, de pessoas. não há nenhum candidato no mundo, não é só no Brasil, que irá fazer frente a esse comércio sem que a sua cabeça rode. Falar então de nova politica é falar de uma base de discussão social, mundial que discuta quais interesses estão em jogo na nossa sociedade. 

O ponto que quero destacar é que candidatos que se intitulam vestais, são os mais perigosos dentro dessa rede. Seja, Marina, seja aécio, especialmente esse. Quero destacar, igualmente, que é ingenuidade acreditar que isso é problema de um partido. O que vejo em parte do PT é algo similar ao que vejo quando uma facção criminosa derruba o grupo rival: inaptidão para lidar com o novo posto, vacilo em deixar as coisas descobertas, falta de tato para negociar com antigos parceiros, falta de senso para escolher quem será o novo inimigo e quem será alçado ao posto de confiança. Eles não sabem negociar com o submundo, acredito até que deixaram muitas pessoas magoadas (DEM, PSDB) por negociarem com eles como se eles fossem nanicos, ou melhor, traficantes de esquina. Estivesse dando a eles por debaixo dos panos como sempre foi feito nos órgãos estatais e tudo estaria bem.


Mas, longe de defender, queria destacar que nesse período de eleições as portas do inferno se abrem. Todo mundo negocia e isso não é ruim. Mas, até nas negociações do umbral há limites éticos que se espera que se tenha. O olhar do Aécio, assim como o do Collor em 89 é de quem pelo poder e para estar no poder vende muito mais do que a alma, vende todo um povo, toda uma nação. Eles não têm freio, não tem limite, não tem anteparo. E quem acredita que podem pará-los, não se iludam. Em Minas, ele fez o que quis, porque a irmã que segundo ele trabalhava de graça em causas sociais, tratava da distribuição da verba pública, ou seja, um cala boca para os órgãos da imprensa e um canal de lavagem de dinheiro de todos os outros meios e fontes. Não tenho como provar nada disso, mas se quiserem investigar estejam a vontade, vão encontrar nomes, postos, pessoas, envolvidas com atividades de aborto, tráfico de pessoas, entorpecentes e armas, tudo aquilo que não se pode discutir politicamente.

É incrível como que em meio a ataques pesadíssimos no 2º turno, os candidatos não se perguntaram sobre união homoafetiva e drogas. Não falaram. Não entraram. Não tocaram. E se tudo correr bem, não falarão.

Parei aqui. Mais do que a forma temos que ver o conteúdo. Sou parcial, porque sou anti-psdb, os vi vendendo o Brasil. Os vi, energeticamente, fazendo negociatas com o que há de pior no cenário internacional. Sou parcial, mas não estou fabulando. Quem está disposto a tudo para um cargo, uma função é alguém que deveríamos ter receio. aécio fará de tudo para ser presidente. Tudo mesmo. aliás já esta fazendo.


  

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Masculino e Feminino: parcerias e integrações.

Tenho feito uma pergunta a colegas, amigos, grupos. Algumas pessoas responderam, pontuaram, dialogaram com a pergunta. A pergunta é voltada aos homens e as mulheres. A masculina: é possível a um homem olhar para uma mulher percebendo-a como uma igual? Isto é, dando a ela as mesmas prerrogativas que se daria fosse ela outro homem?

A pergunta é surreal, eu sei, mas ela aponta para o patriarcado e a força dessa herança sobre todos nós. De modo que nenhum homem respondeu por escrito. Pelas conversas que tive com alguns, pude constatar que a maioria não compreendeu nem o que eu estava perguntando, ou seja, para eles tratamos as mulheres como iguais. Eles não se reconhecem ou não se vêem machistas. E quero ressaltar que de fato somos sem ser. O machismo consciente, deliberado é raro. Na maior parte das vezes ele é algo atávico, quase intrínseco, pode parecer por vezes quase inato. Vamos falar mais disso abaixo. 

A pergunta voltada às mulheres foi: é possível uma mulher olhar para um homem, no caso, namorado, noivo, marido sem super-estimá-lo? Isto é, sem se diminuir e achar-se menor do que ele? Bancando a si mesma?

As mulheres interagiram mais. Ainda assim, a grande maioria silenciou-se. Esse silêncio de ambos os sexos me mostrou sintomático, especialmente, quando estavam homens e mulheres juntos; o silêncio é maior. De todo modo, grande parte das mulheres não se reconheceram na pergunta. Elas não se viram sendo tratadas de forma menor pelos parceiros. Outras mostraram que seus relacionamentos foram construídos pela igualdade e na igualdade. Não questionei, em absoluto, nenhuma das respostas, muito embora a historicidade da relação, das rupturas pudessem dizer o contrário do que afirmavam.

No meu ponto de vista, quem melhor compreendeu a pergunta foi uma amiga homossexual e feminista. Ela conseguiu observar a soberba do olhar que estava me referindo e a estranha submissão que suas colegas de gênero, por vezes, muito mais capazes do que seus parceiros se auto impõe. Ela ainda destacava que não era uma imposição dada e, sim, quase voluntária. Mulheres altivas, persuasivas, debatedoras ferrenhas, por vezes até autoritárias, diante das idéias do marido acabam concordando, se submetendo. Ela menciona o exemplo de uma doutora política que faz palestras  e análises internacionais em universidades pelo Brasil afora, mas que se cala, se submete as concepções rasteira do namorado, empresário sem muito estudo.

Mas, qual a razão da pergunta? O FEMININO. O ETERNO FEMININO que amo, que busco, que tendo compreender, dialogar, visualizar.



Fiz duas oficinas do ACOLHENDO O FEMININO. E agora estou abrindo inscrições para uma terceira, mas em um formato de 4 encontros. 

E após ler o livro: “Não sou mais a mulher com quem você se casou” resolvi abordar o feminino discutindo a parceria, isto é, tirando o feminino de uma dinâmica estritamente energética, simbólica e buscar junto a ela uma integração tanto no campo psíquico, como no campo familiar, na esfera das relações. A abordagem já era um pouco diferente, porque trabalhava o feminino com homens e mulheres, ensinando a cada um observar essa energia dentro de si mesmo independente do gênero. 

Pois bem, tive a felicidade de ler o livro mencionado e vi que a situação era ainda mais grave, mais séria, numa profundidade que sai lançando as perguntas do início do texto para quem me desse brecha. Não contextualizei a pergunta o que reduziu o nível do entendimento, mesmo assim fiquei satisfeito com as interações. O que percebi escreve agora, mas me ficou claro que esse é um ponto cego da nossa sociedade. A dimensão patriarcal, ocidental, heterossexual, masculina, objetiva, externa nos alijou de entendimentos opostos a estes. Enfim...  


Até onde consegui recuar nos preconceitos não achei nenhum mais universal, permanente, constante, atualizado e repetitivo do que o voltado contra a mulher. Todavia, mais do que voltado contra as mulheres é voltado contra o feminino. A mulher, a natureza é a parte objetiva, visível em que repercute essa carência, essa falta, esse não lugar. Óbvio e ululante que existe o preconceito contra a mulher, mas não tão óbvio assim que esse preconceito trás no seu cerne o preconceito contra o feminino. 

Quero salientar que não visualizo até o momento como esse preconceito se perpetua a não ser com a opressão que as mulheres são levadas a fazer com o próprio feminino. De maneira análoga que nós negros por vezes nos escondemos, nos negando, ou ideologicamente sendo ensinados e ensinando que nossos valores e cultura são feios, inferiores. De maneira similar que se oprime pessoas com preferências sexuais diversas as aceitas. Isso parece que fica no ar, quando respiramos introjetamos esse olhar que passa a condenar, oprimir, separar, segregar o outro. Uma postura típica da cultura patriarcal que precisa separar, distinguir, analisar, classificar para determinar logicamente o eu e o não eu, a identidade e consequentemente, a diferença. 

Essa lógica fez com que a mulher fosse a primeira propriedade privada de cada homem. Independente da força, da inteligência, dos ganhos, ter uma mulher era uma honra, continua sendo. E é recente a diferença entre ter uma mulher e ter uma propriedade, ambos são posse. E a posse da mulher muitas vezes representa alijá-la dela mesma. A ficar despossuída de si mesma. 
A mulher como dona de si mesma é um fenômeno recente. A mulher ser dona do seu corpo, do seu gozo é uma conquista, é uma retomada, mas o que quero salientar não é a mulher e sim a parceria.

É a parceria que me interessa, porque se sonhamos uma sociedade diferente, é importante darmos atenção a como lidamos com o outro (a) e nós mesmos. Essa observação nos remete ao feminino, nos remete a percebermos como seres integrados- com aspectos masculinos e com aspectos femininos. E para essa integração é fundamental olharmos para o feminino. O feminino não é macho ou fêmea, não é homem ou mulher. O feminino é uma polaridade que pode ser assimilada na interioridade psíquica com que Jung denominou anima nos homens, ou pode ser visualizada no mundo da vida naquilo que os chineses denominaram energia Yin.


Ponto de acordo é que a energia Yin necessita da sua energia complementar e oposta- yang. É essa dinâmica que se realiza pela força dos contrários que eles denominam TAO. O Tao é a complementaridade do interno e do externo, do psíquico e do material , do interno e do externo, do eu e do outro, do macho e da fêmea, do homem e da mulher.

É sobre essa dinâmica que precisamos recuperar, retomar para consolidarmos espaços mais harmoniosos, integrados, sagrados. Espaços nos quais se compreendam que as diferenças e singularidades de gênero, raça, outras não podem estabelecer superioridade entre os seres. Os seres não se aquilatam pelas suas singularidades, pelo contrário, é na complementaridade que nos fazemos humanos, conseqüentemente belos. A beleza da vida esta nessa aceitação. E parece que uma das formas de encontrarmos essa beleza, essa integridade e interação é olharmos para dentro.



Estamos convidando homens, mulheres a olharem para dentro e visualizarem o feminino. Serão 4 encontros, as segundas-feiras às 20:00 horas em que conversaremos sobre como cada um percebe essa dinâmica em si, seja individualmente, seja nas parcerias, seja socialmente. Em cada encontro propomos uma prática bioenergética para ampliar nossa percepção e capacidade de lidar com o externo. Creio que o mais importante seja a interação de homens e mulheres conversando aberta e francamente sobre como cada qual compreende e se situa nessa dinâmica. 

Venham participar conosco.






domingo, 12 de outubro de 2014

Um Amor em Paris - um pretexto para falar de parceria.





Era sábado a noite. As ruas e bares de BH agitados pelo calor e pela curtição de mais um fim de semana. Brisa me aguardava para irmos ver uma exposição ou um filme. Pelo tardar das horas a exposição tinha acabado, restava um filme que não tínhamos idéia de qual estava em cartaz. Vimos, lemos e ficamos entre três. Eliminado um, optamos pelo filme AMOR EM PARIS.

O filme dizia respeito a temática que vou tratar no curso vivencial que abri as inscrições, de forma que o filme me serve de pretexto para falar da temática que pretendo conversar, versar e ser versado ao longo do curso- parcerias. Mas, antes de chegar a elas tenho que perguntar:
O amor supera uma traição? O amor termina depois de uma traição? É possível perdoar uma traição? Existe traição? Uma traição é algo a ser compartilhado com o parceiro(a) ou algo a ser segredado no mais intimo de si mesma(o)?

O filme de uma forma bem singela, sem ter essas ocupações, acaba por responder a essas perguntas. Mais do que responder a isso, o filme explora os relacionamentos, as parcerias onde elas agarram, se desgastam, se machucam, se ferem.

A nossa personagem (Isabelle) esta lá, ao lado do marido (Xavier), com ele. Eles se amam, mas há coisas num e no outro que eles não gostam. O gostar é diferente de amar e Martin Luther King é quem nos ensina isso de uma forma muito bonita. Prega o pastor americano que Jesus nos ensina amar os inimigos e não a gostar dos inimigos, porque não tem como gostar do policial racista que solta os cachorros em cima de você e da sua esposa, não tem como gostar da discriminação e do discriminador, mas é possível amá-los. Na convivência, no partilhar a vida a dois com um outro(a), dividindo tempo, espaço em todos os níveis e muitas dimensões tem coisas que não gostamos, mas o amor permanece, continua. Pelo menos até o momento no qual o amor também não basta. E esse momento existe, embora ninguém nos alerte, nem mesmo a pessoa que amamos. Precisamos falar e contar para todo mundo que o amor não basta, que por amor as pessoas se perdem, matam, suicidam, se desesperam. Também por amor as pessoas se constroem, se reconstroem, se capacitam, se emancipam. Mas, o amor sem o outro não basta. E tem vezes que o amor chega tarde, ou cedo demais. Ahhh esse amor!!

Há um momento na relação, em que como disse uma partilhante certa vez: “a tolerância fica insuportável.” Tudo que o outro faz ganha a dimensão de agressão, de ataque. Aqueles pequenos desagrados ganham força, amplitude, tamanho, dimensão e eclipsa o amor em magoas, ressentimentos, dores, rancores, que fica difícil visualizá-lo de novo. É aqui que muitos perdem o outro, perdem a si mesmo, se machucam, se ofendem, caminham para uma direção cujo retorno fica mais difícil. É clichê dizer que nesse momento damos abertura para outras pessoas. E uma pessoa que chega nos apresentando novos gostos que esquecemos, novas alegrias que já não tínhamos dá um colorido para nosso ser que vai ocupando um espaço não preenchido, esvaziado. A partir disso tenho me feito a pergunta: é o amor um hábito? Uma rotina? Uma ocupação? Por vezes, parece que sim.



Retomando o filme, vemos o amor um pelo outro. Vemos também as tensões entre o gostar de um e outro. Vemos como o peso da rotina a acaba oprimindo, no mesmo sentido que a forma dele resolver as coisas, ou melhor, não resolvê-las, a cansa. E tudo caminha para o marasmo infinito até que um jovem chega pedindo fogo. Talvez mais levando fogo do que pedindo e isso a acende. Dá a ela uma sobre vida que ela tinha perdido, abandonado, deixado de lado, por que? Quem pediu isso a ela? Por que fazemos isso? Ela não sabe, a maioria de nós nem pensa nisso, em como que fomos abrindo espaço, dando espaço, cedendo espaço e tempo em nós para o outro(a) e de repente não temos mais a nós mesmos.

Nessa perda amplia-se a sensação de vazio, de dor, de angustia, de ausência de algo que era e não se tem mais. Esse quadro de insatisfação moderada ou profunda é tratado hoje como depressão, com base em anti-depressivos, com remédios para dormir, para controlar a ansiedade de um gosto abandonado, esquecido. Diante desse cenário ataca-se o outro(a) ininterruptamente. Acusa-se e ressente-se com o parceiro(a) por essa perda de si mesmo. Os conflitos ficam ainda maiores, porque reaver espaço ocupado por terceiros é briga inglória. Sabe terreno abandonado que o outro construiu? Pode ser barracão ou mansão, não importa, o outro(a) acha-se dono, com ou sem razão. Esse desalojar cria tensão, briga, insatisfação, mas a reflexão é: de quem é o espaço? Onde foi construído esse espaço?


Há espaços que são do outro, há espaços que são nossos, há espaços que são conjuntos. Todo o desgosto parece vir da perda desse referencial. Alguns casais só têm o dele. Outros só têm o dela. Outros perderam o nosso, isto é, aquilo que é gostoso para os dois. Mas, insisto, não sabemos disso antes de desgostarmos tanto do outro(a) que a convivência se torne insuportável. Parece que há uma interdição em falar desses espaços, desse tempo, desses gostos. Parece que há uma necessidade em cada um ficar eternamente cedendo e suportando, suportando e cedendo até que uma parte abandonada do próprio ser, grite pedindo ar, refresco, clareza, lucidez, prazer.

Essa parte gritou na nossa personagem e ela tirou dois dias para ir a Paris procurar o rapaz que conheceu na festa. O encontra, mas não acontece nada. Acontece com um terceiro vindo de um país escandinavo para uma palestra. Todavia, o marido desconfia e vai a Paris e indo, esperamos que ao vê-la saindo com outro do hotel vai fazer um barraco. Depois ao segui-la pelo metro, esperamos o mesmo, mas ele vai até o Louvre, pára diante de uma tela que recorda a sua esposa. Encontra o seu filho razão de des-gosto e tensão entre ele e a esposa, porque ele gostaria que o rapaz estivesse fazendo agronomia e o filho escolhe fazer acrobacia. E ao assistir a apresentação do filho, um dos pontos mais sensíveis do filme, porque o rapaz brinca com o ar, com o equilíbrio, com o tempo, com a leveza, ele se emociona. Conversa com o filho que ele ama, mas não gosta da escolha, ou não gostava e volta para casa.

Voltando, ele teme que ela não retorne mais, que ela tenha se apaixonado por outro. Ele teme perdê-la. Ele confidencia com um conhecido que a viu com outro e o conhecido diz que ela vai retornar porque eles se amam. E o mesmo revela o caso de amor que ela descobriu dele e também ficou perturbada, abalada, esperando o retorno dele. Ela volta. Eles não falam do assunto. Ele não toca nisso. Até que num momento depois de novamente felizes, ela descobre que ele a viu, que ele sabe o que houve. Ela também nada diz, apenas o ama mais. Na verdade, passa a gostar mais dele.

O amor precisa do gostar. Não é que ele seja um hábito, ou um costume, mas ele é um cultivar. O amor precisa ser cultivado e ele o é por gestos, por falas, por ações, por silêncios, por lembranças, recordações, projetos. O amor é cultivado junto. Ele amplia e cresce sozinho, mas a sua significação se dá no encontro com outro.

Luis Soares um amigo espiritual nos contava lá no início do ano 2000 que amor e alguns outros atributos que encaramos como sendo sentimentos são seres. O amor na concepção dele seria um ser, assim como a Harmonia, a Gentileza, a Honra e todos os outros. Sendo o amor um ser a gente precisa aprender a cultivá-lo, a engendrá-lo, a acolhê-lo. E parece que isso esta no gostar, no querer bem, no tratar bem e veja que gostar, querer bem e tratar bem nada tem a ver com poupar o outro, tem a ver com saber que o outro esta com você e você com ele, porque mesmo não gostando de algumas coisas há amor. E é somente nesse ponto que o amor basta. O amor sem cuidado com o outro, sem perder o receio de quebrar o outro não basta, não supre, é esvaziado pelo desgostar.



Finalizando, o ponto mais interessante do filme é a maturidade desse cuidado. Como que um e outro se poupam de revelar que sabe que traiu e foi traído. Como que de forma silenciosa, eles se calam e se gostam mais. Já outros casais necessitam que isso fique aclarado, colocado, posto. Parece que não tem uma fórmula para isso e nem para nada nessa vida, a não ser o respeitar o próprio gostar e a partir de uma escolha conjunta ampliar o respeito ao gostar do outro e juntos acolher e cultivar o amor. Um amor em Paris, em Bh, em nós mesmos, com o outro, com o mundo. Um amor. 


Essa temática do amor, das parcerias será apresentado por nós num curso vivencial em 4 encontros aqui em Bh. Todos os que se interessarem, sintam-se convidados para realizar as inscrições.