segunda-feira, 30 de julho de 2012

AS SENHAS DO EU: preâmbulo.


Anos atrás, num texto que escrevi para Elo, brincava de Pique - esconde. Eu dizia e falava mais como criança, isto é, com uma ingenuidade que ignora a profundidade do gesto e do dito, que a gente deixava partes nossas guardadas com o outro. E depois a gente re-encontrava esse Outro para que ele nos devolvesse aquilo que é nosso, que deixamos emprestado. O nome disso é amor. A cara mais visível desse amor é a amizade.
O amigo, já diziam os pitagóricos, é o meu outro eu. É aquele que te conhece mesmo quando você se ignora, mesmo quando você se perde, mesmo quando você se ausenta e tenta tirar férias de você mesmo. O amigo te relembra quem você é. O amigo tem a senha.
A senha é um termo curioso. O ouvi pela primeira vez na periferia de alguma escola na qual leciono ou lecionei. Um grupo de alunos dançava Hip Hop e outro mano da comunidade, não estudante da nossa escola, olhou para o garoto mais novo que se destacava na roda, quebrando todo, olhou para mim e disse: “ele tem a senha!” Noutra feita, se deu com um guri que operacionalizava algum jogo eletrônico, o rapaz olhou e disse: “ele tem a senha”. Como quem diz: ele sabe muito. Ele abre as portas, ele decifra os códigos. Neste texto esse é o sentido da senha.
O amigo tem a nossa senha. Ele entra em nós. Quando estamos desconfigurados, ele pega a senha e nos formata, nos tira do rascunho e nos devolve ao original. Mas, descobri que há hackers nesse negócio também. Há o lado belo, infantil, terno, responsável, leal no qual amigos se trocam, mas há algo também de destrutivo em que inimigos se invadem, se controlam, se empacam, se prendem.
Lidei com um caso desse bem de perto. A moça me procurou e quando fui ver, o cara tinha não era apenas a senha, o cara a tinha toda, inteira, completamente, a qualquer momento em que ele quisesse e a desejasse. Bastava um telefonema, depois de dias, anos, meses, pelo o que eu pude analisar, séculos, e ela ia satisfazê-lo. Fiquei impressionado. O cara de fato tem a senha.
Mas, mais que se ter a senha, mais do que guardar partes do outro com você para devolvê-lo depois, algumas pessoas se apoderam do outro. Pe Fábio Melo chamou isso, maravilhosamente bem de: 'sequestro da subjetividade'. Algumas pessoas simplesmente roubam a senha das outras, apoderam-se da outra, não a devolvem. Em parte sim, mas em outra, temos que falar dos que dão a senha de própria vontade, desejo, querer e se ofendem quando alguém recusa retribuir a senha que deram, ou não querem devolver. 
Vamos falar de casos em que algumas pessoas entregavam o coração delas na mão do outro, completamente, inteiramente. Para muitas é uma ofensa não aceitar o coração que elas depositam nos pés do seu amo, dono, senhor. Fiquei assustado.
Eu vi amigas dando tudo a seus amantes. Vi amigas perdendo-se na busca por seu amante. Vi amigos se transformando diante de suas amantes. A única pergunta a ser feita é: eles estão de posse do próprio coração? Estando ou não, nada resta a fazer. É uma cegueira. A única esperança é a de que o outro não judie, não maltrate, não humilhe, não pise, não escravize. A única esperança é que o outro seja amigo. Por que do contrário... nada pode cortar, alterar, a não ser o fio de esperança, de consciência.
O que escapa a maioria de nós é que a vitima também tem a senha do outro, mas se recusa a devolver. Tem hora que para mudar de fase, para brincar diferente, tem que recomeçar tudo outra vez. E no caso em questão, a moça se recusava a devolver a senha para o seu par, fazia algo ainda mais louco, repetia a mesma relação com um terceiro, mas agora na condição de sádica. Sim, não consigo ver essa relação se não pela perspectiva SM (sado masoquista) trataremos disso no final. 

quarta-feira, 25 de julho de 2012

O QUE É SER SOLTEIRO: uma tentativa de resposta.




Dia desses, Primavera me perguntou o que é ser solteiro? Dei uma resposta rápida, apressada, que ela não conseguiu me visualizar dentro da definição dada por mim. Falei que ser solteiro era ser livre. E ela não me via livre, embora me visse e reconhecesse solteiro.

Diante disso, vi que teria que amadurecer a idéia para responder depois. Tentei responder por diversas perspectivas, pensando em amigos, colegas, amigas, mas não encontrava um denominador comum. Para uns ser solteiro é a própria liberdade, para outras a solidão indolente e sistemática. Para uns é um telos, um destino final, para outras a falta de sentido, um vazio, uma dor lancinante.

Passaram quase dois meses, volto à pergunta. Mas, antes, tenho que dizer, que uma namorada, certa feita, me disse que eu era como um homem casado e ela sentia-se minha amante. De fato, não sou tão livre quanto deseja meus pensamentos. Será isso triste? Será que a liberdade é apenas um estado mental desvinculado de um fazer sensível, material, prático e pragmático? Imaginar-se nu numa noite clara é ser livre ou a liberdade esta em se desnudar na noite? Aquele que só pensa e não age seria um escravo de suas idéias, de seus castelos encantados? Ou pelo contrário, a liberdade de pensar, imaginar, fantasiar o torna livre? Diria Alberto Caeiro que todas essas divagações são chatas como andar na chuva, mesmo porque eu deveria responder apenas o que é ser solteiro e desembestei a falar de liberdade. O que tem a ver liberdade e solteirice?

Eis a questão emblemática. Há solteiros por escolha, por convicção. Há solteiros que assim como pedras sentem-se bem sozinhos; desconfio desses. Há solteiros que ficam desesperados com a sua solitude: arranjam bonecas infláveis, animais de estimação, controle remoto, tudo e qualquer coisa para não suportarem o vazio constrangedor da própria presença. Há os que pagam por companhia, seja da prostituta, seja do garoto de programa, seja da cerveja gelada tomada ao ar livre para ver se esquenta esse vazio insuportável de não se ter um par. Na contramão dessas colocações há a solidão a dois tão bem desenhados por Cazuza e tão bem manifesta no casamento. Isto é, há aquelas que já não suportam mais o par. Há aqueles que já não conseguem olhar para a mesma esposa, que mantém sempre o mesmo olhar, na mesma hora. Igualmente arrepiante é a mãe que já não dá conta de suportar os mesmos filhos, com as mesmas necessidades, com os mesmos pedidos, demandando sempre as mesmas atenções. Em suma, como não poderia  deixar de ser diferente, quem está solteiro deseja uma companhia e quem tem par esta torcendo pela separação.

No frigir dos ovos não é questão de ser solteiro ou de ser casado é que viver é mesmo muito complicado. Complicado, porque desejamos sempre a falta, a carência, aquilo que não temos, aquilo que perdemos. Difícil encontrar um ser humano que aceita a quietude da sua escolha, que olha para ela e diz: “eu escolheria esse mesmo de novo”. Difícil suportar a solidão quando se sabe que há tantas mulheres e homens no mundo. Mas, já se perguntou o que se deseja desse outro? O que se espera desse outro?

De tudo isso me parece que a gente busca o outro, mas não suportamos nem a nós mesmos. No século XX Sartre disse que o inferno era o outro. No século XXI o inferno é o eu. O outro é o próprio diabo: atrativo, divertido, mas ninguém quer levar pra casa. Desse fogo a maioria quer distância.

Mas agora, tentando, definitivamente, responder a pergunta: o que é ser solteiro? Acho que isso não é um ser é um estar. A solteirice é um estado. Um imaginário, um fazer. Fui casado, me comprometi de muitas formas, mas na mais básica e elementar, posso dizer depois de quase uma década separado, que fui solteiro. Com isso quero dizer que há pessoas que nunca se casam, mesmo casadas, elas sempre estão nelas, com elas. O outro nos é importante, mas não nos é uma necessidade, uma falta, uma angústia. Vivemos sem o outro, seja este outro quem for. Só não vivemos sem nós mesmos.

Esta postura nos relacionamentos é controvertida, porque a visão de amor que temos é a da fusão, da integração. Carregamos uma visão de amor na qual se ter vida própria sem o outro é traição, é crime. O castigo desse pensamento é a infelicidade conjugal. Eu desconfio cada vez mais que o casamento é o sepulcro do amor. Justamente, porque nele cada um se mata, se perde, se dá, se entrega. E infantilmente, entregamos justamente aquilo que não pode ser entregue, que o outro não pode carregar, receber; nós mesmos. O melhor da gente. Casar é matar o outro. É um prazer meio de caçador que se sente mais confortável com o ser da sua admiração preso na gaiola.

O contrário disso, mas que é a mesma coisa, é a infantilidade. Uma e outra apontam para o mesmo lugar, ainda não sabemos amar. Ora, por desejarmos e acreditarmos, infantilmente que este outro é o ser que supre nossas carências, o ser que realiza minhas fantasias no fazer dela. Ora por não querermos contato estreito com outras pessoas por medo de nos ferir, de nos magoar. Ambos os casos revelam que no que tange ao amor não amadurecemos.

A falta dessa amadurecimento é que nos faz enquanto comprometidos com terceiros, sentirmos uma inveja de nossos amigos casados, noivos, se relacionando. Essa falta de amadurecimento nos faz lançar um olhar de culpa para a mulher que trai, que rompe, que prefere ficar sem marido, sem filhos, deixar tudo para trás.

Em nossa cultura só se é adulto depois de casar, ter filhos. É uma estulticie seguida e alardeada. Mulheres que estão solteiras aos 25, 30 estão a um passo ou de pegar um homem a laço e levar para o altar, ou de ir fazer inseminação artificial. Geralmente, descobrem que esse desejo era dos pais dela, mas aí já estão gordas, casadas, cuidando da casa, dos filhos e torcendo pela separação.

Eu diria hoje que ser solteiro é estar casado consigo mesmo. Que venha as bodas de ouro.


domingo, 8 de julho de 2012

ACONSELHAMENTO METAFISICO: um diálogo com os pares.


Vou fazer um diálogo com os pares, mas uma pergunta vem à tona: quem é meu par? Quem são os meus pares? Médiuns? Astrólogos? Místicos? Filósofos? Professores? Afinal, quem é o meu par ou os meus pares?


A indagação inicial e a lacuna das respostas seriam suficientes para mostrar que não devo satisfação a ninguém, que deveria desenvolver meu trabalho sem ficar tentando dar explicações a quem não as pediu. Todavia..... o que percebo é que o Kélsen místico, médium precisa dar satisfação ao Kélsen filósofo, especialmente, quando os dois primeiros fazem uso de conceitos do jargão filosófico, como por exemplo, metafísico.

Sim, na cabeça do Kélsen filósofo as palavras tem domínios e usos restritos. Na concepção dele dever-se-ia pagar patente todas as vezes que se faz uso de jargões de outras áreas. Este filosofo medíocre longe de perceber a integração dos saberes, do conhecimento, ele os desenha e os delimita em usos exclusivos e reduzidos. É uma visão pobre e dentro dessa pobreza precisamos salientar para ele que a metafísica transcende a palavra, o conceito, a denominação. Metafísica é a grosso modo e de forma superficial tudo aquilo que transcende a física, que vai além dela. 
Os gregos pensavam a física como Physis, isto é, natureza. Mas não a natureza ecológica de fauna e flora. A natureza para os gregos era uma essência, um algo que a habitava, que a compunha, que fazia ela ser o que era e não outra. Os primeiros filósofos exprimiram essa physis mediante o conceito de Arché, um principio que tornava a physis ela mesma e não outra coisa. Era pela Arché que a água é água e não fogo; o fogo é fogo e não vento. O vento é vento e não cadeira. A physis assim demarcava a identidade e a contradição e no meio delas não existia nada. Será?

Talvez seja justamente nesse meio, que na lógica denomina-se terceiro excluído que registramos a existência da metafísica. Aquilo que supostamente estaria além das demarcações lógicas, das regras estabelecidas. Claro que os modernos mudaram o conceito de metafísica. É mais próximo daquilo que estou denominando agora. Mas os limites dessa classificação são os próprios avanços científicos, afinal: ver micróbios andando na pele humana é metafísica? Observar a estrutura da natureza nos seus aspectos mais básicos e elementares é metafísica? Mover as coisas sem tocá-la é metafísica? Já foi, mas não é mais. Tudo isso um dia esteve no mundo da imaginação, da fantasia, do fantasioso, do sobrenatural, da mística, mas hoje esta no mundo ordinário do cotidiano.

Para a ciência normal (Kuhn) mesmo em tempo de crises e de possível mudança paradigmática falar de outros corpos que não o físico, observar as dores, gemidos, fraturas e fissuras desses corpos energéticos e como eles ressoam no físico é tido como algo metafísico. Muito embora, não devesse ser, já que, a física quântica em seus cálculos prevê essas possibilidades. Possibilidades não menos possíveis e/ou prováveis como as de conversar com entes fora do corpo físico, ou como compreender a estrutura psíquica das pessoas. De modo que isto que hoje é META , isto é, out, fora não demora muito pode vir a ser física.

Mas, sem esperar por esse momento, embora ele já esteja aqui e se faça agora, é que falo de aconselhamento metafísico. Uma forma em que o Kélsen místico, médium, "astrólogo", "numerólogo", "tarólogo", consegue utilizar dos mais diversos instrumentos para amenizar a dor e angústia do outro. Primeiramente, num bate papo, numa interação em que a pessoa apresenta sua questão. Segundamente, por um estudo holístico da questão, tentando abordar o tema levando em consideração os mais diversos aspectos e dimensões que nós (eu e a pessoa) conseguimos alcançar. Terceiramente, mediante uma aplicação energética que busca não apenas o alinhamento dos chacras, como a integração dos mais diversos corpos sutis. E, finalmente, mediante a orientação e esclarecimento dos amigos espirituais que orientam e supervisionam o trabalho realizado. Aqui, a parte metafísica propriamente dita.

A metodologia padrão é essa, o que não significa, que a ordem dos fatores não possam ser alterados. Já o resultado tem como objetivo, no que refere a questão  do corpo emocional, amenizar e diminuir o tamanho das fraturas e fissuras internas. Já no que se refere a questão do corpo mental equalizá-lo dentro da esfera do sentir. Em tudo a busca consiste em harmonizar os corpos, diminuir as distâncias  entre os corpos auxiliando a pessoa responder mais prontamente e sem entraves à dinâmica da vida como um todo. 

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Podcast




Ola a todos,

É com muito prazer e alegria que anunciamos que os podcast da Ciranda da Consciência começam a ser disponibilizados.

A Ciranda da Consciência é um grupo de amigos de longa data, que depois de década de bons bate-papos e discussões resolveu gravar e disponibilizar as conversas para o publico. No seu primeiro movimento giratório organizamos duas palestras: a de abertura tratando do simbolismo de 2012 proferida por Gustavo Amorim, a segunda proferida por Julio Motta versando de "Iluminação Espiritual e o despertar de uma consciência não dual". Ambas foram sucesso de público, com grande qualidade, mas não conseguimos criar a terceira palestra. Descobrimos que a Ciranda também tem autonomia em seus movimentos, às vezes, ela gira para lados que não era o que desejávamos, mas acabamos sendo movidos na direção do novo movimento. 

Assim, Ciranda da Consciência é um nome sugestivo, metafórico, que sugere tudo o que gostaríamos de dizer e de certa forma fazemos, a saber, tratar a espiritualidade com menos peso, mais diversão, muita alegria, imensos sorrisos.
Nossa crença é a de que é possível tratar de assunto dessa monta (espiritualidade) sem dor e ranger de dentes.

Foi assim, que nas voltas, retornos e movimentos cirandeiros, resolvemos criar um novo formato, que é este que lhes apresentamos. Muito longe ainda do ideal e da perfeição que idealizamos, mas em condições materiais e reais de ser apreciado, criticado, visto, ouvido, curtido. 

É assim com essa alegria de quem apresenta um filho para os amigos, com um orgulho meio besta, mas genuíno, que abrimos a ciranda para novos giros. E como uma boa ciranda, estamos lhes convidando, assim como a seus amigos, a participarem da roda e vir girar, bailar e brincar conosco.  

E como toda brincadeira de roda, basta pedir licença e dar as mãos; O poeta diria: "não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas."

No mais: sejam bem vindos.

Grato desde já. 


Kélsen A. 



terça-feira, 19 de junho de 2012

Por dentro da Loucura




Salve a todos,

Todos sabem, algumas pessoas sabem da minha paixão pela loucura. Eu não sei explicar o motivo, a razão, eu simplesmente gosto, amo e me apaixono por quem consegue pensar de forma diferente, por quem consegue inverter e subverter a ordem, o dito, o curso e o discurso do mundo. No fundo acho que gosto dos loucos, porque cada um deles é uma parte de mim. Mês passado e retrasado fiquei escrevendo sobre a loucura. Semana passada, estreitando um diálogo com uma alma irmã a minha, retomei a interação com a loucura.

Mas a razão desse escrito é que encontrei um blog fantástico falando da esquizofrenia. Descobri é uma forma de dizer que uma amiga me indicou o blog e que passo para vcs. 


I
Na história da ciência nos chamamos, ou classifica-se alguns autores de: a) internalistas; b) externalistas; c) construtivistas.

Os internalistas seriam aqueles que fazem a ciência mesmo, estão nos seus laboratórios construindo não apenas artefatos tecnológicos, como teorias. Eles são de forma geral cientistas que defendem o fazer científico.

Os externalistas seriam aqueles que refletem sobre o resultado da ciência feita pelos internalistas. Tentam mostrar e desvelar as conseqüências da ciência no dia-a-dia das pessoas, assim como a posição “ingênua” dos internalistas. 

Os construtivistas pensam a ciência como uma construção, uma interação que se dá entre internalistas e externalistas, mas sem tantas demarcações precisas e rígidas como ambas arvoram.

Uso essa classificação para situar minha briga com psiquiatras, antropólogos, psicólogos: é de que eles são "externalistas", isto é, eles falam da doença mental de fora dela. Eles falam de outras culturas, sem pertencer a elas. Psicólogos, psiquiatras não sabem o que acontece dentro da mente, ou melhor, sabem, mas não sabem. Sabem como os médicos sabem do infarto, mas nunca tiveram um, ou do cálculo renal, ou da miopia. É um outro saber. É um saber sem sentir, é um saber teórico, mas que fica faltando a vivência. De modo que pode-se saber muito mais, no entanto, sabe-se menos e não deveriam ter a prepotência e arrogância de invalidar outros discursos. 


O estranho então é que se na ciência o discurso dos externalistas é ignorado quase que completamente pelos internalistas; ignorado no sentido de eles não alterarem o fazer e o refletir dele devido ao que foi dito, interpretado, não dito. No que tange a saúde de forma geral, e especialmente a saúde mental, os externalistas- médicos, psicólogos, psiquiatras- interditam, desqualificam e invalidam o discurso dos internalistas. Os esquizofrênicos,  são completamente ignorados , desqualificados. 


E é nessa especificidade que quero mencionar o blog do rapaz. O blog dele é super interessante, porque ele é um internalista falando do seu processo por um mecanismo que é compartilhado pelos externalistas- a linguagem. Ele utiliza a gramática médica, psicológica para falar daquilo que ele capta, sente, vê, percebe. Ele mais do que narrar, quase que nos coloca dentro do espaço mental dos portadores de esquizofrenia. É um belo endereço para que a gente consiga compreender melhor o que eles sentem, como percebem, o que entendem dos seus processos e como ele é difícil e doloroso. Além do que nos fornece a contribuição de inspirar e ensejar outros de seguirem o mesmo caminho, isto é, de começarem a dar voz as suas vozes e minimizar a fala de terceiros acerca dos seus estados mentais primários, internos, subjetivos. É uma tendencia a ser seguida e especialmente, seguida por outros portadores.

Dêem uma olhada no blog do rapaz. Abraços em todos.  


quarta-feira, 30 de maio de 2012

MARCHA DA MACONHA E MARCHA DAS VADIAS.




Nas duas últimas semanas, segmentos da sociedade brasileira resolverem caminhar, se mover, se mobilizar, reivindicar. Sem dúvida que isso é belo e importante para construção do jogo democrático, mas.... reputo complicado a marcha da maconha.

Podemos utilizar como argumentação favorável a marcha que o álcool é socialmente mais prejudicial, que o cigarro é mais nocivo, que o sucrilhos e o Big-Mac também são uma droga. Podemos utilizar pesquisas de notabilíssima relevância teórica e econômica que apontam que a liberalização das drogas, não só da maconha, acabaria com o poder do trafico, possivelmente, gerando renda para o Estado, como se dá com a própria industria do cigarro e do álcool. Todos esses e outros são argumentos, sem contar um mais precioso ainda, o corpo é do usuário e pode-se lhe  facultar o direito de drogar-se.

O contraponto é que todos esses argumentos são da esfera da individualidade, da privacidade, dos direitos individuais e como sabemos, vivemos em sociedade. Os direitos sociais são regulados pelo direito coletivo e é essa tensão e embate que alarga a respeitabilidade do individuo enquanto cidadão e da sociedade enquanto Estado Democrático. De modo que, sendo inteiramente contra a marcha, achando até que a mobilização é fútil, torpe e banal, temos que respeitar o avanço civil de nossa sociedade de conceder um direito legitimo de usuários mobilizarem-se. É uma manifestação política e de expressão legitima, que não pode ser cerceada (embora discordemos), como bem colocou o supremo. 

Não obstante, temos que enfatizar, que lutar pela legalização da maconha é tacitamente defender o tráfico, os métodos e meios utilizados por eles. Legalizar a maconha é se atrelar e unir de fato a violência crescente e galopante que toma conta do mundo todo, haja vista, México e para não irmos tão longe, qualquer cracolândia de nosso país. Não se pode e nem se deve pensar a maconha fora da indústria da violência. Ela não é uma erva natural, há muito deixou de ser, de maneira análoga que há muito a coca, perdeu seu significado cultural, assim como o Daime vem perdendo também ao ser utilizado no centro das capitais por qualquer um que pague ou deseje. De modo que o econômico colonizou, desvirtuou e corrompeu toda ingenuidade e pureza que alguns usuários querem defender. 

Na direção oposta da marcha da maconha vem a das vadias. Não pude estar ao lado delas, caminhando junto contra o discurso opressivo e opressor que não apenas legitima a violência como ainda culpabiliza de forma covarde a vítima. Esse discurso dos “conquistadores” oprime duplamente, primeiro pelo ato, depois pela legitimação ideológica da ação. Nesse aspecto avançamos pouco, em verdade, não avançamos quase nada. O crime contra o negro não é tido como pratica de racismo e sim de injuria. O crime contra os homossexuais não são vistos como homofobia e sim agressão. Os crimes contra os irmãos do candomblé e da umbanda não são encarados como religiosos. Nessa toada, como não poderia deixar de ser diferente ao valer-se dessa ótica opressora, os crimes contra as mulheres acontecem, porque elas são vadias. Pelo menos foi isso que o policial canadense expressou verbalmente, dando de certa forma voz e rosto ao que uma infinitude de homens e mulheres pensam. 


Tudo isso é um discurso covarde que retira duplamente a condição de sujeito do outro; primeiro no ato e depois ao transformar a vitima em culpada. O fato é que não compreendemos e aceitamos que a mulher ao ser estuprada é vitima, ainda quando ela estava nua em pleno clássico no Mineirão, dançando Funk até o chão. E não aceitamos a sua condição de vitima ao ser estuprada, porque não reconhecemos negros, homossexuais e mulheres como iguais a brancos, heteros e homens. Não aceitamos porque se  pode tolerar que as mulheres ocupem posição de liderança na sociedade, não aceitamos que elas se sintam ou sejam donas do próprio corpo. O corpo das mulheres é na mentalidade da maioria dos homens a primeira e definitiva propriedade privada que eles têm e possuem, literalmente até. Seguindo essas pegadas vamos em direção da violência domestica. 

Mas, quero enfocar a marcha salientando como a caminhada para a cidadania é longa e contraditória, confusa e obnubilada. Por um lado, um segmento da sociedade marcha para que seu direito de utilizar entorpecentes ilícitos seja legalizado. Por outro lado, luta-se, ridiculariza-se até para que se tenha assegurado o direito de ser respeitada independente das vestimentas, ou para além delas. Em comum entre as marchas há a relação corpo e os direitos do próprio corpo, seja de drogar-se, seja de despir-se. E é nessa simetria dada entre o escamotear-se ou se revelar, que as dimensões do desejo em nosso diálogo com o prazer se revelam. É no nível do prazer e do desejo que as marchas dialogam com a sociedade civil.  

Na primeira marcha são os usuários nos dizendo que querem introjetar no próprio corpo substâncias que lhes dão prazer. Nisso há uma liberdade que quer se afirmar individualmente em detrimento do social.  Em oposição há as mulheres que lutam coletivamente para que sejamos capazes de reconhecer a individualidade do desejo, do prazer que lhes assistem. Elas marcham para que o corpo delas seja considerado expressão do desejo delas e não de maridos, pais, filhos e menos ainda de outros homens e em hipótese alguma, de um usurpador, de um estuprador, seja este de corpo ou de almas. Em primeira e última instância, elas marcham para que seus direitos de pessoa humana sejam reconhecidos e validados individualmente. Já os usuários marcham em primeira e em última instância para que o prazer ou vicio (ilícito) deles sejam validados coletivamente, em suma querem dar baforadas de maconha em nossas caras. Quer me parecer que embora tudo seja uma marcha com conotação politica, nós enquanto sociedade temos que defender às vadias, descriminalizar o usuário e abraçar a democracia.  

Bjs e tomara que entre as marchas, apesar do nome ousado e provocativo, a das vadias aumente a cada ano, assim como o respeito as mulheres.  











domingo, 13 de maio de 2012

SEPARAÇÃO Si- para-AÇÃO.




Quando me separei, eu era um mim, sem melodia. Uma cacofonia, um sem número de cacos, de partos, de destruição. Quando eu olhava para trás, eu via apenas o ponto, ou os pontos nos quais ecoavam o maior erro da minha vida. E como eu não podia deixar de ser dramático, refletia que o relacionamento fora o maior erro de todas as minhas vidas, afinal, tristeza pouca é bobagem.

Naquele tempo toda mulher era para mim a imagem da traição. Eu corri de mulher por quase um ano. Se elas me tocassem então, eu já esperava onde seria o bote. Mulher e serpente passaram a ser sinônimo. Mulher- “a verdade é o seu dom de iludir./ Como podes querer que a mulher vai viver sem mentir...”

Ia vivendo assim até que um dia, dentro da nossa sala de mestrado, algo em mim despertou para uma jovem moça.  Algo em mim sorriu para ela. O inusitado é que era uma sala com mais de 20 mulheres. Poderia ter despertado para alguma solteira, mas apaixonei-me por uma que namorava. Na verdade, o ponto não é que ela namorava e sim que ela era fiel. Pelo menos, em relação as minhas investidas, ela manteve-se, sexualmente, fiel ao namorado dela.

O inesperado é que essa moça recuperou a minha confiança em todas as mulheres do universo, até nas adulteras, até nas filhas da prostituta. Ela salvou em mim todas as mulheres. Fico pensando que se naquele momento rolasse algo entre nós, provavelmente, eu a apedrejaria. De certa forma era como se uma parte minha quisesse me convencer de que todas as mulheres traem, mentem. E o fato de ela ter agido diferente, me ajudou a recuperar algo que me tinha sido tirado. A agradeço pelas coisas ter tomado o rumo que tomou.

Mas escrevo, porque muitas amigas separam-se. Quero falar para elas: viva o luto. Separar dói, machuca, arde, sangra, mas passa. Os dias nos quais nada tiver graça, o tempo ficar interminável: mate imageticamente o seu amado com requintes de crueldade cada vez maior. Aquele que separou, que foi traído e não matou o ser amado pelo menos de vinte formas diferente, jamais amou. Eu rio das imagens com as quais eu assassinava minha ex-esposa, porque mais tarde fui ver a carga erótica que tinha cada uma dessas cenas, a passionalidade que tinha em cada uma delas. E a cada assassinato, elas iam indo embora. Eu me esvaziava dela e me preenchia de algo que somente a separação te ensina e lhe restitui.

E a separação nos ensina a nunca mais separar-se da gente mesmo. Por isso viver o luto é bom e importante. A medida que você vive o luto uma coisa cresce novamente em você. Aqueles cacos, retalhos, fragmentos, uns são perdidos e lançados no nada. Outros colam, se ajustam, se unem e nunca mais desgruda da gente, descola de nós. São as partes que se restitui.

Outros relacionamentos vêm, mas tem uma parte nossa que já não abrimos mão e nem esperamos ou desejamos que o outro abra. Em verdade, passamos a procurar no outro não partes que não temos e nos complementaria, mas sim partes que o outro tem e não abrira mão. Muitos pensarão, é egoísmo!! Não é muito distante do egoísmo. Como ressalta Nereida em seu livro formidável, o egoísmo é você tentar ser o centro da vida do outro, ser o umbigo da vida do outro. Ser o seu próprio umbigo, reconhecer o seu próprio centro é autocentramento. E a separação te ajudar a autocentrar-se e a reconhecer um outro que igualmente saiba do seu centro. Te proporciona a não querer ser o centro de ninguém e nem aceitar que o outro seja o seu. De fato, as pessoas não chamam isso de amor, nem de relacionamento. A visão que elas têm de relacionamento é a da novela das oito, dois que são um, dois que se fundem, que se integram, que se perdem e se com-fundem.

Enfim, depois da separação passamos a ter uma parte que não deixamos mais sair ou desgrudar de nós. É uma parte nossa que a gente nunca mais abandona, nunca mais cede, nunca mais deixa sair da gente.

A separação nos proporciona sermos, ser-para- ação. Si-parAÇÃO.