segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Coração Valente: a classe média midiatizada outra vez.

Todas as vezes que vejo o filme Coração Valente do Mel Gibson representando Willian Wallace recordo das classes brasileiras. 

Há os pobres no qual Wallace faz parte, que tem por sonho apenas sentir-se cidadão do seu país. Ele não quer BMW, nem iate, nem ir trabalhar de helicóptero. Ele deseja um meio de transporte que o conduza como ser humano e não como gado, que são melhores transportados em nosso país do que a classe trabalhadora. Ele quer uma casa e não um palácio. Ele quer um programa que o possibilite pagar mensalmente uma habitação. Programa que usa a verba da Caixa Econômica Federal cujo dinheiro sempre esteve lá, mas apenas para uma parte da população, a que se acha dona do Brasil sem sentir-se brasileira. 

Há a elite que cria onda, faz movimento de internet, mas são capazes de vender o próprio povo para continuarem com o mesmo status quo. Acho Arminio Fraga o seu melhor representante. Eles não se sentem brasileiros, nunca se sentiram. Eles já foram portugueses, depois ingleses, na republica franceses, na ditadura americanos, agora não sei o que são, talvez, cidadãos do universo. Seres virtuais. O fato é que nunca sentiram-se brasileiros. Na copa vaiaram a presidente. Disseram que seria a copa do caos. Foram à Europa enquanto o torneio se realizava. De lá criavam movimentos apartidários. Seria cômico, se não fosse trágico. E seria ao menos inteligente se os acontecimentos históricos não se repetissem primeiramente como tragédia e em segundo como farsa, como bem apontou Marx.


Em algum lugar entre esses dois tem a classe média, que nos seus arroubos de mediocridade pende para um lado ou para o outro. Eles/ nós me incluo, transita entre esses dois universos, mas é incapaz de uma isenção, de uma leitura critica, de um posicionamento que não seja midiático. E entenda-se por mídia: globo, Veja, Estadão e correlatos, que há mais de uma década não tem uma semana, quiçá um dia, que não bata no governo. Atendem, rigorosamente, o conjunto de valores, daqueles que usam o Brasil sem sentirem-se brasileiros. Sentem vergonha de terem nascido entre nós. 

Independente disso, o filme Coração Valente, retrata um fato social, histórico ocorrido no século XIII, de lá para cá, o sentimento de nacionalidade escocês e europeu, americano se consolidou. Não se discute se o governo é de direita, ou de esquerda, ou de centro esquerda, parte-se do pressuposto, do dado, do construído e solidificado que todos são cidadãos e são iguais. Entende-se que para garantir essa igualdade foi realizado ações afirmativas para dar a todos condições idênticas. Luta-se e briga-se hoje com uma xenofobia cada vez maior para que esses direitos conquistados não sejam estendidos a imigrantes, sobretudo, os ilegais. Aqui, nossa elite, acompanhada por parte da classe média rasga a bochecha com a unha quando se fala disso e se prática isso. A classe média está disposta e predisposta a dividir com a elite, mas aceitar que uma classe menos favorecida não precise de favor e caridade, que ocupe e acesse os mesmos espaços é para eles motivo de revolta.

Lá fora, sabe-se que para efetivar essa igualdade lutaram, mataram, guilhotinaram toda uma elite e a elite antes de ter os seus bens materiais e imateriais queimados, estraçalhados, deram os anéis e ensinou o valor que eles têm. Deram educação ao povo para poderem ter e apreciar os seus bens imateriais. Se pensarmos que os grandes museus europeus eram espaços reais, pertencentes a uma única família e dono, compreende-se o que afirmo. Quem já passou aquele frio europeu no qual parece que os ossos congelam, sabe que qualquer obra de arte vira fogueira se a pessoa não for educada para ver a diferença entre a pintura de Da Vinci e o papel ofício.

Aqui entre nós mantemos o modelo de CASA GRANDE E SENZALA, com a classe média na função de capitão do mato e de agregado. Estamos longes demais da elite e queremos uma distância cada vez maior dos pobres, mesmo quando dizemos o contrário. Defendemos mudanças desde que não mude nada em nossas vidas. Não somos racistas desde que o negro não ganhe minha vaga, ou a dos meus filhos. Não somos machistas desde que a mulher não receba mais do que nós. Não somos homofobicos desde que ele não manifeste seu desejo com o mesmo erotismo que manifestamos o nosso em espaço público. Gostamos de viagens de avião desde que no aeroporto ou no assento do lado não esteja um nordestino. Enfim, nossos espaços públicos são categorizados para a casa grande e para a senzala, haja vista, nossa arquitetura que tem quarto de empregada (não se tem isso em lugar nenhum do mundo, creio que nem na África do Sul) e os novos estádios, ambos mantêm a divisão do espaço, o compartilhamento sem partilha, a tentativa de integrar deixando claro que se está fora.


Mas, onde desejo chegar com tudo isso é nas contradições de uma classe média que irreflexiva, acrítica, imbecilizada não por se opor ao PT, a Dilma, a Lula, seja a quem for, é por se opor sem buscar fundamentos, enraizamentos, motivos. Nessa alienação informatizada, porque tem informação em rede; viral, porque se espalha como besteirol, querem sair às ruas para pedir Impeachment da presidente que está adotando políticas econômicas que o candidato derrotado deles estaria fazendo!!! Ou!!! 

É para sacanear não é? Quem tem que estar descontente, revoltado, inconformado, sentindo-se traído são os eleitores de Dilma que não defendem esse modelo. Quem tem que estar furioso e enraivecido é a esquerda que se uniu mais uma vez para não permitir que a direita (quem diria que chamaríamos o PSDB de direita) fosse ao governo realizar essas atrocidades que estão sendo feitas. Jean Wyllys ao ver a composição dos ministérios deu o grito. Eu mantive-me calado. Antes dele, Luciana Genro já tinha nos alertado: "são todos iguais".
E são, querem o poder. Não tem programa de governo, tem programa de manutenção de poder. E poder de empreiteiras, construtoras, consórcios midiáticos, bancos e especulação financeira, imobiliária. Paro aqui para não entrar no tráfico de armas, de drogas, de seres humanos. É nojento. É podre. É revoltante. Assim, são todos iguais- PT/PSDB/PSB. Todos estão a venda, seja nanicos, ou não. 

Essa política do repasse os eleitores do Aécio, especialmente, os de classe média e pobre não podem reclamar, não têm o direito ideológico e moral de reclamar, porque é a política da livre concorrência com a mínima participação do governo. Quem votou em Aécio votou nessa ideologia econômica. Nós que somos contrários a isso é que tínhamos que está puto e estamos, mas longe disso, muito longe disso defendermos intervenção militar e depor presidenta eleita por adotar um programa de governo tirado da bolsa Gucci do FMI. 

De modo que quem deveria estar revoltado e estamos somos nós. E, não falo de aumento de gasolina, reforma das leis previdenciárias e outros pacotes de maldade, que precisam ser pensados, debatidos, realizados. Ações defendidas pelo projeto de Estado minimo que abre espaço para iniciativa privada e livre concorrência e aqui é que escancaram as contradições. O governo não pode subsidiar projetos sociais para a população de baixa renda, a classe média se revolta. No entanto, raramente se questionou as benesses concedidas a bancos, multinacionais e outros. A socialite pegou empréstimo de 2,9 milhões com o nome sujo. Para não ficar em um único governo, Wagner Canhedo cansou de pegar empréstimos para salvar a Vasp. O bom senso pede coerência, quem é contra o subsidio não pode reclamar do aumento da gasolina (subsidiada pelo governo) e pela luz (igualmente subsidiada). E não deve ficar esperando da previdência mediação na arrecadação, por mais ganancioso e extorsivo seja o Estado na sua mordida de leão. 

Reclamamos de um governo eleito que age como se fosse derrotado e oposição. Falo de um governo que vem com medidas que são um retrocesso aos avanços sociais que conseguimos e poderíamos avançar ainda mais. 

Assim, a elite que a classe média esta fechando e compactuando, tal como no filme Coração Valente é a mesma que vendeu o país aos americanos e aplicaram a operação COM-DOR, mediante torturas, desaparecimentos, extermínios e a outra ações inenarráveis, crimes contra a humanidade, que somente entre nós brasileiros prescreveram e foram anistiadas. 

Em todo o mundo, desde sempre, a elite perdeu. Aqui, eles nunca perderam. Nunca cederam. São os eternos Donos do Poder. Mandam, desmandam, fazem o que querem. Crise d’água? As mineradoras não tem, poluem, utilizam a água potável e seguem causando impactos ambientais, sociais, tudo por garantir dividendos econômicos. Mendes Junior, Andrades Gutierrez, Correa tem contrato com o governo "desde o império". É um absurdo acreditar, insinuar que começaram a pagar propinas para ganhar licitação apenas em 2002, que antes disso sempre foram republicanos. Isso é sacanagem, promiscuidade ventilada pelos meios de comunicação e engolida pela classe média sem reflexão e questionamento. Sabe-se do interesse internacional pelo pré-sal. Sabe-se do interesse de Soros pelas ações da Petrobras que despencam, mas tem gente comprando, quem? Por que? 

Não temos outra opção para fazer frente a esses grupos econômicos senão a consolidação dos espaços democráticos. Não temos alternativas senão a construção basilar de mecanismos de transparência na qual se coloque em cargos estratégicos, técnicos profissionais de carreira. Nós só podemos nos defender desse poder que oprime e compra sim o que quer, mediante, um funcionamento em rede na qual a voz de um pode ser amplificada para milhões. Falamos da Petrobras, mas o que sabemos do condomínio do nosso prédio? O que sabemos das contas da prefeitura da nossa cidade? Em Minas as prefeituras foram compradas pelo mineroduto, independente de impacto ambiental, social. Se investigar tem corrupção, propina, tem escândalo, enriquecimento ilícito. É um preço muito caro para permitir o funcionamento nesses moldes das mineradoras. Mais do que nunca precisamos do cacique Seattle de 1855.


É humanamente inviável, acreditar que um individuo frente a corporações como essas será capaz de resistir ao poderio econômico. Creio que somente um a cada cem mil seres humanos negariam uma propina de 200 mil reais. Não estou falando de milhões e menos ainda que isso aconteceria uma única vez. Estou falando de uma valor estimado por baixo para liberar um contrato. São dezenas. Quem vai dizer não? Como se fala não em uma sociedade que apregoa o ter e o individualismo em detrimento do ser e do coletivo? Falamos em combate a corrupção, mas aceita-se e oferece-se propinas, suborno, cachaça, queijo e o que está na medida dos recursos de cada um.  

Particularmente, acredito que o preço que o PT pagou para chegar ao poder faça parte do jogo, dá para entender. O preço que o PT está pagando para permanecer é caro demais. Nenhum deles, absolutamente, nenhum, por tudo o que fizeram, lutaram, necessitava de uma pecha dessa nos seus nomes. O mesmo vale para FHC, Serra e graças a Deus, Covas morreu antes. É caro demais perder a liberdade, a veemência daquele grito que Mel Gibson pode bradar ao final: FREEDON.

Morrer tendo tido uma vida ilibada, ainda não tem preço. 

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