sexta-feira, 3 de abril de 2015

INTERMINADO: a culpa é das estrelas, ou seria da Eduarda?

Eduarda foi a aluna, que me apresentou ano passado, o livro: “A culpa é das Estrelas.” Leitora assídua, devorava o livro com a intenção de terminá-lo antes da estreia do filme. Gosto quando as pessoas estão dentro do livro, imersas na história criada pelo autor, encontrando um espaço entre as pautas para que elas caibam. Ela estava assim, se esgueirando entre a estória maravilhosa do livro e a chatura de um professor que a puxava para vida, a retirando de uma das entrelinhas do livro. As entrelinhas entre as palavras têm infinitos só preenchidos com a historicidade do leitor, tornando cada livro, frase, única para cada um, não que lê, e, sim, que entra nesses espaços infinitos criados pelo autor. Eduarda pegou um desses caminhos de minhoca e quase me puxou para dentro do livro, eu resisti... infelizmente, mas estou muito feliz e satisfeito com os mais vendidos.

Tenho me impressionado, positivamente, pelos atuais best sellers. Primeiro, “A menina que roubava livros”, agora, a “Culpa é das Estrelas”. O filme é de fato belo. E, a beleza do filme é tratar de assuntos tão densos, tão pesados de uma forma tão leve; refiro-me ao câncer e a morte. Mas, o que eu quero mesmo é tratar desse hiato, dessa lacuna entre um acontecimento e outro. Quero falar do infinito, do paradoxo de Zenão de Eléia, da renormalização da física quântica para que as fórmulas não caia no absurdo. Quero falar do interminado.

Interminado não é uma palavra dicionarizada, pena, porque interminado no texto tem a função de aludir àquilo que não se termina. Mas, que não é algo interminável. O interminável parece ter a vida toda e todas as existências para acontecer, já o interminado é o oposto, o antônimo, já que representa, algo que finda antes de termos chegado ao fim. O interminado é similar ao não acabado. Aquela concepção freudiana que ganhou matrizes existencialistas de que o homem é um ser inacabado, um ser por fazer, um projeto. O interminado é esse mesmo lançar rumo às incertezas do infinito, sem que o alcance. Esse hiato, esse lapso é o interminado. É basicamente sobre ele que falamos.

O interminado permeia todo o filme, está em toda vida. O interminado é esse final da vida antes da despedida. É o aperto de mão sem a possibilidade de um abraço. É o primeiro orgasmo que será contabilizado como a última transa. O interminado é o fim que chega, a dor que arranca, a perna amputada que ainda tenta andar. O interminado é esse flerte miserável e compulsivo, obsessivo da vida, com uma paixão latente pela vida, que acaba se encontrando com a morte. O interminado é a paixão que acaba antes do amor morrer, ou o amor que cessa sem avisar. O interminado é a dor da escala 10 da personagem.   


Durante o filme não derramamos uma lágrima sequer para a morte, não é ela que nos causa espécie, o choro vem pela brevidade da vida. Nos causa lágrimas esse encontro certo, inexpugnável, mas que nos choca todas as vezes que acontece... o interminado. Como somos dependentes do depois do amanhã. Como carecemos de uma consequência de fatos. Como somos frágeis diante do fim inesperado, do interminado. Os dois jovens do filme não se conformam ( talvez mais ele do que ela) do livro terminar no meio de uma frase. Mas, na realidade, quantos de nós terminamos alguma coisa quando queremos? Quem termina uma paixão na hora que deseja? Quem cessa uma transa na hora que quer? Quem se prepara para a morte antes de ela bater na porta e quando ela bate, já levou. Nossos personagens vitimados pelo câncer desde tenra idade, flertam com a morte e o que ela tem de mais belo, o interminado. E eles ensinam cada uma das pessoas do seu convívio a viverem melhor, a serem melhor. Eles transformam o intermindado em infinito. Não um infinito interminável, mas o infinito que faz o sorriso do filho, o olhar da mãe, o beijo da amiga, as mãos dadas com a mulher que se ama ser eterno. Uma eternidade fugaz, breve como um segundo, mas profunda como o infinito. É sensacional saber que os jovens estão lendo isso. É sensacional saber que essa gratidão de ter estado com uma pessoa por um instante faz valer toda uma existência de dor. Um único segundo de amor. Uma única bafejada de carinho, um hálito de esperança proporcionado pelo ser que nos ama, faz toda uma existência valer a pena. É sensacional saber que esse amor está sendo vivido na Terra. E mais ainda que jovens de 15, 18, 20 anos estão aprendendo sobre ele. Um amor que fui re-conhecer aos 40 e que alguns morrem aos 95 sem nunca ter conhecido. Amei essa brevidade nas entrelinhas do livro.


Outra brevidade não menos importante é a de que nós precisamos do adeus, das despedidas, do último abraço. Nós precisamos dos finais, quando ele não acontece ficamos no vácuo e o vazio acaba nos preenchendo. Em alguns o vazio preenche todos os espaços, corrói tudo o que havia, ficando uma dor que dilacera. Em outros, o vazio é preenchido por outros instantes, ou pela gratidão de um infinito proporcionado por uma transa, um sorriso, uma convivência, uma amizade. É estranho como que o amor, a gratidão é capaz de preencher o interminado com um sentido que ocupa toda vida. Possibilita a eternidade na palma da mão. Possibilita a arte, a redenção, a transcendência. Possibilita o amor e o melhor de cada um de nós.


Sejamos...  


Nenhum comentário:

Postar um comentário