quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Perception.S01E01.Pilot - Trecho inicial legendado



Perception é uma série que estreou este ano na TNT com 10 episódios e parece que vai para a 2ª temporada com 3 episódios a mais. Como o nome indica, a série fala de percepções, não apenas do ponto de vista factual, objetivo; como que do ponto de vista subjetivo, interno. A série consegue transitar muito bem entre esses dois estados, o interno e o externo.

A discussão dessa transição torna Perception uma série inusitada, excêntrica, intrigante, que aborda a um só tempo a criminalidade (factualidade), as motivações privadas (intencionalidade) do criminoso sob a perspectiva da neurociência. Mas o que tem a série de tão diferente e especial? O personagem principal: Dr. Daniel Pierce- um PHD em neurociências, professor universitário, autor de alguns Best sellers e ajudante do FBI. Para incrementar ainda mais o seu currículo ele é esquizofrênico.

É deste estado interno- a esquizofrenia- que toda a série se desenvolve e apresenta os arremates finais dos capítulos, justamente na fronteira entre o real e o imaginário. Em verdade, a série começa buscando encontrar uma definição para realidade. Esta é a pergunta que o Dr. Daniel lança aos seus alunos. Em capítulos seguintes pergunta: o que é normalidade? E no que tive a oportunidade de ver ontem (23/12) discute como pano de fundo a homossexualidade. O interessante é que discutir a homossexualidade como doença passível de tratamento tem o mesmo viés de discutir a esquizofrenia, que na concepção do personagem não é algo sujeito a mera medicação e sim a aceitação desse estado, ou será condição?

Assim, de maneira muito provocante, a série levanta e responde a perguntas relativas à normalidade, à realidade, às percepções. Além de humanizar o transtorno mental da esquizofrenia. Alguns, talvez possam acreditar que a série romantize um pouco a esquizofrenia, diria que sim, embora, ela coloque as dificuldades do portador de forma muito franca. O que aos meus olhos poderia ser considerado romanceado é a aceitação com que ele convive com sua companheira imaginária, quase uma terapeuta de plantão que o ajuda em suas reflexões e lhe da condições de se manter “normal” dentro do critério de normalidade que ele vivencia. E talvez onde uma parte significativa veja um afastamento da realidade do portador de esquizofrenia, eu presumo ser o ponto alto da série, a saber, o respeito à diferença, às individualidades, à unicidade de cada sujeito humano, especialmente, às própria idiossincrasias. Em minha Perception a série aborda essas questões com muita leveza sem perder a profundidade dessas questões.

Vale a pena dar uma conferida.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

MAIAS: O FIM DO FIM DO MUNDO.




Mais um ciclo fechou. Gostaria de realizar a previsão de que os chatos vão demorar um século para determinarem um novo fim, mas os chatos são eternos e em breve realizarão previsões para um novo fim. Os chatos sempre desejam o fim. A vida para eles é sempre um término. A pergunta é: por que simplesmente não se matam ao invés de ficarem criando o caos e gerando o medo? Enfim, eles são chatos e não quero falar deles e sim da celebração desse momento. A celebração de todos os momentos. A celebração da vida, do viver, do morrer, do renascer, do morrer de novo; do fluxo constante da vida.

Décadas atrás, Gustavo nos apresentava a EMF- malha de calibração universal- uma técnica energética que tem como finalidade calibrar o corpo energético humano em ressonância com as grades magnéticas e cristalinas da Terra. Tal técnica harmoniza o corpo energético em ressonância com uma consciência mais expandida.

O que sempre achei interessante nessa técnica é a sua musicalidade. Às vezes em que via a EMF sendo aplicada, ficava fascinado com essa sonoridade que não tinha ainda instrumentos para emiti-los. A cristalinidade dos sons era algo que fisicamente e por vezes astralmente se fazia impossível de ser emitido. Essa musicalidade foi ficando cada vez mais forte, cada vez mais audível e pude vê-la quando a família Kryon esteve aqui no Brasil em 2008. Ao mesmo tempo em que tudo isso me era fascinante e me fascinava, um temor permanecia em minha cabeça: quem é o regente dessa sinfonia? O que se pretende com ela, novamente?

Refiro-me ao regente, porque via e ‘recordava’ essa sintonia sendo emitida antes, e com ela, coisas loucas acontecendo. Via grandes pirâmides (associava ao Egito) e dentro delas esses rituais sendo realizados com finalidades várias, múltiplas, mas todas relacionadas à manipulação energética e alteração da densidade da matéria. O regente direcionava a energia para a finalidade desejada e algumas finalidades não eram nobres, pelo menos associo algumas delas ao término de algumas civilizações.

Durante anos achei que essa regente fosse Pegg Dubro (canalizadora da técnica EMF) e só me acalmei quando a abracei. Vi que caso ela fosse a regente, a regência dela seria sábia. Mas, a associação da musicalidade com a técnica, só se fez perfeita, quando assisti a palestra do Dr Todd Ovokaytys. Esse médico notável, criou o raio laser reverso. Uma técnica sonora na qual uma onda sonora anula a outra, criando um campo nulo/zero em que se faz possível a intencionalidade para alterar a estrutura da matéria. Mas, sem entrar nos detalhes físicos e realizando uma simplificação espulha, diria que ele utiliza as vibrações materiais para manipular a matéria nos seus estados mais primários e originários. Essa técnica me recordava a pajelança de minha adolescência, quando adoentado, recusando qualquer medicação, buscava intuitivamente encontrar a vibração da doença que me acometia. Quando conseguia chegar à vibração e cantá-la horas após estava sarado. O canto lemuriano do Dr Todd é similar. Contém um alto grau de sofisticação, porque ele conseguiu alcançar escalas e tons que os instrumentos não podem, mas a voz humana chega, os cetáceos emitem, diuturnamente, realizando um trabalho de alteração, manutenção e re-estruturação das grades planetárias. É um trabalho ‘silencioso’, maravilhoso, indescritível.

É esse canto que muitos seres estão cantando nesse momento na região do Havaí, celebrando essa nova sinfonia da Terra. É esse canto que muitos têm ouvido antes dele se fazer audível e passaram por momentos que acreditaram estar enlouquecidos, ensandecidos, endoidecidos. Aqueles que dançaram essa música foram tidos, definitivamente, como malucos.

O 2012 Maia representa essa nova sintonia. Esse novo diapasão que toca trazendo novos ciclos, novas possibilidades. Representa o fim do fim e o início de novos inícios.   

domingo, 16 de dezembro de 2012

TEMPO E TRANSCENDÊNCIA



Somos filhos do tempo. Esse Cronos que nos devora. E cada vez mais temos a sensação quase física de que o tempo passa mais rápido, avança mais célere, nos devora mais rápido sem nos permitir digerir enquanto somos devorados.

Metafisicamente falando, vivemos muitos tempos de forma simultânea. Décadas atrás uma vida correspondia a apenas uma vida, no máximo duas, três a gente já considerava um karma pesado. Explicando melhor. Geralmente renascemos para acertarmos algumas contas, zerarmos alguns saldos, abatermos outras dividas, aferirmos mais lucros e experiências em outros setores. Assim, se sobrepõe uma vida a outra. Estamos vivendo o século XX, mas, por exemplo, resolvendo arestas do século XV. Nessa toada arranjava-se todo um esquete no qual o circulo karmico do passado atuava-se junto (com o mesmo ou um roteiro invertido). Assim, tinha-se um casamento para vida toda, um emprego para a vida toda, tudo era um- para a vida toda.

Hoje tudo é múltiplo. Vivencia-se quatro, cinco vidas, seis vidas em uma apenas. A intensidade aumentou demais. O que se demorava dois séculos para se resolver soluciona-se em meses, anos. A gente quer tentar entender por qual motivo o amor acabou, porque não ficamos juntos. Outros choram e se prendem ao padrão antigo de um relacionamento para sempre por vez, mas agora não se pode lamentar mais a perda, a separação e sim agradecê-la. Mais do que nunca estamos nos maturando. Nossa consciência esta fundindo aspectos, traços, temas, características que por milênios ficaram separados. Hoje temos acompanhados essa integração. Estamos ficando mais íntegros e integrados. Aqueles que resistem a isso pagam com os transtornos psíquicos que nos assolam. Ninguém disse que seria fácil, mas até onde sei fomos nós que escolhemos. Não todos. Para alguns a velocidade dos acontecimentos os esta deixando tontos, sem lugar, sem rumo, sem chão. Vira e mexe posso ouvi-los cantar: “Para o mundo que eu quero descer!”

Isso faz com que alguns advoguem que estamos caminho para o fim dos tempos, afinal vamos tão rápidos, cada vez mais rápidos, que de fato temos que estar à beira de um precipício. No entanto, ao que tudo indica, o tempo é circular, é labiríntico como as fantasias, o desejo, o inconsciente. Nada em nós compreende melhor e mais o tempo do que a inconsciência. Esse reduto do qual os medos da infância renascem como se fossemos bebes. Mas, o que escapou a Freud e começamos a usar em terapia é que se o passado aterroriza o presente. Este mesmo presente pode acalentar o passado. Enfim.... estamos falando do não tempo. Se no mundo ordinário o tempo corre como uma seta lançada do passado para o futuro. No inconsciente ele avança em todas as direções, em todos os sentidos, para todos os lugares. O tempo se funde ao espaço. Mas há uma fusão ainda esquecida e pouco abordada, aquela na qual o tempo deixa de ser um ente e se faz um ser. Um ser que se atrela a consciência.  

domingo, 9 de dezembro de 2012

O TEMPO


Cada estudo do tempo é um descortinar da nossa forma de compreender o universo, a nós mesmos. Quando falamos do tempo dizemos de nós mesmos, do nosso fazer, do nosso estar, do nosso sentir e do nosso fluir na vida.

Na Física o tempo passou de absoluto e determinista para relativo. Na história ele teve um deslocamento similar- o tempo se fracionou, se fractou e historiadores abriram espaços para o imaginário, para as mentalidades. Fomos vendo como que o tempo no seu movimento serpentino retoma em suas mãos, linhas tidas antes como soltas. Como que elas se articulam, se desatam e continuam num processo sinuoso dentro de nossas mentalidades. Esse tempo fugidio, que se escamoteia se faz alvo dos psicanalistas. Era e continua sendo estranho observar como que no longínquo da mente, o tempo algumas vezes não passa, não avança, se congela em espécie de trauma, de ressentimento, de dor e luto. É mais estranho ainda quando numa sessão de regressão aquilo que era, que foi, que não deveria ser, se mostra presente, palpável, atual. Memória, imaginário, dor e catarse de um algo que já deveria não ser.

Tudo isso seria de pirar se não tivéssemos a literatura, essa arte ficcional que brinca com os tempos internos, subjetivos dos sujeitos ativos no fazer narrativo. Aquele tempo congelado, parado, que se move a partir do lançar de dados do escritor. E lançando os dados o sujeito inventado ganha outra vida, uma existência paralela, que vai sendo fabricada junto com o leitor. Pelo menos é essa a sensação que os grandes escritores nos levam a observar. É isso que Guimarães parece fazer conosco no ‘Grande Sertão Veredas’. Ele nos causa a sensação estranha de que Diadorim, Riobaldo e outros são seres reais de um mundo que ele inventou e nós fomos convidados a habitar.

Quero dizer que o artista com a sua obra nos abre para um outro tempo, um outro fazer e ser no mundo, paralelo a este nosso. O artista nos convida à Utopia. A Utopia não é apenas o “lugar nenhum” ela é também o não tempo construído pelo artista. Assim, as formas de lidar com o tempo são muitas.

Afinal, como lidamos com o tempo? Como o tempo lida conosco? O tempo parece que abraça e acalenta alguns. A outros chicoteia com a veemência furiosa de um capitão do mato. Usain Bolt parece que pega carona no próprio tempo, como se uma mão invisível o carregasse. Eu que sou vidente pude ver Hermes emprestando as suas sapatilhas para o jamaicano e Zeus soprando para que os pés dele não tocassem o chão. Em suma, é covardia para qualquer mortal sem esta proteção correr junto a ele. Ele é protegido pelo tempo. Assim como muitos outros atletas foram. Garrincha, Pelé tinham pernas que não obedeciam à mente, na verdade, a mente deles estava nas pernas. Na mesma medida em que Bruce Lee e Mohamed Ali tinham essa mente autônoma nos punhos e braços. É a mesma mente que faz com que a bailarina seja uma com a gravidade e todos eles desafiem o tempo. Mas, afinal o que é o tempo?

E faço essa pergunta descartando o lado poético do tempo, esse ladrão da gente que Cecília nos conta, essa máquina do mundo que Drummond retrata. Quero o tempo pelo seu viés filosófico, científico. Quero o tempo na sua relação inusitada com a consciência.

Nesse sentido o tempo é um dos temas mais intrigantes da existência. É também o conceito mais frágil, quase que se quebra ao vento. Indubitavelmente, o vemos dobrando na memória. O fazer humano lida com o tempo, com a temática do tempo, mas não sabemos ao certo o que ele é, ou o que ele deixa de ser. Há alguma coisa que não seja o tempo? (continua).

domingo, 25 de novembro de 2012

50 TONS DE CINZA: amanhecer ou Crepúsculo de outra sexualidade?





De tempos em tempos ressurge no cenário mundial livros que tem como principal função mexer com os desejos e fantasias sexuais do casal, ou mais precisamente do universo feminino. Recordo-me de ‘A Vida Sexual de Catherine M’ que fez bastante sucesso ao narrar as próprias peripécias sexuais com os mais diversos homens, muitas vezes sob o olhar vigilante e excitado do marido. Mais recentemente tivemos Bruna Surfistinha, que dispensa maiores apresentações.

O que reputo interessante nessas propostas literárias como a mais recente: ’50 Tons de Cinza’ é que as mais diversas tramas acabam por pontuar bem especificamente algo sempre presente no universo feminino- o amor romântico. Pelo menos é isso que deixa subentendido outra trilogia de tom menos picante, mas igualmente erótico e de grande sucesso- Crepúsculo: o doce vampiro. 

No meu imaginário os vampiros são a anti-vida. O desejo deles por vida e viver é tão amplo, tão grande, que acabam por negar a vida no que ela tem de mais humana e importante- a morte. A eternidade no corpo, nos moldes postos por Drácula e similares, é a bestialização, na verdade, a animalização que será saciada no desejo de sangue. Mais do que desejo, a necessidade de se alimentar do sangue humano para saciar-se e sobreviver. Nessa busca pela vida outra antítese se apresenta- a impossibilidade de contato com o sol. O conjunto desses aspectos culmina com a forma padrão que perdem a vida- a estaca no coração, que por sinal é de pedra, empedernido, proibido de sentir.

Por isso tudo Edward Cullen, vampiro de Crepúsculo, é o anti-vampiro. É jovem, bonito, solitário, pode ter contato com o sol, na verdade a pele se doura no sol e não se alimenta de sangue humano. Ele não é um vampiro é alguma outra coisa, a saber???

Ele é o monstro humano que as mulheres amam, mas que os homens temem em mostrar. Ele é a representação de um conflito que tem cada vez mais ganhado expressão junto aos casais e nas relações idealizando um pedido, uma suplica feminina: “não se esconda de mim! Mostre-me quem você é! Compartilhe suas fantasias comigo!! Deixe-me ser sua cúmplice!!”

Todo homem e toda mulher sabem o quanto isso é ameaçador. Para o homem esse monstro deve estar sempre invisível, longe do sol, dos olhos da esposa, da namorada. Fomos ensinados que essa ‘monstruosidade’ só pode ser revelada às mulheres da rua, às putas. Já para as mulheres, tendo ou não consciência, foi por esse monstro que ela se apaixonou. Não o monstro enquanto ser bestial, mas enquanto aquela pessoa que ela sabe que a protege, que a devora, que seria capaz de matar meio mundo por ela. As mulheres se apaixonam por algo nos homens que achamos repugnante e não gostamos. Este é um conflito para muita terapia.
Assim, queremos dar nome, rosto, forma, localidade a este monstro. Quero situá-lo e identificá-lo como sendo o DOM do livro 50 Tons de Cinza. 




Na trilogia a mocinha, virgem, apaixonada é introduzida no universo BDSM por um DOM experiente, rico, cativante e sádico. Como um bom DOM, ele precisa retirar a submissão da sua escrava, fazer com que ela se entregue a ele e permita que ele seja o seu dono. Pelo que me contaram o sadismo dele não permite relação amorosa, contato estreito, intimo. Tudo é um contrato. Tudo é frio como o pedido dele de não ser tocado.

Caminho para a finalização. Creio que cada homem traz um ‘monstro’ que o assusta, que ele deixa enjaulado, escondido. Geralmente, de uma forma proporcional, quanto mais se deseja a pessoa amada mais se tende a esconder esse monstro. A ironia é que é justamente esse bicho que desperta a paixão e o amor da companheira dele. Casais não se relacionam por acaso e o que os une é sem dúvida apelos secretos, íntimos, ocultos que quando não são ditos acabam por provocar a separação. Nisso retomo o ponto chave do livro 50 Tons de cinza- o sadomasoquismo.


O sadomasoquismo é a prática que provoca o maior fetiche e na mesma proporção a maior repulsa. Faz parte do desejo, do fetiche ‘monstruoso’ masculino subjugar uma mulher. Faz parte do desejo, do fetiche ‘virginal’ feminino ser submetida, se entregar a um homem. Não estamos falando de estupro. Estamos falando de sexo dialogado, consentido entre dois adultos conscientes em parte, ou em muito, de suas fantasias. Estamos falando da intensificação do binômio dor-prazer, privação-saciedade, entrega-controle. No entanto, como isso é muito feio para ser realizado de forma consciente, na cama com um parceiro (a), agride-se 100 mulheres por hora no Brasil. Matam-se centenas de mulheres por dia no mundo. Isso as culturas de forma geral não acham monstruoso, hediondo, pelo contrário até, recebe-se até incentivo.
Crepúsculo pode ser discutido como mais do que uma história de vampiros e as leitoras atentas percebem isso. 50 tons é sem duvida mais do um livro picante e provocante, ambos trazem a discussão implícita e implicada de uma nova sexualidade. De todo modo a pergunta que se faz é como que essa obra conseguiu contagiar o universo ‘baunilha’? E a resposta que se desenha parece vir da relação entre a ‘pureza’ feminina acompanhada do amor romântico. A mocinha consegue resgatar o homem daquele vale de escuridão no qual ele vivencia suas relações. Ela vai apresentar a ele o amor. E creio ser esta a linha que une Crepúsculo e 50 tons de cinza: o amor.


A pergunta que não cala é que amor é esse? E aí saindo da ficção e entrando na real, nossa concepção de amor é monstruoso. Refiro-me ao amor romântico, a idéia de amor que temos na cabeça e que não corresponde a realidade. É impressionante como esse conceito obnubilado de amor, de amar, afasta as pessoas da felicidade, da cumplicidade, da intimidade. Como que o amor romântico é um amor platônico naquilo que este tem de mais ideal, de mais distante, de mais longicuo, de mais criativo, mas não material. E são essas contradições que dilaceram relações. A expectativa de que o outro seja aquele que você sonha e não aquele que ele é. O desejo e o empreendimento para transformar o outro em alguma outra coisa que não é mais ele mesmo. Esse cansaço ofegante que as mulheres têm em discutir a relação.

Posto isto tanto a namoradinha do vampiro, quanto a sub de 50 tons aceitam o lado monstro de seus amados. Elas diferem em dois aspectos que podemos apontar como síndromes que acometem as mulheres.
A primeira seria a síndrome de se transformar naquilo que o ser amado é. Quase uma anulação da vontade, uma entrega plena para que o outro a molde e a faça conforme ele queira. É isso que fica subtendido em estruturas mais profundas no desejo manifesto da mocinha ser mordida e transformada em vampiro.
A segunda é síndrome da missionária. Para elas o amor é uma salvação. O amor pode tudo, cura tudo, suporta tudo e o mais impressionante é capaz de mudar o outro completamente. Depois de casado ele vai ser fiel, vai ser carinhoso, vai ser trabalhador. Enfim, o amor vai transformar o ser da pessoa. mais grave ainda, ela conseguirá amar pelo e para os dois.
Tudo isso estreita um diálogo entre essas duas obras, primeiramente, porque no fundo a namoradinha do vampiro é uma sub. O ponto positivo é que ela pelo menos não é tonta ao ponto de acreditar como a moça ingênua do 50 Tons que conseguirá mudar a essência do seu ser amado.
Finalizando, diria que relação não se discute se vivencia. Hoje diria, que o que exaspera homens é que discutir relação parece ser uma atuação teatral na qual a mulher esta apresentando um diálogo entre o homem da fantasia dela e aquele que não esta cumprindo esse papel no enredo. A gente fica lá no meio querendo dar pitaco, mas o que esta sendo dito não é muito sobre nós e sim da imagem que se criou de nós. No final todas saem com as queixas: “é a mesma coisa de estar falando com uma porta! Ele não responde! Ele só fica balançando a cabeça! Ele levanta e vai embora como se não fosse com ele!” E para falar a verdade, não é mesmo. 
Mas saindo dessa ficção também, qual amor que não é inventado?

domingo, 11 de novembro de 2012

PSICANÁLISE X ZEN: DUAS FORMAS DE AUTOCONHECIMENTO.




Vou pensar o autoconhecimento ocidental como um caminho que se faz pela racionalização do caminho e do autoconhecimento oriental aquele que se faz percorrendo o caminho. O primeiro tem na busca pela linguagem seu forte. O segundo no silêncio a sua maior característica. O primeiro se faz ocidental, porque ele traz uma crença tácita de que o universo simbólico, as experiências subjetivas podem ser compartilhadas e expressas pela linguagem. O segundo trás uma crença tácita de que o universo subjetivo e as experiências simbólicas podem ser apenas experenciadas, quase nunca compartilhadas pelo dizer, pelo falar. A primeira corrente tem muitos laços com o que denominaremos ciência e ouso dizer que o fazer científico é uma forma de autoconhecimento. A segunda corrente denominarei de mística. Não tratarei das distinções entre cientistas e místicos, mas o ponto principal é que o alcance dos cientistas, no que tange a publicidade das idéias é maior, infinitamente maior do que a dos místicos. Poderíamos dizer que os cientistas seriam exotéricos e os místicos esotéricos, isto é, estes arrolam um saber mais interno, para um público mais restrito e aqueles (cientistas) um saber mais publicizável para um público mais geral. Ambos necessitam de um ritual de iniciação.

Para ilustrar os primeiros vamos pensar na psicanálise, mais precisamente nos analisados. Para ilustrar os segundos vamos pensar nos místicos, em especial a tradição zen budista. Comecei a me debruçar sobre essa questão, porque alguns amigos da mística (assim como eu) recusam a terapia alegando que já se conhecem o suficiente. Em contrapartida, comecei a conhecer ‘partilhantes’ que gostavam de afirmar que fazem psicanálise há décadas e que se conhecem mais do que ninguém. Mas se conhecem mesmo? É possível se conhecer? O que é autoconhecimento, afinal?

Acerca disso, meu sonho é a criação da fotografia da alma. Sim, lá onde eu passeio tem uma câmera fotográfica que tira foto da alma. Não estou falando de foto Kirlian. Estou falando mesmo de uma máquina que fotografa a alma da mesma maneira que a gente fotografa o corpo físico. E aí a gente compara a alma com o espírito. Isso é sem dúvida um padrão mais objetivo de autoconhecimento. Igual avaliação física: 75 Kg, 1,90 de altura, você emagreceu demais, o que houve? O mesmo se dá com a avaliação psíquica. Seu orgulho aumentou. Sua vaidade diminui. Tudo analisado num único clic.

Enquanto essa máquina não é fabricada a gente continua com as oficinas de arte. Os trabalhos livres são sempre expressões do ser, do nosso fazer. Nesse fazer mostramos não quem somos, mas como estamos. A consistência de esse estar acaba por nos revelar imagens de quem somos.

Ao que tudo indica o ser mesmo não pode ser dito, sob pena de ele deixar de ser. O processo maravilhoso de autoconhecimento da psicanálise é o de aprender a se dizer, é o de conseguir transformar em linguagem aquilo que se fazia irracional e incompreensível. Quando eles chegam até mim percebo que os analisados conseguem racionalizar demandas internas de alta complexidade, mas isso ainda tem pouco a ver com autoconhecimento. Especialmente naqueles que fazem uso dessa racionalização psíquica, interna, como um mecanismo de autodefesa. Um escudo protetor que impede qualquer interação mais estreita com o mundo externo. É uma couraça que a todo instante que o outro aponta algo, ela diz: “isso eu já sei. Nada disso me é novo.” Muitas vezes não é mesmo, mas é diferente da abertura interna que tem aquele que se busca e se delicia com esse encontro, mediante uma risada.



Talvez o ponto que eu queira chegar é esse. No processo psicanalítico busca-se encontrar um eu que se solidifique, que se consolide, que se estruture, com o qual se identifique. Esse eu não está aberto e nem possui abertura. Esse eu para ser, continuar sendo, precisa se manter, permanecer igual. Essa identidade é conhecida como autoconhecimento. De modo que quando a pessoa se diz conhecedora de si mesma, saltam-nos os olhos tudo aquilo que ela desconhece de si mesma e aparta das suas condições de possibilidade. Salta aos olhos tudo o que ela não tem ciência de ser. Mas, como essa parte é um conteúdo não analisável ela ignora todo esse potencial efervescente.

O autoconhecimento acaba se tornando uma expectativa de se encontrar aquilo que se deixou onde você mesmo escondeu. Não sei se isso é autoconhecimento. Parece mais uma travessura de quem esqueceu que brincava. Alguém que na hora do pique - esconde bateu a cabeça. Quando recordou o sentido estava com amnésia e passou a fixar e posicionar tudo a partir daí. Os colegas continuam brincando, colocando e retirando as coisas do lugar, mas ela sempre passa arrumando, querendo dar um ponto fixo e eterno para as coisas. A isso ela chama de autoconhecimento. E nesse processo de autoconhecimento, quando me chamam pelo apelido, eu revido. Quando eu recebo, eu faço compras. Quando um homem que eu não conheço me olha, eu respondo aquilo. Toda essa padronização sem monta e sem graça, robotizada, deu-se o nome de autoconhecimento. Mas, será mesmo?

Como se reage diante do inusitado? O que se faz perante o absurdo? Nessas horas a gente vê que essa mascara primeira, bem fixada da personalidade, com a qual identificamos e levamos os outros a acreditar se tratar de nós mesmos cai por terra. E é quando ela está no chão que estamos começando a falar primeiramente de identidade.

Por sua vez, na corrente mística, o autoconhecimento é um não identificar-se. A busca é justamente para que esse eu não se solidifique, não se cristalize, não se enraíze. A busca se faz no mergulho para o mistério e não para a revelação. Sim, deseja-se antes de tudo a des-coberta e não a identificação.


Os mestres Zen apostavam na espontaneidade. Os Koans não são respostas prontas e menos ainda pensadas, elaboradas, são respostas espontâneas, imediatas, que só podem ser dadas por quem já esteve no processo do auto-engano. Isto é, no processo de acreditar que o autoconhecimento é ter um padrão confiável de conduta igual manual de carro. O que todo mestre ‘sabe’ é que a pergunta do discípulo é fruto de um século de racionalização, de muita articulação lingüística. O mestre quando dá a resposta está desconstruindo milhares de anos de autoconhecimento, de sedimentação.

Já o diálogo entre dois mestres é completamente diferente e pena que estes diálogos não passaram para a história. Mesmo porque a forma que os mestres mais apreciam de conversa é o silencio. O silêncio é a casa onde eles se encontram. É lá que eles compartilham dos mesmos sons, das mesmas músicas, da mesma ternura. E há vozes do silêncio, pensamentos do silêncio de tamanha paz e compaixão que quando em diálogo com o mundo só nos possibilita um koan ou um Hai Kai.

Quer me parecer então que a simples busca pelo autoconhecimento, ou melhor, a declaração de que se conhece como ninguém é um ignorar-se. Quanto mais uma pessoa se conhece mediante a demarcação de lugares fixos, mais distante ela esta da espontaneidade do ser de mil faces e milhares de sorrisos.

sábado, 3 de novembro de 2012

BAÚ




Hoje em dia, praticamente não se encontram mais baús. Eles são raridades, peças de museus e antiquários. Mas, houve um tempo em que não existia casa sem baú, esse objeto enigmático.

O enigma do baú a princípio é um: seu tamanho e seu significado, isto é, a um só tempo as dimensões em que ele ocupa e o inverso proporcional do que ele oculta, guarda, esconde. Seu enigma então é esse: todos sabem que no baú guardam-se coisas importantes dos seus donos, ao mesmo tempo, ele é trancado, segredado.

Recordo o baú para estabelecer uma analogia entre o mundo interno e externo em consonância com alguns clientes que procuram serviços como o meu.

Já atendi várias pessoas que chegam completamente fechadas (baú). Geralmente, elas são as mais aflitas para que você as abra, as desvende, as alivie desse fardo pesado de carregar um baú imenso nas costas. São também as mais intransigentes e incisivas tanto na questão tempo/hora, quanto na questão da objetividade das informações. Todo o dilema é que elas de fato acreditam que a única forma de não ser enganada é ter o baú arrombado.

Todas as que chegaram até mim vieram de outros atendimentos nos quais ouviram coisas que queria checar, se certificar. Mas, elas não apenas ouviram, elas tiveram o baú devassado, aberto, arrombado e me chegam tentando confrontar as orientações que receberam com o que guardam no fundo de si mesmas. O que aponto como diferença é que os caras nos quais elas foram são adivinhos, profetas, videntes, sei lá o nome que se aplica a eles. Sei arrombadores. E definitivamente não quero ser nenhuma dessas coisas e fico profundamente atrapalhado quando me confundem.

Em outras palavras, eu não sou um arrombador, isto é, não abro baús sem que o próprio dono me forneça as chaves, as senhas. Se está trancado é porque algo maior, no próprio ser, ou fora de nós, não quer que se abra e isso eu respeito demais. Em verdade essas são uma das ‘regras’ que aprendi com meus orientadores: jamais devassar o mundo interno do outro. Jamais causar no outro a terrível sensação de se estar nu, sem que esse outro tenha se preparado para tirar a roupa junto com você. Quem melhor ilustra isso é uma amiga que foi a um dentista que vou chamar antroposófico. Essa corrente odontológica consegue falar pela arcada dentária de todo nosso desenvolvimento fisiológico-psíquico. E minha amiga meio que desavisada sobre isso, ao ter os seus caninos analisados com tamanha profundidade que a remeteu a agressividade contida sobre a irmã, levantou-se da poltrona e nunca mais voltou. Ela apenas me dizia: “a gente já é analisado o tempo todo, agora até na poltrona do dentista!!!”


Mais do que a análise o incomodo dela foi a abordagem selvagem, devoradora. Ela queria tratar os dentes, as visões, percepções, interpretações, o cara deveria ter guardado para ele.

Lado a lado com essa situação nós temos as mulheres que estou registrando acima o que vejo é que elas pedem o estupro e a profanação simbólica. Elas pedem o arrombamento. E é essa a tristeza. Elas, mais do que quaisquer outras mulheres e pessoas que atendi desejam ter os seus desejos mostrados. Elas esperam imensamente que alguém seja capaz de ver a culpa, o remorso, a dor que elas carregam dentro do baú. Algumas se encontram tão piradas que não se dão conta que o baú delas está virado ao avesso, com todo o conteúdo privado, interno, as mostras e elas pensam que ninguém esta a ver, ou perceber.

E de fato, eu não vejo. Ou melhor, não vejo, porque é o outro que tem que dar conta de narrar, de falar, de dizer, de calar, de guardar, de jogar fora. Não se pode pedir para um terceiro carregar o seu baú. Ou ainda, outros podem até carregar o seu baú, mas não o seu conteúdo interno. Esse universo privado não pode ser depositado nas mãos de qualquer um e ninguém deveria acreditar em quem adentra esse universo sem ser convidado, chamado.

Nesses um ano e alguns meses atendi apenas 4 clientes assim. Todas elas traziam nos seus baús atos inconfessáveis, pensamentos culpados e remorsos imperdoáveis (aos olhos delas). Em geral, eram casos relacionados à traição. Três traiam o marido e uma articulava o homicídio da mãe invalida.

Esse é o baú que elas trazem e deixaram no meio da sala. Elas queriam mostrar, contar, mas não dão conta de dizer. Enfurecem-se ‘comigo’ por não ver. E de fato não vejo. O que elas têm igualmente em comum é que no imaginário delas, eu era um adivinho, uma pitonisa que saberia e sabia tudo da vida delas. Bastava eu abrir as cartas, ou jogar os búzios, ou meramente olhar para elas que teria acesso a todo o seu conteúdo psíquico, saberia o que as trouxe até mim. E eis a constatação que faço durante a consulta. Não sou adivinho. Por algumas vezes estive quase a lhes passar o telefone da mãe Dina, ou algum outro que consegue fazer o que não acho licito- invadir o espaço interno do outro.

Ela me dizia que o fato de ela estar lá diante de mim representava um sinal aberto e claro de que ela estava aberta e solicita. Eu por minha vez tentava dizer a ela que não era tão simples. Não consegui entrar na energia dela pelo toque energético. Depois também não consegui pelo Tarot. Só deu certo ao final com a ajuda dos universitários astrais. Ela era um baú cheio de angustia, insegurança, desespero. Ela queria ajuda, precisa ser ajudada, mas devassar seu universo simbólico, na minha percepção atrapalha mais do que ordena. O paradoxo de tudo isso é que elas me ensinaram demais e é sobre isso que vou falar nas próximas postagens.