sábado, 5 de maio de 2018

GASPARETTO de fantasminha camarada a homem integral.



Luis Antônio Gasparetto, voltou pra casa.

Esteve conosco por 68 anos. Suportou trabalhar com Picasso por mais de 60 anos, rsrrs. Só isso vale o céu, rsrsr. Creio eu que a média dos casamentos do mestre de Málaga não passou de 10, 12 anos.  De longe, com Gaspa foi uma das suas relações mais duradouras.
Então não há porque chorar, lamentar. Ele fumou até o último trago de ansiedade e pressa e expirou desejos de que fossemos fortes, corajosos; que fossemos além do que nos deram como horizontes.

Louco, divertido, irreverente, atrevido. Foi ao lado de Chico e Waldo Vieira o médium mais importante do final do século XX, XXI. Fez pela mediunidade brasileira coisas que demoraremos a entender, a assimilar. Primeiro despontou como um fenômeno notável. Poderia ter ficado nisso, mas quis mais e construiu um dos maiores centros espiritas da América Latina, os Caminheiros. Endeusado, admirado, rompe com tudo e cria o Espaço Vida e Consciência. Para muitos estava obsediado, não doando direitos autorais dos seus livros, propondo um movimento de mediunidade independente, fazendo talk shows, programas de rádio. Ganhando um espaço que era preenchido por ele, pelo dom dele. Valendo-se e aplicando a sua força, o seu dom e de posse desse potencial, os parceiros iam juntos. E juntos romperam barreiras e fronteiras.

Gasparetto libera a mediunidade brasileira dos centros espiritas. Liberta os médiuns dos aspectos religiosos, não que não sejam importantes, relevantes, mas ele abre mais o leque, as dimensões, as possibilidades. Pode-se ser médium, sensitivo sem que para isso seja essencial desenvolve-la num centro. Ele vai desvelando formas, técnicas para que o sensitivo perceba sua mediunidade como uma habilidade que ele deve aprender a usar em seu benefício e dos outros. Uma habilidade, uma ferramenta a ser utilizada, compreendida, estudada e a medida me que se faz isso, internamente, subjetivamente se aprimora. Esse aprimorar interno abre novos caminhos, meios, procedimentos, conquistas para os indivíduos. É uma mediunidade sem lágrimas, sem dor.

Gasparetto puxou a fila para que pudéssemos falar de médiuns independentes, de paranormais que cobram, de pessoas que fazem uso dos seus talentos e dons para auxiliar a si mesmo e o próximo, mas sem a soberba de uma caridade, de uma humildade disfarçada de orgulho e presunção. Gasparetto foi um dos primeiros médiuns espiritas a não mais alimentar economicamente, financeiramente, lideres espiritas que vivem de uma caridade que não é deles. Vivem de roubar direitos autorais de médiuns. Gaspa, Marilusa cortam isso. Criam suas editoras, suas gráficas. E isso pode parecer ruim aos incautos, mas ajuda até os infelizes que viviam dessa forma de exploração a crescerem, se mostrarem, se verem.



Essa é a força que permeia a energia de Gaspa em todas as etapas, a necessidade de se reinventar, se criar, se lapidar em busca de se tornar melhor do que se está. É um processo incessante, constante. De forma que com Gasparetto e Calunga alguns equívocos, alguns escapes, muitos deslizes, se fizeram impossíveis. Ele nos ensinou direta, ou indiretamente a não fugirmos de nós mesmos. Com ele fomos e somos convidados e obrigados a observamos a nossa dimensão subjetiva. Somos convidados a perceber o fenômeno mediúnico em correlação com nosso universo subjetivo e na confluência de ambos, ele desvelou o psíquico. Creio que poucas pessoas compreenderam no plano físico o psíquico com tanta profundidade, com tanta segurança, com tanta elegância quanto Gasparetto. Ele foi um dos poucos encarnados no século XX, XXI que viu o psíquico como veem os preto-velhos e amigos siderais. Um olhar que para dizer o mínimo e o simples, o psíquico é a força motriz do espiritual, ou o inverso, o espiritual se concretiza enquanto força motriz e fixadora no psíquico. Essa força não é um local como a mente encerrada em um aparato biológico como muitas teorias psicológicas desenvolveram.

Gaspa expandiu demais esse conceito de mente. Mente é ou pode ser inteligência coletiva. Inteligência coletivas, conscientes ou não desse aspecto conseguem modelar espaços, tempos, símbolos, memorias, lugares. Ou seja, a mente é uma dimensão e Gaspa entrava e saia dela como poucos. Localizava as pessoas em diversas camadas, níveis e conseguia retirá-las desses lugares. Gaspa fazia isso com muita elegância, como um grande artista que é, que foi, continua sendo. 



Essa relação do universo psíquico com o fenômeno mediúnico vai demorar mais 50 anos para academia levar a sério. Gaspa precisava ter uma linha de estudo, de pesquisa nas faculdades de psicologia de todo Brasil, assim como Lúcio Packter na de filosofia. Porém isso não vai acontecer, porque este escreveu em português e aquele praticamente não escreveu, não publicou. Seus ensinamentos estão em áudios, cursos que não tive paciência de fazer, mas que reconheço como brilhantes, sensacionais, inovadores e ponto de partida aos espíritos novos que estão chegando.
Igual os caras para conversarem conosco partiram de Freud, Jung, creio que para gente conversar com a geração que já está aí teremos que começar com Gaspa, Packter, Hellinger e outros.

Gaspa transcendeu a psicologia, ou melhor, concebeu uma psicologia profunda, xamanica, inspirada, integrada, na qual entidade, médium, dialogam num nível que ainda estudamos, mergulhamos parcamente. Outros censuram, recusam a ver, seja esses outros formados da área psi, ou médiuns, dirigentes, de centros espiritas, espiritualistas. Em ambos há um sistema de crença que se fecha ao novo. Em ambos os dogmas são mais fortes do que o prazer da descoberta.

Esse caminho inovador de Gaspa, sempre o levou a rupturas. Rupturas dolorosas, sofríveis para ele, mas que o amadurecia, o fortalecia, o colocava mais perto de si mesmo. Isso para dizer, que ele como todo buscador morreu várias vezes, teve várias fases, como o seu mestre, seu parceiro mais perto e dileto, Picasso. Várias fases, com diversas cores.

Certa feita o mestre de Málaga me disse algo como: “para cada amor uma cor, uma fase, uma inspiração. Isso faz com que a gente ame mais, ame melhor, aquelas que ficaram, aquelas que estão. Cada amor é uma superação. Uma re-invenção.” Foi nessa que eu inventei a fase azul, mas passado três meses uma grande amiga morreu.



Pensando nas rupturas, eu menciono com o CRP (conselho de psicologia). Depois com a união espirita, mais tarde com os kardecistas. Porém, longe de estar errado, ele estava abrindo espaço para nós que viemos depois. Nós que sendo médiuns não queremos subscrever o fenômeno numa única perspectiva e olhar. Nós que desejamos explorar essa dimensão numa perspectiva mais integrada, ampla, holística. Um olhar que passa por nós e se integra conosco, em nossa forma de fazer e estar no mundo. Se você faz psicologia, não se sente muito normal, busque um pouco do Gasparetto, creio que ele seja o que te falta para si compreender e conseguir compreender o outro.

Gaspa nos fez isso. Nos deu força, coragem. Assumindo a sua homossexualidade, quando isso era e é tabu no meio religioso. Expondo um orientador espiritual negro- Calunga. Num lugar que faz com que negros e índios sejam tidos como espíritos inferiores. Há casas kardecistas que desejam doutrinar preto-velho porque falam errado. Esse racismo não é da entidade, nem da doutrina e Gaspa, indiretamente, nos fez olhar para isso. Fez mais, deu um novo significado e uso para o “dai de graça o que de graça recebestes” e tirou a culpa de ganhar dinheiro, de ser feliz, de gozar a vida e buscar o melhor de médiuns e religioso. Ganhou dinheiro sem culpa, valendo-se da sua habilidade de compreender o universo interno das pessoas. Uma habilidade que lhe era natural, mas ele aperfeiçoou muito estudando com os melhores mestres e professores. Dispenso falar dos muitos médiuns que Gaspa auxiliou economicamente.

Para muitos, os que foram contemporâneo dele, ele é um proscrito, um maldito, uma aberração. Mas, para nós e os que virão depois de nós, ele será visto como um pioneiro. Alguém que acendeu archotes enquanto tudo estava escuro, obnubilado. Um dos que nos deu condições de chegarmos aqui e irmos além. Aquele que desvelou o fenômeno da pictografia como a co-criação de paisagens internas e dimensões coletivas. Aquele que conseguiu sair do universo do fenômeno, médium pictográfico, para homem notável, que se encontrou, se realizou em vida. Alguém que deixou de ser o fantasminha camarada, aquele amado por todos, como um prodígio, um fenômeno, que buscava agradar a todos de encarnados a desencarnados até se tornar o homem integral. Aquele que passou a se colocar em tudo o que fazia. Aquele que se fez artista de SI MESMO.


Gaspa nós te amamos!! Grato por tudo.


6 comentários:

  1. Gratidão eterna a este meu amado mestre!

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  2. Gratidão eterna ao meu mestre terreno!!! Amamos mesmo!!!

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  3. Gratidão nossa a tudo que ele nos ensinou.

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  4. Muito bom texto, parabens, o que sinto:respeito, muito respeito e reconhecimento, obrigada.

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    1. Grata Susete, ele inspirou a mtos de nós. Grande abraço.

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