segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Pãnico dos deuses a bestialidade televisiva 2a parte.


III

De todo modo, embora pudesse acompanhar essa mudança de humor e de comportamento nos meus alunos, eu nao conseguia registrá-lo de onde ele procedia. E comecei a estabelecer uma relação a partir da ansiedade de meu filho de 11 anos em querer me mostrar um vídeo do Pânico no youtube. Vídeo que a mãe dele lhe apresentou. Segundo meu filho era uma sátira a Amy Winehouse. Pensei em mil possibilidades engraçadas de satirizar a moça, mas o que eu vi foi algo que eu olhava para meu filho, querendo compreender o que era engraçado, o que tinha de engraçado. Sabe aquela situação constrangedora de não entender a piada. Mas o caso é que não havia piada, não havia humor, porque para se ter humor é necessário inteligência. E para se ter inteligência humorística é preciso delicadeza, finesse e lá, não se encontrava nada, nem ser humano se encontrava. O que tinha era um bicho, um animal, um ser grosseiro e repugnante. Um ser que deveria ser enjaulado, enclausurado, ou quem sabe morto a pauladas. Todavia, diante dele reinou o medo, o susto. Ele adentrava lojas quebrando, gritando e as pessoas se afastavam com medo. E, infelizmente, nenhum transeunte tinha reação exteriorizada diante do que o rapaz provocava. O medo das pessoas as paralisavam e ele não recebeu um xingamento, uma agressão, nada. Não foi lhe dada nem voz de prisão. A cena era de uma impunidade que me fervia o sangue, eu teria cometido um crime. Quando ele pega um cabo de vassoura e coloca nos aros de um senhor andando de bicicleta, eu pensei: alguém vai brincar de Bope, mas nada... a reação das pessoas era de acovardamento, como se dissessem: “ a propriedade não é minha. O prejuízo não é meu. E saiam de perto.”

Foram cenas de desrespeito, de desamor, de cafajestagem que ultrapassa tudo o que eu tinha visto até então. E eu pensei que já tinha visto tudo, em especial, quando na casa de um amigo, assistia ao mesmo programa de televisão com todos dando risada e eu querendo dizer: “ vocês são pais de família. Vocês não podem achar isso engraçado e rirem disso na frente e junto com os filhos de vocês.” EU SOU CARETA. Desta feita, quando pensei isso, eles (pânico) sabotavam o casamento de uma componente de programa. Já é ultrajante pensar em sabotar um casamento, uma data especial para aquela pessoa em questão. Mas ali, mais uma vez, eles se superavam: cortaram o vestido da noiva, pagaram o motorista para não chegar a igreja. Tudo isso filmado e exposto no ar como se estivessem mandando flores e doces. Os convidados esperando.... o noivo esperando, a noiva... nada disso era levado em consideração, era caso de sociopatia total, completa, exibicionista, canhestra e cínica mostrada em rede nacional, sem ninguém tecer um comentário moralista, sem ninguém advertir que aquelas práticas eram erradas. Não! Tudo possível, tudo filmado, editado, com closes e tomadas especiais.

 

IV

 

Meu ponto é: em outro momento do nosso país isso seria tratado como crime, como violência, como molecagem. Hoje é campeão de audiência em horário dito nobre. O que mais me choca é a insistência em denominar isso de humor e o mais lamentável é ter aqueles que de fato achem graça em humilhar, inferiorizar, retirar do outro sua condição de sujeito. O mais grave, ninguém responde por nada. O cara com o mesmo cabo de vassoura que derruba gratuitamente um ciclista, arrebenta o para-brisa e a lataria de um carro adiante. Depois, creio eu, deve ir a equipe de reportagem e explicar que eles são da televisão e arcarão com o prejuízo. Essa parte eu não vi indo ao ar. E, me repugna saber, ou pensar, que ninguém processe essa gente, que ninguém também brinque de lhes disparar agressões físicas e simbólicas. Me causa profundo desgosto saber que pelo fato de se estar sendo filmado, pode-se tudo, paga-se tudo, compra-se tudo; de que estamos a venda por tão pouco, por tão barato. Mesmo um milhão e meio de reais como paga o BBB é pouco.

 

V

 

Hoje eu não tenho dúvidas em apontar e afirmar que o rapaz que agrediu com lâmpada florescente outro jovem que andava na ruas de São Paulo é telespectador do Pânico. Assim, como o é também, aqueles que atearam fogo no mendigo. Como são, igualmente, aqueles que agrediram, mesmo depois de desmaiado, e semimorto, o componente de uma torcida organizada rival. São telespectadores do Pânico os alunos que praticam Bullying e que não tem limite e respeito ao outro. Mas escrevo tudo isso, porque ao voltar mês passado de Caeté, cidade da região metropolitana de Bh, fui fechado em um movimento irresponsável de um tratorista. O rapaz deveria ter em torno de 21, 22 anos. Estava com meus pais e meus filhos. Minha mãe fez a observação de que possivelmente fora assim que o Shaolin do Pânico ficara em estado terminal (foi somente aí que eu soube do caso desse moço). Mas a reflexão que me ocorreu era a de que o motorista do carro que o fechou era fã dele e do programa que ele apresentava, isto é, era alguém que não tem limites e acha que tudo é engraçado, até mesmo colocar a vida do outro em risco. Aposto que o moço foi dar gargalhadas depois do acidente e não me causara estranheza se os pais dele tiverem ido se responsabilizar pela ação que ele cometeu, igual a produção do programa faz ou deve fazer por eles. São frutos de uma mesma temeridade, de uma mesma irresponsabilidade, de um mesmo descompromisso com a vida e com o outro.

 

VI

Isso tudo me faz pensar que Pã ficaria assustado se andando pelo século XXI visitasse a programação brasileira, porque quando acaba o Pânico em um canal, começa o BBB em outro. Nunca ouvi falar que a situação de pânico fosse engraçada. Esta é uma sensação moderna, atual, contemporânea. E, temo isso, porque no século V ac crianças espartanas matarem escravos era tido como engraçado. No século III dc era engraçado ver cristãos serem devorados na arena por leões. No século XVI era motivo de monta lançar negros ao mar acorrentados com bolas de ferro. Práticas que aprenderam na idade média ao submeterem as mulheres, ditas bruxas. No mesmo século XVI era motivo de aposta saber se as mulheres incas estavam grávidas de machos ou femeas e com faca em riste, abrir-lhes a barriga e retirar o feto para constatação. Isso tudo feito com muita risada e galhofa, daqueles que perdiam a aposta. No século XX matar judeus foi divertido. Agora no século XXI a televisão brasileira comete grosserias menos sangrentas, nem por isso, menos aviltantes. Igualmente espantoso é saber que causa risadas em adolescentes, jovens e adultos.

 

VII

Em qualquer sociedade democrática, que existisse liberdade de imprensa verdadeira, esses programas seriam naturalmente censurados, porque a liberdade de imprensa não pode estar acima da dignidade humana, ao respeito à cidadania. Mas pensar em regular a programação é censura. Que ninguém então se incomode quando homossexuais forem agredidos na rua e mendigos forem queimados sobre a defesa cínica de que se estava apenas brincando. Problema é de quem não achar graça, porque a des-graça e o Pânico estão na tv, na sala de aula, na sala de estar, na vida. A qualquer momento você pode se deparar de cara com Pan, mas não mais aquele que apenas nos causava susto, os de agora tentam, como a própria representação do demo (chifres e patas de bode) causar dor para ver se conseguem rir, praticar o mal para se tornarem mais felizes. Tudo isso sob o olhar temeroso e vacilante dos bons.

 

 


PÃNICO dos deuses a bestialidade televisiva: 1a parte

PÂNICO

A palavra tem origem grega e relaciona-se ao deus grego Pã de onde deriva a palavra pânico, o termo pânico, o programa pânico e as síndromes do pânico. Empregos do conceito, atualmente, muito em voga, o que acaba nos remetendo a um segundo significado do termo Pã, que se associa a tudo e a todos (panteísmo, pandemônio, pan-sexualismo, etc...) De todo modo, Pã era representado na mitologia com orelhas, chifres e pernas de bode. Dizem que era tão feio, que causava pavor e temor nos viajantes que atravessavam a floresta durante a noite. Fala-se outras tantas coisas dele, mas estas para mim são as importantes para refletir sobre um fenômeno contemporâneo, associado e atrelado a juventude: o escárnio como forma de humor.

I

Estes programas de “humor” começaram na minha adolescência. Eram programas de rádio, creio que da própria jovem Pan, que fizeram sucesso entre os meus contemporâneos por distratarem ao vivo e em rede nacional os seus ouvintes. Aquilo era um fenômeno diferente, já que, se poderia ler uma relação tácita de sadomasoquismo entre apresentadores e ouvintes. Naquela época era curioso os ouvintes ligarem para serem distratados, era um acontecimento muito diferente e muito fora do padrão do que fora o rádio até então. Anos depois apareceria a Tiazinha que praticava tortura em rede nacional e havia fila de espera e de fetiche para ser torturado pela moça de chicote, bota, roupa de couro preta grudado ao corpo. O que se iniciou como um programa de rádio se multiplicou e toda rádio que se preze, atualmente, parece ter um programa como esse: no qual o destrato ao outro é fonte de riso para quem apresenta, para quem escuta e para quem recebe.

 

II

O meu ponto de tensão é que há anos tenho observado e acompanhado uma forma muito diferente de fazer graça, de ser engraçado dentro das salas de aula. É uma forma que espezinha, humilha, achincalha. É um humor que desfaz e reduz o outro, inferioriza o outro. Em sala de aula os professores tem passado por isso. São expostos no youtube, nas redes sociais, assim como alunos espezinham os próprios colegas de uma forma tão deselegante, tão desrespeitosa, que fico me perguntando: éramos assim? E não éramos. Óbvio que o humor sempre riu do ridículo, do grotesco, mas de forma geral, eram os humoristas que se colocavam nessa condição de inferioridade. O riso era da plateia, do público e não do comediante. Este durante a cena não se dava bem, pelo contrário. Costinha (que nunca gostei) fazia troça da sua voz, da sua opção sexual. Não me recordo, talvez exceção ao Didi, de comediante que satirizava aqueles que lhe aplaudiam. Não havia esse tapa na boca de quem te beija, esse escarro na mão de quem lhe aplaude. Essa é uma forma de humor nova cuja uma vertente segue a Tv Pirata-Casseta e Planeta-CQC; e outra vertente dá em Pegadinha do Malandro, Pânico na Tv e outras atrocidades que ignoro, esqueço ou desconheço.

  


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

GRUPON

Eu gosto das dinâmicas de grupo, das dinâmicas energéticas. Gosto de perceber o fluxo dessa energia nas falas, nos posicionamentos, de como a mesma energia entra e sai naqueles participantes. Gosto dessa interação e quem me ensinou a observá-la foi uma entidade. Ela fechava meus olhos e me conduzia por esse emaranhado energético, mostrando os campos que eram formados, os bloqueios e os sugadouros individuais que produzíamos, as limpezas e os desbloqueios conseguidos, às vezes por uma palavra.

Eu estava diante de uma dinâmica energética muito inusitada, diferente, nova. Igual em muitas coisas, mas nova em outras tantas. Aquele era um encontro de lideranças. Lideranças que não pensavam, necessariamente, iguais. Uníamos e nos reuníamos em torno de uma força energética mais forte, mais planetária e mais cósmica. Eu tentei escrever sobre isso nos mais diversos enfoques, mas preferi o astrológico, tentando demarcar a passagem da era de peixes para a de aquário. Tentei situar essa dinâmica nesse nível de tensão entre o coletivo e o individual. A representação foi boa, mas agora era pode ser melhor elucidada, eu estava falando era do GRUPON.

Tal modalidade de compra sempre existiu, mas estava associado a conhecidos, a pessoas que mantinham um contato mínimo entre elas. E, embora, sempre tenha existido tal modalidade de compra, ela era reservada a algumas pessoas, do campo empresarial, que compravam juntas para baratear o preço. A extensão dessa mesma lógica para a população comum de forma geral é inusitado. Mas ela reflete muito uma dinâmica energética bem diferente, bem inabitual. A de que se muitos reunirem pode-se obter o resultado e a meta individual mais tranquilamente.

Não ha duvida de que podemos alcançar nossos sonhos ou realizar nossos desejos, sejam eles quais forem. Ir a Cancun, se hospedar em um hotel cinco estrelas, viajar de iate, participar de rodízio de sushi, comprar um Channel numero cinco, enfim.... Individualmente pode-se encontrar e realizar esses sonhos, todavia quando muitos se reúnem ele fica mais próximo.

Naquela nossa conversa, eu esclarecia para eles, que eu conseguiria realizar as mesmas coisas que faríamos em grupo: palestras, divulgação, exposição, mas seria em um tempo maior, provavelmente, muito maior. Tentava explicar que os interesses individuais, minhas metas individuais seriam alcançadas, assim como a de todos, mas que em grupo elas poderiam ser mais rápidas. Naquele momento era o máximo que eu poderia dizer e disse. Não sei até que ponto foi claro para os demais.

Nesse ínterim eu fiquei vislumbrando cada um dando vôos solos. Eram vôos solos alcançados mediante energia do grupo. É uma dinâmica energética de difícil captação e entendimento. Ninguém estava pegando nada de ninguém, nem dando algo ao outro, mas ao mesmo tempo estávamos.

Imaginem que os amigos reunidos encontrassem e formassem um circulo. Entre eles gravitava e circulava uma dinâmica energética, padrões eram acesos em um, padrões eram alterados em outro, tudo de forma silenciosa e energética. O que um tinha em excesso era trocado com o que o outro tinha em falta, criando um novo rearranjo em todos os presentes. De forma que a presença de cada um ativava chaves que eram pessoais, mas deixavam de ser. Eram pessoais porque saia de nós, deixava de ser, porque quando se juntava a dos outros era uma coisa que não era mais eu. E isso é observado quando olhamos para o centro do circulo e visualizamos um ponto fulcral no qual converge toda a energia do grupo.

Essa energia é cada um dos participantes e outros tantos. Ela é cada um de nós, mas não é ninguém. Esta energia não é pessoal. Ela é GRUPON, vou chamá-la assim. Mas se eu meto a mão diretamente nela, eu enfraqueço o grupo, a dinâmica do grupo. Ao mesmo tempo não há como não entender que cada um se fortaleceu e se fortalece individualmente permanecendo junto ao grupo. E esse fortalecimento se dá justamente porque ele faz parte do grupo e é o grupo. É uma interação dinâmica muito rápida, muito direta, com um fluxo de informação difícil de assimilar. E esta movimentação energética produz abertura de novos espaços e de novas possibilidades. Novos caminhos são construídos para que esse novo quantum de energia jorre, passe, siga o fluxo. E é da individualidade de cada um a forma com que se abrira o fluxo dessa energia, ou melhor, que dará vazão a esta energia.

Nós vivenciamos tudo isso. Em menos de dois meses as possibilidades individuais se multiplicaram e não tínhamos a percepção de que se multiplicava, obviamente, por méritos próprios, mas que sem duvida devido à dinâmica do GRUPON. Sem a mesma estes resultados só seriam colhidos anos, meses depois. No entanto, acredito que são poucos de nós (mundialmente) que sabem lidar com essa nova forma de energia. Embora ela seja nova, a nossa forma de trabalhá-la e utilizá-la são velhos. Mais precisamente, indefinida, talvez pelo momento de transição que ela anuncia e traz. Sendo mais claro:

Retomo a dinâmica das eras, transição de peixes para aquário. Em peixes a consciência grupal, coletiva pode ser simbolizada pela perda da individualidade. O grupo, as instituições, a família são maiores do que os indivíduos, em verdade, não existem os indivíduos e sim os grupos. É uma dinâmica gostosa para muitos, mas sufocante para uma parte da população. No compasso geral, ela acaba levando a criação de subgrupos dentro dos grupos a cada esboço de novas individualidades, elas simplesmente não conseguem co-habitar o mesmo espaço e o mesmo grupo. Fazia parte da dinâmica. Podemos pensar nas ramificações das igrejas e como que na década de 80 há um aumento das seitas. Podemos visualizar a mesma dinâmica no final do século XIX com o movimento psicanalítico e as suas correntes criadas a partir da individualidade de cada um deles.

Se por um lado na era de peixes o grupo é ou era maior do que os indivíduos, na era de aquário há um desfacelamento dos grupos. Ou melhor, os grupos devem se adaptar a individualidade de cada participante. Os sociólogos clássicos não vêem isso como grupos, eles tentam dar novas classificações, GRUPON parece ser uma boa ilustração. O ponto que quero chegar é que ainda não alcançamos o meio termo. Na percepção de como que o grupo é maior do que o individuo e de como os indivíduos, cada um deles é que formam o grupo, acarretando um COMPROMISSO e uma RESPONSABILIDADE que não era necessária na era de peixes, porque o grupo vivia sem o individuo, ele era apenas mais um nessa dinâmica. E na era de aquário a fluidez da individualidade inviabiliza um comprometimento com os grupos.

O meio termo é uma construção a ser realizada. E esta é uma dinâmica que o GRUPON parece indicar o caminho de sucesso para todos os envolvidos e participantes. Ou seja, quebra a lógica de que para alguém ganhar outro, ou outros tem que perder. Na dinâmica GRUPON todos ganham. É um novo formato energético.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Complexo de Alemão/5

5. Psiq. Grupos de idéias inter-relacionadas que tem um denominador emocional comum o qual influencia, significativamente, as atitudes e comportamentos de um individuo.
Solução? Não há mais solução, cara. A própria idéia de "solução" já é um erro. Já olhou o tamanho das 560 favelas do Rio? Já andou de helicóptero por cima da periferia de São Paulo? Solução como? (Marcola).

Quando comecei a psicografar sobre o trafico, para mim os mentores espirituais me levariam para ver as refinarias, as fabricações, as negociações. Para mim, eu veria e saberia os esquemas dos empresários envolvidos, das autoridades, etc. Nada disso. O entendimento do trafico e analise sobre as drogas realizadas pela espiritualidade eram mais amplas do que quem vende, quem compra. Eles mostravam como as drogas eram e são o novo “médium” da humanidade, outros nos alertavam de como estávamos diante de uma das pragas do apocalipse e em vão ficamos a espera de gafanhotos, outros nos mostravam como essa energia adentrava o mundo televisivo, cinematográfico, fonográfico, de maneira geral a tonica era mostrar como havia uma articulação muito bem estruturada entre as entidades envolvidas com o trafico, seja neste ou em outro plano e não havia a menor articulação, sequer ocupação daqueles que se opunham a esta energia. Era frustrante ver como éramos incipientes, inocentes, ignorantes acerca das drogas e estou pensando em professores, médicos, pais, policiais. Nós não nos inteirávamos dos sustentáculos do trafico e era esse alerta que eles desejavam passar.

Numa dessas aprendizagens mais marcantes fui conduzido a uma comunidade fluminense e lá assistíamos um grupo de encarnados, negociando com desencarnados, aumento na porcentagem dos lucros. Saí de lá sem entender o que encarnados e desencarnados poderiam ter para negociar. Semanas depois, quando retornamos numa operação “desmancha e desfaz”, percebi que a negociação era sobre vidas humanas, ectoplasmas. O trafico real é o energético. Para encarnados o dinheiro, para os desencarnados o sangue, a crueldade, alimentado a base de chacina e barbaridades, independente de quem a pratique- policiais ou traficantes. Tudo alimenta o mesmo grupo.

Assim, mesmo preso, os caras sentem-se soltos, porque a energia que isso alimenta é enorme. A sensação de poder proporcionada é imensa. Para encarnados e desencarnados o poder, o controle, a sensação de onipotência, a arrogância confiante, produz uma sensação de indestrutibilidade.

O ponto é que é uma ilusão acreditar que fazendo um combate brutal e mortal contra o trafico se ganha alguma coisa. É igualmente um erro acreditar que o poder da organização é material. Em sua grande maioria, os traficantes no controle são controlados por entes desencarnados. De maneira, que sem orientação espiritual, nenhum combate ao trafico resulta em êxito. Por outro lado combate-lo já é uma perda, pois é do sangue, do medo, da raiva, que ele se fortalece.

Bjs em todos.

Complexo de Alemão/3



Confuso, complicado, intricado. [opõe-se a simples].

Mais que isso, eu sou um sinal de novos tempos. Eu era pobre e invisível. Vocês nunca me olharam durante décadas. (Marcola).
Quando o helicóptero da policia sobrevoava aquela centena de homens armados, correndo, a opinião publica não teve dúvidas... Duvidas do que? Deveriam ter fuzilado todo mundo.

Um amigo me contava que academia na qual malha não teve outro comentário: por que não fuzilaram todo mundo? Meus colegas de pelada, também não entendiam porque não realizaram a execução sumária. E a resposta tímida, às vezes energéticas e férricas se referiram ao helicóptero da Globo, sobrevoando lado a lado com a da policia e filmando tudo ao vivo. Para todos o helicóptero da Globo foi o impossibilitador do massacre, da chacina, do extermínio. O helicóptero da Globo e o grupo de reportagem, de repente, se tornaram o super-ego da população brasileira. Mas o desejo da mass media era o do massacre. O desejo era o do Call of Duty. O desejo era de que os traficantes pagassem com a vida e com o sangue todo sangue e vida que derramaram e retiraram.

E é isto que me parece confuso. A opinião publica, a mídia em geral têm a certeza de que se matando traficantes no morro, com idade média de 15 a 24 anos resolve-se o problema do tráfico no Brasil. Em nosso imaginário não temos dúvidas de que penalizando com a vida, seja com a introdução da pena de morte, seja por extermínio, como já faz a policia; os traficantes de chinelo de dedo, metralhadoras israelenses e moto importada, venceremos o trafico no Brasil e resolveremos esse problema na América Latina. Seria fácil se fosse tão simples. O México partiu para essa linha de enfrentamento ao trafico e perdeu e esta perdendo. A Colômbia nem precisa mencionar. Diferentemente do Estado, o traficante pode agir fora da lei e a margem dela. O Estado, mesmo contra esse traficante, tem que agir dentro das leis que ele afiançou e garantiu. Isto quer dizer que os cartéis podem partir para o esculacho das vitimas, já o Estado de posse do traficante tem que preserva-lo e garantir o direito a vida e a plena defesa. Coloco mais uma resposta de Marcola:

Vocês é que têm medo de morrer, eu não. Aliás, aqui na cadeia vocês não podem entrar e me matar. Mas eu posso mandar matar vocês lá fora. Nós somos homens-bomba. Na favela, tem cem mil homens-bomba. Estamos no centro do Insolúvel, mesmo. Vocês, no bem e eu no mal e, no meio, a fronteira da morte, a única fronteira. Já somos uma outra espécie, já somos outros bichos, diferentes de vocês. A morte para vocês é um drama cristão numa cama, no ataque do coração. A morte para nós é o presunto diário, desovado numa vala. Vocês intelectuais não falavam em luta de classes, em "seja marginal, seja herói"? Pois é: chegamos, somos nós! Ha, ha. Vocês nunca esperavam esses guerreiros do pó, né? Eu sou inteligente. Eu leio, li 3.000 livros e leio Dante. Mas meus soldados todos são estranhas anomalias do desenvolvimento torto desse país.”
Guantanamo só é possível a mentes fascista como a de Bush. A repressão ao trafico realizada no esculacho ao traficante, só é possível, quando o policial assume para si que é também a vitima vitimada, o carrasco e o juiz. E tal pratica, por mais legitima que seja ao individuo, ela é desastrosa enquanto sociedade civil e organizada. Simplesmente porque iguala o Estado àquilo que ele deveria combater e se opor.

Então como se combate o trafico? a- Evitando a corrupção, b- acabando com a criminalização do usuário, c- impedindo a lavagem de dinheiro, d- fazendo pressão sobre os barões do trafico. E no RJ criou-se uma quinta alternativa, que foi a ocupação pacifica, mas mantendo a presença do Estado nas comunidades. Da para imaginar um local no qual a policia, o carteiro, o funcionário público de forma geral não tinham acesso a mais de 8 anos? Esse era o complexo do alemão, na verdade um campo de concentração em que encontravam-se moradores aterrorizados e vitimados por esse muro de Berlim invisível, mas compacto. E a perversidade dessa lógica que se estabelece contra esse morador, esse trabalhador é surreal. Primeiramente, o Estado lança o desprezo, em seguida os traficantes feudalizam a área, finalmente o Estado tenta retomar os campos invadidos lançando sua Gestapo para trucidar e cercear todos os campos de concentração. O que somente a população percebe e entende é que ela é a única vitima de um mesmo desmando e autoritarismo, seja ele do Estado, seja ele do poder paralelo.

De maneira que, enquanto não empreendermos as reais ações, internacionalmente até, de enfretamento as questões das drogas, vamos ficar com nojo e querendo matar garotos de 22 anos. Estaremos também permitindo que policiais morram nessa luta inglória na qual nem um e nem outro são os verdadeiros inimigos. Enquanto se fecha os olhos os tentáculos do trafico abraçam e açambarcam múltiplos espaços. Aqui em Bh temos um vereador oficialmente eleito pelo trafico. Temos um senador usuário de cocaína, para muitos, dependente. No Rio temos uma bancada eleita pelas milícias. No Brasil como um todo, na América Latina de forma especial é difícil encontrar autoridades que não tenham ligação com algum cartel ou grupo de traficantes. A CPI do narcotráfico deu um breve apanhado: empresários, juizes estaduais, federais, deputados estaduais e federais, prefeitos, sargentos do exercito, da marinha, da aeronáutica, policiais federais, civis e militares. Não houve um ramo no qual o trafico não estivesse presente e atuante. Mas o empresário que faz a conexão Brasil-Africa, Brasil-Europa com uso de submarino já foi citado alguma vez? Respondeu por algo alguma vez? Os oficiais da Marinha que envolvidos com o trafico perderam seus cargos? O agricultor que a cada 10 hectares de terra que possui planta um de maconha e agora expande negócios para terras bolivianas com a coca é chamado de traficante? O químico que auxilia no processo de refinamento da coca é traficante? O garoto que na balada vende dez comprimidos de estase e distribui outros quinze para amigos é traficante?

No entanto, é melhor acreditarmos que o Fernandinho Beira Mar tem uma plantação de coca no quintal da casa dele e que o Elias Maluco com a sua frota de avião transporta para ele da Colômbia até a chegada no Brasil. Daí em diante o Marcinho VP com seu submarino transporta para a Europa e Marcola distribui por uma outra rota para África e América. É triste acreditarmos, que o trafico se resolve com a prisão do traficante preto, sem camisa, chinelo de dedo, corrente de ouro no pescoço, seja ele psicopata ou sociopata, como os mencionados acima, ou não. O problema começa a ser solucionado quando se prende quem ganha o que ganha no atacado e não no varejo. Quando se enfrenta a movimentação e a especulação que essa gente faz no mercado imobiliário, no mercado financeiro. Porque para criaturas normais a moeda do mundo é o ouro e o dólar, mas no mercado paralelo, a cotação é dada pela grama da coca.

Independente disso, fato é que quem opera essas grandes quantias, seja pelo mercado de armas, de drogas, de seres humanos nunca foram presos em lugar nenhum do mundo. Melhor, já foram, mas em seguida substituídos por outro Cartel, ou seja, é publico e notório, em todo mundo, que quando o Estado derruba um Cartel, geralmente, o que esta acontecendo é uma luta tácita por um novo acordo percentual da distribuição internacional do mundo das drogas. O que esta acontecendo realmente é uma nova sucessão de poder. Nessa disputa policiais vão para frente das metralhadoras, traficantes para o fundo da vala e poderosos dos dois lados, que são um lado só, lucram alto. A população, os ingênuos continuam perdendo e acreditando que a solução é metralhar os fuzilados da vida. Digo isso, porque no processo de pacificação do Rio tem ditos marginais peliculosos, irrecuperáveis trocando o trafico para serem ajudante de pedreiro. O que vem ao encontro da pesquisa da Onu que ressalta que a violência não é derivada da pobreza, e sim, da falta de oportunidade e possibilidade.

O descaso do Estado fez com que a única distribuição de renda dentro das favelas fosse o trafico. Numa lógica maluca, todos ganham: do fogueteiro ao dono da boca. Dentro dessa mesma lógica todos morrem- do dono da boca ao fogueteiro.

Complexo de Alemão/2


2. Observável sob diferentes aspectos.


Vou dar um toque, mesmo contra mim. Peguem os barões do pó! Tem deputado, senador, tem generais, tem até ex-presidentes do Paraguai nas paradas de cocaína e armas. Mas quem vai fazer isso? (Marcola)
Aqui é uma visão que não me permitiu um sono calmo e tranqüilo. Em grande parte do mundo, senão no mundo inteiro, a policia tem uma banda podre. No caso da policia carioca é o inverso, lá se encontra uma ala honesta, eles são minoria. A promiscuidade das relações da policia do Rio com toda fonte de poder paralelo pode ser vista e entendida pelas milícias, armadas, paramilitares, formada em sua maioria por policiais e ex-policiais. A história é simples: depois do arrego do trafico, eles resolveram administrar as coisas por eles mesmos. Expulsaram os traficantes e passaram a traficar. Como isso ainda era pouco bizarro, eles passaram a cobrar proteção de comerciantes, moradores, fazer todo tipo de gato (contradição já que são ratos). Enfim, dominam e amedrontam as favelas, comunidades que um dia ajudaram a libertar.

No livro a “Elite da Tropa” o autor nos informa, que a chegada do Papa provocou ações higiênicas nas periferias cariocas. Buscou-se mais do que nunca diminuir os índices de violência, nem que para isso fosse preciso a falseação de dados. O falecido Michael Jackson para realizar as suas filmagens teve que contar com os beneplácitos do trafico. Tudo isso sinaliza para uma relação de parceria entre o trafico e o poder oficial, de forma um nunca contrariar o outro. Todavia, a apreensão de 8 toneladas de drogas, armas, motos no complexo do alemão indicam que o enfraquecimento do CV é o fortalecimento do Estado. A pergunta que tira o sono é: dede quando no estado do Rio há um estado desatrelado do poder paralelo? Se não há, enfraquecer o comando vermelho fortalece quem? Talvez em outro livro como “A Elite da Tropa” ou quem sabe em Tropa de Elite 6 viemos a saber.

Complexo de Alemão

Por complexo, assim diz o Aurélio:


(cs) adj. 1. Que abrange ou encerra muitos elementos ou partes. 2. Observável sob diferentes aspectos. 3. Confuso, complicado, intricado. [opõe-se a simples]. 4. Grupo ou conjunto de coisas, fatos ou circunstancias que tem qualquer ligação ou nexo entre si. 5. Psiq. Grupos de idéias inter-relacionadas que tem um denominador emocional comum o qual influencia, significativamente, as atitudes e comportamentos de um individuo.
Todos os significados se aplicam a favela do alemão e tentaremos discutir cada uma delas, ou especialmente algumas; como a de complexo pela ótica da pisq. As epigrafes foram retiradas de uma entrevista que Marcola, integrante do PCC deu ao Globo ou a Folha de São Paulo, não sei mais:

http://acertodecontas.blog.br/atualidades/entrevista-com-o-lider-do-pcc-marcola/

1. Que abrange ou encerra muitos elementos ou partes.

Olha aqui, mano, não há solução. Sabem por quê? Porque vocês não entendem nem a extensão do problema. Como escreveu o divino Dante: "Lasciate ogna speranza voi Che entrate!" Percam todas as esperanças. Estamos todos no inferno." (Marcola)
Falando de Dante e a sua descida aos infernos, trago aqui parte de minhas lembranças em um trabalho que desenvolvemos em desdobramento e psicografia anos atrás. Já faz quase uma década, que psicografamos um livro, cujo tema central era o tráfico. O inusitado, no entanto, é que o trafico referido era energético. O que conduziu o trabalho para as searas da prostituição e da mediunidade, temas que também se associam a trocas ectoplasmaticas.

Entre o contato com o mundo espiritual e o cruzamento de dados com o mundo físico é notório a muitos, que o trafico de drogas, de órgãos, de animais, de pessoas, de armas, assim como o mercado da pornografia são os que mais rendem lucros e dividendos no comércio mundial. A estranheza dos fatos é que esse mercado ilícito abastece e financia o dito mercado licito, de forma promiscua e escandalosa. Sendo que o rastro deixado dessa promiscuidade é a famosa lavagem de dinheiro. No entanto, a lavagem de dinheiro, anda ganhando níveis de sofisticação e de cumplicidade com o mercado formal, que já não se distingue mais dinheiro licito de ilícito. O efeito colateral mais recente dessa promiscuidade foi dada com o crash do mercado imobiliário americano, levando a bancarrota as bolsas do mundo todo.

Exemplo de como esse mercado funciona seria pela supervalorização dos imóveis. Valorizam-se os imóveis para que quanto mais caro eles ficarem, maior a possibilidade de se lavar o dinheiro em uma transação: única, legalizada e até mesmo com aval bancário. É notório para compradores e vendedores que o imóvel vendido não é compatível com o valor real cobrado, pelo contrário, mas... É desse lastro econômico que se efetiva e se efetua a lavagem do dinheiro. É uma matemática bizarra, lucrativa apenas para uma parcela minúscula e prejudicial para o mundo inteiro.

Em um cruzamento de dados talvez fosse possível fazer uma associação do Bum imobiliário com a contravenção. E como não poderia deixar de ser, este mercado pelo poderio econômico acaba colonizando outras esferas, como a política, a judiciária, a de comunicação. Finalizando, este é um mercado que infesta a todas as localidades do mundo. Especificamente, no Brasil, informações de Wálter Fanganiello Maierovitch dão conta da infiltração cada vez mais influente da Nadrinheta, máfia italiana, diretamente relacionada ao trafico de drogas, a lavagem de dinheiro, a corrupção, etc...