terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Cracolândia e a higienização do PSDB




Os patrões da Metrópole.

Nós todos sabemos o que é cracolândia. Seja de perto, seja por ouvir falar, seja por ter um conhecido, um parente por lá. A cracolândia é a concentração do descaso social em todas as suas formas e esferas: política, administrativa, penal, médica. A cracolândia é para qualquer governo, mesmo o holandês onde se é liberado e permitido o uso de entorpecentes a céu aberto, a prova de um fracasso estrondoso e retumbante.
Patrão do morro é como denomina-se, atualmente, o traficante que manda na comunidade. São eles que diante da inoperância e inobservância do Estado ocupam as favelas dando a elas uma lei própria, baseando-se na própria vontade e querer, repleta de medidas de exceção.
O inusitado atualmente é que o governo PSDB tem se tornado e se constituído em um governo de exceção. Longe de ser ação esporádica de algum governante, veremos tratar-se de uma ação que possui uma linha partidária. São os patrões da metrópole. De forma asquerosa e revoltante eles têm feito política pública ferindo o Estado Democrático de Direito. Tem realizado política pública como os traficantes realizam a política de exceção e, diga-se de passagem, que os patrões do morro realizam a inclusão social com mais dignidade do que os estados tucanos. Os patrões do morro se não primam por seguir a lei do Estado, se dignam ao menos a seguir os demarcadores da justiça, ainda que por meios tortos, o governo do PSDB abandonou a lei, a justiça, fazem o que acham certo, isto é, favorecem os seus e a si mesmo. Esta aí a Privataria Tucana que não me deixa mentir.

I-             Serra x Nordestinos 



Quando vimos as “rampas antimendigo” criadas no governo Serra, acompanhada da retirada dos moradores de rua da região luxuosa de Sampa, eu quis ver uma ação tresloucada de um sujeito e não uma política higienista partidária. Quando ouvi os ataques aos nordestinos após o resultado das eleições, quis ver naquilo uma manifestação enraivecida, embrutecida de algumas pessoas e não o pensamento manifesto dos eleitores de Serra. Quando, novamente, diante da doença do ex-presidente Lula, eles se manifestaram, eu quis pensar que eram os mesmos eleitores de Serra. No entanto, quando a gente vê Lacerda e Anastasia aqui em Minas e a forma que dispensam as reivindicações comunitárias, às ocupações urbanas e rurais. Quando a gente vê a política dispensada por Alckimin, o alquimista que tenta transformar bomba de efeito moral em voto, somos OBRIGADOS a concluir que isso é uma política HIGIENISTA PARTIDÁRIA. O PSDB ganha status do novo partido NAZI-FACISTA da atualidade. Se não é precisa refazer sua ações, no caso, sua política. 




II-           Usp x Tropa de Choque

É publico e notório que uma universidade não pode ser uma cracolândia em que jovens ricos, ou não, façam uso da erva maldita ou de outros entorpecentes, como se lá não houvesse lei e fosse um país fora do país. É hipócrita e foi assim que soou para nós que acompanhávamos de longe, querer e solicitar a polícia no campus para proteger a propriedade privada (carros, celulares, notebooks e outros), mas que ela seja conivente com o tráfico e o uso de maconha.
O contra-senso é dentro da maior universidade do país, reitor (PSDB) chamar a polícia para resolver uma questão de esfera pedagógica, dialógica. Fazer uso da força, trazendo de fora do mundo acadêmico, todo um símbolo que gerações inteira construíram em oposição ao regime de força e de exceção. O reitor coloca o choque para dentro da universidade para que seus alunos sejam presos?? Tem sentido isso??? Por si só é uma vergonha. Por si só isso seria caso de destituição. Em qualquer lugar no Brasil, quiçá no mundo, um reitor que praticasse tal ato seria condenado até mesmo por aliados. Não foi o que vimos, o reitor saiu prestigiado, sem nenhum arranhão.
A vergonha aumenta e amplifica quando praticamente não se encontra nenhuma manifestação ruidosa dos professores, intelectuais. O choque invade a universidade e o silêncio impera. Silêncio que não se fez nem no período de ditadura e exceção. Essa covardia também deveria ter um preço, o da desmoralização. Entretanto, o que se aclara é que a moeda é a mesma, merecem o reitor que tem.
Chama atenção, diante do silêncio covarde, que intelectuais podem pertencer a partidos políticos, mas não deveriam se calar diante das injustiças, a não ser que...
O silêncio dos educadores, a falta deles ao lado dos alunos, até mesmo para estar contra eles e lhes explicar o equivoco é a prova de que uma política fascista já esta entre nós. Será a nova USP bastião do novo fascismo, do novo integralismo???

III-          Choque na Cracolândia

Quando eu vi as imagens não dei atenção. Depois fiquei sabendo que o Estado mais rico do Brasil, uma das cidades mais prosperas do mundo tinha se prontificado a pegar a sua elite intelectual, para criar uma estratégia militar de combate contra dependentes químicos!!!!
Gente!!!! Eles utilizaram o que havia de melhor, eles disparam bomba de efeito moral, balas de borrachas em direção de centenas de pessoas que custam a ficar em pé. O resultado foi que ao invés de uma cracolândia agora tem umas cinco ou sete.
Trataram dependente químico, necessitado de ajuda (compulsória ou não) como traficante peliculosos. Não eram. Não são. E depois do livro Privataria Tucana sempre vai me parecer que esse tipo de ação é uma cortina de fumaça para não irem aos locais certos, as pessoas certas. Ou o problema da Daslu esta solucionado?



IV O Massacre de Pinheirinho.

Antes de contabilizarmos o estrago da inépcia de uma ação brutal e equivocada, esse mesmo governo consegue invadir uma comunidade, com a mesma truculência, mas agora não apenas com o aparato militar, “intelectual”, conseguem o legal. É O FACISMO não podemos ter mais dúvida.
Tornou-se irrefutável que a política tucana se faz sob os coturnos e bomba de efeito moral da policia. É lamentável a política social ser feita com essa truculência. É lastimável que em pleno Estado Democrático de Direito a policia cidadã se preste a esse papel repugnante de realizar controle social.






V
O lamentável de tudo isso é que os verdadeiros traficantes continuam soltos financiando campanha. Os grandes esquemas continuam esquematizados, volto a insistir na Privataria Tucana.
O lastimável é que essa polícia capaz de feitos e ações como matar 174 presos no Carandiru, invadir universidade e algemar estudantes como presos políticos, colocar para correr drogados, viciados, pequenos traficantes; expulsar de casa, durante a madrugada, pais de família, mulheres e crianças assustados; são os que congelaram quando o PCC instaurou o terror por 3 dias. São os que congelam quando aparece o nome de um ou outro diretor na lista negra. Contra eles a inteligência da polícia, dos intelectuais, não diz nada, não faz nada.
Marcola continua mandando. E se o PCC são patrões do morro, o governo de Serra, Kassab, Alkimin, Anastasia e uma corja de outros é igual, são os PATROES DA METROPOLE. Transformaram o estado de direito em estado de exceção. Canalhas!!!




quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O Medo: primeiras reflexões




De forma magistral e genial Mia Couto nos fala sobre o medo e o seu poder de calar o amor e a sensatez. Vale a pena dar uma olhada, uma refletida de como ele inicia na infância como forma de controle e não cessa mais, não paro mais. Não obstante, a reflexão que ele faz me remete ao poema O Medo de Drummond que coloco na integra. Depois escrevo sobre esse tema o medo e de como ele nos impede e nos impossibilita de sermos mais, de irmos mais. 
Bjs corajosos em todos.

O Medo

Em verdade temos medo. 
Nascemos no escuro. 
As existências são poucas; 
Carteiro, ditador, soldado. 
Nosso destino, incompleto. 
E fomos educados para o medo. 
Cheiramos flores de medo. 
Vestimos panos de medo. 
De medo, vermelhos rios 
Vadeamos. 
Somos apenas uns homens e a natureza traiu-nos. 
Há as árvores, as fábricas, 
Doenças galopantes, fomes. 
Refugiamo-nos no amor, 
Este célebre sentimento, 
E o amor faltou: chovia, 
Ventava, fazia frio em São Paulo. 
Fazia frio em São Paulo... 
Nevava. 
O medo, com sua capa, 
Nos dissimula e nos berça. 
Fiquei com medo de ti, 
Meu companheiro moreno. 
De nos, de vós, e de tudo. 
Estou com medo da honra. 
Assim nos criam burgueses. 
Nosso caminho: traçado. 
Por que morrer em conjunto? 
E se todos nós vivêssemos? 
Vem, harmonia do medo, 
Vem ó terror das estradas, 
Susto na noite, receio 
De águas poluídas. Muletas 
Do homem só. 
Ajudai-nos, lentos poderes do 
Láudano. 
Até a canção medrosa se parte, 
Se transe e cala-se. 
Faremos casas de medo, 
Duros tijolos de medo, 
Medrosos caules, repuxos, 
Ruas só de medo, e calma. 
E com asas de prudência 
Com resplendores covardes, 
Atingiremos o cimo 
De nossa cauta subida. 
O medo com sua física, 
Tanto produz: carcereiros, 
Edifícios, escritores, 
Este poema, 
Outras vidas. 
Tenhamos o maior pavor. 
Os mais velhos compreendem. 
O medo cristalizou-os. 
Estátuas sábias, adeus. 
Adeus: vamos para a frente, 
Recuando de olhos acesos. 
Nossos filhos tão felizes... 
Fiéis herdeiros do medo, 
Eles povoam a cidade. 
Depois da cidade, o mundo. 
Depois do mundo, as estrelas, 
Dançando o baile do medo


O amor vence o medo.




Um autor cujo nome não me recordo mais disse: “quando eu nasci minha mãe pariu um gêmeo- eu e o meu medo.” Talvez de fato o medo nos seja intrínseco. Talvez não tenha como construir civilização sem o medo. Mas é certo que é hora da gente romper com o medo. Precisamos construir uma civilização baseada na alegria, no amor, na confiança. Precisamos de crianças que nasçam com outro gêmeo, o amor.
Um dos que mais frisaram e destacaram esse par de opostos foi Kryon. Numa observação muito feliz, ele diz que o contrário do amor não é o ódio como pensamos e sim o medo. É o medo que nos impede de amar. É o medo que nos impede de ser feliz. É o medo que nos faz atacar, agredir, violentar. É o medo que paralisa nossa fé, nossa ação de bondade. É o medo que nos impede de aceitar o Paraíso na Terra, a felicidade agora.
Mas, escrevo tudo isso, porque eu estava lendo algumas previsões sobre 2012. E nas previsões de 2012 tudo é muito igual a 1999. O mais intrigante ainda é que tudo é muito igual ao Apocalipse que atormenta a humanidade há 2000 anos. O apocalipse é a desgraça anunciada que nunca chega e está sempre presente. São dois mil anos de tormento. E o louco é que A “Revelação”, o des-velar tinha o sentido de ser esperança, era uma mensagem de amor, de conforto àqueles primeiros cristãos que enfrentaram Nero e os leões. Tem inferno maior do que esse? Mas, depois de Nero, já vimos a besta em Atila o rei dos Hunos, Napoleão, Hitler, Saddan Hussein, Bin Laden. Mas, a besta é o próprio medo, nosso medo. Assim como o Cristo é a aposta no amor e do amor. Ele já veio e sempre esteve entre nós.
As previsões relatadas na reportagem da “Isto é” estampam além de previsões do fim do mundo, da salvação dos eleitos, isto é, dos bonzinhos de Deus e de Jesus; os de Buda e de Krishina já estão condenados. O interessante da reportagem é a sensibilidade em colocar lado a lado como o mercado do medo prospera, vende, é lucrativo. Seja vendendo terreno, seja vendendo estalagens anti-atômicas, seja vendendo livros, filmes que retratam mais o medo que o amor.
Assim, gostaria de firmar posição e falar do amor. No ano da promessa-2012- o amor vai vencer o medo. Será um ano com muitas transformações e em breve postaremos sobre isso, mas de forma geral, o amor prevalece. Mesmo a contragosto e a contendo de muitos. É então um momento de mais amor, de mais luz, de mais compreensão. Um momento não de tampar o sol com a peneira e sim de não focar mais o medo do que amor.
Vamos ler Drummond e ouvir depois Mia Couto.
bjs  

domingo, 1 de janeiro de 2012

3-o processo do envelhecimento: educando o corpo para a morte.



 Como a ordem do dia é a eterna juventude, Barbie, Vampiros e tantos outros- a velhice e a morte são esvaziadas. A tradição é perdida e posta de lado, mesmo porque na sociedade da pressa, da ultrapassagem, das invenções e descobertas, qual o lugar do velho? Se tudo é novo, tudo é fast, todo hoje já é ontem. Qual o valor do velho, da velhice?
Ao que parece não há lugar para sabedoria, para experiência acumulada, para anciãos. A memória boa não é a que guarda e sim a que deleta. A memória deve estar aberta para receber novas informações e não ficar guardando conhecimentos, possivelmente desnecessários.
O paradoxo disso é que estamos inseridos numa cultura da morte, justamente porque nada é eterno, nada é permanente, nada é para sempre. É uma sociedade em que tudo esta em constante mudança e até a mudança tem que mudar. O fluxo do tempo não pode ser simplesmente contínuo, ele precisa ser acelerado.
O lado mais latente desse paradoxo é a mensagem indireta que confessa e revela: “tudo é descartável, não se pode prender a nada, a ninguém”. Não se forma elos, vínculos. Há grupos e propósitos movidos por interesses em comum. Quando o interesse é alcançado o elo é rompido, a sociedade, o contrato é desfeito, desmanchado. De modo que de forma geral as relações são descartáveis, estão aí o aumento do número de divórcios que não me deixam mentir. Assim, como as novas relações entre pais e filhos- ninguém se prende a ninguém. Não nos prendemos mais nem as convicções religiosas. Muda-se de religião conforme a conveniência. Quero trair meu marido, mas a igreja falou que é pecado, encontra uma na qual não seja. Os desígnios antes eternos e perenes se adéquam ao meu interesse e vontade momentânea. Chega de acreditar no sofrimento para obter o reino dos céus e chega de ficar esperando tanto tempo por minha casa, meu emprego; mudo de igreja para que as transformações ocorram mais rápido. É um mundo fast.
Tudo isso não é ruim, mas ainda não é bom, já que não se distingue o outro do objeto. Já que não sabemos distanciar ou até mesmo compreender a violência que é ser tratado e tratar o outro como objeto de meu uso e do meu desejo. Objeto de posse, de relação descartável.
Assim, o impasse alcança a sala de aula, afinal a proposta de ensino é voltada para o alimento da alma, ao preenchimento de um vazio que devora todos os humanos. Mas se toda uma sociedade se volta aos valores do corpo, se rendem e devotam tudo ao corpo, um novo deus passa a ser adorado e novos profetas a discursarem sobre as maravilhas do novo reino dos céus. O reinado é consagrado na posse, no ter em detrimento da partilha e do ser. Abre-se, na verdade, alarga-se uma outra forma de evolução. Completamente baseada no corpo, no ter, na aparência, no mercado, na publicidade e propaganda. Na vendagem de si mesmo. A outra linha evolutiva que se deu na partilha, na solidariedade, na cumplicidade, na criação de laços amorosos, na explicitude do ser, no amor ao próximo, no respeito ao outro é paulatinamente, posta a margem. Afinal pra que amar e respeitar o outro?
Esse é o vazio atual. Mais do que um vazio é um dilema, um paradoxo que nos toma e nos preenche. O que nos torna humanos é podermos ser além do corpo. Sermos ele, com ele, mas além dele. Quando nos identificamos ao corpo somos bichos, “animais morais”. E na normatividade selvagem não há nenhuma razão para convivermos com a dor, a velhice e a morte sem devorá-las. Os mais fracos devem ser abatidos e subtraídos. O que nos faz humano, volto a insistir é que diante da dor, da velhice e da morte constatamos a nossa fragilidade diante da natureza. Fragilidade que as conquistas tecnológicas escamoteiam, mas não retiram. Somos frágeis, somos seres que doemos, envelhecemos, morremos e poucos sabem como atenuar essa angústia do corpo, esse apelo para que se de a ele não medo, não regras, mas compreensão e consciência de que ele é parte de uma estrutura maior.
São poucas as escolas que garantem essa formação, esse preenchimento do vazio, mesmo porque, professores não estão imunes a ele. Simplesmente, na busca insandecida pelo gozo do corpo, pela satisfação imediata do desejo, não há o que se ensinar, vivencia-se o ABSURDO no sentido existencialista. Nada se ensina, porque educa-se para as sensações e as mesmas são mutáveis, variáveis, fluidas, inconstantes.  
É um bom momento para se viver, mas também não é ruim morrer depressa. É um momento que apresenta um novo paradigma e como tal precisamos construir, criar nova forma de nos educar, de nos manter equilibrados e em equilíbrio com o todo que nos cerca.
Bjs em todos.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

2- O VIAGRA DE BUDA



Essa cultura que aposta na eternidade do corpo, tenta de todas as formas eternizar o gozo e o prazer do corpo. O que não o satisfaz é decadente, é demonde, é fora de lugar.
No entanto, desde Platão, ou antes, dele sabe-se que a voracidade e a saciedade do corpo são efêmeras. Alimento-me agora, mas daqui a pouco, tenho fome outra vez, bebo agora e daqui a pouco tenho sede de novo. É da natureza fisiológica do corpo não se satisfazer, não se saciar, mesmo porque, os corpos saciados são de espécimes extintos. Num processo evolutivo, a espécie que ficou satisfeita foi superada, ou foi dizimada. O corpo em contato estreito e permanente com a natureza chama e conclama à luta, à batalha pela sobrevivência. Nietzsche já dizia que tudo o que vive quer permanecer. Isso vai da bactéria, a baleia, todo corpo deseja permanecer e entre a permanência do meu corpo e a de outra espécie, dizima-se a da espécie oposta. As leis e regras do corpo são simples: ele deseja sobreviver, sobre quaisquer inteperies e espécies. O gozo e satisfação dele são absolutos. A questão é que o homem saciado é um homem pela metade, vazio, morto, já que os prazeres e a saciedade do corpo não o preenchem por muito tempo. Pelo próprio processo evolutivo, o corpo não pode se saciar e sempre tem que querer mais.
Todavia, acreditar que se ira eternizar o corpo gera vazios enormes, faltas e carências enormes como as que vivenciamos hoje. Como lidar com esse vazio? Como dar conta desse vazio? Música alta? Consumir objetos? Tornar o outro objeto a ser consumido? Fazer-me objeto e me consumir, ou até mesmo me vender?
Essas são questões que revelam, já que deflagra e aponta a falta de uma instância e dimensão que não se pode olhar, ver, entrar em contato. Assim, para o corpo se tem tudo, se tem muito, até sistemas religiosos que oferecem a criptogenia, ou outros métodos tecnologicamente menos sofisticados, mas que prometem o gozo material sem dor ou sofrimento. Sem dúvida a maior invenção do capitalismo foi tê-lo associado à dimensão do desejo, foi tê-lo colocado na dimensão da satisfação do corpo. Isso o faz andar, mesmo que nunca se chegue a nenhum lugar. Ou melhor, chega-se no vazio e nele, a saída é a transcendência pelo corpo, mas não do corpo. Ou de fato alguém acredita que a tecnologia nos fará vampiros? Eternos? Alguém acredita na juventude perene da Barbie?

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

1-a ilusão da imortalidade: Buda x o Viagra.



 São três textos que tentam dialogar entre si, abraços em todos.

Conta o mito, que o rei, sabendo das previsões para seu filho, resolveu mantê-lo dentro do palácio, longe da velhice, da doença e da morte. E conseguiu esse feito por mais de três décadas, quando o próprio pai do príncipe adoeceu e caminhava para o falecimento. Nesse ínterim, diante de uma curiosidade tardia, o príncipe resolve sair dos portões do palácio e nisso descobre a velhice, a morte, a doença. Retorna atordoado, porque sabe que vivia uma ilusão. Pior, sente-se enganado e desesperado, já que não sabe como ajudar o seu povo, não sabe nem como ajudar a si mesmo. O jovem Sidarta, esse era o seu nome, passado algumas noites, despede-se de seu pai, de sua esposa, de seus filhos e parte para fora dos muros do palácio. Peregrina e encontra uns monges ascetas que para se livrarem da morte, da velhice e da doença, meditavam por um lado e negavam o mundo por outro. Anos passam até que ele abandona esse caminho e em sua despedida, sentado debaixo de uma árvore, uma maça cai na sua cabeça, ou terá sido uma figueira? Fato é que ele desperta como Buda, o Iluminado. E a sua iluminação se faz mediante um discurso denominado o Caminho do Meio.
Paro de falar de Buda, mas o trago para pensarmos juntos a sociedade atual, pensá-la por um enfoque, já que há inúmeros outros, graças a Buda.
Numa busca por um entendimento rasteiro, o palácio, a estadia de Sidarta no palácio pode simbolizar o ego na sua identificação com o corpo. A sua saída do palácio, pode simbolizar a busca de alguma coisa que tem em nós. Alguma coisa que deseja a transcendência e sabe, ou não sabe, como a gente a alcança. O encontro dele com o ascetismo pode simbolizar o momento no qual o ego se identifica com o oposto, nega o que se foi, busca, radicalmente, um novo ser. E, finalmente, podemos insinuar, que o despertar ocorre, quando ego, corpo, alma, espírito se integram. A integração longe de ser uma mera fusão e simbiose é o reconhecimento tácito e sutil dos limites de cada componente.
Colocadas essas bases posso fazer a travessia na barca de Hesse e chegar ao século XXI. O corpo não quer morrer, não quer perecer. O corpo deseja a eternidade e a forma lógica com que o corpo pensa o eterno é a tautologia dele mesmo, no caso, a reprodução. Se tiver filhos, eu serei eterno. Este corpo (masculino) então parte para o ataque, quanto mais mulheres ele conseguir melhor. Mas, se este desejo do corpo é infinito, a realidade do prazer é finita. Ele não dá conta de todas as mulheres, de todos os homens, de sustentar e amparar todos os filhos. O desejo dele é insaciável, mas as suas condições são finitas. Pelo menos era assim. Havia um momento na vida humana na qual o corpo não bastava a si mesmo. Diante das limitações que ele imponha e colocava, os seres buscavam uma transcendência. Hoje....
Temos toda uma indústria farmaceutica que busca encapsular a eternidade. Tentam persuadir a todos que a morte é uma falácia, nenhum corpo precisa de morrer e prolonga-se a vida. Ainda que cada vez mais viver perca o sentido, mas vive-se, recusa-se a morrer e o que faz parte da mesma estratégia, recusa-se envelhecer. Assim, na mesma corrente tem a indústria dos cosméticos que sonham em produzir o elixir da juventude. Ser eternamente jovem é a idéia salvifica do corpo que hoje encontra respaldo na tecnologia da ex-tetica. E qual é o símbolo maior da vitalidade humana, senão o sexo.
Assim, também se vende a esperança do sexo eterno. O Viagra é um sucesso. O prazer químico, a excitação química, não importa se não sinto desejo pelo ser que possuo, ao tomar a pílula azul, o pênis fica rijo, endurecido de um desejo que nem carece ser meu e a copula acontece. A salvação de mim mesmo, mediante a reprodução de novos corpos se faz eterna, já se fazia anteriormente com a inseminação artificial, que garante a gravidez para mulheres acima dos 40, dos 50 anos. Mas, agora, ela acontece, pode acontecer pelas vias “naturais” da copulação e não pela frieza tecnológica.
Enfim, a tecnologia quer eternizar o corpo e poderíamos falar ou pensar os atletas, dos dopings e outros casos, mas a idéia é contrastar tudo isso ao esvaziamento da morte, da dor e da velhice. Ambas estão sendo varridas para debaixo do tapete, similar ao que o pai de Sidarta fez com ele para que seu filho nunca fosse Buda, ou alguém imagina Sidarta, o Buda, tomando Viagra? 

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O gênio fora da lâmpada: uma tentativa de controle do mundo externo.




Atualmente, já não consigo mais distinguir a realidade que vivemos daquilo que de fato desejamos. Vivemos aquilo que desejamos, não no que, necessariamente, cremos como postula filmes, “O Segredo”, por exemplo. Tenho observado, que as construções e realizações materiais se dão mediante a força dos desejos. É no contato claro com nossos desejos que os nossos pedidos, as nossas conquistas são alcançadas, são realizadas. E já não tenho a menor dúvida em afirmar, que todos os desejos são atendidos por movimentações de forças e propósitos que escapam a compreensão e racionalidade. A mentalização criativa, o mantra da prosperidade e outros não se adéquam a realidade, até que nosso desejo esteja livre para desejar. Sem neuras, ocupações, preocupações, relações de causalidade. O desejo deseja, e nós como seres desejantes recebemos aquilo que ele nos proporciona.

Assim, quer me parecer cada vez mais, que o medo dos Exus e o fascínio que eles provocam advêm da capacidade que eles têm de internamente aglutinar os desejos e dar a ele forma, nome, cara, expressividade. O uso que fazemos dessa força é ainda muito moral ou imoral, mas ressalto que ela é amoral. E sendo assim, quer me parecer que o uso da lâmpada para fins de caridade e altruísmo, nos moldes cristãos colocados, é mais uma forma de se manter os gênios impotentes. Similar a domadores de elefantes que quando ainda novos os acorrentam a árvores maiores que a força deles e depois de crescidos os mesmos não conseguem e nem tentam romper mais os laços.

Quero dizer que não há meio termo no uso da lâmpada, não há concessão no uso da mesma. Ou se tem uma e realizam-se os seus próprios desejos, ou se cria uma fila na espera da generosidade de Aladim conceder um pedido. Aqui estou pensando nas filas de atendimento que se realizam nas giras. Mas perceba que nessa relação, Aladim/médium é também um tolo. Tolo porque ele não é gênio embora se faça passar por um e ganhe notoriedade. De todo modo, quero acreditar que o desejo de médiuns devam ser deslocados para outro sentido. 1 dar novo colorido aos próprios desejos. 2 ensinar as pessoas a fazerem uso de suas lâmpadas, despertarem o gênio adormecido. Com isso estou dizendo que seja enquanto médiuns ou não, necessitamos aprender a dar uso mais consciente a esta força denominada de Exu. Esse gênio da lâmpada possibilita moldarmos a realidade, a nossa, em especial.

O que denominamos de riqueza é o uso desse desejo, ou melhor, dessa realização, já que a grande maioria deseja ser rico, no entanto, fomos catequisados para sabermos que riqueza é a essência espiritual e não o acessório do material. Mais ainda, poucos de nós estamos de fato abertos e dispostos a abrirmos mão do controle que já temos de nossas vidas, mesmo que isso signifique expandir e prosperar para novos horizontes.

É dentro desse quadro que os Exus e os gênios das lâmpadas ganham face amedrontadora, temível, demoníaca, já que eles representam a quebra e a ruptura com a normalidade, com o padrão estabelecido, com as regras postas e dadas. Essas forças representam e simbolizam o que em primeira instância classificamos como transgressão, desobediência às regras da sociedade, às normas do status quo. De maneira que nosso desejo de riqueza é apenas fonte de neurose, de stress e de tensão anímica. Poucos deram as costas a esta catequização e fazem uso, não das riquezas celestiais, mas das materiais, que brotam e encontram-se dentro das cavernas e grutas.

Por enquanto, estamos aprisionados pelo mago dentro da caverna, mas já não é sem hora e sem tempo de mexermos nessa estrutura, de libertarmos o nosso potencial, de rompermos com a tradição e o padrão que nos foi dado e nos reencontrarmos com nosso desejo. Longe de sombrio e perverso, ele é a base, o alicerce que nos garante a transformação do adolescente em adulto e do alfaiate em príncipe. Libertar o gênio é um trabalho de fricção, um lidar com nossos desejos, nossas frustrações, nossas batalhas e lutas. É sair da condição de paz acovardada e ir à busca do bom combate, isto é, sair da aceitação pacata e resignada e lutar pelo que se deseja e acredita. E não se faz isso sem desagradar, sem criar tensão, sem produzir atrito, sem deslocar acomodados para outros lugares, sem feridas que machucam, sem lutas que se perde.   

São nossos desejos na sua elementaridade mais básica e salutar que nos proporcionam e garantem a conquista material. Sim, porque para libertar o gênio é necessário força, esforço, trabalho, labor que pode ser direto ou não. Diretamente é quando se deseja e sabe-se o que se deseja: enriquecer, prosperar. Indiretamente é quando apenas se trabalha e dele advém o enriquecimento. Em ambas as vias foram ensinadas pelas tradições religiosas de forma geral que é uma estultice esforçar-se para garantir posses terrenas e materiais. O que é uma verdade, já que não se tem controle dessa força, ela age e atua por mecanismos que desconhecemos e ignoramos.

Mas é bom ficar claro que todas as bases da ciência de previsão e poder nascem do desejo humano de controlar. E nesse desejo não há distinção entre a fissão nuclear desenvolvida no mundo da ciência e a pratica do feiticeiro que faz chover. Em ambos, o que esta se realizando é o uso da lâmpada, é a realização dos desejos e isso é importante não perdermos duas coisas de vista: 1- todos os desejos serão realizados; 2 não tem como mensurar ou comparar desejos entre as pessoas, cada um deles é legitimo por dialogar com aquilo que se é, no momento em que se deseja. Depois podemos mudar, mas naquele instante, a manifestação do real, a plenificação da realidade ocorreu da forma que desejamos.

Finalizando, os gênios atendem pedidos. Exu é um gênio da lâmpada maravilhosa, de uma força tratora fenomenal e espetacular. A promessa deles não é a de garantir o reino dos céus e sim o de proporcionar bem estar e conforto no mundo material. Na mitologia iouruba e tantas outras a oposição corpo e alma, céu e terra nunca foi pobre, pelo contrário. Os deuses gregos e romanos cobiçavam, invejavam, guerreavam e comiam como glutões. Os orixás africanos comem, pedem oferendas, celebram a riqueza do espírito na demonstração simbólica da matéria: ouro, milho, ovos, mandioca, fubá, pipoca, outros. Entre nós cristãos esses deuses são imundos e nocivos, são diabólicos. Até hoje, Exu é visto como sendo e tendo parte com o diabo, mas prefiro pensar que essa representação nasce de cabeças doentes, como aquelas que desejando um deus tão puro, tiveram que inventar e criar tantas perversões para seu deus reinar melhor: judeus, bruxas, negros, índios, tudo o que é diferente entra no rol do demoníaco.

Dessa forma eles tiveram que criar e culpabilizar tudo o que dança, tudo o que mexe os quadris, tudo o que ri e se sente feliz, inclusive, pela risada dada. É nessa ordem que eles ensinaram o medo, a culpa, a dor, a expiação e o castigo. E nesses ensinamentos aprisionaram todas as lâmpadas e todos os gênios para eles. A riqueza é condenável para os outros, eles não vivem sem ela e este é o pior tipo de pobreza conhecido: a que não consegue dar, a que não consegue compartilhar, a que toma do outro pelo simples prazer de não conseguir ver o prazer em nada e ninguém.

De modo que o lado temível de exu e do gênio é o de ao despertar em Aladim a força tratora da prosperidade, ele faça o pedido de impedir que qualquer outro venha ter um gênio, que qualquer um outro realize seus desejos, seus sonhos. O gozo dele passa ser a castração e a inutilização do outro. Nesse ponto quem faz uso da força de Exu para separar casais, arranjar casais, adoecer pessoas trazer a pessoa amada em três dias é de uma pobreza que a lama e o lodo nunca se fará ouro e ostra.