quarta-feira, 9 de março de 2016

OLX: DESAPEGA!!! DESAPEGA!!!


A propaganda, claramente, nos fala do desapego, embora de forma comercial. Ela se torna emblemática para pensarmos e analisarmos algumas situações referentes ao apego, tanto na sua esfera material, quanto na sua esfera espiritual. O que de forma alguma nos impede de pensarmos e refletirmos: a que e ao que estamos apegados? Na maioria das vezes não sabemos, não percebemos e só nos damos conta em situações limites. Situações nos quais privados desse algo constatamos o tanto que estávamos apegados, desde uma pessoa, passando por circunstâncias até chegarmos às coisas. Estamos presos, apegados a algo ou alguém.

Friso isso, porque espiritualistas falam muito do apEGO e do desa-pEGO. Estamos entendendo, o apEGO como aquilo que se associa ao ego e o desapEGO como aquilo com o que o ego não mais se associa. Mais do que uma associação o apego é uma identificação. E como nos identificamos atualmente. Temos tantas identificações que identificar-se tem sido um problema. De todo modo, vale o exame de consciência: você está apegado a que? A quem? Se morresse amanhã ficaria preso a alguma coisa? Alguém te prenderia? E aqui exploramos duas possibilidades do apego.



Recordo-me que na década de 1990, eu respondi a essa pergunta eu era mais solto, não tinha nenhum entrave existencial que me fizesse pedir por mais dois minutos caso a morte me chamasse. Hoje, tenho filhos, tenho ações não feitas, tenho amores não concluídos. Hoje estou apegado, mas é isso um mal como alardeiam os espiritualistas? Provavelmente, não. Para mim e muitas pessoas que conheço e atendo, esses apegos nos deram ancora, nos deram chão, nos deram Terra e incorporação. Sem eles estaríamos vagando por aí. Muitos veem e interpretam isso como sendo condição necessária para o desenvolvimento e a prática espiritual, o que não deixa de ser uma verdade. Mas, não posso deixar de frisar e salientar como que o se atentar para o relacionamento, para o matrimônio, para com os filhos, remete a mesma compenetração e profundidade da vida celibatária, monástica, dedicada ao outro. Quero dizer que embora esses dois caminhos sejam apresentados como antagônicos, há possibilidades cada vez maiores de seres que os integram, os unificam e caminham pelos dois ao mesmo tempo, que percorre um só, ou ambos.


Na vida de modo geral não é nada diferente. Nos apegamos, nos agarramos a pequenas coisas que se nos tiram- agredimos, ficamos ofendidos, magoados, chateados. A maioria de nós tem dificuldade de deixar uma pessoa passar na nossa frente ao entrar no ônibus e quando nos sentamos... aquilo não é mais uma cadeira, é um trono. Nós nos apegamos à cadeira de bus. Eu fico curioso com tudo isso, como que ao alugarmos um quarto no hotel, no primeiro dia tudo é estranho, no segundo, terceiro dia, nos apegamos. Somos capturados pelo pronome possessivo MEU. Você poderia pedir para limparem MEU QUARTO! Você pode me chamar no MEU QUARTO! Vamos embora no dia seguinte, mas tomamos posse. Fazemos o mesmo movimento com casa alugada, com carro, com bichos, com outro ser humano. A medida que o pronome vai sendo usado com desenvoltura, mais o apego cresce, se avoluma em nós. Mais prendemos e vamos ficando presos.
De modo que desapegar não é fácil e não é atoa que é a grande lição do budismo e da maioria dos ensinamentos espirituais. Nas reuniões espirituais o que observamos são os apegos, são eles que nos prendem. Não importa aqui se é o de álcool, de drogas, de sexo, de carne, de ciúme, amor, ódio e vingança. É o apEGO que nos aprisiona, nos retém, nos paralisa, nos inviabiliza, porque todo apEGO é repleto de medo, de ansiedade e por vezes de angustia.

Longe da proposta do abandono e da renuncia do ego o que reputo salutar é praticarmos a arte do desapEGO todos os dias, ou melhor, todo mês, no mínimo uma vez por ano para que ele não se solidifique muito. Para que a gente não se ache demais, demasiadamente. Quanto mais seres, objetos temos sob nossa captura, maior a sensação do Ego de comando, de domínio, de potência, de arrogância, enfim, de ilusão. O dar, o compartilhar, o renunciar auxilia na diminuição desse estado. 

A arte OLX, isto é, de desapegar-se das coisas, dos outros, de nós mesmos vai nos auxiliando a consolidar um espaço de liberdade e autonomia aos seres a nossa volta. No que se refere aos objetos, a medida que nos desapegamos vamos ficando mais livres, mais conscientes, aquele espaço antes reservado a ansiedade, a angustia, a dor e ao sofrimento vai sendo preenchido por algo mais leve, mais tênue, mais substancial. Uma outra substância vai crescendo e nos coabitando, vamos ficando mais plenos de nós mesmos ao não estarmos apEGOdos, identificados a outras coisas que são e não são eus.   


3 comentários:

  1. Só não gostei de uma frase de Osho no meio do texto, dele como exemplo, pois há muitas informações negativas sobre essa pessoa, quando ele esteve aqui na Terra... Acho que ele não era bem a pessoa que muitos acreditam que tenha sido...

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    1. Então, Alex; Osho é uma figura controvertida. Um anti-guru, mais iconoclasta que Krishnamurti. Mas, os ensinamentos deles são bacanas. Recomendo a todos os cristãos a leitura da Semente de Mostarda é uma explicação mto bela do evangelho. Abraços.

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  2. Entrando aqui hj, 8 de maio de 2021 anos depois, rsrs. Na Netflix tem um documentário sobre o Osho que acentua ainda mais as controversias que o Alex acabou mencionando, 5 anos atrás. Wild Wild Country.

    Não consegui terminar de ver.

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