segunda-feira, 27 de junho de 2011

Orgasmo


A idéia inicial desse texto era falar de sexo, sexualidade, magnetismo e espiritualidade. Fiquei duas semanas tentando, escrevi algumas coisas, mas agora, pai Jeremias pintou por aqui e disse: “fala do amor. Dá o titulo de orgasmo.” O amor é o elo entre sexo, sexualidade, magnetismo, espiritualidade e o orgasmo é onde desemboca o amor. O amor é facilmente confundido, afinal, poucos de nós estamos sem nenhuma barreira, obstáculos, amarras para que a energia amorosa seja recebida e transmitida por nós sem passar por influências. As influências e obstáculos são as nossas crenças, as nossas dores, nossos pensamentos, nossas emoções. De forma que amor/orgasmo são divididos aqui a titulo de organização.
Queremos falar do orgasmo, porque ele é um sentimento pleno de prazer, no qual o corpo se abre para dançar com o espírito. O orgasmo representa uma unidade entre corpo e alma, um trabalho conjunto e harmônico que resulta na satisfação de ambos. O orgasmo mostra que o corpo é importante, o corpo é necessário, não pode ser abandonado. No entanto, ele (orgasmo) salienta também que só o corpo não basta, porque “erótica é a alma.” E se a alma não estiver presente o orgasmo também não acontece. Perceba que queremos distinguir o gozo do orgasmo. O gozo é mecânico, é solitário. As mãos podem fazer com que o corpo ou a alma gozem. O orgasmo requer o outro. O outro é o parceiro (a) que te coloca em contato com o divino. O outro é aquele que mediante o atrito te auxilia na “renuncia”, no esquecimento de si mesmo. Alcança-se o orgasmo com a ajuda e a colaboração do outro. Sendo que o igualmente belo do orgasmo é que se chega a ele renunciando a si mesmo. E ao chegar ao estado orgástico sabe-se bem que aquele é um momento individual, mas ligado a tudo, integrado ao universo. Ao adentrar esse estado, as pessoas voltam revigoradas, voltam modificadas, voltam diferentes de como foram.
O sexo é assim uma ligação, uma chave com o divino. A busca pelo sexo é na sua essência a busca por um encontro com a divindade. Por mais egoísta que seja esta busca, o encontro com o orgasmo requer o reconhecimento do outro e aqui se desvela a face do amor. O amor tem muitas faces, muitas moradas e a maneira como cada um lida com o sexo, a forma com que cada um lida com a vida (sexualidade) dialoga como cada corpo sustenta o amor, como cada aparato cognitivo-afetivo registra o amor e comporta o amor. Não importa o que façamos, como façamos, no fundo sempre estamos expressando como amamos.
É difícil para algumas pessoas compreenderem que a energia que um preto-velho transmite, assim como outras entidades é amorosa, mas não é sexual, ou melhor, por mais que a energia seja orgástica, (pelo menos remete a um cheiro de divindade, de aconchego, de candura, repouso e doçura, que o ato sexual direciona no momento do orgasmo), isso não implica na mecânica do ato para se ter essa sensação. É igualmente difícil para lideres religiosos (padres, pastores, médiuns, gurus outros) compreenderem que no entorno deles há uma forte energia magnética, atrativa, o que não implica em transar com todos (as) paroquianas, fieis, assistência, chelas. Isso é muito sexual, mas não implica exclusivamente em sexo. Compreender e manifestar essa energia pelo prisma sexual é apenas uma das milhares de forma de manifestação e compreensão. Talvez, esta compreensão seja até a mais primária e elementar delas, o  que pode dificultar a absorção e a compreensão desse nível energético em um forma diferenciada.
O ponto é que a energia amorosa é uma energia sexual. Da mesma forma que essa mesma energia amorosa é orgástica. De forma geral, chegamos ao orgasmo mediante o sexo, daí a dificuldade de um sem número de pessoas acreditarem que a energia amorosa não implica exclusivamente em sexo/transa; que manifestações amorosas entre professores e alunos, padres e paroquianos, pastores e fies, médiuns e assistência, gurus e chelas não quer dizer que eles estejam transando, tendo um caso. Da mesma maneira, que os núcleos espirituais nos quais essa energia amorosa começa a gravitar, não implica em orgia, em suruba, na festa da uva. Tudo isso parece que a nossa primeira reação ao sentir, captar essa energia amorosa é entendê-la como sexual. Pode até ser, mas é similar a estar diante de uma grande obra e não sair do nível básico de leitura.  As faces do amor são muitas. E a nossa busca é por um fazer cada vez mais amoroso em todos os momentos da vida e não apenas no ato sexual. O encontro com o prazer, com o orgasmo é algo que não necessita ficar delimitado e restrito a atritagem do sexo. Pelo contrário, quando mais se aumenta a nossa sensação de beleza, de plenitude, mais orgásticos vamos ficando. Mais integrado vamos ficando. Menos maldosos acerca da sexualidade e das relações de carinho vamos sendo. Mais amorosos somos.
Bjs em todos.  

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Sssssilêncio



Lipovtiski no seu livro “A era do vazio” nos diz que constituímos uma sociedade de surdos. Refere-se o autor a amplificação do som, seja em casa, nos bares, nos carros e acompanhado dele vem também os ruídos. Dentro dessa mesma ótica, a principio oposta, mas em sua essência correlata, utilizamos fones de ouvido, celulares, cada um como demonstração do individualismo da nossa sociedade. Demonstração de que o próximo a mim é alguém que ignoro, de que se vejo, pelo menos não escuto. Estamos cada vez mais ensimesmados. Mas a minha questão ao escrever tudo acima é me perguntar: alguém hoje sabe o que é silêncio? Acredito que muitos passam a vida inteira sem nunca terem feito silêncio.

Os meditadores têm uma máxima famosa: “antes de meditar o mundo era claro e eu escuro, depois que passei a meditar o mundo ficou escuro e eu claro.” Essa frase representa a situação de pavor que o silêncio provoca e produz. Os primeiros momentos de imersão no silêncio é similar a adentrar a escuridão. Fugimos tanto de nós, de um contato conosco mesmo, nos entorpecemos tanto com as vozes de fora, que nos ouvir é uma dor, um sofrimento, uma luta, uma batalha, um tormento. Mais do que provocar bem estar emocional, espiritual, o silêncio produz fobias, síndromes das mais variadas. Há pessoas que tendo escutado por uma única vez uma voz interna que irrompeu das suas profundezas não mais saiu de casa, nem de si mesmo, tentando impedir essa voz de voltar a falar.

Mas se falo do silêncio, preciso distingui-lo do silêncio da boca, do silêncio do corpo, até mesmo o dos pensamentos, eu quero focar é o silêncio da alma. É estranho chamar isso de silêncio, porque em verdade é a escuta de SI MESMO. Mas, para a gente se escutar, todos os canais a nossa volta precisam se silenciar. É como se fosse um comando no qual desativássemos nossos controles autômatos e abríssemos para um comando instintivo, natural, espontâneo. Igual quando se pisa no espinho e recolhe-se o pé e grita-se ai. Ações imediatas. O silêncio aproxima e conecta o pensar-falar-agir como uma única função, um único estado e não três distintos e antagônicos. Pensa-se uma coisa, fala-se outra coisa e age de uma forma que nem se pensou e nem se falou.

Diante de tudo isso, os amigos me passaram a orientação de me silenciar por um minuto antes de iniciar qualquer atividade. Ou seja, antes de iniciar qualquer ação, parar um minuto e fazer silêncio. Antes de dirigir: um minuto de silêncio. Antes de comer: um minuto de silêncio. Antes de iniciar as aulas: um minuto de silêncio. E como é difícil. Como que em trinta segundos temos a impressão de que seremos engolidos pelo mundo, de que tudo esta andando, correndo e você parado. De forma que essa prática eu não consegui levá-la adiante, não consegui incorporá-la a minha rotina e ao meu cotidiano. De todo modo ela me ajudou a refletir o quanto a nossa pressa, a nossa busca é sem sentido. Por isso ela é cada vez mais célere. Quanto menos sentido tem nossa vida, mais rápido precisamos ser. Porque se houver um minuto de intervalo, esse non sense se volta sobre nós na mesma velocidade que fugimos dele. É uma energia paradoxal, porque se corre dela para que ela não nos alcance, mas é justamente por correr que ela nos alcança. Se estivéssemos calmos, tranqüilos, na nossa, esse nada que funga nossos cangotes, passaria. Como estamos a mil por hora a gente o gera, o produz e conseqüentemente, somos engolidos por ele.

Que tal um dose de silencio, uma vez por dia?

Bjs em todos. Eu vou tentar voltar para a prática. 

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Engenharia Energética

Da série Engenharia Energética

Este post abre a série sobre Engenharia Energética. Mas afinal, o que é isso?

As engenharias são muitas. Recordo que em minha infância havia apenas a mecânica, a civil, a elétrica. Depois surgiu a aeronáutica, a naval, a mecatrônica e hoje temos de telecomunicações, de alimentos, de produção, de automação e outras tantas. Recebendo passe e conversando com as entidades que auxiliavam na emissão dos mesmos, percebi que o trabalho desenvolvido por eles é um misto da atividade dos engenheiros, com uma parte de medicina, adentrando o ramo da psicologia e se completando na atividade dos acumpunturistas. A soma dessas atividades proporciona uma forma bem diferenciada de observar os corpos biológicos, a isto denominei Engenharia Energética.

Ela já engatinha em nossa dimensão e diz respeito a profissionais que começam a perceber o corpo humano como uma aparelhagem bio-energética. Profissionais que olham para o nosso combinado de carbono e enxergam mais do que um corpo biológico, mais do que um corpo físico em seus desdobramentos mecânicos e funcionais. Profissionais que começam a perceber que por detrás dessa visão mecânica há um ordenamento sistêmico, de ampla regulagem energética, que dialoga de forma estreita com toda a fisiologia mecânica do corpo. Sendo que, aprender a observar essa nova mecânica, possibilita uma nova forma de se entender como o corpo humano e os aparelhos orgânicos situam-se dentro da diversidade do macrocosmo. De forma que acreditamos, que o estreitamento dessas relações, possibilitará em um futuro próximo a criação de um curso denominado Engenharia Energética. Um saber, provavelmente, de pós-graduação voltado aos profissionais das áreas médicas e da saúde que pretendem observar e compreender melhor o sistema humano e a sua circuitação energética. Um saber que teria como objetivo proporcionar aos profissionais encarnados visualizarem o corpo humano, de forma similar, a maneira que os engenheiros espaciais o visualizam e o concebem. A saber, eles visualizam o corpo humano, no que se refere ao seu aspecto externo, como um sistema eletromagnético, com ampla amplitude, dimensionando outros corpos além do físico. Já no que se refere à visão de nossos órgãos internos, eles percebem o corpo humano como uma hidrelétrica acesa em pleno funcionamento. Isto é, cada veia, artéria, vaso sangüíneo é uma corrente luminosa na qual eles conseguem de forma magistral acender, aumentar a voltagem, impedir blecautes, desviar excesso de correntes. Enfim, eles conseguem uma regulagem que garante condições de melhora do mecanicismo fisiológico do corpo humano.

Nesta série pretendemos falar um pouco dessas abordagens, dessas visões e concepções que tendem mais para a ficção cientifica do que para uma realidade imediata. Todavia, nos parece que falar disso, comentar sobre isso, auxilia na ancoragem e na materialização dessa concepção de forma mais rápida entre nós.

Bjs em todos.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Agradeça e Receba

Agradeça e Receba.




Da série- Aprendizado da semana.

Todos os dias, antes de iniciar os trabalhos aqui na Iluminar, eu faço algumas movimentações energéticas. Eu gosto, fico bem, mas a minha praia é outra. Numa dessas meditações, olhei a sala e eles me mostraram como ela é no espaço. Gosto de ver como as coisas são no outro plano e o que falta para materializarmos essas coisas no nosso plano físico. Eu vi que entre as muitas coisas, na sala ainda faltava um altar.

Era um altar diferente, porque as representações e menções as entidades se faziam de forma simbólica, tácita, indireta, com um viés mais energético do que religioso. Assim, não tinha aquela quantidade de imagens, que sempre me assustou na infância, quando adentrava algumas casas de benzedeiras e cartomantes. Aquele sincretismo maravilhoso, mas que aos olhos de uma criança, que via os dois planos dimensionais, soava estranho: Jesus de braços abertos ao lado de uma imagem de uma mulher vestida de saia vermelha, com seios a mostra e rosa entre os dentes. E outras imagens mais. De modo que, fisicamente, eles me mostraram representações mais sóbrias, excluindo, parcialmente, as imagens: uma vela de 7 dias, um incenso, um cachimbo, uma rosa e outras flores, cristais. Falta ainda uma figura geométrica. Enfim, era uma configuração simbólica, uma expressividade simbólica das energias que atuam no espaço em ressonância com o nosso trabalho aqui na matéria.

E foi num desses dias no qual preparava o altar, ia colocando item a item e gostando, imensamente, de realizar cada um deles, que Oran me disse: “agradeça e receba!” E eu fiquei.... Agradeça e receba o que? A tudo! Este era um exercício que eu deveria realizar por uma semana.

Fiquei uma semana agradecendo e recebendo. Xingamento também? Tudo!

Ao final de uma semana a energia mudou. Era outra. As coisas chegavam sem tanto impacto. As coisas voltavam de mim sem tanta carga. A energia ficou mais amena, menos espinhosa e pontiaguda. Foi uma pratica que incorporei ao meu dia-a-dia cujo efeito se faz mais premente agora, quase um mês e meio depois. Recuperei uma calma, uma aceitação, uma tranqüilidade que há muito tinha perdido ou deixado de lado.

Se possivel, agradeça e receba.

Bjs em todos.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Boa Vontade e Bom Coração


Da série Aprendizado da Semana.


Logo após alugar uma sala para meus atendimentos, a dificuldade foi encontrar um profissional que instalasse uma divisória. Primeiro veio um conhecido: viu, mediu, marcou e não mais voltou. Em seguida, veio um marceneiro, que alegou que o trabalho era de serralheiro. Por seguinte, veio um serralheiro que se prontificou de imediato em ver o que eu desejava, vendo, constatou não possuir o material para realizar o trabalho. Fiquei pensado, que coisa é essa divisória? Liguei para mais dois que nunca retornaram e tampouco apareceram. Achei um quinto que viu, mediu, avaliou, disse que ficaria pronto em poucas horas, mas cobrou 480 reais. Eu já tinha a porta e três divisórias.

Nesse vai e vem consegui conversar com um senhor que trabalhou com meu tio. Marcamos. Ele veio até aqui, mediu, viu, informou que faltaria ainda mais uma parte e alguns materiais, que assim que eu realizasse a compra do material entrasse em contato com ele. Compramos o material no dia seguinte e no outro subseqüente ele realizou a instalação em 30 minutos. Fiquei vendo aquele senhor de setenta e poucos anos trabalhando. Fiquei ouvindo a sua sabedoria (não dá idade), mas pela forma de levar a vida, de vivenciar o trabalho. Cobrou 80 reais. Ao paga-lo, antes de receber a nota ele disse: “Deus abençoe!” e a nota, acredite ou não, expandiu. Aquela energia expandiu, ficou maior. Foi a segunda lição que aprendi com ele e incorporei ao meu dia-dia. Não há nenhum pagamento no qual antes de receber eu não externe: “Deus abençoe.” E ele tem abençoado.

Mas a lição máxima que ele me legou foi uma frase que ele disse mais de três vezes e é o titulo dessa mensagem: “Bom coração e Boa vontade.” Quando eu lhe explicava a dificuldade que foi encontrar um profissional da área, de como eu cheguei a pensar que colocar divisória era coisa de outro mundo, ele sempre respondia: “precisa de bom coração e de boa vontade.” E de fato a gente não necessita de mais. Tendo essas duas coisas- boa vontade e bom coração- os problemas são vivenciados de forma diferente.

Estas foram às lições que aprendi mesmo antes de começar a trabalhar.

Bjs em todos.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Rezando por Bobby


"A história verdadeira de Mary Griffith, uma ativista de direitos homossexuais cujo filho cometeu suicídio por intolerância religiosa". Uma sinopse critica do filme pode ser encontrada aqui nesse link:

Rezando por Bobby é um belo filme, porque retrata uma história real e trágica. E eu não sei até que ponto podemos retirar o caráter de tragicidade da descoberta sexual de milhares de jovens, das mais variadas orientações sexuais. Estou falando de estupro, de pedofilia, de primeiras vezes ruins. Estou falando dos milhares de crimes cometidos contra os homossexuais. Estou falando de mulheres que nunca atingiram o orgasmo no ato sexual e nunca gozaram, nem se tocando, porque isso é encarado como pecado. Estou falando de como no ocidente sexo nunca esteve atrelado a amor. E nunca houve entre nós amor sem culpa e sexo sem culpados. Desculpem-me, mas nos casamentos de contos de fada, o príncipe não transa com a princesa. Nos contos de fada, novelas da Globo, filmes de Hollywood não há espaço para a vida de casado, para os conflitos das relações amorosas e de como eles ensejam e incutem na vida sexual. Assim, nessas retratações acredita-se que o amor sem o sexo resolve tudo. 

O filme me chama atenção também pela falta de espaço para eles serem escutados. E quando digo eles, quero estender também a todos os adolescentes, jovens, eles não são ouvidos. Essas angústias mais profundas acerca do amor não são ditas, faladas, debatidas. Porque o amor é uma angústia. A possibilidade de não ser correspondido em seu afeto é uma dor de morte, um impulso terrível que te compele em direção ao outro. E se este outro, simplesmente por capricho dos deuses, não for flechado pelo cupido, a dor dilacera. O poeta já dizia: “Esta vida é uma faca de dois gumes fatais: não amar é sofrer; amar é sofrer mais”. E se isso é doloroso, angustiante para amores permitidos, o que não se sofre quando o amor não é permitido? E quem permite o amor? A Igreja? O Supremo Tribunal Federal? Tem sentido isso? De modo que se é terrível a carga pesada, doentia, que se coloca sobre as questões sexuais em nossa sociedade. E se isso é naturalmente trágico para todas as orientações sexuais, entre os homossexuais, transexuais, creio que essa carga deva chegar às raias do suicídio como se deu com Bobby. 

E suicida-se devido a forte pressão e desamor das religiões que oferecem cura para os desejos. Enquanto a Igreja está apodrecida e abarrotada de padres homossexuais, alguns pedófilos, as igrejas protestantes cheias de pastores que amam suas fieis casadas, de líderes espiritistas e espiritualistas que fazem ares de bom moço, enquanto se envolvem em corrupção de menores e outros; a sana se faz em torno dos homossexuais. Com archotes e livros sagrados nas mãos sobem no púlpito para pregar o desamor em nome de Deus. E a minha pergunta é: o Deus de Deuteronômio serve a alguém, se não a um extremista radical? A visão atribuída a Kardec, do século XIX, acerca da homossexualidade serve a alguém se não aos mesmos inquisidores reencarnados? 

A sociedade civil, laica, o Estado Democrático de Direito brasileiro, aguarda e espera que o Supremo Tribunal Federal garanta o direito a cidadania aos seus filhos e irmãos. Que lhes sejam assegurados legalmente o direito inalienável de amarem, se unirem e manifestarem esse amor e suas atividades sexuais com quem desejar, simplesmente não cabe ao Estado regular sobre isso e é uma vergonha que o tenha. Que aqueles que querem impor seu ponto de vista religioso, preconceituoso sobre a sociedade, que percebam estarmos no século XXI, ou que mudem para o Paquistão, para o sul dos EUA, para o Afeganistão, os Talibãs, a Ku Klux Klan, e os xiitas sempre precisam de mais homens bombas, de mentes raivosas e odiosas contra todas as diferenças e diferentes. 

Bjs em todos



segunda-feira, 18 de abril de 2011

O Solista


O filme é de uma beleza peculiar, de uma força suave, de uma tensão amena, que se faz melódica, musical. Mas o filme não me importa agora. Agora me importo com a beleza da loucura e a esquisitice do transtorno mental. E o ponto é: se “de perto ninguém é normal”, qual a distância para o nosso afeto? O que eu quero dizer é que a loucura é genial de longe. De perto o transtorno mental é difícil de conviver para familiares, amigos, parentes, principalmente, para o próprio “louco”.

Eu sou um apaixonado pela loucura, pela sua força transgressora, pela sua visão externa que é sempre tida como genial. Mas, eu nunca vi a tristeza solitária da loucura, na verdade, do transtorno mental. Aquela sensação de que provavelmente você nunca vai se encaixar, nunca vai se enquadrar, nunca estará normal e será normal e quanto mais tentar, pior ficará. Aquele estado no qual se sentira sempre fora do lugar, sem lugar.

Para quem nao sabe, eu sou um observador distante do movimento antimanicomial. Em verdade aprendi com Carlinho Calazans, na marcha dos sem terra, a estar presente em toda luta. E a luta do movimento antimanicomial sempre trouxe aspectos meus para o combate. Eu respeito o dito louco, com mais zelo de que se respeita uma criança. E neste dia 18 de maio de 2009 fiquei recordando, da primeira manifestação da luta antimanicomial, creio que em 97/98. Tinha-se em torno de vinte pessoas. Os próprios internos, pacientes nao davam a cara. Tinham vergonha, os familiares escondiam os seus, poucos davam a cara e os que davam recebiam aquele escarro silencioso do desprezo em uma das faces e da indiferença na cara propriamente dita. Foi com um prazer incrível que no último dia 18, casualmente, vi sete ou oito alas com internos, psicologos, psiquiatras, alunos, estágiarios, muitos fantasiados, tocando tambor e seguindo tres trios eletricos. Eles pararam o centro da cidade. Eles nao eram apenas dez, vinte, eles eram uma media de 500 andando pelo centro da cidade. Indo em direção a praça para se mostrarem cidadaos nao apenas de um um estado, de um municipio, de um país e sim de um planeta. Eles mostravam a cara, a face e o olhar da população mudou muito nesses últimos anos. Eu, testemunha muda, ocular, anônima, olhava para alguns deles e ficava vendo: uns muito doidos de muita violencia, de muita agressividade contra o proprio espirito, assustava a gente, até que olhamos para eles de novo e encontramos o humano em nós e neles. Outros eram de uma beleza, de uma lindura tão sutil, tao diafana, enchia o coração da gente de gentileza, de respeito. Eu os olhava caminhado pela rua e agradecia a Deus, aos psicologos, aos psiquiatras, aos que estão nesta lida, por acolherem estes seres tão especiais, vindo de tão longe e que podem nos ensinar tanto. Queria ter abraçado cada um deles e pedido desculpas por nós sermos assim, por nós nao sabermos acolher e receber hospedes tão gentis e diferenciados. Por nao sabermos respeitar, ouvir, compreender, compartilhar e partilhar diferenças.

Assim, o que posso fazer senão abraçar todos os loucos que eu sou? Assim o que posso fazer senão recolher todos meus transtornos mentais, minhas dores emocionais e me esforçar cada vez mais para ser feliz? Hoje eu voltei a acreditar na felicidade. Mais do que prova dos nove, mais do que prova dos setenta vezes sete (karma), a felicidade é a meta a ser alcançada, a ser atingida. E a felicidade é pouca como um sorriso, a felicidade é tanta como um sol, a felicidade é única como as milhares formas de vida e de viver. A felicidade é a busca, é o encontro, é a caminhada.

Cito o poema que encontrei em uma exposição realizada por "doidos". Esse expressava a sua poesia, o seu ser, ele tocou o meu, me envolveu, me fez feliz, me fez melhor, não pode me fazer mais feliz talvez porque a felicidade é única como caminhar rumo ao sol. Mas me fez melhor, porque pelo caminho descobri que o outro existe. Vai aí o poema:

Quem é louco?

Ele que ouve vozes

Ou você que nunca ouve ninguém?

Ele que vê coisas

Ou você que só se vê?

Ele que fala o que pensa

Ou você que fala sem pensar?


Quem é louco?

Ele que diz ser rei

Ou você que se acha um e não diz?

Ele que não controla seu humor

Ou você que finge ser estável?

Ele que cria neologismo

Ou você que não sai dos estereótipos?


Quem é louco?

Ele que tem fuga das idéias

Ou você que não abre mão das suas?

Ele que não dorme a noite

Ou você que passa a vida inteira dormindo?

Ele que tenta se matar

Ou você que se mata todos os dias?


Em fim quem é louco?

Ele que não se mascara

Ou você que tira a máscara e vive uma vida de fantasia?

Quem é louco?

Que tire a máscara antes de perguntar.

Victor Martins dos Santos. CC Pampulha.

beijos em todos!