sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Kundalini e Psicose



Tento escrever sobre esses dois temas, porque me perguntaram: como é que o despertar da kundalini resulta em despertar espiritual em uns e psicose em outros?

A pergunta é boa. E na pergunta já se parte de um pressuposto de que essa tal da energia kundalinica é responsável direta pela alteração do funcionamento dos mecanismos psíquicos. E nisso se tem um pouco de razão.

Não buscarei definir nenhum dos dois conceitos. Partirei do pressuposto que todos já sabem o que é. Não sabendo, encontrarão definições na web melhores e mais claras. De todo modo, a literatura indiana ilustra a Kundalini como sendo duas serpentes que ficam adormecidas na base da coluna vertebral. Quando elas despertam e esse despertar pode se dar tanto por práticas meditativas como de maneira espontânea, ela vai irrigando todos os centros energéticos do corpo (chakras) até o topo da cabeça.

Não sou da área médica, nem da psicológica, nem da terapêutica, arrisco a filosófica, mas vou mesmo enveredar pela literária, de cunho ficcional. Sou um ficcionista. Deixei no armário a camisa de força e peguei a fantasia de escritor.

E lá de onde venho, nas histórias encantadas do mundo assombrado, nunca avistamos nenhum terráqueo que não fosse psicótico. Não estou falando neurótico não, estou dizendo psicótico. Para precisar ainda mais: esquizofrênico e paranoico com mania de perseguição. Ambos frutos de medos, receios, vozes que de tanto serem ditas pelos normais ficam gravadas na memória e as vezes impossibilitadas de serem deletadas. Já esboço assim, o início de uma causa que passa desapercebida a maioria. Mas há alguns seres que registram o universo de forma diferente da nossa. Como uma esponja sugam todo espectro astral do ambiente que se localizam. Seriam gravadores naturais que reproduziriam os estados mentais, neurais, emocionais, sentimentais das pessoas a sua volta, do meio no qual se inserem. 




De modo que nos estranha reputar apenas alguns como psicóticos, quando a psicose parece ser a forma escolhida para se viver no planeta. Toco esse ponto brevemente e retorno a nossa idéia. 

Observem que somos uma sociedade esquizoide, que separa, classifica e distingue tudo. Quando alguma coisa sai fora do lugar, quando perdemos o controle das nossas separações e distinções ficamos perdidos, nos sentimos fragilizados, temos certeza de que há um complô no universo contra nós, que há forças grandiosas querendo nos pisar como se fossemos formigas. Nesse momento como autômatos repetimos o ritual civilizatório que nos ensinaram desde sempre para aplacar a ira dos deuses, para instaurar, novamente, a ordem em nossas vidas. Nos  voltamos para qualquer símbolo religioso, uma cruz por exemplo, ajoelhamos, prometemos que não mais deixaremos de fazer aquilo que fazíamos, desde que a ordem retome a nossa vida. Nos submetemos aos maiores desatinos e absurdos, a todo tipo de vigarista e charlatões que abusam manipulam não a fé das pessoas e sim o desespero, a crença e a esperança que temos em algo que seja maior do que nós, que nos transcende, que nos faz sentirmos como formigas, mas que não permitirá sermos tratados como tal. Falo de pseudos pais de santos, bispos, pastores e um rol interminável de trambiqueiros, nos quais podemos inserir advogados, psiquiatras, psicólogos, terapeutas. Fomos ensinados a acreditar que cumprindo o ritual, o mundo volta ao lugar. Nas universidades se ensina procedimentos ritualísticos que se aplicados conforme sempre foi feito dará certo, a isso denominamos metodologia. 


Mas, como hoje a crença religiosa é tida como mítica e eu sou um dos últimos a acreditar nesses personagens lendários, fabricaram-se novos deuses: Prosac, Lexotan, Rivotril e uma série de outros antipsicóticos e antidepressivos. Já consigo ver daqui alguns séculos a nova Cosmogonia ocidental. No princípio era a depressão, depois o Rivotril habitou entre nós. Ou outra saga similar, mas mais à grega. Da desordem psíquica que invadia a mente dos seres, saiu Fobos. Da união de cortisona e lítio criamos um novo Panteão olímpico, ou melhor, antipsicótico, hoje dominado pelos imbatíveis Haloperidol e Ferfenazina.



O incrível é que dar lítio para criança, aumentar/diminuir a dopamina das pessoas e outras coisas do gênero, como deixar milhares de pessoas passarem fome, gastar bilhões com armamento nuclear ou não, é algo super NORMAL. Ninguém questiona a sanidade mental de Bush, Hussein, Fidel, Serra, Anastasia, Aécio Neves. São tão normais que chegam a ser nossos representantes eleitos pelo voto normal da maioria. 

Enfim... guerra, fome, extermínio, destruição em massa, tudo isso é tido como um comportamento normal, alias, normalíssimo. Para ajudar, estamos retomando dentro desse prisma algumas forças que estavam escondidas, mas que voltam a ocupar espaço: diabo, capeta e companheiros do inferno. São eles os atuais Irresponsáveis por todo tipo de coisa que foge ao ordenamento lógico que desejamos encontrar na vida. Ontem conversava com Tranca-Rua e ele me contava: Lúcifer vai se render. Cansou de ser responsabilizado por tudo.

Assim, aos nossos olhos, é estranhíssimo que a gente repute psicótico, esquizofrênico, justamente aquelas pessoas, que conseguem ver uma conexão e uma integração nas coisas e nos seres. Aqueles que conseguem romper com um paradigma cartesiano de idéias claras e distintas, isto é, separadas, classificadas, racionalizadas como bem pontuou Kant seguindo os passos de Newton. 

E não veja critica a visão de mundo apresentada a nenhum desses grandes pensadores, pelo contrário, a critica é a quem se diz cientista, não conseguir perceber que tudo isso é um modelo. A critica é a não criticidade de perceber que estamos fabricando novos deuses, de um materialismo que chega a doer de tão hediondamente concreto. Dar antipsicóticos para qualquer um, especialmente, para crianças é tão absurdo quando a pratica da lobotomia. Mas, isso é o tempo que vai dizer. Infelizmente, para alguns o bom senso só chega com a secularização.

De todo modo, vou aceitar a alegação, que alguns possam estar fazendo de que estou romantizado a psicose. Sim, estou, mas faço isso para retirá-la da demonização. E entenda-se o tratamento dos esquizofrênicos com base em lobotomia, internação, dopagem como demonização do processo psíquico. Sendo assim, eu diria o que Laing (antipsiquiatra) disse na década de 60/70 estamos psicotizando nossa sociedade e aqueles que de alguma forma consegue escapar e, ou fugir são diagnosticados, rotulados como esquizofrênicos, psicóticos. Qualquer um que apresentar um segundo de sanidade nessa sociedade é convidado a beber cicuta- Sócrates, crucificado- Jesus; silenciado ou com os livros queimados, quando não o corpo, ou envenenados- Reich, Osho. 

Sei que entusiasmei e não respondi a que me propus, espero conseguir ou terei que mudar o titulo do que pretendia escrever. É que os textos são seres vivos, que possuem aqueles que lhes escreve. Quisera eu conseguir sentar e escrever aquilo que pensei que escreveria. Quando sento e começo as idéias saltam, as imagens vêm, o discurso se altera, eu sou eu e mais milhares de inconformados que sabemos fazer melhor e mais acertado. Pelo amor de Deus, escuta a gente. Nós somos doidos, sabemos, mas nós entendemos dessa coisa. Nós podemos auxiliar a vocês no tratamento dessas pessoas. Mas é imprescindível carinho, respeito e se conseguirem amor.

Assim, nosso pedido e a nossa abordagem ficcional tenta demonstrar que é possível entender esse estado de dentro, por dentro, sem que para tanto se necessite ficar psicótico, ou menos ainda lobotomizar o cérebro. Essas técnicas de compreender o outro, esse não eu, a partir de mim mesmo é amplamente conhecida por xamãs e meditadores. Eles conseguem fundir a consciência deles a de outros seres, a de outros estados. Fundem-se, registram, mapeiam, conhecem e retornam. Mas, esse cenário é tido para muitos cientistas, filósofos como visionário, lunático, esquizofrênico. Todavia, quer me parecer, que sempre foi esse apelo não local que algumas pessoas conseguem explorar da sua própria mente, que deu a loucura um ar sagrado.

Pelo menos é esse enfoque que podemos vislumbrar com Foucault em A História da Loucura, Vigiar e Punir e com Groff em Emergência Espiritual. Vejamos: 


quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Falando de Esquizofrenia



Ola a todos,

Este é um tema que é me é muito caro. Não sei especificar as razões, os motivos, mas a temática da loucura me mobiliza. Márcio Trindade nosso colega de lista (flordeliss@yahoogrupos.com.br) me escreveu em pvt, agradecendo o que eu havia escrito sobre um tema que hoje me escapa. Ressalto o agradecimento dele, porque ele meses antes, havia me perguntado, de onde eu tirava meus textos? Se eles não eram muito abstratos? E tive que reconhecer que sim, mas tentei explicar que a abstração nasce de uma queixa pontual, situada, concreta. O texto nasce de conversas com pessoas, de perguntas que as pessoas me fazem, de questões que elas me apresentam, dos atendimentos que realizo. De todo modo, ele me fez perceber que talvez o que escrevo só faça sentido para a pessoa que me perguntou. E ainda reputo importante escrever no plural, no geral, no universal. Escrever, justamente nesse esforço do particular ir para o universal e no universal tocar o particular, o indivíduo. No quesito loucura isso é fundamental. Sinto-me compelido a falar para eles, a falar para nós, já que me sinto um louco (que segura a onda, não dá muita pala, mas meus alunos a percebem claramente...)  
Especificamente, estes escrevinhados nascem de uma pergunta que uma pessoa que estimo muito me fez em uma conversa que íamos tendo. A pergunta (que repito ao longo do texto) sugeria uma relação entre surto psicótico e o despertar da kundalini. Isso me fez pensar em Groff e Foucault diretamente, em algumas psicografias que recebi e tratavam dos presídios, manicômios, prostíbulos e as igrejas. Nessa efervescência escrevi um texto, mas que devido ao tamanho foi fragmentado, recortado, cindido e dividido em várias partes. Todos tentam falar da loucura, ora como um louco, ora como um filósofo, mas na maioria das vezes, como um ficcionista. 

Começando...

Estou querendo postar sobre a esquizofrenia a mais de mil anos. Na verdade, a mais de três mil anos quero falar da loucura. Acho que chegou a hora. A dificuldade vai ser que eu queria um livro de 4.000 páginas de rodapé e outras 10.000 de texto. Terei que tentar escrever em duas.
Um segundo! Grato, eu fui até o armário e peguei minha camisa de força. Me encaminho para a praça publica de onde subirei em um banquinho. É de lá que eu falo para psicólogos, psiquiatras, médicos, neurologistas, anestesistas, enfermeiros, místicos. VOCES NÃO ENTENDERAM NADA!!!!! Assim me fala a voz de Caetano dentro da cabeça. E ela prossegue: GIL PIROU VOCES. OS ESQUISOS PIRARAM VOCÊS!!!
De camisa de força, eu posso falar como louco, posso esbravejar como doido. Meu discurso não tem nem terá curso, cursor e nem autoridade. Assim, posso jogar pedras em aviões, metralhar tudo que se move. Aqui começo meu discurso. É um discurso que alguns chamariam de esquisoterico, não é. Explico abaixo por que não.

Discurso Esquisotérico


No entanto, é um discurso que só pode ser absorvido se lido como ficção científica, como literatura. Peço-lhes ao menos isso. Explicando. Não é esquizoterico, porque não é um recorte, um fragmento, um delírio, uma alucinação. Não é uma linguagem inflamada e flamejante do meu ser diante da ignorância médica, humana. É pelo contrário uma tentativa de mostrar e ressaltar o que Laing (antipsiquiatra) disse na década de 70: é mais fácil uma criança inglesa entrar no hospício do que na universidade. Nós estamos enlouquecendo nossas crianças. Se isso era um nicho europeu, agora se faz mundial.


Esquizofrenia- a etimologia de um conceito.

O significado etimológico da palavra grega esquizofrenia é: eu partido, eu cindido. O problema começa na definição. Na crença de que há um Eu inteiro, coeso, estruturado e que ao se partir, que ao se cindir, isto representa uma doença, uma anormalidade.
Na maioria das pessoas o Eu se faz sem se fragmentar. Constrói-se sem rasgo, sem fendas, sem fissuras, sem traumas. Então, elas vão viver o mundo dimensional, temporal, estruturado, centrado, localizado, definido, quantificado, mensurado. Viverão suas narrativas históricas como um eu coeso, integrado, sincopado. Já em algumas pessoas, o eu vai cindir. Uma fissura vai se abrir e dessa pequena fissura, outro tempo dimensional, outra temporalidade, outra estrutura psíquica não local, indefinida (até que se localize) vai se abrir e por lá dois ou mais seres, uma ou mais vozes vão co-habitar a mesma estrutura psíquica.  
Sendo que depois que a fissura psíquica se abre nada é igual. A percepção de tempo, espaço, mundo, conectividade altera. Em alguns, essas vozes se fazem personagens, outros seres, com outras narrativas e ganham o caráter de mediunidade, ou de arte. Em outros, essas vozes serão fagocitadas pela própria psique e nessa guerra fratricida, rasgos, fissuras, cortes, fendas vão acontecendo até que praticamente uma voz se divorcia da outra, nenhuma se escuta e todas falam ao mesmo tempo, todas desejam o controle psíquico dessa mesma personalidade. O que a acaba por cindi-la, fragmentá-la. Estamos diante do que denominamos atualmente de psicose. Saindo do campo estritamente clinico e entrando no místico, muitos espiritualistas e até mesmo alguns psicólogos são unânimes em estabelecer uma relação entre surto psicótico e despertar da Kundalini. Sendo que foi essa pergunta feita para mim que me levou a criar esse texto. Vejamos:

Notas de fim: 

As duas imagens do post, respectivamente: Drawing Hands (1948) e Other World (1947) são do pintor holandês Escher. Ambas disponíveis em http://www.mcescher.com/


Escher é conhecido por pensar parte de sua criação artística, a partir de abstrações matemáticas. O mais inusitado é que suas pinturas retratam imagens que são possíveis apenas matematicamente, isto é, são IMPOSSÍVEIS na realidade, no plano físico. 
A sua utilização por nós se deve justamente para linkarmos a ciência e a arte com a loucura,  já que ambas dão acessos a mundos privados cuja dificuldade em compartilhar-los de forma intersubjetiva é enorme. Nos chama atenção que o cientista, o artista, o xamã conseguem acessar esses espaços mentais, dimensionais e encontrar um caminho que os mantem ligados ao plano "real", enquanto o esquizofrenico parece não encontrar esse caminho de volta, ficando trancado em um espaço mental, em um plano dimensional, trancado por dentro de si mesmo. Sem essa chave, sem essa passagem, ele fica trancado em si mesmo, sem conseguir sair e as vezes dar aceso a ele mesmo. 
Nos parece que a arte é uma forma de expressão que mapeia esse caminho de retorno. Em verdade, não deveríamos pensar a loucura sem aproximá-la da mistica, da arte, da ciência. E acerca disso temos Nise da Silveira como uma referência internacional no seu apelo mais humano.
http://www.museuimagensdoinconsciente.org.br/

Ainda sobre Escher: 






quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A Menina que nasceu esquizofrênica.




Discovery Home&Health passou domingo o filme, documentário: a menina que nasceu esquizofrênica.

O documentário conta o caso da família Schofield cuja filha recebeu diagnostico de esquizofrênica aos 5 anos de idade. Literalmente, o documentário seria bom se não fosse trágico.
o lado positivo, bonito mesmo é ver o cuidado e a assistência que os pais dão a filha, em inúmeras tentativas de ressocializa-la, de não deixá-la internada. Esse amor e cuidado que eles têm pela filha, na esperança e luta de reintegrá-la é um fator comovente e positivo do filme. A busca pela dignidade, o amor incondicional, o respeito fraternal as diferenças. 
Numa linha similar podemos ressaltar o acompanhamento atento da psicóloga, que em certa medida, tenta se opor a medicação dada a criança. É chocante, é deprimente a forma com a qual no século XXI, depois de Einstein, Bohr, Heisemberg, Nietzsche, Foucault, Levinas, para falar de alguns, a gente ainda trata o ser humano. 
A parte deprimente, fica por conta da visão que a psiquiatria apresenta. 
De modo que no geral o filme traz à tona nossa fragilidade conceitual, clinica, diante do surto psicótico, diante da fragilidade psíquica do outro. Simplesmente não sabemos como cuidar. Sabemos o que fazer, damos antipsicótico. Mas, depois que se corta o surto com um fármaco, não sabemos como lidar e aí vira a panaceia.
Não são apenas clínicos que desconhecem o que fazer depois do surto, depois do diagnostico de esquizofrenia. Centros espíritas e religiões, terapeutas e psicólogos, são todos impotentes diante do diagnostico de esquizofrenia. E que diagnostico é esse? Como ele é elaborado? O nosso despreparo frente a esse quadro me faz recordar o caso em que os pais pobres foram encaminhados para um centro espírita. Deram o passe nos pais, filhos mais velhos, mas uma criança não parava de chorar. Os dirigentes não tinham dúvida, tratava-se de obsessão. Foram cuidar. Tentaram de tudo e os gritos da criança apenas aumentava. Sinal de que era possessão das bravas e que o trabalho de doutrinação estava surtindo efeito, em pouco tempo a criança estaria boa. A panacéia iria durar anos seguidos não fosse a intervenção espiritual do orientador espiritual da casa falando que a menina e os irmãos não comiam a dois dias, estavam com fome. Alimentada os obsessores foram embora, ou melhor, o choro cessou. Sorte dela e dos familiares. 
No caso da esquizofrenia o que temos visto é outra coisa. O orientador espiritual não chega, quando chega não é escutado. Enquanto isso crianças, adolescentes, jovens, adultos choram. Para os espiritualistas, espiritistas, religiosos, eles estão e são endemoniados; para psiquiatras eles são esquizofrênicos e só conseguem ter uma vida normal seguindo uma forte medicação para o resto da vida; para psicólogos o melhor é encaminhar para a psiquiatria. No jogo do empurra-empurra os esquizofrênicos ficam chocados, a margem. São um tipo de leprosos que fugimos do contato e da convivência, mesmo porque ela não é fácil nem simples. Requer cuidados que passam ou deveriam passar longe da medicação eterna e constante.   
A menina que nasceu esquizofrênica é uma constatação triste, mas galopante de cada vez mais cedo medicar crianças. Ora são hiperativas, ora são autistas, ora são índigos, agora são também esquizóides. Triste mundo esse em que até a infância é medicada e se tenta solucioná-la com pílulas.    


Ps: Se você se interessou por esse assunto talvez goste também de outros post desse blog como: Falando de Esquizofrenia; 
http://universofiholosofico.blogspot.com/2012/02/falando-de-esquizofrenia.html


Kundalini e Psicose;
http://universofiholosofico.blogspot.com/2012/02/kundalini-e-psicose.html


Uma breve história da Loucura e outros a serem postados como Surto ou Parto? O parir de si mesmo; Realidade e Psicose: aracne e a tessitura da realidade; In Deliriun.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Cracolândia e a higienização do PSDB




Os patrões da Metrópole.

Nós todos sabemos o que é cracolândia. Seja de perto, seja por ouvir falar, seja por ter um conhecido, um parente por lá. A cracolândia é a concentração do descaso social em todas as suas formas e esferas: política, administrativa, penal, médica. A cracolândia é para qualquer governo, mesmo o holandês onde se é liberado e permitido o uso de entorpecentes a céu aberto, a prova de um fracasso estrondoso e retumbante.
Patrão do morro é como denomina-se, atualmente, o traficante que manda na comunidade. São eles que diante da inoperância e inobservância do Estado ocupam as favelas dando a elas uma lei própria, baseando-se na própria vontade e querer, repleta de medidas de exceção.
O inusitado atualmente é que o governo PSDB tem se tornado e se constituído em um governo de exceção. Longe de ser ação esporádica de algum governante, veremos tratar-se de uma ação que possui uma linha partidária. São os patrões da metrópole. De forma asquerosa e revoltante eles têm feito política pública ferindo o Estado Democrático de Direito. Tem realizado política pública como os traficantes realizam a política de exceção e, diga-se de passagem, que os patrões do morro realizam a inclusão social com mais dignidade do que os estados tucanos. Os patrões do morro se não primam por seguir a lei do Estado, se dignam ao menos a seguir os demarcadores da justiça, ainda que por meios tortos, o governo do PSDB abandonou a lei, a justiça, fazem o que acham certo, isto é, favorecem os seus e a si mesmo. Esta aí a Privataria Tucana que não me deixa mentir.

I-             Serra x Nordestinos 



Quando vimos as “rampas antimendigo” criadas no governo Serra, acompanhada da retirada dos moradores de rua da região luxuosa de Sampa, eu quis ver uma ação tresloucada de um sujeito e não uma política higienista partidária. Quando ouvi os ataques aos nordestinos após o resultado das eleições, quis ver naquilo uma manifestação enraivecida, embrutecida de algumas pessoas e não o pensamento manifesto dos eleitores de Serra. Quando, novamente, diante da doença do ex-presidente Lula, eles se manifestaram, eu quis pensar que eram os mesmos eleitores de Serra. No entanto, quando a gente vê Lacerda e Anastasia aqui em Minas e a forma que dispensam as reivindicações comunitárias, às ocupações urbanas e rurais. Quando a gente vê a política dispensada por Alckimin, o alquimista que tenta transformar bomba de efeito moral em voto, somos OBRIGADOS a concluir que isso é uma política HIGIENISTA PARTIDÁRIA. O PSDB ganha status do novo partido NAZI-FACISTA da atualidade. Se não é precisa refazer sua ações, no caso, sua política. 




II-           Usp x Tropa de Choque

É publico e notório que uma universidade não pode ser uma cracolândia em que jovens ricos, ou não, façam uso da erva maldita ou de outros entorpecentes, como se lá não houvesse lei e fosse um país fora do país. É hipócrita e foi assim que soou para nós que acompanhávamos de longe, querer e solicitar a polícia no campus para proteger a propriedade privada (carros, celulares, notebooks e outros), mas que ela seja conivente com o tráfico e o uso de maconha.
O contra-senso é dentro da maior universidade do país, reitor (PSDB) chamar a polícia para resolver uma questão de esfera pedagógica, dialógica. Fazer uso da força, trazendo de fora do mundo acadêmico, todo um símbolo que gerações inteira construíram em oposição ao regime de força e de exceção. O reitor coloca o choque para dentro da universidade para que seus alunos sejam presos?? Tem sentido isso??? Por si só é uma vergonha. Por si só isso seria caso de destituição. Em qualquer lugar no Brasil, quiçá no mundo, um reitor que praticasse tal ato seria condenado até mesmo por aliados. Não foi o que vimos, o reitor saiu prestigiado, sem nenhum arranhão.
A vergonha aumenta e amplifica quando praticamente não se encontra nenhuma manifestação ruidosa dos professores, intelectuais. O choque invade a universidade e o silêncio impera. Silêncio que não se fez nem no período de ditadura e exceção. Essa covardia também deveria ter um preço, o da desmoralização. Entretanto, o que se aclara é que a moeda é a mesma, merecem o reitor que tem.
Chama atenção, diante do silêncio covarde, que intelectuais podem pertencer a partidos políticos, mas não deveriam se calar diante das injustiças, a não ser que...
O silêncio dos educadores, a falta deles ao lado dos alunos, até mesmo para estar contra eles e lhes explicar o equivoco é a prova de que uma política fascista já esta entre nós. Será a nova USP bastião do novo fascismo, do novo integralismo???

III-          Choque na Cracolândia

Quando eu vi as imagens não dei atenção. Depois fiquei sabendo que o Estado mais rico do Brasil, uma das cidades mais prosperas do mundo tinha se prontificado a pegar a sua elite intelectual, para criar uma estratégia militar de combate contra dependentes químicos!!!!
Gente!!!! Eles utilizaram o que havia de melhor, eles disparam bomba de efeito moral, balas de borrachas em direção de centenas de pessoas que custam a ficar em pé. O resultado foi que ao invés de uma cracolândia agora tem umas cinco ou sete.
Trataram dependente químico, necessitado de ajuda (compulsória ou não) como traficante peliculosos. Não eram. Não são. E depois do livro Privataria Tucana sempre vai me parecer que esse tipo de ação é uma cortina de fumaça para não irem aos locais certos, as pessoas certas. Ou o problema da Daslu esta solucionado?



IV O Massacre de Pinheirinho.

Antes de contabilizarmos o estrago da inépcia de uma ação brutal e equivocada, esse mesmo governo consegue invadir uma comunidade, com a mesma truculência, mas agora não apenas com o aparato militar, “intelectual”, conseguem o legal. É O FACISMO não podemos ter mais dúvida.
Tornou-se irrefutável que a política tucana se faz sob os coturnos e bomba de efeito moral da policia. É lamentável a política social ser feita com essa truculência. É lastimável que em pleno Estado Democrático de Direito a policia cidadã se preste a esse papel repugnante de realizar controle social.






V
O lamentável de tudo isso é que os verdadeiros traficantes continuam soltos financiando campanha. Os grandes esquemas continuam esquematizados, volto a insistir na Privataria Tucana.
O lastimável é que essa polícia capaz de feitos e ações como matar 174 presos no Carandiru, invadir universidade e algemar estudantes como presos políticos, colocar para correr drogados, viciados, pequenos traficantes; expulsar de casa, durante a madrugada, pais de família, mulheres e crianças assustados; são os que congelaram quando o PCC instaurou o terror por 3 dias. São os que congelam quando aparece o nome de um ou outro diretor na lista negra. Contra eles a inteligência da polícia, dos intelectuais, não diz nada, não faz nada.
Marcola continua mandando. E se o PCC são patrões do morro, o governo de Serra, Kassab, Alkimin, Anastasia e uma corja de outros é igual, são os PATROES DA METROPOLE. Transformaram o estado de direito em estado de exceção. Canalhas!!!




quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O Medo: primeiras reflexões




De forma magistral e genial Mia Couto nos fala sobre o medo e o seu poder de calar o amor e a sensatez. Vale a pena dar uma olhada, uma refletida de como ele inicia na infância como forma de controle e não cessa mais, não paro mais. Não obstante, a reflexão que ele faz me remete ao poema O Medo de Drummond que coloco na integra. Depois escrevo sobre esse tema o medo e de como ele nos impede e nos impossibilita de sermos mais, de irmos mais. 
Bjs corajosos em todos.

O Medo

Em verdade temos medo. 
Nascemos no escuro. 
As existências são poucas; 
Carteiro, ditador, soldado. 
Nosso destino, incompleto. 
E fomos educados para o medo. 
Cheiramos flores de medo. 
Vestimos panos de medo. 
De medo, vermelhos rios 
Vadeamos. 
Somos apenas uns homens e a natureza traiu-nos. 
Há as árvores, as fábricas, 
Doenças galopantes, fomes. 
Refugiamo-nos no amor, 
Este célebre sentimento, 
E o amor faltou: chovia, 
Ventava, fazia frio em São Paulo. 
Fazia frio em São Paulo... 
Nevava. 
O medo, com sua capa, 
Nos dissimula e nos berça. 
Fiquei com medo de ti, 
Meu companheiro moreno. 
De nos, de vós, e de tudo. 
Estou com medo da honra. 
Assim nos criam burgueses. 
Nosso caminho: traçado. 
Por que morrer em conjunto? 
E se todos nós vivêssemos? 
Vem, harmonia do medo, 
Vem ó terror das estradas, 
Susto na noite, receio 
De águas poluídas. Muletas 
Do homem só. 
Ajudai-nos, lentos poderes do 
Láudano. 
Até a canção medrosa se parte, 
Se transe e cala-se. 
Faremos casas de medo, 
Duros tijolos de medo, 
Medrosos caules, repuxos, 
Ruas só de medo, e calma. 
E com asas de prudência 
Com resplendores covardes, 
Atingiremos o cimo 
De nossa cauta subida. 
O medo com sua física, 
Tanto produz: carcereiros, 
Edifícios, escritores, 
Este poema, 
Outras vidas. 
Tenhamos o maior pavor. 
Os mais velhos compreendem. 
O medo cristalizou-os. 
Estátuas sábias, adeus. 
Adeus: vamos para a frente, 
Recuando de olhos acesos. 
Nossos filhos tão felizes... 
Fiéis herdeiros do medo, 
Eles povoam a cidade. 
Depois da cidade, o mundo. 
Depois do mundo, as estrelas, 
Dançando o baile do medo


O amor vence o medo.




Um autor cujo nome não me recordo mais disse: “quando eu nasci minha mãe pariu um gêmeo- eu e o meu medo.” Talvez de fato o medo nos seja intrínseco. Talvez não tenha como construir civilização sem o medo. Mas é certo que é hora da gente romper com o medo. Precisamos construir uma civilização baseada na alegria, no amor, na confiança. Precisamos de crianças que nasçam com outro gêmeo, o amor.
Um dos que mais frisaram e destacaram esse par de opostos foi Kryon. Numa observação muito feliz, ele diz que o contrário do amor não é o ódio como pensamos e sim o medo. É o medo que nos impede de amar. É o medo que nos impede de ser feliz. É o medo que nos faz atacar, agredir, violentar. É o medo que paralisa nossa fé, nossa ação de bondade. É o medo que nos impede de aceitar o Paraíso na Terra, a felicidade agora.
Mas, escrevo tudo isso, porque eu estava lendo algumas previsões sobre 2012. E nas previsões de 2012 tudo é muito igual a 1999. O mais intrigante ainda é que tudo é muito igual ao Apocalipse que atormenta a humanidade há 2000 anos. O apocalipse é a desgraça anunciada que nunca chega e está sempre presente. São dois mil anos de tormento. E o louco é que A “Revelação”, o des-velar tinha o sentido de ser esperança, era uma mensagem de amor, de conforto àqueles primeiros cristãos que enfrentaram Nero e os leões. Tem inferno maior do que esse? Mas, depois de Nero, já vimos a besta em Atila o rei dos Hunos, Napoleão, Hitler, Saddan Hussein, Bin Laden. Mas, a besta é o próprio medo, nosso medo. Assim como o Cristo é a aposta no amor e do amor. Ele já veio e sempre esteve entre nós.
As previsões relatadas na reportagem da “Isto é” estampam além de previsões do fim do mundo, da salvação dos eleitos, isto é, dos bonzinhos de Deus e de Jesus; os de Buda e de Krishina já estão condenados. O interessante da reportagem é a sensibilidade em colocar lado a lado como o mercado do medo prospera, vende, é lucrativo. Seja vendendo terreno, seja vendendo estalagens anti-atômicas, seja vendendo livros, filmes que retratam mais o medo que o amor.
Assim, gostaria de firmar posição e falar do amor. No ano da promessa-2012- o amor vai vencer o medo. Será um ano com muitas transformações e em breve postaremos sobre isso, mas de forma geral, o amor prevalece. Mesmo a contragosto e a contendo de muitos. É então um momento de mais amor, de mais luz, de mais compreensão. Um momento não de tampar o sol com a peneira e sim de não focar mais o medo do que amor.
Vamos ler Drummond e ouvir depois Mia Couto.
bjs  

domingo, 1 de janeiro de 2012

3-o processo do envelhecimento: educando o corpo para a morte.



 Como a ordem do dia é a eterna juventude, Barbie, Vampiros e tantos outros- a velhice e a morte são esvaziadas. A tradição é perdida e posta de lado, mesmo porque na sociedade da pressa, da ultrapassagem, das invenções e descobertas, qual o lugar do velho? Se tudo é novo, tudo é fast, todo hoje já é ontem. Qual o valor do velho, da velhice?
Ao que parece não há lugar para sabedoria, para experiência acumulada, para anciãos. A memória boa não é a que guarda e sim a que deleta. A memória deve estar aberta para receber novas informações e não ficar guardando conhecimentos, possivelmente desnecessários.
O paradoxo disso é que estamos inseridos numa cultura da morte, justamente porque nada é eterno, nada é permanente, nada é para sempre. É uma sociedade em que tudo esta em constante mudança e até a mudança tem que mudar. O fluxo do tempo não pode ser simplesmente contínuo, ele precisa ser acelerado.
O lado mais latente desse paradoxo é a mensagem indireta que confessa e revela: “tudo é descartável, não se pode prender a nada, a ninguém”. Não se forma elos, vínculos. Há grupos e propósitos movidos por interesses em comum. Quando o interesse é alcançado o elo é rompido, a sociedade, o contrato é desfeito, desmanchado. De modo que de forma geral as relações são descartáveis, estão aí o aumento do número de divórcios que não me deixam mentir. Assim, como as novas relações entre pais e filhos- ninguém se prende a ninguém. Não nos prendemos mais nem as convicções religiosas. Muda-se de religião conforme a conveniência. Quero trair meu marido, mas a igreja falou que é pecado, encontra uma na qual não seja. Os desígnios antes eternos e perenes se adéquam ao meu interesse e vontade momentânea. Chega de acreditar no sofrimento para obter o reino dos céus e chega de ficar esperando tanto tempo por minha casa, meu emprego; mudo de igreja para que as transformações ocorram mais rápido. É um mundo fast.
Tudo isso não é ruim, mas ainda não é bom, já que não se distingue o outro do objeto. Já que não sabemos distanciar ou até mesmo compreender a violência que é ser tratado e tratar o outro como objeto de meu uso e do meu desejo. Objeto de posse, de relação descartável.
Assim, o impasse alcança a sala de aula, afinal a proposta de ensino é voltada para o alimento da alma, ao preenchimento de um vazio que devora todos os humanos. Mas se toda uma sociedade se volta aos valores do corpo, se rendem e devotam tudo ao corpo, um novo deus passa a ser adorado e novos profetas a discursarem sobre as maravilhas do novo reino dos céus. O reinado é consagrado na posse, no ter em detrimento da partilha e do ser. Abre-se, na verdade, alarga-se uma outra forma de evolução. Completamente baseada no corpo, no ter, na aparência, no mercado, na publicidade e propaganda. Na vendagem de si mesmo. A outra linha evolutiva que se deu na partilha, na solidariedade, na cumplicidade, na criação de laços amorosos, na explicitude do ser, no amor ao próximo, no respeito ao outro é paulatinamente, posta a margem. Afinal pra que amar e respeitar o outro?
Esse é o vazio atual. Mais do que um vazio é um dilema, um paradoxo que nos toma e nos preenche. O que nos torna humanos é podermos ser além do corpo. Sermos ele, com ele, mas além dele. Quando nos identificamos ao corpo somos bichos, “animais morais”. E na normatividade selvagem não há nenhuma razão para convivermos com a dor, a velhice e a morte sem devorá-las. Os mais fracos devem ser abatidos e subtraídos. O que nos faz humano, volto a insistir é que diante da dor, da velhice e da morte constatamos a nossa fragilidade diante da natureza. Fragilidade que as conquistas tecnológicas escamoteiam, mas não retiram. Somos frágeis, somos seres que doemos, envelhecemos, morremos e poucos sabem como atenuar essa angústia do corpo, esse apelo para que se de a ele não medo, não regras, mas compreensão e consciência de que ele é parte de uma estrutura maior.
São poucas as escolas que garantem essa formação, esse preenchimento do vazio, mesmo porque, professores não estão imunes a ele. Simplesmente, na busca insandecida pelo gozo do corpo, pela satisfação imediata do desejo, não há o que se ensinar, vivencia-se o ABSURDO no sentido existencialista. Nada se ensina, porque educa-se para as sensações e as mesmas são mutáveis, variáveis, fluidas, inconstantes.  
É um bom momento para se viver, mas também não é ruim morrer depressa. É um momento que apresenta um novo paradigma e como tal precisamos construir, criar nova forma de nos educar, de nos manter equilibrados e em equilíbrio com o todo que nos cerca.
Bjs em todos.