quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A Menina que nasceu esquizofrênica.




Discovery Home&Health passou domingo o filme, documentário: a menina que nasceu esquizofrênica.

O documentário conta o caso da família Schofield cuja filha recebeu diagnostico de esquizofrênica aos 5 anos de idade. Literalmente, o documentário seria bom se não fosse trágico.
o lado positivo, bonito mesmo é ver o cuidado e a assistência que os pais dão a filha, em inúmeras tentativas de ressocializa-la, de não deixá-la internada. Esse amor e cuidado que eles têm pela filha, na esperança e luta de reintegrá-la é um fator comovente e positivo do filme. A busca pela dignidade, o amor incondicional, o respeito fraternal as diferenças. 
Numa linha similar podemos ressaltar o acompanhamento atento da psicóloga, que em certa medida, tenta se opor a medicação dada a criança. É chocante, é deprimente a forma com a qual no século XXI, depois de Einstein, Bohr, Heisemberg, Nietzsche, Foucault, Levinas, para falar de alguns, a gente ainda trata o ser humano. 
A parte deprimente, fica por conta da visão que a psiquiatria apresenta. 
De modo que no geral o filme traz à tona nossa fragilidade conceitual, clinica, diante do surto psicótico, diante da fragilidade psíquica do outro. Simplesmente não sabemos como cuidar. Sabemos o que fazer, damos antipsicótico. Mas, depois que se corta o surto com um fármaco, não sabemos como lidar e aí vira a panaceia.
Não são apenas clínicos que desconhecem o que fazer depois do surto, depois do diagnostico de esquizofrenia. Centros espíritas e religiões, terapeutas e psicólogos, são todos impotentes diante do diagnostico de esquizofrenia. E que diagnostico é esse? Como ele é elaborado? O nosso despreparo frente a esse quadro me faz recordar o caso em que os pais pobres foram encaminhados para um centro espírita. Deram o passe nos pais, filhos mais velhos, mas uma criança não parava de chorar. Os dirigentes não tinham dúvida, tratava-se de obsessão. Foram cuidar. Tentaram de tudo e os gritos da criança apenas aumentava. Sinal de que era possessão das bravas e que o trabalho de doutrinação estava surtindo efeito, em pouco tempo a criança estaria boa. A panacéia iria durar anos seguidos não fosse a intervenção espiritual do orientador espiritual da casa falando que a menina e os irmãos não comiam a dois dias, estavam com fome. Alimentada os obsessores foram embora, ou melhor, o choro cessou. Sorte dela e dos familiares. 
No caso da esquizofrenia o que temos visto é outra coisa. O orientador espiritual não chega, quando chega não é escutado. Enquanto isso crianças, adolescentes, jovens, adultos choram. Para os espiritualistas, espiritistas, religiosos, eles estão e são endemoniados; para psiquiatras eles são esquizofrênicos e só conseguem ter uma vida normal seguindo uma forte medicação para o resto da vida; para psicólogos o melhor é encaminhar para a psiquiatria. No jogo do empurra-empurra os esquizofrênicos ficam chocados, a margem. São um tipo de leprosos que fugimos do contato e da convivência, mesmo porque ela não é fácil nem simples. Requer cuidados que passam ou deveriam passar longe da medicação eterna e constante.   
A menina que nasceu esquizofrênica é uma constatação triste, mas galopante de cada vez mais cedo medicar crianças. Ora são hiperativas, ora são autistas, ora são índigos, agora são também esquizóides. Triste mundo esse em que até a infância é medicada e se tenta solucioná-la com pílulas.    


Ps: Se você se interessou por esse assunto talvez goste também de outros post desse blog como: Falando de Esquizofrenia; 
http://universofiholosofico.blogspot.com/2012/02/falando-de-esquizofrenia.html


Kundalini e Psicose;
http://universofiholosofico.blogspot.com/2012/02/kundalini-e-psicose.html


Uma breve história da Loucura e outros a serem postados como Surto ou Parto? O parir de si mesmo; Realidade e Psicose: aracne e a tessitura da realidade; In Deliriun.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Cracolândia e a higienização do PSDB




Os patrões da Metrópole.

Nós todos sabemos o que é cracolândia. Seja de perto, seja por ouvir falar, seja por ter um conhecido, um parente por lá. A cracolândia é a concentração do descaso social em todas as suas formas e esferas: política, administrativa, penal, médica. A cracolândia é para qualquer governo, mesmo o holandês onde se é liberado e permitido o uso de entorpecentes a céu aberto, a prova de um fracasso estrondoso e retumbante.
Patrão do morro é como denomina-se, atualmente, o traficante que manda na comunidade. São eles que diante da inoperância e inobservância do Estado ocupam as favelas dando a elas uma lei própria, baseando-se na própria vontade e querer, repleta de medidas de exceção.
O inusitado atualmente é que o governo PSDB tem se tornado e se constituído em um governo de exceção. Longe de ser ação esporádica de algum governante, veremos tratar-se de uma ação que possui uma linha partidária. São os patrões da metrópole. De forma asquerosa e revoltante eles têm feito política pública ferindo o Estado Democrático de Direito. Tem realizado política pública como os traficantes realizam a política de exceção e, diga-se de passagem, que os patrões do morro realizam a inclusão social com mais dignidade do que os estados tucanos. Os patrões do morro se não primam por seguir a lei do Estado, se dignam ao menos a seguir os demarcadores da justiça, ainda que por meios tortos, o governo do PSDB abandonou a lei, a justiça, fazem o que acham certo, isto é, favorecem os seus e a si mesmo. Esta aí a Privataria Tucana que não me deixa mentir.

I-             Serra x Nordestinos 



Quando vimos as “rampas antimendigo” criadas no governo Serra, acompanhada da retirada dos moradores de rua da região luxuosa de Sampa, eu quis ver uma ação tresloucada de um sujeito e não uma política higienista partidária. Quando ouvi os ataques aos nordestinos após o resultado das eleições, quis ver naquilo uma manifestação enraivecida, embrutecida de algumas pessoas e não o pensamento manifesto dos eleitores de Serra. Quando, novamente, diante da doença do ex-presidente Lula, eles se manifestaram, eu quis pensar que eram os mesmos eleitores de Serra. No entanto, quando a gente vê Lacerda e Anastasia aqui em Minas e a forma que dispensam as reivindicações comunitárias, às ocupações urbanas e rurais. Quando a gente vê a política dispensada por Alckimin, o alquimista que tenta transformar bomba de efeito moral em voto, somos OBRIGADOS a concluir que isso é uma política HIGIENISTA PARTIDÁRIA. O PSDB ganha status do novo partido NAZI-FACISTA da atualidade. Se não é precisa refazer sua ações, no caso, sua política. 




II-           Usp x Tropa de Choque

É publico e notório que uma universidade não pode ser uma cracolândia em que jovens ricos, ou não, façam uso da erva maldita ou de outros entorpecentes, como se lá não houvesse lei e fosse um país fora do país. É hipócrita e foi assim que soou para nós que acompanhávamos de longe, querer e solicitar a polícia no campus para proteger a propriedade privada (carros, celulares, notebooks e outros), mas que ela seja conivente com o tráfico e o uso de maconha.
O contra-senso é dentro da maior universidade do país, reitor (PSDB) chamar a polícia para resolver uma questão de esfera pedagógica, dialógica. Fazer uso da força, trazendo de fora do mundo acadêmico, todo um símbolo que gerações inteira construíram em oposição ao regime de força e de exceção. O reitor coloca o choque para dentro da universidade para que seus alunos sejam presos?? Tem sentido isso??? Por si só é uma vergonha. Por si só isso seria caso de destituição. Em qualquer lugar no Brasil, quiçá no mundo, um reitor que praticasse tal ato seria condenado até mesmo por aliados. Não foi o que vimos, o reitor saiu prestigiado, sem nenhum arranhão.
A vergonha aumenta e amplifica quando praticamente não se encontra nenhuma manifestação ruidosa dos professores, intelectuais. O choque invade a universidade e o silêncio impera. Silêncio que não se fez nem no período de ditadura e exceção. Essa covardia também deveria ter um preço, o da desmoralização. Entretanto, o que se aclara é que a moeda é a mesma, merecem o reitor que tem.
Chama atenção, diante do silêncio covarde, que intelectuais podem pertencer a partidos políticos, mas não deveriam se calar diante das injustiças, a não ser que...
O silêncio dos educadores, a falta deles ao lado dos alunos, até mesmo para estar contra eles e lhes explicar o equivoco é a prova de que uma política fascista já esta entre nós. Será a nova USP bastião do novo fascismo, do novo integralismo???

III-          Choque na Cracolândia

Quando eu vi as imagens não dei atenção. Depois fiquei sabendo que o Estado mais rico do Brasil, uma das cidades mais prosperas do mundo tinha se prontificado a pegar a sua elite intelectual, para criar uma estratégia militar de combate contra dependentes químicos!!!!
Gente!!!! Eles utilizaram o que havia de melhor, eles disparam bomba de efeito moral, balas de borrachas em direção de centenas de pessoas que custam a ficar em pé. O resultado foi que ao invés de uma cracolândia agora tem umas cinco ou sete.
Trataram dependente químico, necessitado de ajuda (compulsória ou não) como traficante peliculosos. Não eram. Não são. E depois do livro Privataria Tucana sempre vai me parecer que esse tipo de ação é uma cortina de fumaça para não irem aos locais certos, as pessoas certas. Ou o problema da Daslu esta solucionado?



IV O Massacre de Pinheirinho.

Antes de contabilizarmos o estrago da inépcia de uma ação brutal e equivocada, esse mesmo governo consegue invadir uma comunidade, com a mesma truculência, mas agora não apenas com o aparato militar, “intelectual”, conseguem o legal. É O FACISMO não podemos ter mais dúvida.
Tornou-se irrefutável que a política tucana se faz sob os coturnos e bomba de efeito moral da policia. É lamentável a política social ser feita com essa truculência. É lastimável que em pleno Estado Democrático de Direito a policia cidadã se preste a esse papel repugnante de realizar controle social.






V
O lamentável de tudo isso é que os verdadeiros traficantes continuam soltos financiando campanha. Os grandes esquemas continuam esquematizados, volto a insistir na Privataria Tucana.
O lastimável é que essa polícia capaz de feitos e ações como matar 174 presos no Carandiru, invadir universidade e algemar estudantes como presos políticos, colocar para correr drogados, viciados, pequenos traficantes; expulsar de casa, durante a madrugada, pais de família, mulheres e crianças assustados; são os que congelaram quando o PCC instaurou o terror por 3 dias. São os que congelam quando aparece o nome de um ou outro diretor na lista negra. Contra eles a inteligência da polícia, dos intelectuais, não diz nada, não faz nada.
Marcola continua mandando. E se o PCC são patrões do morro, o governo de Serra, Kassab, Alkimin, Anastasia e uma corja de outros é igual, são os PATROES DA METROPOLE. Transformaram o estado de direito em estado de exceção. Canalhas!!!




quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O Medo: primeiras reflexões




De forma magistral e genial Mia Couto nos fala sobre o medo e o seu poder de calar o amor e a sensatez. Vale a pena dar uma olhada, uma refletida de como ele inicia na infância como forma de controle e não cessa mais, não paro mais. Não obstante, a reflexão que ele faz me remete ao poema O Medo de Drummond que coloco na integra. Depois escrevo sobre esse tema o medo e de como ele nos impede e nos impossibilita de sermos mais, de irmos mais. 
Bjs corajosos em todos.

O Medo

Em verdade temos medo. 
Nascemos no escuro. 
As existências são poucas; 
Carteiro, ditador, soldado. 
Nosso destino, incompleto. 
E fomos educados para o medo. 
Cheiramos flores de medo. 
Vestimos panos de medo. 
De medo, vermelhos rios 
Vadeamos. 
Somos apenas uns homens e a natureza traiu-nos. 
Há as árvores, as fábricas, 
Doenças galopantes, fomes. 
Refugiamo-nos no amor, 
Este célebre sentimento, 
E o amor faltou: chovia, 
Ventava, fazia frio em São Paulo. 
Fazia frio em São Paulo... 
Nevava. 
O medo, com sua capa, 
Nos dissimula e nos berça. 
Fiquei com medo de ti, 
Meu companheiro moreno. 
De nos, de vós, e de tudo. 
Estou com medo da honra. 
Assim nos criam burgueses. 
Nosso caminho: traçado. 
Por que morrer em conjunto? 
E se todos nós vivêssemos? 
Vem, harmonia do medo, 
Vem ó terror das estradas, 
Susto na noite, receio 
De águas poluídas. Muletas 
Do homem só. 
Ajudai-nos, lentos poderes do 
Láudano. 
Até a canção medrosa se parte, 
Se transe e cala-se. 
Faremos casas de medo, 
Duros tijolos de medo, 
Medrosos caules, repuxos, 
Ruas só de medo, e calma. 
E com asas de prudência 
Com resplendores covardes, 
Atingiremos o cimo 
De nossa cauta subida. 
O medo com sua física, 
Tanto produz: carcereiros, 
Edifícios, escritores, 
Este poema, 
Outras vidas. 
Tenhamos o maior pavor. 
Os mais velhos compreendem. 
O medo cristalizou-os. 
Estátuas sábias, adeus. 
Adeus: vamos para a frente, 
Recuando de olhos acesos. 
Nossos filhos tão felizes... 
Fiéis herdeiros do medo, 
Eles povoam a cidade. 
Depois da cidade, o mundo. 
Depois do mundo, as estrelas, 
Dançando o baile do medo


O amor vence o medo.




Um autor cujo nome não me recordo mais disse: “quando eu nasci minha mãe pariu um gêmeo- eu e o meu medo.” Talvez de fato o medo nos seja intrínseco. Talvez não tenha como construir civilização sem o medo. Mas é certo que é hora da gente romper com o medo. Precisamos construir uma civilização baseada na alegria, no amor, na confiança. Precisamos de crianças que nasçam com outro gêmeo, o amor.
Um dos que mais frisaram e destacaram esse par de opostos foi Kryon. Numa observação muito feliz, ele diz que o contrário do amor não é o ódio como pensamos e sim o medo. É o medo que nos impede de amar. É o medo que nos impede de ser feliz. É o medo que nos faz atacar, agredir, violentar. É o medo que paralisa nossa fé, nossa ação de bondade. É o medo que nos impede de aceitar o Paraíso na Terra, a felicidade agora.
Mas, escrevo tudo isso, porque eu estava lendo algumas previsões sobre 2012. E nas previsões de 2012 tudo é muito igual a 1999. O mais intrigante ainda é que tudo é muito igual ao Apocalipse que atormenta a humanidade há 2000 anos. O apocalipse é a desgraça anunciada que nunca chega e está sempre presente. São dois mil anos de tormento. E o louco é que A “Revelação”, o des-velar tinha o sentido de ser esperança, era uma mensagem de amor, de conforto àqueles primeiros cristãos que enfrentaram Nero e os leões. Tem inferno maior do que esse? Mas, depois de Nero, já vimos a besta em Atila o rei dos Hunos, Napoleão, Hitler, Saddan Hussein, Bin Laden. Mas, a besta é o próprio medo, nosso medo. Assim como o Cristo é a aposta no amor e do amor. Ele já veio e sempre esteve entre nós.
As previsões relatadas na reportagem da “Isto é” estampam além de previsões do fim do mundo, da salvação dos eleitos, isto é, dos bonzinhos de Deus e de Jesus; os de Buda e de Krishina já estão condenados. O interessante da reportagem é a sensibilidade em colocar lado a lado como o mercado do medo prospera, vende, é lucrativo. Seja vendendo terreno, seja vendendo estalagens anti-atômicas, seja vendendo livros, filmes que retratam mais o medo que o amor.
Assim, gostaria de firmar posição e falar do amor. No ano da promessa-2012- o amor vai vencer o medo. Será um ano com muitas transformações e em breve postaremos sobre isso, mas de forma geral, o amor prevalece. Mesmo a contragosto e a contendo de muitos. É então um momento de mais amor, de mais luz, de mais compreensão. Um momento não de tampar o sol com a peneira e sim de não focar mais o medo do que amor.
Vamos ler Drummond e ouvir depois Mia Couto.
bjs  

domingo, 1 de janeiro de 2012

3-o processo do envelhecimento: educando o corpo para a morte.



 Como a ordem do dia é a eterna juventude, Barbie, Vampiros e tantos outros- a velhice e a morte são esvaziadas. A tradição é perdida e posta de lado, mesmo porque na sociedade da pressa, da ultrapassagem, das invenções e descobertas, qual o lugar do velho? Se tudo é novo, tudo é fast, todo hoje já é ontem. Qual o valor do velho, da velhice?
Ao que parece não há lugar para sabedoria, para experiência acumulada, para anciãos. A memória boa não é a que guarda e sim a que deleta. A memória deve estar aberta para receber novas informações e não ficar guardando conhecimentos, possivelmente desnecessários.
O paradoxo disso é que estamos inseridos numa cultura da morte, justamente porque nada é eterno, nada é permanente, nada é para sempre. É uma sociedade em que tudo esta em constante mudança e até a mudança tem que mudar. O fluxo do tempo não pode ser simplesmente contínuo, ele precisa ser acelerado.
O lado mais latente desse paradoxo é a mensagem indireta que confessa e revela: “tudo é descartável, não se pode prender a nada, a ninguém”. Não se forma elos, vínculos. Há grupos e propósitos movidos por interesses em comum. Quando o interesse é alcançado o elo é rompido, a sociedade, o contrato é desfeito, desmanchado. De modo que de forma geral as relações são descartáveis, estão aí o aumento do número de divórcios que não me deixam mentir. Assim, como as novas relações entre pais e filhos- ninguém se prende a ninguém. Não nos prendemos mais nem as convicções religiosas. Muda-se de religião conforme a conveniência. Quero trair meu marido, mas a igreja falou que é pecado, encontra uma na qual não seja. Os desígnios antes eternos e perenes se adéquam ao meu interesse e vontade momentânea. Chega de acreditar no sofrimento para obter o reino dos céus e chega de ficar esperando tanto tempo por minha casa, meu emprego; mudo de igreja para que as transformações ocorram mais rápido. É um mundo fast.
Tudo isso não é ruim, mas ainda não é bom, já que não se distingue o outro do objeto. Já que não sabemos distanciar ou até mesmo compreender a violência que é ser tratado e tratar o outro como objeto de meu uso e do meu desejo. Objeto de posse, de relação descartável.
Assim, o impasse alcança a sala de aula, afinal a proposta de ensino é voltada para o alimento da alma, ao preenchimento de um vazio que devora todos os humanos. Mas se toda uma sociedade se volta aos valores do corpo, se rendem e devotam tudo ao corpo, um novo deus passa a ser adorado e novos profetas a discursarem sobre as maravilhas do novo reino dos céus. O reinado é consagrado na posse, no ter em detrimento da partilha e do ser. Abre-se, na verdade, alarga-se uma outra forma de evolução. Completamente baseada no corpo, no ter, na aparência, no mercado, na publicidade e propaganda. Na vendagem de si mesmo. A outra linha evolutiva que se deu na partilha, na solidariedade, na cumplicidade, na criação de laços amorosos, na explicitude do ser, no amor ao próximo, no respeito ao outro é paulatinamente, posta a margem. Afinal pra que amar e respeitar o outro?
Esse é o vazio atual. Mais do que um vazio é um dilema, um paradoxo que nos toma e nos preenche. O que nos torna humanos é podermos ser além do corpo. Sermos ele, com ele, mas além dele. Quando nos identificamos ao corpo somos bichos, “animais morais”. E na normatividade selvagem não há nenhuma razão para convivermos com a dor, a velhice e a morte sem devorá-las. Os mais fracos devem ser abatidos e subtraídos. O que nos faz humano, volto a insistir é que diante da dor, da velhice e da morte constatamos a nossa fragilidade diante da natureza. Fragilidade que as conquistas tecnológicas escamoteiam, mas não retiram. Somos frágeis, somos seres que doemos, envelhecemos, morremos e poucos sabem como atenuar essa angústia do corpo, esse apelo para que se de a ele não medo, não regras, mas compreensão e consciência de que ele é parte de uma estrutura maior.
São poucas as escolas que garantem essa formação, esse preenchimento do vazio, mesmo porque, professores não estão imunes a ele. Simplesmente, na busca insandecida pelo gozo do corpo, pela satisfação imediata do desejo, não há o que se ensinar, vivencia-se o ABSURDO no sentido existencialista. Nada se ensina, porque educa-se para as sensações e as mesmas são mutáveis, variáveis, fluidas, inconstantes.  
É um bom momento para se viver, mas também não é ruim morrer depressa. É um momento que apresenta um novo paradigma e como tal precisamos construir, criar nova forma de nos educar, de nos manter equilibrados e em equilíbrio com o todo que nos cerca.
Bjs em todos.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

2- O VIAGRA DE BUDA



Essa cultura que aposta na eternidade do corpo, tenta de todas as formas eternizar o gozo e o prazer do corpo. O que não o satisfaz é decadente, é demonde, é fora de lugar.
No entanto, desde Platão, ou antes, dele sabe-se que a voracidade e a saciedade do corpo são efêmeras. Alimento-me agora, mas daqui a pouco, tenho fome outra vez, bebo agora e daqui a pouco tenho sede de novo. É da natureza fisiológica do corpo não se satisfazer, não se saciar, mesmo porque, os corpos saciados são de espécimes extintos. Num processo evolutivo, a espécie que ficou satisfeita foi superada, ou foi dizimada. O corpo em contato estreito e permanente com a natureza chama e conclama à luta, à batalha pela sobrevivência. Nietzsche já dizia que tudo o que vive quer permanecer. Isso vai da bactéria, a baleia, todo corpo deseja permanecer e entre a permanência do meu corpo e a de outra espécie, dizima-se a da espécie oposta. As leis e regras do corpo são simples: ele deseja sobreviver, sobre quaisquer inteperies e espécies. O gozo e satisfação dele são absolutos. A questão é que o homem saciado é um homem pela metade, vazio, morto, já que os prazeres e a saciedade do corpo não o preenchem por muito tempo. Pelo próprio processo evolutivo, o corpo não pode se saciar e sempre tem que querer mais.
Todavia, acreditar que se ira eternizar o corpo gera vazios enormes, faltas e carências enormes como as que vivenciamos hoje. Como lidar com esse vazio? Como dar conta desse vazio? Música alta? Consumir objetos? Tornar o outro objeto a ser consumido? Fazer-me objeto e me consumir, ou até mesmo me vender?
Essas são questões que revelam, já que deflagra e aponta a falta de uma instância e dimensão que não se pode olhar, ver, entrar em contato. Assim, para o corpo se tem tudo, se tem muito, até sistemas religiosos que oferecem a criptogenia, ou outros métodos tecnologicamente menos sofisticados, mas que prometem o gozo material sem dor ou sofrimento. Sem dúvida a maior invenção do capitalismo foi tê-lo associado à dimensão do desejo, foi tê-lo colocado na dimensão da satisfação do corpo. Isso o faz andar, mesmo que nunca se chegue a nenhum lugar. Ou melhor, chega-se no vazio e nele, a saída é a transcendência pelo corpo, mas não do corpo. Ou de fato alguém acredita que a tecnologia nos fará vampiros? Eternos? Alguém acredita na juventude perene da Barbie?

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

1-a ilusão da imortalidade: Buda x o Viagra.



 São três textos que tentam dialogar entre si, abraços em todos.

Conta o mito, que o rei, sabendo das previsões para seu filho, resolveu mantê-lo dentro do palácio, longe da velhice, da doença e da morte. E conseguiu esse feito por mais de três décadas, quando o próprio pai do príncipe adoeceu e caminhava para o falecimento. Nesse ínterim, diante de uma curiosidade tardia, o príncipe resolve sair dos portões do palácio e nisso descobre a velhice, a morte, a doença. Retorna atordoado, porque sabe que vivia uma ilusão. Pior, sente-se enganado e desesperado, já que não sabe como ajudar o seu povo, não sabe nem como ajudar a si mesmo. O jovem Sidarta, esse era o seu nome, passado algumas noites, despede-se de seu pai, de sua esposa, de seus filhos e parte para fora dos muros do palácio. Peregrina e encontra uns monges ascetas que para se livrarem da morte, da velhice e da doença, meditavam por um lado e negavam o mundo por outro. Anos passam até que ele abandona esse caminho e em sua despedida, sentado debaixo de uma árvore, uma maça cai na sua cabeça, ou terá sido uma figueira? Fato é que ele desperta como Buda, o Iluminado. E a sua iluminação se faz mediante um discurso denominado o Caminho do Meio.
Paro de falar de Buda, mas o trago para pensarmos juntos a sociedade atual, pensá-la por um enfoque, já que há inúmeros outros, graças a Buda.
Numa busca por um entendimento rasteiro, o palácio, a estadia de Sidarta no palácio pode simbolizar o ego na sua identificação com o corpo. A sua saída do palácio, pode simbolizar a busca de alguma coisa que tem em nós. Alguma coisa que deseja a transcendência e sabe, ou não sabe, como a gente a alcança. O encontro dele com o ascetismo pode simbolizar o momento no qual o ego se identifica com o oposto, nega o que se foi, busca, radicalmente, um novo ser. E, finalmente, podemos insinuar, que o despertar ocorre, quando ego, corpo, alma, espírito se integram. A integração longe de ser uma mera fusão e simbiose é o reconhecimento tácito e sutil dos limites de cada componente.
Colocadas essas bases posso fazer a travessia na barca de Hesse e chegar ao século XXI. O corpo não quer morrer, não quer perecer. O corpo deseja a eternidade e a forma lógica com que o corpo pensa o eterno é a tautologia dele mesmo, no caso, a reprodução. Se tiver filhos, eu serei eterno. Este corpo (masculino) então parte para o ataque, quanto mais mulheres ele conseguir melhor. Mas, se este desejo do corpo é infinito, a realidade do prazer é finita. Ele não dá conta de todas as mulheres, de todos os homens, de sustentar e amparar todos os filhos. O desejo dele é insaciável, mas as suas condições são finitas. Pelo menos era assim. Havia um momento na vida humana na qual o corpo não bastava a si mesmo. Diante das limitações que ele imponha e colocava, os seres buscavam uma transcendência. Hoje....
Temos toda uma indústria farmaceutica que busca encapsular a eternidade. Tentam persuadir a todos que a morte é uma falácia, nenhum corpo precisa de morrer e prolonga-se a vida. Ainda que cada vez mais viver perca o sentido, mas vive-se, recusa-se a morrer e o que faz parte da mesma estratégia, recusa-se envelhecer. Assim, na mesma corrente tem a indústria dos cosméticos que sonham em produzir o elixir da juventude. Ser eternamente jovem é a idéia salvifica do corpo que hoje encontra respaldo na tecnologia da ex-tetica. E qual é o símbolo maior da vitalidade humana, senão o sexo.
Assim, também se vende a esperança do sexo eterno. O Viagra é um sucesso. O prazer químico, a excitação química, não importa se não sinto desejo pelo ser que possuo, ao tomar a pílula azul, o pênis fica rijo, endurecido de um desejo que nem carece ser meu e a copula acontece. A salvação de mim mesmo, mediante a reprodução de novos corpos se faz eterna, já se fazia anteriormente com a inseminação artificial, que garante a gravidez para mulheres acima dos 40, dos 50 anos. Mas, agora, ela acontece, pode acontecer pelas vias “naturais” da copulação e não pela frieza tecnológica.
Enfim, a tecnologia quer eternizar o corpo e poderíamos falar ou pensar os atletas, dos dopings e outros casos, mas a idéia é contrastar tudo isso ao esvaziamento da morte, da dor e da velhice. Ambas estão sendo varridas para debaixo do tapete, similar ao que o pai de Sidarta fez com ele para que seu filho nunca fosse Buda, ou alguém imagina Sidarta, o Buda, tomando Viagra?