domingo, 16 de outubro de 2016

XIII ENCONTRO MINEIRO DE FILOSOFIA CLÍNICA/I DIÁLOGO NACIONAL DE FILOSOFIA CLÍNICA.

O belo encontro aconteceu na não menos bela cidade de Poços de Caldas. Tomei a liberdade de fazer um breve relato das falas dos queridos companheiros de área que tanto acrescentaram e contribuíram para os diálogos. Essa fala é um olhar, uma percepção e não sei em até que ponto toca a forma como cada qual compreendeu e sentiu as comunicações. De todo modo, confiram aí e podendo acrescentem mais informações, percepções.

13 de outubro

·        14hs Abertura dos Trabalhos.

Os trabalhos iniciaram com o atraso natural de quem espera pela chegada de todos os participantes vindos dos mais diversos pontos e a alegria dos reencontros. Nesses reencontros sentimos a falta da amiga, professora Marta Claus que por motivos outros, não pode estar conosco fisicamente, mas esteve das mais diversas formas, inclusive na lembrança carinhosa de cada um dos participantes que tinham nela uma intercessão que nos unia.

·        15hs PRÁTICA DA FILOSOFIA CLÍNICA EM OFÍCIOS DE ARTES: Ana Cristina da Conceição.

Foi uma bela abertura das apresentações. A moça bela, inteligente, sensível e me permitam dizer ‘desconhecida’ emocionou a todos ao expor um trabalho tão singelo, tão sensível e tão fortemente embasado, costurado nas metodologias da FC.

O trabalho desenvolvido se dá num espaço pago pela prefeitura de São João Del Rey, sobre a supervisão de uma psicóloga e de uma artesã, que mediante pintura, crochê, pequenos reparos em material de demolição, música e outros ofícios auxiliam os participantes (muitos rotativos) a retornarem as suas vidas mediante o ato poiético. Nessa relação dialética, laborativa no qual o trabalho transforma a natureza, ao mesmo tempo em que transforma cada um dos envolvidos; alterando as vizinhanças, as autogenias. Toda casa é gestada e gerida numa ótica da sustentabilidade em que o produzido é vendido para o sustento da própria casa e a capacitação interna dos envolvidos.

Ana Cristina nos fala de alguns partilhantes, da dificuldade de se seguir a sequencia metodologica da FC da colheita categorial a aplicação dos submodos, devido a muitos fatores, especialmente, a própria dinâmica do lugar. Ela destaca em sua fala, três partilhantes. Primeiro (não em ordem de apresentação) o rapaz que sentia a cabeça como uma panela de pressão. Depois a que que se falava pela pintura das rosas, das flores. Em terceiro outra que mediante o canto, a música se falava, se desvelava. Esta chegava muda, ia em direção ao teclado e começava a cantar, a tocar. Depois de muito canto, ela falava das suas dores, do seu mundo, das suas representações. Nisso vinham outras músicas não apenas dela como de outras pessoas.

Essas pessoas se dizem com as semioses mais variadas, que Ana Cristina numa atenção sensível vai proporcionando, ou vai dando condições de eles se desvelarem da maneira que somente ele pode se dizer (singularidade). Singularidades encontradas pelo submodo da esteticidade.

Essa apresentação mexeu demais com todos nós, inclusive comigo, porque me lembrava o trabalho de uma amada-amiga junto a saúde mental lá nos idos dos anos de 1980 em São Paulo, mas quem vai retornar parte dessa história será o Dr Cláudio em sua fala. Enquanto ela ia narrando eu ficava pensando a necessidade de espaços como esses para acolher as pessoas que estão passando por ‘transtornos’ psíquicos e mais do que serem estigmatizados necessitam ouvir-se, perceberem-se para darem prosseguimento a sua vida. Prosseguimento que passa pela acolhida, pela produção não em série e em escala, mas a produção via poiesis, na qual aquilo que eu produzo, eu gero, eu faço não me aliena de mim, muito pelo contrário, possibilita que eu me veja e me perceba no objeto produzido. Nesse ponto eu valorizo aquilo que faço/sou. O sujeito passa a encontrar sentido na sua existência e amplia a sua sensibilidade, ou aprende a lidar com ela por intermédio da Arte.

Por muitas vezes eu fiquei para perguntar a ela: vc viu Nise da Silveira? Veja!! E arteterapia, ou já leu “O Mundo Secreto dos Desenhos”?

Enfim, a gente espera a escrita da Ana em um artigo para ampliar ainda mais nossa percepção. Foi uma graciosíssima presença.

·        16:30hrs FILOSOFIA CLÍNICA NO CUIDADO AO IDOSO: Patrícia Oliveira.


Uma abordagem ‘nova’ para a FC na qual Patrícia com extrema competência e clareza expõe a amplitude profissional do filósofo(a) clínico. Ela nos fala do posicionamento deste ao lado do seu partilhante, ressalta a necessidade de se cercar de bons profissionais e estruturar o seu trabalho no mais alto nível. Pode parecer bobagem, mas Patrícia nos ensinou que o cuidado ao outro não desassocia do cuidado de si mesmo. E, o prisma que ela utiliza para construir essa abordagem não é a terapêutica, que estamos acostumados e afeitos e sim a PROFISSIONAL, que as vezes escapa. Ou seja, cuidar de si mesmo aqui refere-se a responsabilidade de se compreender como alguém que estudou, se capacitou para exercer uma função e esta não pode ser meramente voluntária. Ela nos mostra a importância de se guardar um lugar e de se estabelecer numa posição de forma ética, clara, transparente. E tudo isso passa ou tem como ponto emblemático, um CONTRATO.

Em sua fala, ela aborda alguns casos, como o de alertar a equipe médica que sua partilhante que estava no CTI não podia receber determinada medicação, registrando e aclarando a atenção que ela dispensa aos seus atendimentos, ao cuidado prestado e envolvido a cada partilhante. Ela nos conta também do acompanhamento junto com as/os partilhantes a uma consulta médica e a garantia a essa partilhante que ela tenha voz, seja ouvida. Já que algumas vezes os médicos ignoram a presença da pessoa buscando se comunicar apenas com os familiares, ignorando a percepção e a representação do outro. Fica da sua apresentação o profissionalismo, a ética pessoal e profissional como grande marca.

Também esperamos um artigo, ou uma vídeo conferência, um curso virtual falando e expondo para mais pessoas essa experiência exitosa.   

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 17:30hrs ESTÁGIO SUPERVISIONADO: para que orientador? - Guilherme Gomes Caiado

Parte dessa exposição já podemos ler na Partilhas desse ano. Guilherme de uma forma bem aconchegante inicia a sua apresentação com uma dinâmica de apresentação. Após isso, ele nos coloca para refletir e depois falar sobre o papel do orientador.

Guilherme em conjunto com Maíra sua amiga e colega de turma escrevem dos contratempos que teve ao longo de seu pré e estágio supervisionado. O ápice do contratempo se dá quando a sua partilhante, depois de setenta páginas escritas, acaba largando a terapia. Ele desesperado, descontente, pensa em largar de vez a busca pelo certificado A.

Chama atenção em sua fala e no diálogo que se estabeleceu a partir da sua exposição, o sentido metodológico e especialmente que escapa a metodologia na formação do filósofo clínico. Mais precisamente, parece que todo ensinamento metodológico da FC tem o objetivo que aprendamos aquilo que não se ensina por nenhuma técnica: o respeito a singularidade e a escuta. 
Particularmente, gosto de pensar que o pré-estágio é o momento no qual o filósofo clínico se coloca na condição de partilhante (espacialidade) sem a qual a clínica fica dificultada. Guilherme nos fala da necessidade de entrega, da confiança, da organização não apenas mental quanto psíquica para a clínica acontecer de forma mais clara e elegante.

14 de outubro

·        9:30hrs ABERTURA DOS TRABALHOS: Izabel Cristina.

Realizou uma dinâmica que serviu de orientação para pensarmos algumas situações.

·        10hrs A QUESTÃO DO AUTOCONHECIMENTO NA FILOSOFIA: da identidade à singularidade- uma contribuição para a prática da Filosofia Clínica. Marta Batallini.

Sem dúvida foi o trabalho que pautou as discussões do dia e atrevo-me a dizer do encontro. Por uma via muito bem sedimentada academicamente, Batallini nos fala da construção da identidade a partir do daimon (voz interna) grega, passando pela conceituação de persona/mascara pelo viés sociológico de Talcott Parsons de (ator social).

Essa construção identitária serve para ela pensar os múltiplos papeis existenciais que vivenciamos e a necessidade de: 
a)   não soma-los, isto é, deixar que a esposa se alce ao papel de namorada, ou de mãe, ou a de professora, ou a...
Na matriz sociológica que ela fundamenta muito bem sua percepção, as mascaras sociais que utilizamos são frutos de uma soma e não de uma divisão. Ou seja, todo número multiplicado por 1 é ele mesmo. Nessa condição há um mesmo (nossa identidade) que deve ser multiplicada e não somada. Quando a somamos tendemos a nos dividir e a levar problemas de uma persona para outra. Essa somatória segundo a percepção dela tende a acarretar problemas existenciais, que valendo-se de seus procedimentos são fáceis de auxiliar o outro. Sem dúvida que é clinicamente interessante.

Ela ainda avança para a questão da singularidade que não me atrevo a buscar expor aqui de forma breve. Não preciso dizer que é provocante a visão e concepção por ela apresentada, mas de fato muito boa e interessante. Digna de um artigo para melhor apreciação e discussão. Partilhas e nós aguardamos.

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             11:30hrs A FILOSOFIA CLINICA NA PSIQUIATRIA: Cláudio Fernandes

Uma apresentação cuja marca foi a humildade. Talvez tenha sido essa a grande impressão que o Dr Cláudio provocou em todos nós. Com um texto pronto, ele o guarda e prefere o diálogo conosco e com a apresentação da Marta Batallini que o antecedeu.


Ele nos fala de três grandes matrizes, a da psiquiatria e a classificação via DSM. Fala dela com certa dificuldade e incomodo (percepção minha, ele não fala disso diretamente). Mas, ao longo da exposição dele vai ficando claro a insatisfação e dificuldade de fazer uso desse mundo pronto e acabado no qual irá apenas se enquadrar o outro.

Nessa dificuldade psiquiátrica, ele fala da FC a abertura que ela proporciona de abordar o outro em seu universo. Nesse ponto, ele nos conta das suas atuações históricas junto aos vários movimentos psiquiátricos e antipsiquiátricos, culminando sua fala para o Programa Braços Abertos da cidade de São Paulo. Fala da acolhida aos usuários e dependentes químicos. Nos conta da sua abordagem em ouvir, escutar as demandas dessa população, assim como dos coletivos que lidam com eles, médicos, enfermeiros. Nessa sensibilidade, ele fala da importância inusitada dos dentistas para a recuperação arcaria dessas pessoas e com isso todas as implicações que isso acarreta ao recuperar a aparência, a mastigação.

Por um ato falho, ele esquece a psicanálise que lhe serviu de esteio por décadas, mas não se alonga muito por ela, apenas a registra. O cerne então da sua fala foi a escuta, mais do que uma escuta, é o desapropriar-se de qualquer pre-juízo. É o estar nu mentalmente para acolher e receber o discurso do outro, seja qual for o discurso. 

E, junto a esse discurso abrigar, acolher o outro numa atenção profunda, eidética, de acolhimento. Poucas vezes eu ouvi uma tentativa tão radical ( no sentido de ir às raízes) de se buscar e de fato entregar ao outro um lugar no qual ele pode ser ele mesmo e não se ter nenhuma metodologia definida, nada a ser utilizado, a não ser a escuta daquele ser que sofre.

Foi em pontos como esse que a humildade dele foi reconhecida, já que o psiquiatra tem o poder da imputabilidade. Poder social utilizado com os fins mais perversos e mercadológicos. Cláudio parece abrir mão de tudo isso para ouvir esse outro e a partir dessa escuta propor alternativas que não firam, não destruam, não abalem, não destitua o ser da sua singularidade. A beleza e o respeito a isso é de uma luminosidade estonteante.

Esperamos que de certa forma o texto não lido possa ser acolhido pela revista Partilha para uma publicação. Assim como maiores detalhamentos de como ele tem desenvolvido a sua prática médica. Recordei em parte do livro Visita de Médico.


·        14:30hrs PERSPECTIVAS DA FILOSOFIA CLÍNICA

Everaldo realizou o relato de sua busca por si mesmo, pelo autoconhecimento. De forma breve, mas bem pontual, ele nos contou, sua ‘historicidade’. Bacharel em música, toca flauta clássica, aos 24 anos sente uma angustia existencial que encontrou apaziguamento ao ir morar e estudar (flauta) na França. Depois de um ano, ele percebe que a angustia era um pouco maior e resolve dar um passo ainda mais instigante. Já estava lançado na facticidade da existência, ousou um pouco mais, foi estudar yoga na Índia.



Acreditou que era somente chegar, sentar na posição de lótus e se tornaria professor, aprendeu que a Yoga tinha escola, graduação, mestrado, PHD, aulas cinco, seis dias da semana, conhecimento da anatomia humana nos seus mais diversos corpos. Implicações das glândulas, dos hormônios. Relação entre as asanas e as ativações hormonais, glandulares, fisiológicas. Estudou tudo isso, virou PHD e voltou ao Brasil depois de sete anos. Entrou na faculdade de Filosofia, formou-se, tem se especializado e dedicado a filosofia da mente, abriu um Centro de yoga em Poços onde dá aulas e acabou encontrando a FC, que está já no estágio supervisionado.

·        15:30hrs FILOSOFIA CLÍNICA E LEITURA ENERGÉTICA: uma percepção sobre a singularidade e a universalidade. Kélsen André

Como bem situou o Marcio antes mesmo da apresentação: e o particular? Tem o universal, o singular, cadê o particular?

Ótima provocação. Como já tive a oportunidade de falar e quase me arrepender do que disse, agora escrevo sobre o que eu não falei e gostaria de ter dito, rsrs.

Pensei no diálogo, o realizei comigo e em mim e agora compartilho com vocês, ressaltando àqueles que não estiveram lá, que não foi assim que se deu.

Meus problemas eram dois: o que é isso, singularidade? Quanto mais nos aproximamos da singularidade, mais universal nos tornamos. Diante disso, minha questão era: é possível chegar ao conhecimento do outro? Estou querendo dizer e pensar se há uma singularidade na qual me identifico e me defino? Como alguém pode se tornar aquele que ele é? Diante dessa tensão, o que é isso singularidade?

Nessa pergunta, eu estava buscando a identidade e partindo de um a priori de que ela existe. Para isso falei da Leitura energética e outras práticas esotéricas como a astrologia que parte de um pressuposto da possibilidade de se conhecer o outro, mais do que ele mesmo. Parte-se dessa possibilidade, porque de certa maneira há uma convicção de que algumas artes divinatórias, algumas técnicas bioenergéticas captam a essência e não o aparente. Ou seja, estava afirmando sem conseguir provar, mas tinha convicção, rsrs de que há um universo vibracional e que antes de qualquer coisa, esse universo se manifesta.

Uma clara contradição performativa pelo viés filosófico, especialmente o da filosofia clínica para quem eu só venho conhecer esse outro se ele se apresenta e a partir da apresentação que ele me fornece. Aqui então temos uma intercessão entre esses dois universos, a saber; é no recorte, na historicidade, que eu conheço o outro. Todavia é ingenuidade o filósofo clinico acreditar que ele conhece o outro, já que esse forneceu apenas um recorte de si mesmo.

Nesse ponto, eu gostaria de ter estreitado uma discussão mais clara com a perspectiva da Marta Batallini e a fala do Dr Cláudio, no sentido de incorrer na impressão de que haveria uma identidade, algo que nos faz ser quem somos. Esse algo chega antes da minha atuação social e do meu papel existencial. É algo que eu vibro falando ou calado. É algo que me identifica e me singulariza. Torna-me eu e não outro. E, diferentemente do apontado pela colega todo sentido existencial é conhecer essa voz e agir por ela, de modo que se houver uma representação social, o único papel que eu posso representar é o de Mim Mesmo. E, esse eu mesmo se dá no conhecimento dessa voz profunda que existe em mim. E é essa voz que deve coordenar todas as minhas outras representações sociais.

Nessa visão, caminharia para a concordância do pensamento do Dr Cláudio que nos disse num outro contexto, mas com o mesmo sentido, que ir à clínica empossado desse olhar é um pre-juízo, é contaminar o olhar e talvez a escuta no que esse partilhante nos trás. No entanto, todo o trabalho terapêutico seria uma forma de devolver o si mesmo para a pessoa e não ensiná-la a se comportar nos mais diversos atos e representações sociais que a gente atua. Obvio que eu voltaria ao meu paradoxo da demarcação de até onde e até que ponto é legitimo minha crença nesse si mesmo, por exemplo, pensando num si mesmo de um sócio ou psicopata? Teria ele o direito de matar exercendo a sua vibração e essência? Terapeuticamente, essa poderia ser uma descoberta legitima- um assassino por natureza como rezou Quentin Tarantino?

Vou tentar escrever sobre isso e publicar junto a Partilhas e peço perdão aos queridos colegas pela falta de maior clareza acerca do diálogo que eu gostaria de ter realizado e promovido. Na próxima vez que for tão instigado por falas anteriores, que mexem tanto na apresentação que faria, abrirei uma mesa de discussão.



Ali, eu queria mais ter ouvido, promovido um debate do que falar do paradoxo entre singularidade e universalidade, pelo menos no que tange a pessoa humana no seu universo terapêutico.

·        17hrs MESA REDONDA: considerações acerca do I Curso de Aconselhamento Filosófico em Faro/Portugal: mediador Márcio José Andrade da Silva. Participantes Maria da Conceição Silva e Leonardo Ricco.


O caríssimo Márcio abre a fala mostrando paisagens de Portugal e trilhas por onde passaram. Em cada foto, ele nos conta um pouco do vivido, do experenciado, das relações. Talvez a grande foto seja a da visita a um vilarejo de pouquíssimos habitantes e a convivência com uma velha moradora que além de lhes abrir as porteiras para chegarem ao lago/rio que banha o vilarejo, os leva para casa para saborearem o vinho que ela mesma faz.

Em seguida Leonardo Ricco trás seu artigo que está publicado na Partilhas n° 3 trazendo sua percepção sobre o esoterismo e os vários significados que esse termo possui. Mesclando sua fala com o que escreveu, o que vivenciou e as paisagens internas que ele visitava em lembrança, Leo foi tecendo um universo interno, no qual ele queria nos levar para dentro, nos dar um olhar a partir da sua pupila.

Assim, como Márcio nos brinda, revive e explica suas memórias e percepções mediante fotos, nos levando junto com ele no seu olhar significado. Leo de forma ainda mais artística tentou nos levar junto dele, tentando nos fazer perceber e compreender que cada conceito construído era fruto de um sabor (sapere) experimentado. Nenhuma daquelas palavras eram apenas palavras e sim sentido de algo que marcou a sua alma e alterou seus passos (metodologia). 

Caminho que se faz ao caminhar, na sua abordagem. Claro que não conseguimos captar o que ele nos disse com a singeleza e singularidade que ele nos apresentou. Entrar no tempo subjetivo do outro é sempre um desafio. Mas, a beleza desse lugar, a ousadia de tentar mostrar essas paisagens é sempre emocionante, comovente, cativante. O artigo de Leo vale a pena demais ser lido, assim como todas as outras coisas que ele faz, devido a essa coragem, essa ousadia de buscar caminhos pouco explorados, as vezes inabituais. Poucos de nós filósofos clínicos temos a ousadia de ir tão longe e de arriscar tanto.

A terceira a tecer considerações foi Conceição, que entre o registro cativante e intersubjetivo de Márcio e as impressões internas subjetivas de Leo, nos dá em sua fala a objetividade do relato. Ela fala do encontro, da quantidade de Pintos e outro sobrenome que esqueci que ela encontra em todos os cantos. Fala de como num primeiro momento a abordagem ‘selvagem’ do aconselhamento lhe causou um certo estranhamento. Não somente a ela, como a muitos outros filósofos clínicos. Expondo uma resistência e desconforto inicial que ela vivenciou. Aos poucos, ela foi compreendendo o método, a metodologia e hoje está no nível III do Aconselhamento Filosófico. No ano de 2017, ela deve retornar a Portugal para junto de Jorge Dias terminar o Project.

Um ponto interessante que escutei de duas pessoas que fazem o curso é de como que o foco no problema, a abordagem centrada nesse problema, ajuda na clínica para pessoas que tem emergência, ou querem apenas uma solução para o que em FC denominamos de assunto imediato, sem um tempo maior para terapia. Tanto na visão da Conceição, quanto no da Marta Claus isso foi um grande ganho que o aconselhamento lhes proporcionaram. Aprender técnicas de abordagem para uma terapia breve, para questões emergenciais.

Conceição discorre ainda sobre maiores detalhes de uma e outra técnica, mas aguardamos maiores detalhamentos também na escrita de um artigo.
15 de outubro

·        10hrs NOSSA HISTÓRIA NA FILOSOFIA CLÍNICA: Izabel Cristina Pereira e Márcio José



Como diria José Trajano: “não cheguei aqui ontem, eu tenho uma história.” E que bela história. Izabel Cristina nos remete aos anos de 1990 quando toma conhecimento dessa terapêutica, mas não tinha ninguém em Poços. Entra em contato com o Instituto Packter por intermédio do computador de uma amiga, já que ela ainda não tinha. Do Instituto ela recebe a informação de que o responsável pela região era o Sebastião. Procura o mesmo, mas ele só teria turma a partir do outro ano. Ela vai até São Paulo e localiza um professor que diz que se ela conseguisse uma turma de 8 pessoas, ele abriria uma turma. Ela consegue 12 sendo que apenas 3 buscam a certificação A. Tem um imbróglio territorial, que interrompe o curso.

Ela muda para Salvador e lá refaz o curso, mas quando chega no momento do estágio, a maioria desiste, mas ela não. Cumpre o estágio e se torna filosofa clínica. Retorna a Poços e auxilia na construção das mais diversas associações ao longo do país, que culminará com o nascimento da ANFIC.

Nesse momento surge a pergunta sobre a ruptura ANFIC x IMFIC e Márcio expõe os motivos, as razões. Márcio conta a história do IMFIC, como nasceu, como se estrutura, qual o objetivo, deixando claro que ele é um centro de formação e não um sindicato de representação dos filósofos clínicos. Que na concepção dele e de muitos outros deveria ser o papel da ANFIC.

Particularmente, acredito que ainda que ela se julgue no direito de emitir carteirinha de filósofo clínico apenas para quem passar, num digamos exame de ordem, mas ela não pode legislar sobre os centros, e institutos de formação, por mais que seja compreensível um ordenamento mínimo do que a gente vai reconhecer como filósofo clínico.

A partir disso várias outras tessituras foram consideradas e saliento duas, uma jurídica e outra acadêmica;

a jurídica foi posta por Luiz que das muitas contribuições aponta o caminho de se buscar junto aos municípios a introdução da filosofia clínica como prática integrativa e complementar pelo SUS. Isso garantiria e respaldaria nosso trabalho profissionalmente.

Gláucia acha que não deveríamos ficar nessa fissura de legislação, reconhecimento pelo Mec e coisas similares, porque a nossa prática em certa medida já é maior que a academia. Não no sentido de ser melhor, mas no sentido de ela pode crescer, se estruturar, se fortalecer, se fazer um movimento alternativo a essa loucura que as pessoas tem discutido e tentado fugir. Ela utiliza a mesma lógica para falar da revista e de não entrarmos na loucura de buscar qualis e similares que funciona pelo viés quantitativo, produtivo, que tem pirado e ao mesmo tempo diminuído a qualidade das publicações.

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Enfim... é algo que temos muito a discutir, a construir. Nas recordações de Izabel, de Márcio íamos vendo o tanto que já se andou e o tanto que ainda temos para andar. Ele responde uma dúvida que carreguei de onde estavam as associações que tinham revistas e publicações diversas e percebi que elas foram criadas, mas se ‘dissolveram’ na criação da ANFIC que precisa definir sua posição como REPRESENTANTE DOS FILÓSOFOS CLÍNICOS, precisamos muito disso.

Bem, isso foi o que aconteceu dentro daquele espaço, pelo olhar desse que vos escreve. Cada um de nós lá presente teve um olhar, uma percepção podendo ser complementar, oposta a essa. Fiquem a vontade para produzir asteriscos e continuar a composição do belo encontro realizado.


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2 comentários:

  1. Excelente "apanhado" amigo! Posso utiliza-lo, com as devidas referências, claro?

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