quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Complexo de Alemão/2


2. Observável sob diferentes aspectos.


Vou dar um toque, mesmo contra mim. Peguem os barões do pó! Tem deputado, senador, tem generais, tem até ex-presidentes do Paraguai nas paradas de cocaína e armas. Mas quem vai fazer isso? (Marcola)
Aqui é uma visão que não me permitiu um sono calmo e tranqüilo. Em grande parte do mundo, senão no mundo inteiro, a policia tem uma banda podre. No caso da policia carioca é o inverso, lá se encontra uma ala honesta, eles são minoria. A promiscuidade das relações da policia do Rio com toda fonte de poder paralelo pode ser vista e entendida pelas milícias, armadas, paramilitares, formada em sua maioria por policiais e ex-policiais. A história é simples: depois do arrego do trafico, eles resolveram administrar as coisas por eles mesmos. Expulsaram os traficantes e passaram a traficar. Como isso ainda era pouco bizarro, eles passaram a cobrar proteção de comerciantes, moradores, fazer todo tipo de gato (contradição já que são ratos). Enfim, dominam e amedrontam as favelas, comunidades que um dia ajudaram a libertar.

No livro a “Elite da Tropa” o autor nos informa, que a chegada do Papa provocou ações higiênicas nas periferias cariocas. Buscou-se mais do que nunca diminuir os índices de violência, nem que para isso fosse preciso a falseação de dados. O falecido Michael Jackson para realizar as suas filmagens teve que contar com os beneplácitos do trafico. Tudo isso sinaliza para uma relação de parceria entre o trafico e o poder oficial, de forma um nunca contrariar o outro. Todavia, a apreensão de 8 toneladas de drogas, armas, motos no complexo do alemão indicam que o enfraquecimento do CV é o fortalecimento do Estado. A pergunta que tira o sono é: dede quando no estado do Rio há um estado desatrelado do poder paralelo? Se não há, enfraquecer o comando vermelho fortalece quem? Talvez em outro livro como “A Elite da Tropa” ou quem sabe em Tropa de Elite 6 viemos a saber.

Complexo de Alemão

Por complexo, assim diz o Aurélio:


(cs) adj. 1. Que abrange ou encerra muitos elementos ou partes. 2. Observável sob diferentes aspectos. 3. Confuso, complicado, intricado. [opõe-se a simples]. 4. Grupo ou conjunto de coisas, fatos ou circunstancias que tem qualquer ligação ou nexo entre si. 5. Psiq. Grupos de idéias inter-relacionadas que tem um denominador emocional comum o qual influencia, significativamente, as atitudes e comportamentos de um individuo.
Todos os significados se aplicam a favela do alemão e tentaremos discutir cada uma delas, ou especialmente algumas; como a de complexo pela ótica da pisq. As epigrafes foram retiradas de uma entrevista que Marcola, integrante do PCC deu ao Globo ou a Folha de São Paulo, não sei mais:

http://acertodecontas.blog.br/atualidades/entrevista-com-o-lider-do-pcc-marcola/

1. Que abrange ou encerra muitos elementos ou partes.

Olha aqui, mano, não há solução. Sabem por quê? Porque vocês não entendem nem a extensão do problema. Como escreveu o divino Dante: "Lasciate ogna speranza voi Che entrate!" Percam todas as esperanças. Estamos todos no inferno." (Marcola)
Falando de Dante e a sua descida aos infernos, trago aqui parte de minhas lembranças em um trabalho que desenvolvemos em desdobramento e psicografia anos atrás. Já faz quase uma década, que psicografamos um livro, cujo tema central era o tráfico. O inusitado, no entanto, é que o trafico referido era energético. O que conduziu o trabalho para as searas da prostituição e da mediunidade, temas que também se associam a trocas ectoplasmaticas.

Entre o contato com o mundo espiritual e o cruzamento de dados com o mundo físico é notório a muitos, que o trafico de drogas, de órgãos, de animais, de pessoas, de armas, assim como o mercado da pornografia são os que mais rendem lucros e dividendos no comércio mundial. A estranheza dos fatos é que esse mercado ilícito abastece e financia o dito mercado licito, de forma promiscua e escandalosa. Sendo que o rastro deixado dessa promiscuidade é a famosa lavagem de dinheiro. No entanto, a lavagem de dinheiro, anda ganhando níveis de sofisticação e de cumplicidade com o mercado formal, que já não se distingue mais dinheiro licito de ilícito. O efeito colateral mais recente dessa promiscuidade foi dada com o crash do mercado imobiliário americano, levando a bancarrota as bolsas do mundo todo.

Exemplo de como esse mercado funciona seria pela supervalorização dos imóveis. Valorizam-se os imóveis para que quanto mais caro eles ficarem, maior a possibilidade de se lavar o dinheiro em uma transação: única, legalizada e até mesmo com aval bancário. É notório para compradores e vendedores que o imóvel vendido não é compatível com o valor real cobrado, pelo contrário, mas... É desse lastro econômico que se efetiva e se efetua a lavagem do dinheiro. É uma matemática bizarra, lucrativa apenas para uma parcela minúscula e prejudicial para o mundo inteiro.

Em um cruzamento de dados talvez fosse possível fazer uma associação do Bum imobiliário com a contravenção. E como não poderia deixar de ser, este mercado pelo poderio econômico acaba colonizando outras esferas, como a política, a judiciária, a de comunicação. Finalizando, este é um mercado que infesta a todas as localidades do mundo. Especificamente, no Brasil, informações de Wálter Fanganiello Maierovitch dão conta da infiltração cada vez mais influente da Nadrinheta, máfia italiana, diretamente relacionada ao trafico de drogas, a lavagem de dinheiro, a corrupção, etc...

domingo, 22 de agosto de 2010

As dezrazoes do riso

















Durante as nossas conversações cirandeiras, há quase três semanas atrás, surgiu a reflexão sobre humor e espiritualidade, humor e religião. Fiquei lembrando do meu lorde Múcio, amigo de faculdade, que gostava de fazer caricaturas dos nossos colegas de turma e dos professores. A maioria adorava quando se fazia dos outros e sentia-se ofendidissimo ao serem retratados. Sempre perguntavam para meu lorde, ou para seus colegas mais próximos: “eu sou assim? É assim que você me vê?” De forma geral quando retratados a graça da caricatura transformava-se em um tipo de ofensa. Por que?

 

Isso me faz recordar de uma aluna que nos imitava (nós os professores) magistralmente, hilariamente, no entanto, apenas eu e mais duas colegas achavam graça. Na verdade, apenas nós três vimos ela fazendo as imitações, senão idênticas, pelo menos muito fidedignas. E a aluna sentia-se ameaçada caso descobrissem que ela imitava alguns professores.

 

Mas, conto tudo isso e reflito sobre tudo isso, porque a gente (cirandeiros) se perguntava se seria possível rir dos evangélicos, dos espíritas, dos budistas, dos esquisotericos, dos astrólogos, dos nova energia, enfim de nós mesmos. E enquanto Julio nos falava da necessidade e da espirituosidade de rirmos de nós mesmos. Eu cismava que a tendência natural é rir dos outros e quando o humor se volta sobre nós, o acharmos provocativo, apelativo, incoerente, enfim, sem graça e o humorista, ou comediante um des-graçado.

 

II

 

O TSE em uma medida no mínimo arbitrária proibiu a satirização dos candidatos e das eleições. Proibiu mais, proibiu a humorização dos candidatos, das campanhas, etc. O engraçado é que o TSE não proibiu ou proibirá a candidatura de figuras que zombam, ou representam o que são as eleições no nosso país: uma piada representativa, figurativa, cheia de canastrões e seres canhestros. No entanto, achou válido e legitimo censurar humoristas país a fora.

 

III

 

Os jornalões, como chama Mino Carta, se declaram neutros. Dá para imaginar que a Veja, o Estado de Minas, a Folha de São Paulo sejam neutros? Da para acreditar em neutralidade quando uma revista semanal posta a foto de uma presidenciável com os dizeres: “O passado de Dilma” e retira uma foto dos porões da ditadura? As vésperas das eleições? Quando se sabia que ela aumentou seu percentual em relação ao outro candidato?

 

Mas, eles declaram, abertamente, que fazem um jornalismo imparcial. Chamam petistas de aloprados, criam escândalos, inventam factóides, aceitam dossiês fajutos, fabricados e inventados pelo orelhudo Daniel Dantas, mas se declaram imparciais. Mas sobre isso, Nassif e Paulo Henrique Amorim falam e escrevem mais claramente do que eu, haja vista, o site conversa afiada: http://www.conversaafiada.com.br/ e o caso Veja http://sites.google.com/site/luisnassif02/ Este em especial, depois de tudo o que tem sido mostrado por essa revista é caso de fechamento, mas entre nós, ventilar tal possibilidade é tido como cerceamento da liberdade de expressão. Expressão de quem? Mas não é este meu objetivo de agora e sim tecer uma comparação.

 

Assisti ontem a Dilma no jornal nacional, hoje eu vi a Marina. E eu fico me perguntando: “por que a gente se submete a isso? Por que mesmo sabendo que serão trucidados, crucificados, triturados e devorados se vai ao encontro dessa gente?” Eu não sei e nem entendo e fico chateado de ver. O Boner pode votar em qualquer um é um direito que lhe assiste. O casal global pode até vestir a camisa do seu empregador e tal como Cid Moreira chorar quando teve que ler um direito de resposta conseguido pelo falecido Leonel Brizola ( por falar nele quem gosta, visite o blog tijolaço. É escrito pelo neto dele), mas a falta de cortesia com a qual tratou a ambas, em especial a Marina que é um doce, foi profundamente descortês. Mas... espero para ver qual será o tratamento dispensado a Serra. Talvez a rispidez, a grosseria seja marca do casal, creio que não, mas pode ser. Creio que eles sejam extremamente simpáticos e dóceis com aqueles que eles tem simpatia. É vergonhoso chamar isso de imparcial.

 

Eu vi partes da entrevista do Serra. Boner tentou ser duro, ríspido, mas não conseguiu. Não sei se foi por questão de gênero, ou por questão ideológica. Ou se por ambas. Ou se tudo não passa de imparcialidade jornalística de um padrão neutro de qualidade.

 

IV

 

Ontem assisti CQC (creio que tenha sido semana passada) e a intromissão deles em meio ao debate para perguntar sobre a censura nos programas humorísticos. Todos os políticos disseram o que falei no item I: não! tudo bem! sem problema! Apenas Marina disse que é melhor quando se faz com o adversário. E alegou ainda que isso é perigoso, porque pode ser utilizado pelos meios de comunicação imparciais.

 

E aí é o ponto que eu queria chegar. A gente ri do que? O que tem graça? Não é o racismo, o machismo, a esperteza, a vantagem? Não são invariavelmente disso que rimos e debochamos: dos pobres, dos gordos, dos menos favorecidos, dos velhos, dos com problemas mentais, físicos? Estou falando de humor politicamente correto? Espero que não. Mas o humor político pode ser respeitoso, principalmente, quando os candidatos não fazem os eleitores de palhaços. Creio que o mais oportuno seria o TSE proibir, restringir o que fazem o casal Bonner, a Veja, os jornalões diariamente. Na falta de peito, foram no lado mais “fraco”, os humoristas.

 

Mas a outra questão é: não é mais preocupante quando eles querem falar sério? Eles jornalões? Não é infinitamente mais perigoso? Não foi falando sério que eles deram o golpe em 64? Não foi falando sério que eles apoiaram o golpe por mais de 30 anos? Não foi falando sério que se fez a edição do debate do segundo turno em 89, que acabou com Lula? Não foi falando sério que eles criaram o caçador de marajás? Não é falando sério, que o bobo da corte, pago por Daniel Dantas, destila seu veneno, semanalmente, na Veja?

 

V

 

Voltando ao que interessa, Gustavo nos apresentou um vídeo da 3ª insana, cujo nome do espetáculo é Santa Paciência. Vale a pena dar uma olhada, olhando, responder: é engraçado? Quando eu postei sobre o Pai Tinga, parece que somente eu e Elo achamos graça. De qualquer forma, eu achei hilário e você? Bjs em todos.

 


terça-feira, 20 de julho de 2010

As nuvens: o caso Bruno


As nuvens são agrupamentos energéticos que passam. Encontram moradas em alguns de nós. Fazem desacertos, criam confusões, depois se dissipam. Quando ela acaba de passar, as pessoas envolvidas não sabem ao certo o que aconteceu, mas respondem pelas ações, pelos atos, pela nuvem avassaladora que passou.

O caso Bruno para mim em parte esta envolto nessa nuvem. O da médica tb. O dos três envolvidos e citados há meses atrás também. O da agressão do professor ao aluno, igualmente. Esta nuvem esta no ar. Esta passando, mas ainda não se dissipou. O que a dissipa? Nada! Ela tem o seu tempo de estadia, de permanência. O que podemos fazer para não sermos afetados por ela é encontrarmos em nós nosso oceano, nossa interioridade, nossa paz interna. Onde se encontra isso? Em si e não em mim. Com sigo, se seguindo e não com o outro e no outro.

São momentos de atenção para todos. São momentos para que a gente aprenda a construir outras nuvens, menos densas, menos sombrias e nebulosas. Nuvens mais tênues, suaves, amorosas.

De toda forma esses crimes que povoam as nuvens do imaginário, parecem ser uma epidemia, uma gripe, uma onda que vem e toma as pessoas em maior ou em menor grau. Pelo menos é assim, que eu começo a ler o caso Bruno. E a melhor imagem para essa leitura foram os cães visualizados pela mãe. No primeiro momento, eu achei que os cães estreitavam uma diálogo apenas com ela. Em um segundo momento que os cães dialogavam apenas com o caso Bruno. Em um terceiro momento me parece claro que os cães são nossos, pelo menos meu, do meu amigo professor que deu um soco no aluno. Ontem, depois do atendimento de urgência, tive certeza que os cães são nossos, estão na minha família. Estão na minha sala. E isso me fez lembrar uma passagem bíblica que diz:
 Ai do mundo, por causa dos escândalos. Porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem. Portanto, se a tua mão ou o teu pé te escandalizar, corta-o e atira-o para longe de ti; melhor te é entrar na vida coxo ou aleijado do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno. {Mateus18. 7,8}
Retirando as ameaças finais. Os escândalos são complicados e o mundo esta cheio deles. Mas isso parece ser uma energia conjunta de saturação que de repente é vomitada, regurgitada, trazida às claras para que ilumine toda a sociedade. Vou tentar encarar os fatos assim, espero ser possível ao final.

O caso é estarrecedor, chocante. Na quarta-feira chegava em casa depois de um encontro rápido com os amigos Gustavo e Julio. Ao chegar conversando com meu irmão, ele me conta a última: o corpo da menina teria sido esquartejo e desossado. Eu parei! Não consegui ver, nem ler mais nada. Já não conseguia antes, mas a última informação tirou meu sono, simplesmente não dormi a noite. Acordei na quinta para dar aula, praticamente insone. Fiquei sem dormir. Fiquei chateado, mas as fichas caíram para mim, quando vi duas reportagens sexta pela manha. É incrível como que esses crimes mexem com a energia da cidade, do país. Movimentam tudo, dão uma sacudida em tudo. Parecem até que limpam uma série de coisas.

Mesmo distante alguma coisa me puxa para o caso. Uma sensação de desconforto e de que tinha mais coisa, tem mais coisa permanecia. Sexta pela manha informes. Vejo uma reportagem que mostra Ribeirão das Neves, conhecem? Falarei dela já. E ao ver a cidade, ao ver Bruno, recordo dos quatro anos que lecionei nesta cidade, primeiro na cidade dos meninos. Ele poderia ter sido um aluno meu. Não foi.

Nas reportagens citadas, uma eu vi o local onde nasceu, morou, foi criado. Em outra, vi um radialista levantando a Bola de que o provável sumiço, morte e desaparecimento da garota, artista de filme pornô, se deveu não a paternidade e sim ao fato dela ter descoberto alguma coisa sobre uma rota de trafico Esmeralda-RJ e estaria chantageando o casal Bruno e Maka. Ao que tudo indica, Maka é traficante com denuncia até de homicídio. Quem relata é um conhecido de ambos, amigo de ambos, que pediu proteção policial e afirma que teve o irmão assassinado por Macarrão, anos atrás.

Mas por que volto a isso? É porque acredito que esses caras foram possuído pelas nuvens. Essas forças selvagens, tenebrosas que garantem àqueles que as canalizam, a incorporam, a abrigam, a sensação de super-heróis, seres acima do bem e do mal, seres no qual e pelo qual não responderão por nada, mesmo porque nada os atingira.

Esta energia povoa a cabeça dos traficantes, de algumas pessoas. Eu as chamava de Exu quando elas se aproximavam de mim, mas são muito diferentes, pois estas forças são o que se denomina de Legião. Uma força de muitos, mas sem rosto, sem cara, sem identidade, apenas a feição canina da violência, da banalidade do mal, da agressão cega, torpe, vil, covarde, purgativa e cartastica, que alimenta aqueles que praticam e aumentam sobremaneira as nuvens, a legião. Diria que as nuvens são o hálito das legiões, o sopro e o suspiro das legiões. E quando eles encontram demanda interna, isto é: frustração, castração, privação, magoa, angustia, inveja, cobiça, ambição, e outros, eles fazem morada. A nuvem permanece, o hálito dá alento e fortalece os caras, lhes dá disposição, força, animo, vontade. Foi isso que eu vi de perto no atendimento de terça-feira.

Vi o irmão z "possuído" por essas forças. Não era nada espiritual, não tinha nenhuma incorporação de Exu, ou de Egun, ou seja lá o que for. Era apenas ele, suas magoas, suas dores, suas revoltas, suas feridas abertas, sangrando, gritando, doendo. Nunca um grito de dor foi tão alto aos meus ouvidos. E nunca vi tamanho abandono. Ele estava forte, poderoso, imenso, mas vazio. Uma contradição horripilante, que cansei de ver em reuniões de desobsessão, mas vistas assim, de maneira tão próxima, com um ser encarnado, era a primeira vez. Aquele cara que se batia, se esmurrava, vociferava contra o pai, queria bater no pai, mas não batia, que já tinha se espetado com garfo, chutado e arrombado portão, que as pessoas não se aproximavam e temiam, não suportava um abraço. Um abraço e ele voltaria a ser o que tudo aquilo era- um menino órfão de 3 anos maltratado pela madrasta. Um menino furioso, abandonado, com a força de homem. E a birra, a pirraça do menino encontrava agora a força, a proteção duvidosa, ruidosa, se vista de longe, quase hilária, de um adulto de 37 anos.

Era uma cena terrível, desoladora, lamentável, mas era apenas um psicológico vomitando 37 anos, um psicológico regurgitando os tapas na cara tomado da madrasta, os espancamentos tomado da madrasta. Os abusos e as humilhações que ele passou e sofreu ao longo da vida. E eu nunca soube que a dor dele era tão grande, tão imensa.

No entanto, outras coisas me chamavam atenção. Já que o menino assustado não me assustava, pude perceber outras coisas, lançar outros olhares e nunca tinha visto tanto vazio, tanta falta. Eu olhei para a cena, olhei para casa, olhei para os personagens que compunham o quadro e não tive duvidas em afirmar que era o médium de toda uma revolta, de toda uma magoa, de uma frustração, de um desalento, de um desespero que estavam naquela casa. Ele foi médium das nuvens. Não pela primeira vez, tomara que tenha sido pela última. Mas foi médium dessas forças que tomam qualquer um, fazem qualquer um de instrumento e isso é o assustador. Pois de posse dela a pessoa se sente além do humano. Ela se sente imbuída de uma força super poderosa. Uma força que esta além do bem, do mal, do certo, do justo, da justiça. A pessoa diante dessa força e com a proteção dessa força só pára diante de algo maior do que ela. E a única coisa que ela reconhece como maior é uma raiva oposta, contrária, inversa àquela que ele manifesta. O homem como lobo do homem. A lei do mais forte.

Não sei se já viram? Psicologicamente o pessoal chama de surto. Eu via estas cenas desdobradas, em reuniões de desobsessão, mas aprendi a demovê-las com os preto-velhos. De forma suave, amena, doce, eles envolvem esses seres poderosos e eles choram como meninos, na verdade, são meninos. Ali, eu não fiz uso da técnica, ali parecia que havia uma necessidade do transbordamento. O escândalo era necessário, mas ai daquele que era motivo de escândalo.

E aqui é que aponto a diferença brutal e substancial entre essa força Legião/nuvem e a força Exu. Esta é protetora, defensiva, ela não é uma energia de ataque, mas de auto preservação, de legitima defesa, que pode até matar, mas não tem crueldade, diria até que não tem violência, tem apenas ação instintiva. Rápida, direta, que a pessoa não sabe de onde vem a força, não entende como ela fez o que fez, é chamado de presença de espírito e visto depois como ato de heroísmo. Quero ilustrar com algumas passagens.

1- O fantástico mostrou os predadores mais letais do reino animal. Juro que não vi violência em nenhuma das cenas na qual o falcão caça o pombo, o guepardo caça uma zebra (eram esses os animais). Tinha ali uma ação de sobrevivência, de luta, de defesa. Era justa, era clara. O movimento dos exus é similar.

2- Dia desses uma senhora de sessenta e poucos anos desarmou um assaltante de menor. Ela simplesmente lhe tomou a arma e em seguida chegaram transeuntes para ajudá-la. É desta força instintiva, primária, súbita, que estou falando.

3- Já ouvi falar de revolver que masca o tiro na hora, de carro que da perda total e a pessoa só sai com a perna quebrada e às vezes nem isso. É desta proteção que me refiro a falar dos Exus.

Em nenhuma dela há um controle prévio, há uma ação premedita, há a crença de que com eles do lado se pode tudo, inclusive criar confusão com os outros. Pelo contrario e é esse contrário que habita a Legião e o seu hálito.

A legião/nuvem é uma força completamente egoica. Ela apenas usa os seres. Depois os descarta. As pessoas que as movimentam e lhes dão passagem tem a ilusão de achar que esta força são elas, são delas. Não são. Eles são usados. Depois são abandonados, largados. É a força que usa as pessoas e não o inverso. É a legião que se aproveita deles e não o contrário. E usam, porque elas necessitam dessa energia doentia, cruel, violenta, torpe, vingativa, sacana, pervertida, sanguinária. Essa força alimenta uma falsa sensação de poder e é um poder vazio. É um poder que corroi, destrói tudo envolta, principalmente aqueles que fazem uso dessas forças. E aqui eu estou colocando quem faz trabalho espiritual para o outro. Estou falando de Elisa e as festas regadas a drogas e orgia. Nada contra a orgia, mas pelo menos nesse caso é a mesma nuvem. Que leva a uma mente doentia, a uma pratica doentia, que eclode trazendo uma violência, uma crueldade, que é apavorante. E nisso não há nada de instintivo, de natural. Pelo contrario é possessão. É premeditação. A cena roda na cabeça, as imagens são criadas na mente e isso alimenta tanto e quanto o derramamento de sangue.

Esses detalhes vivenciei de perto ao estudar sobre as drogas e entender que o trafico, na verdade, é energético, é ectoplasmatico. E chacina é negociada a preço de ouro no astral. Mortes com esses requintes de crueldade alimenta a sensação de poder, aumenta a sensação de potência. Vai tirando de cada um deles o senso de realidade, de normas, de legalidade, de justiça. Eles sentem-se protegidos por essas forças, todavia essas forças não protegem ninguém, só a elas mesmas. Depois de as terem saciado, eles se mandam e procuram outros. E para não se pensar que isso é meramente relacionado ao trafico, ao crime, o local onde estas forças se encontram mais cristalizadas são nos bastidores do poder, nas ante-salas e corredores dos palácios de governo, câmeras, congressos e assembléias legislativas. E o mais louco é que isso é sim pessoal, você pode identificar pelo nome algumas dessas energias, mas são coletivas e seu nome é legião.

De forma que é uma ilusão o político acreditar que é poderoso, uma ilusão acreditar que o traficante é poderoso. São instrumentos dessas forças macabras na qual quem ganha são apenas eles mesmos. Sabe aquelas pirâmides que são feitas por aí com o intuito de ganhar dinheiro, com a promessa de que um dia se chegara ao topo da pirâmide? O organograma é o mesmo.

Bruno é mais um dos iludidos por essas forças. Aguardemos quem será e quem serão os próximos, mas disso falo no e-mail Urubu

Urubus


Bruno limpou o Flamengo, limpou seus familiares, limpou a família da moça, limpou algumas coisas que estavam boiando no mundo do futebol. Não sei se as coisas não voltarão a sujar, mas algumas tantas estão sendo discutidas, pensadas, analisadas. Ele trouxe o escândalo e por ser motivo de escândalo esta recebendo tudo isso que estamos vendo, mas as vezes é necessário ir para onde as coisas nascem, criam e são geradas. É este movimento de mudança, de análise em vários setores da sociedade que o caso Bruno gerou, que quero me debruçar.

Aos meus olhos ele foi instrumento dessas forças Legião/nuvens. A iniciar, ele tem o perfil claro de abandono, de carência, de privação, de convivência com a violência e a crueldade, características que a Legião gosta de fazer uso. Não sei se era ambicioso, se cobiçava mais do que a boca seria capaz de morder. Sem duvida que era e é obstinado, determinado, o que pode ser facilmente conduzido para a cobiça. De qualquer forma tem um talento formidável, fantástico. Recordo que um amigo nosso de pelada, que é segurança do galo, dizia, quando Diego- seleção brasileira de base- estava ainda no gol, que o reserva era ainda melhor. O reserva era o Bruno. E no início, embora com personalidade altiva, ele nem abria a boca. Não dava entrevista. Quando dava falava poucos minutos. Ganhou dinheiro, mas mais importante do que isso, reconhecimento. Ele passou a valer alguma coisa. Não é o dinheiro que pira os caras. Pelo menos não sozinho. Se o Bruno ou qualquer outro recebesse 400 mil reais, ele seguraria a onda, a maioria segura. O que pira é o reconhecimento. Essa cifra formidável que recebem os jogadores de futebol, alguns empresários de mesma idade recebem também. Mas o que deixa a todos transtornados- e aqui penso em jogadores e artistas- é o reconhecimento.

Já jogaram porrinha? Imagine, você jogando porrinha e uma pessoa torcendo por você, gritando seu nome? Agora imagine a torcida do galo gritando seu nome! Imagine-se com 19, 21 anos? Tem alguém no mundo preparado psicologicamente para isso? Um dia você esta na categoria de base sem dinheiro para ir treinar, sua família sem comida e passando necessidade. No outro dia, você é capa de jornal, aparece na televisão, esta na internet. Daí um mês, você ganha um apartamento, um carro e um salário de 40 mil reais. No outro ano, seu salário vai para 100 mil reais. Até então o máximo de dinheiro que você teve foi uma rescisão na qual ganhou três salários mínimos de uma vez. Alguém esta preparado para isso? E a partir daí as coisas só aumentam. Você não paga mais nada, sua imagem é o preço pago a tudo. Quando vai aos pagodes, as boates, aos shows todos te colocam para dentro. Todos desejam sua presença, aparecer do seu lado. Todo mundo quer te dar tudo. Inclusive as mulheres. Tem condição de o cara saber e sacar que ele esta sendo usado? Que aquilo não é por ele, e sim, pela instituição que ele ocupa? Que o dono da boate libera para ele convidado, mulher, bebida, mas não é para ele Guilherme e sim para o centroavante do galo? Quando ele deixar de ser famoso, nem os porteiros vão lhe dar moral. Tem jeito de se saber isso antes de todas as merdas acontecerem?

Para mim o problema dá piração é a fama. Não sei se existe alguém psicologicamente preparado no universo para ser ídolo. Principalmente com um monte de puxa-saco que nunca dizem não. O cara de uma hora para outra, nunca mais escuta não. Ele pode tudo. Ninguém lhe coloca limite. Ninguém lhe dá limite. Igualmente grave todos fazem as coisas para você. Nelinho conta que ao casar e ir para a lua de mel, ele entrou no hotel e não entendia porque não tinha ido para o quarto imediatamente. Ele sempre chegou aos hotéis e ia para o quarto, imediatamente. Ele nunca tinha feito chekin na vida. Histórias como essas do hotel se repete ao infinito quando o jogador tem que fazer vôos internacionais, desconhecem, em sua maioria, como que o passaporte, o visto lhes chegou. Os caras fazem tudo para eles. O jogador de futebol só cresce quando aposenta e aí, geralmente, se destroem. Primeiro porque não sabem fazer nada. Segundo, porque os bajuladores somem, desaparecem. Terceiro, o reconhecimento diminui. E o reconhecimento é a chave mestra.

Aqui surge uma situação que não aprofundaremos, mas é a inserção dos jogadores no mundo das drogas e do álcool. Poucos vão para a vida política que reproduz a sensação de fama e notoriedade de tempos atrás. Os casos de alcoolismo nos jogadores de futebol depois de encerrada a carreira é enorme. E o uso de drogas, em especial a cocaína é o mais lamentável- Maradona, Reinaldo, Casagrande, para falar apenas dos mais notórios.

O estranho, no entanto desse universo do futebol é a indiferença da sociedade, da opinião publica, dos dirigentes, dos próprios atletas para esses pedidos de ajuda, de socorro, que são ignorados por todos. Edmundo antes de atropelar e matar várias pessoas, pintou demais. Guilherme antes de beber e acidentar, levando a óbito e ferindo outras pessoas, deu pala várias vezes. Ninguém toma providencia até que haja óbito, morte, ferimento grave. Somente assim fica visível para todos, que eles não estão bem. O caso Bruno não foi diferente.

O que passa despercebido na estória é: os caras que dão a garotos, jovens essa sensação de super homens se responsabilizam por algo quando as coisas acontecem? Tem menino de 12, 13 anos empresariados, recebem casa, comida, a troco de que? São cobrados como? Pagam essa divida de que jeito?

Messi foi levado para o Barcelona com 13 anos. Isso não é subtração de incapaz? Isso não é trafico de criança? Leonardo, ex-técnico do Milan, relata que encontrou um menino de 14 anos no aeroporto de Milão. O empresário arrumou uma barca para o garoto, ele foi sozinho, estava jogado lá sem falar nem português direito. Leo pagou a passagem de volta para o garoto, que não tinha dinheiro nem para lanchar. Quando estive na Bélgica morei com dois jogadores de futebol brasileiro, ambos “abandonados” no exterior. Foram para fazer teste em um clube quebrado. O contrato não vingou e ficaram em uma situação constrangedora. Não eram mais meninos, mas...

Essas coisas não são discutidas. A seleção brasileira aceitou ser patrocinada por uma cerveja. Os jogadores fizeram propaganda para a empresa. Acho essa associação espúria. O atleta não poderia estar e ter a sua imagem associada com bebida, drogas, mas este é um purismo meu. Ninguém liga, mas esta se falando por aí de imagem de atleta. E essa é a deixa para que eu fale diretamente dos Urubus. Para quem não sabe este é o símbolo mascote do Flamengo.
Patrícia Amorim e o conselho de notáveis do clube de forma covarde demitiram o Bruno por justa causa. Vejam vocês, que o Flamengo é caso de pagina policial há anos. Mas agora, eles demitiram o Bruno por justa causa e pedindo indenização a ele por ter denegrido a imagem do clube.

A ação causa estranheza, porque os subornos pagos na década de 80 para a federação carioca, tudo bem. O caso de um sem numero de dirigentes que enriqueceram vendendo, contratando e revendendo jogadores, caixa 2 mesmo, tudo bem. O envolvimento de dirigentes com o trafico e milícia armada, tudo bem. A maior torcida organizada fazer sinal e cantar palavras de ordem do Comando Vermelho, tudo bem. Marcinho ir para o sitio do Bruno, espancar garota de programa, tudo bem. Adriano tirar foto com fuzil tudo bem. Vagner Love subir o morro escoltado por traficantes tudo bem. Bruno nas proximidades do dia internacional da mulher perguntar a jornalistas e a opinião publica quem nunca saiu na mão com a esposa, tudo bem. Dirigentes saberem de tudo isso e às vezes acompanhar os personagens, em locais nada esportivos, tudo bem. Nenhum deles sequer recebeu advertência. Mais intrigante é que o clube sempre defendeu a postura de que o que se faz fora das 4 linhas não interessa. E interessa? Não deveria, mas não há como fazer essa distinção. Imerso nesse imbróglio que os notáveis resolveram demitir Bruno por justa causa e pede indenização por danos à imagem, por algo que aconteceu fora das quatro linhas!!! É o contra senso. O mais incrível é que entre eles, Bruno é o mais novo. Aquele que assistiu a impunidade crescente, galopante, diariamente sobre os olhares negligentes da presidenta e possivelmente do conselho de notáveis.

Para ser claro. Sem duvidas que o afastamento do Bruno era necessário. Sem dúvidas, que a rescisão de contrato tinha que ser feita, e agiu certíssimo o patrocinador. Agora, alegar justa causa e pedir indenização é ato de urubu que vive de carniça.

Aos meus olhos, que até então não associava o caso Bruno ao flamengo, sou convidado a ver uma ilação clara entre ambos. Esta ação publica e oficial de se chutar cachorro morto é ato de urubu, ato de quem espera carniça para se pronunciar e se posicionar. O conselho de notáveis deveria aprender com o presidente da Olímpikos, que sozinho, pediu para que recolhesse os materiais com o nome do atleta que patrocinavam. Preservou a sua marca, de certa forma preservou a imagem do próprio atleta. Não cuspiu no prato que comeu e nem ofereceu mais jantar ou banquete para outra nuvem de carniça e cães sardentos virem babando.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Avatar II


Sistema Inteligentes 




É para mim a parte mais louca do filme. Porque atualiza todo os ritos primitivos dos iorubas, dos ameríndios e de tantos outros povos pagãos que viviam em ressonância direta com a natureza. O filme avança e mostra uma relação que é dita, falada pelos pajés, babalorixas, mas cuja apreensão nos é muito difícil, perceber: a natureza como luminosa, florescente, viva. O cara consegue dar pistas disso e conduzir os expectadores para uma analogia direta com os sistemas integrados e inteligentes. 

Na ficção científica hollywoodiana todos estes sistemas inteligentes referiam-se a máquinas, a computadores. Em determinado momento eles ficavam inteligentes e dominavam os humanos: Matrix, Eu Robô, IA são os que eu lembro e trabalham nessa linha. 

Avatar abre para um sistema inteligente orgânico, no qual tudo e todas as coisas estão interligadas, associadas. Toda natureza dialoga com todos os seres viventes. Predador e presa, árvores e bichos, humanos e animais compõem uma rede sistêmica na qual todos se afetam, se comunicam e compartilham de um mesmo princípio inteligente. A sabedoria esta no reconhecimento dessa conexão e no uso consciente da mesma. Aqui a piração foi total, porque recordei de uma psicografia que estávamos fazendo sobre o povo africano. E a moça que passava as mensagens chamava esse mundo de Encantado. E pelos olhos dela, eu ia vendo o Encantado. A saber, a natureza viva. Toda planta, todo bicho, cada arvore como sendo um ser brilhante, luminoso, falante de suas potencialidades e de seus usos. Nada era secreto, nada tinha segredo. Elas estavam lá falando do que viram, do que sabem, de onde vieram, dos nossos antepassados, em especial aqueles que conseguiam ver o mundo assim. Tão bem retratado, ilustrado em Avatar. 

Em Avatar além deles nos levarem para esse mundo encantado, luminoso, no qual a natureza é viva, inteligente e comunicante; eles exploram o recurso ficcional das "fibras óticas" para mostrar como se dá essa conexão. Cada ser teria em si mesmo o seu plug com os demais seres. Mostrando relações que seriam exclusivas e outras que poderiam ser coletivas. O filme então descortina um universo energético, campos energéticos que ignoramos, que desprezamos, mas que estão aí. Os índios ao montar em um cavalo dialogam com a alma dele, os indianos ao tirarem leite da vaca dialogavam com a alma delas, os africanos ao caçarem dialogam com a alma do animal a ser abatido. Tudo se conecta. Tudo se encontra conectado e integrado. 

Esse processo de conexão fica melhor representado quando da tentativa de cura da doutora. Ali tudo se une, inteligentemente, harmonicamente. É belo. 

É um filme belo. Não vi os recursos de 3D que são revolucionários. Não sei das pistas e do mito e a saga do herói captada por muitos. Para mim o fundamental é que foi o primeiro filme de grande produção que vê a natureza como um sistema integrado, inteligente. Com isso re-estabelece e da um novo olhar para as ditas culturas primitivas que sempre souberam disso. Ali no filme se aposta que não há necessidade de desacordo entre tecnologia e natureza, que evolução se faz com blocos de cimento ou com chips de silício; o filme aponta, diretamente, que tecnologia se faz com alma. Avançado tecnologicamente são os povos que sabem utilizar da sabedoria da natureza, a adaptando e a alterando de forma harmônica. Foi isso que Somater me disse em 1996, quando eu lhe pedia e reclamava que todo mundo recebia técnicas alienígenas e eu nada. Ele me mostrou o que eles entendiam por tecnologia e ficamos passeando por lugares e paisagens muito similares as de Avatar. Lugares com imensas grutas, grandes arvores, lagos, flores, no qual nunca faltavam o céu e o ar livre, nunca. E as possibilidades de cada povo ali eram imensas, os usos do magnetismo e de outras forças eram espantosas devido às impossibilidades instrumentais, mas os lagos eram telas de LCD, ou de plasma, as arvores eram bibliotecas digitais, eles viam e liam tudo o que havia para ser lido e visto, isto no nosso passado muito recente e igualmente muito distante. 

Depois ele me levou a lugares no qual havia grandes prédios, imensos laboratórios, todos os lugares hermeticamente fechado, higienicamente limpo, tudo branco, alvo, quase translucido. Eram imagens perfeitas de laboratórios científicos e logo pude reconhecer que se tratava de alta tecnologia. Qual não é a minha surpresa ao ver que estávamos no umbral. Tecnologia de ponta, que vem da exploração e extinção dos recursos naturais, da utilização de mão de obra escrava, da exploração do trabalho, da supra valorização da inteligência em detrimento do emocional e espiritual, enfim da desarticulação entre os seres humanos e os outros seres vivos. Os humanos dominam tudo e ficam maquinais. Otto Lara Resende ao fazer uma visita aos países desenvolvidos na década de 60 voltou de lá com um comentário que Nélson Rodrigues imortalizou: " o desenvolvimento humaniza as maquinas e maquiniza os homens." 

Creio que Avatar seja o primeiro filme de ficção que quebra esse ciclo. É o primeiro que re-integra os humanos a natureza. Aponta para a necessidade de se ter e de se criar corpos em melhores condições para suportar a energia luminosa do espírito. Mostra que uma civilização não precisa destruir a outra, elas podem cooperar mutuamente e aprenderem uma com a outra. Eu presto homenagens a Avatar, que se transforme em febre, que ative na memória de cada humano do planeta um momento no qual se vivia em harmonia com a natureza e tinha-se um profundo desenvolvimento tecnológico. Nem sempre instrumental, mas às vezes também. 

Kélsen André




Avatar I


Realidades Possíveis 

Certa feita, um grupo de amigos, farolescos em sua totalidade, me falaram que estávamos construindo uma nova Terra. Algumas vezes sou literal, outras metafóricos, nesse caso, depois de muito questionamento, fui literal. Fui ver e verificar o que seria isso. Neste tempo o conceito de multidimensionalidade começava a ser soprado, e com muita relutância, fui tentar saber o que outros Kélsens faziam por aí. 


As coisas no mundo real, físico acontecem em espaços de tempo que em nada, ou quase nada conferem com o tempo subjetivo, ou o tempo psíquico. Os sonhos, os traumas, as narrativas ficcionais nos deslocam para esse tempo no qual o que importa não é a cronologia e sim o sentido. É o sentido que alinhava ações tão diferentes, fatos tão dispares, seja a da dificuldade de alimentação e repulsa por sexo por ter visto um gato lambendo a dentadura da tia, seja por dizer que o garoto a um metro de distancia a empurrou, levando-a a cair e machucar os joelhos, seja em ver o termino de um relacionamento com outros olhos. Esta estrutura do tempo parece ser móvel. Os fatos não alteram, mas as interpretações que damos, mudam completamente a maneira de perceber os fatos e as coisas. Os exemplos são inúmeros e todos apontam para uma interpretação de que viver seria "corrigir", explicar o passado, dar sentido as coisas e as colocar no lugar. 

Escrevo isso, porque vou ilaçar as minhas visões do Projeto Terra com minha conversa e psicografia dos poetas do espaço. Não sei se cronologicamente as duas coisas ocorreram juntas, sei que no enredo psíquico do meu ser, uma é extensão da outra. 

Nos preparativos dessa minha viagem, alguém disse algo mais ou menos assim: para que você saiba o que estamos fazendo no futuro, basta olhar para traz e ver o que fizeram no passado. Tal dica é a base metodológica, imaginativa para os livros de ficção cientifica. 


 

De forma que ir adiante era voltar sobre si mesmo. Voltando sobre si mesmo poder-se-ia ir mais longe e mais adiante. Aspecto paradoxal, porque percebemos a nossa estrutura do tempo como linear e nesse caso ela era circular. Circular ao ponto de que o que eu vi naquele momento como o projeto Terra no qual construíamos poderia ser o projeto Terra de um local que ainda não foi feito. No final, tudo parece que dependerá do sentido que daremos, de como iremos alinhavar fatos, descobertas, impressões, etc... Fica em suspense saber, se este projeto é algo simultâneo ao nosso tempo atual, que podemos ter a impressão de acabado, porque aqui estamos e o julgamos completo, mesmo enquanto ele continua a ser realizado. Caso seja assim ele seria similar a um projeto, que como um jogo holográfico de xadrez, qualquer mudança operada nas peças do tabuleiro agora afetaria e reconfigura novos cenários e novas possibilidades de jogos, mesmos aqueles que não sabíamos que estávamos jogando e os outros que acreditávamos encerrados. Estaríamos deslocando o fluxo do tempo por uma mera questão consciencial. Se esta possibilidade for válida, a melhor maneira de perceber o universo seria como uma imagem musical, em que acordes tons e semitons abririam para novas freqüências e novas possibilidades. 

O fato é que foi a partir desse projeto Terra que os artistas puderam me falar qual o sentido da expressão artística deles quando encarnados. E, resumidamente, eles apresentaram tudo como sendo uma somatória de habilidades para algo maior. 


Já descortinei como que um gênio da música clássica do século XVII construiu essa sua genialidade tendo três, quatro vidas anteriores "simples". Vidas que ele poderia olhar e não entender e nem dar sentido, ou dar um sentido completamente outro. 


Em uma vida ele era monge budista e aprendeu sobre o silencio. Na outra ele era monge beneditino, em uma terceira camponês que ficava se maravilhando com o por do sol e o ritmo da natureza. Isso tudo se transforma em musica séculos mais tardes. 


Tendemos a olhar para isto como sendo três vidas diferentes, opostas e distintas: uma no oriente e duas no ocidente. Contudo, há algum lugar em nós e fora de nós, que alinhava essas histórias, tornando essas três vidas anteriores, em uma só. Não creio que o sentido da existência seja ser gênio, mas pelo que os artistas falam, seria manifestar você mesmo em plenitude. Parece que esta manifestação acontece quando a gente integra uma somatória de vivencias dispares, opostas e as integra em um momento, em uma vida. Vamos abrir a porta da ficção. 

 Poderíamos imaginar, como se fosse um roteiro de filme a ser rodado, que karma é a repetição de vidas, de cenas e de imagens até que façamos a integração. Assim quando o nosso musico integra essas três vidas a uma quarta, as outras três desaparecem, param de rodar, param de ser. Porque a idéia central é a de perceber que todas essas vidas estão vivendo agora de forma desarticulada e sem entendimento global das coisas. Por exemplo: nosso músico pode ter passado a encarnação inteira achando que o sentido dela como monge era alcançar a iluminação e ser Buda, ou enquanto beneditino era ser Papa, ou enquanto camponês, ser nobre. E ele fica nessa interpretação até que no século XVII, ele pega todo esse potencial de som, tempo e silencio e integra. Aquelas vidas passam a fazer parte de uma organização maior que se alinhava no novo sentido que ele deu. Subitamente aquelas vidas se iluminam, alcançam um grau de nobreza impensável para cada uma delas isoladamente. 


Avatar, reservada as devidas proporções brinca com isso. Brinca com um soldado paralitico da cintura para baixo, irmão gêmeo de um gênio, mas que morrera. Ele é aceito no projeto e antes de qualquer coisa é tido como burro, militar, seguidor irracional de ordens. 


O projeto é incrivelmente igual ao que vivenciamos no projeto Terra e relativamente similar ao projeto Nova terra. O ponto a ser destacado é o aspecto biotecnológico no qual possibilita a criação de corpos físicos, híbridos, fabricados laboratorialmente para uma melhor adaptação ao novo mundo a ser conquistado. Nesta relação cria-se ou estabelece-se um comando externo capaz de interagir diretamente com um corpo físico criado sem se esquecer da sua verdadeira realidade. Esse é o projeto ideal. 



No entanto, quando aquele soldado ferido fica de pé novamente, pode correr de novo, seu cérebro não diferencia do fato dele estar apenas movimentando um corpo fabricado, dele estar apenas vivendo uma ilusão. Ele fica em uma felicidade, quando, mesmo que dormindo, sonhando, consegue movimentar um corpo. Não importa se bonito, se feio, se grande, se magro, se negro, se branco, se vermelho, se amarelo, a alegria, o prazer em movimentar um corpo para ele é maravilhoso. Ele fica, na leitura tradicional que fazemos, preso e iludido nas teias de Maia. Mas será que isso é uma ilusão mesmo? 

Sem entrar no mérito, o filme de forma lúdica, abre campos de interpretações para o desdobramento astral, ou para algo muito maior. O de que de alguma maneira e forma aquilo seja a realidade de todos nós. Todos teríamos uma "mente" que plugaria nosso corpo e nos permitiria viver as experiências que vivemos. O que implica em sentir dor, sentir medo, amar, se apaixonar, sofrer, se trair, trair aos que você ama, perceber que o seu tempo interno alterou, antes o importante era conseguir duas pernas mecânicas e retornar à Terra e depois isso não importar mais e vc se sentir completo da forma que se é. 

O filme produz algo mais encantador e deslumbrante que é a demonstração de fusão e integração. Ele mostra as limitações de se viver "multidimensionalmente", de ter partes espalhadas pelo cosmos. Mostra as dificuldades em não se ter um corpo adaptado as intempéries do local. Mostra que a integração é difícil, mas é uma realidade possível. Escolher um corpo adaptado para vivenciar as habilidades do espírito. O projeto Pandora é a mais nova adaptação do projeto Terra, a saber, construir uma realidade na qual os seres possam e estejam integrados aos seus corpos. No nosso caso físico, fazer uso de um corpo biológico que possibilite a utilização plena dos conhecimentos do espírito. Realizar com o corpo físico o que se faz no astral com muita desenvoltura. 



De forma que quando vejo e escuto orientadores espirituais ensinando que o importante é a transcendência, que o obstáculo é o ego, que se deve perder o ego para ser melhor e coisas do gênero, sou tentado a acreditar que eles estão, cronologicamente, 300 anos atrasados. Desde o Iluminismo, no mínimo, a proposta é diferente, outra. Proposta que no final do século XIX começa a ser percebida, recebida, mas muito pouco compreendida, refiro-me as teorias eugênicas que redundariam na crença nazista de raça pura. 


De qualquer forma parece ser uma realidade possível.


Kélsen André