segunda-feira, 3 de novembro de 2014

O MERCADO DE NOTÍCIAS: King Kong ainda não despencou.





Mercado de notícias é um documentário, como puderam ver no trailer, muito feliz, brilhante, sensacional, que produz uma interxtualidade entre uma peça teatral da Inglaterra do século XVI, com o Brasil atual.
O ponto de intercessão é a IMPRENSA. Seja enquanto descoberta no passado saxão, seja como mídia expressa na atualidade brasileira. O autor mediante diálogos, cortes, falas do dramaturgo, encenações dos artistas, intercala com frases, percepções, entendimentos de jornalistas de ponta e de monta dos grandes veículos do país. De modo que o autor direciona e dirige a nossa percepção para compreendermos a noticia, como uma mercadoria e os jornais como empresas que vendem informações.

Parece algo obvio. Parece algo claro. Mas, são poucos os que tem esse entendimento claro. Na verdade, quem a não ser os próprios estudantes de comunicação possuem esse olhar? Esse olhar que é capaz de vender tudo. Esse olhar capaz de transformar tudo em produto, ou mais precisamente, saber que ‘vender um sabonete e um presidente é a mesma coisa’. 




O grande público não sabe disso, pelo contrário, espera Veja nos finais de semana com ansiedade para saber dos ‘novos escândalos’. Acreditam que a escrita do jornalista é desinteressada, despojada e sem engajamento. Acreditam mesmo que são neutros e que reproduzem a mais pura e imaculada verdade factual. Não sabem eles e nem nós, que por trás dessa neutralidade jornalistica opera-se as maiores aberrações éticas, morais, profissionais, que desonram o exercício e a profissão de jornalista, ainda que, renda lucros e dividendos àqueles que se prestam esse papel.

Assim, o filme parece se destinar ao grande público, mas talvez este nunca tenha acesso a ele. A maioria nunca verá ou ouvirá falar do filme e menos ainda do autor Ben Jonson e sua obra grandiosa, que ficou ofuscada por ser contemporânea de ninguém menos do que Shakespeare. Volto a repetir, filme e peça são geniais. E precisam ser vistos. O impacto em mim foi tão profundo que quando sai da sessão tive duas certezas: uma- queria ser jornalista; duas- esse filme tinha que ser exibido em todas as escolas, faculdades, universidades. Exibido, discutido, debatido. Aos meus olhos, ele se faz matéria obrigatória da sociedade civil brasileira. Mas, o fato é que isso é apenas um desejo meu.

Um desejo que tem como intenção discutirmos política não na sua esfera, meramente, partidária, mas política no seu sentido de normatização da polis, de discussão da sociedade civil sobre o que ela deseja. Discussão que passa longe de se buscar impeachment de presidente re-eleita e menos ainda convocar e clamar por intervenção militar. É discussão madura, equilibrada de quem consegue saber que no jogo democrático nossos desejos podem ser tragados pelo da maioria. Isso não nos cala, não nos invalida, mas não legitima o golpe. Não legitima a mudança de regra no meio do jogo.


Mas, falo disso porque o autor consegue mostrar a imprensa como um balcão. Ele nos mostra as notícias como sendo mercadorias, informações vendidas, negociadas, censuradas, destiladas em folhetins semanais, em dose homeopáticas. Algo como Veja fez com o vazamento da delação premiada do doleiro Youssef. Relacionando filme e fatos jornalísticos da cobertura das eleições (Vide o Manchometro) vai ficando claro de onde veio esse veneno que está nas mídias sociais, nos butecos, nos carros. Como que a imprensa produziu factóides raivosos, odiosos, preconceituosos contra o partido dos trabalhadores, justamente, e somente por eles terem essa origem, trabalhadora. Nada, absolutamente, nada a ver com a corrupção. Por que não há na atualidade nada mais corrupto, cretino, hipócrita, do que a grande imprensa brasileira. Nada, absolutamente, nada. Precisamos do Wikileaks da imprensa. São mais nojentos do que nossos políticos.




Caminhando para o final, relembro e recordo a minha jornalista favorita- Juliana Duarte- que me disse em outro contexto, outra situação, mas utilizo aqui por ser exemplar e salutar, um fato que poucos perceberam: “logo após a posse de Lula, a Globo passou King Kong.”

É sutil. Mas, não é inocente. Não é por acaso. A escolha do filme ilustra, satiriza, escandaliza, tenta predizer o fim desse selvagem no meio da civilização. Tenta deixar claro que por mais que ele seduza as boas moças, que galgue novas posições, o fim dele é despencar do arranha-céu. O destino dele é voltar ao seu lugar e lá permanecer. "Esse negro, nordestino, semi-analfabeto, baderneiro, grevista, queixo-duro, de origem pobre, trabalhador braçal, não tem o direto de sair da senzala". Pensam e dizem muitos. Não tem o direito de andar pela Paulista, pela Rebouças. Não tem direito de falar do país na ONU em português. Esse King Kong ofende a brasilidade da 'casa grande' que sempre se viu européia.



E, fazendo uma análise de dados, de lucros, de propaganda governamental nessas mídias e também nas grandes empresas, nada justifica essa ira a não ser o discurso de que- não aceitam os não nascidos, não aceitam que a o Brasil da senzala se misture, ou melhor, ocupe os espaços reservados do Brazil/Brèsil da casa grande. Por esse viés, nada resta a não ser o preconceito, o ódio, a raiva por um King Kong ter saído do nordeste, das fábricas, das guerrilhas armadas, do machismo patriarcalista e chegar ao poder. Poder que eles são donos (Faoro) desde sempre, desde muito. Mas, não para sempre. É bom que aprendam a dividir, a lutar e a perder sem chamar o papai, a polícia, o exercito. É hora de aprenderem a perder sem alterar a regra do jogo para que continuem ganhando. Isso é sinal de maturidade. No final parece que King Kong civiliza a barbárie simbólica dos garotos mimados.  

Nessa contenda, ou pseudo contenda, foram gastos 73 bilhões de reais em campanha eleitoral. Valor suficiente para fazer três copas do mundo, pagar três anos de bolsa família. Sites que fiscalizam investimentos de campanha e não doação como se diz alegam que para cada 1 real investido ganha-se 8. Parece que os ataques dos mercadores da notícia ao King Kong são apenas cortinas de fumaça para que não vejamos a política como um grande balcão de negócios, despencando com o valor da bolsa, ou elevando com o capital especulativo. 








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