domingo, 28 de julho de 2013

Snowden: a sociedade discutindo a liberdade individual.


O caso de espionagem de Snowden reacende velhos debates e considerações- a mais importante aos meus olhos é a da liberdade na sociedade de informação. No entanto, o mais curioso para mim é o espanto indignado, quase com ar de surpresa e estupefação sobre a espionagem. Fico me perguntando: será mesmo que o roubo de informações, a bisbilhotagem internacional é algo mesmo recente, súbito, inesperado como a maioria dos governos pintaram e querem fazer acreditar? Cada um mais surpreso que o outro com algo que entre eles não é apenas comum, como fundamental, essencial e faz parte do métier; ou seja, não há informação capturada por uma agência de inteligência que não seja compartilhada no mínimo com outras duas.

Sem adentrar a história, mas também não a deixando a reboque, é bom recordar que a Inglaterra para cada kg de ouro saqueado em alto mar dispunha de uma rede de roubo de informações igualmente elaborada e destemida. Entrando no século XX e passando pelos países latino-americanos, não houve um, siquer um, cujas ditaduras não tenha se efetivado e se cristalizado sem o apoio irrestrito da CIA (inteligência americana) que ensinou tudo, inclusive tortura. Assim, me causa espécie, trinta e poucos anos depois, toda essa gente se mostrar indignada, como se de fato isso fosse novidade. Assim me pergunto: há alguém de fato, que não saiba que somos vigiados e que o uso gratuito da internet, especialmente de sítios como faceboock e google, alimentam as estatísticas mundiais? Ou melhor, o quanto eles custam caro à liberdade individual, mas que aceitamos pagar esse preço numa renúncia coletiva de nossa individualidade?

Tentando acreditar nessa inocência fiz duas pesquisas rápidas. Uma relacionada a hackers e outra mais melindrosa que exponho daqui a pouco.

I Hackers



No que se refere a hackers institucionais, com carteirinha de governo e tudo, encontrei inúmeros, mas destaco os chineses que tem roubado informações corporativas do mundo inteiro, inclusive de embaixadas, como fizeram com a canadense por anos a fio. Não obstante, encontrei uma denuncia de hackers informando que agência de segurança alemã estava introduzindo trojans em computadores dos seus usuários. Nessa loucura toda, o que ficou implícito é que quanto mais clandestino, caso de hackers russos, mais ousado são os ataques a embaixadas e a dados oficiais.


II Espionagem psíquica

Foi nessa direção de encontrar órgãos oficiais e oficiosos que me recordei de filmes como “Scanners sua mente pode destruir”. Era um filme da década de 80 que falava do uso de paranormais para obtenção de informações privilegiadas. Esses paranormais eram treinados por agentes do governo, no caso russo e americano para realizarem espionagem e contra espionagem.

Assim, a partir dessa idéia “ingênua, surreal”, exagerada do filme fui buscar mais informações e pude verificar que a guerra psíquica é um tema amplamente documentado, especialmente pelos russos. Inúmeros psicólogos publicaram seus vários anos de pesquisa de ponta. Esse know How foi jogado fora? Será mesmo que as autoridades militares que ridicularizam o fenômeno psi em público fazem o mesmo em meios fechados? Independente das respostas hoje sabemos sem sombra de dúvidas que a guerra psíquica foi uma arma utilizada por potencias mundiais no período da guerra fria e depois dela também.


III Relações



Nesse ponto, o que acho interessante delinear, de forma mais clara, é que, praticamente, não há distinção entre o espião psíquico e o hacker. O mais inusitado de tudo é que acreditamos que é mais possível realizar isso de posse de um artefato tecnológico do que por mecanismos naturais (mente e os outros sentidos). As habilidades são correlatas. Adentrar um computador, invadir um sistema à distância é similar a acessar a mente de outro ser humano; mas volto a insistir que achamos isso muito menos provável e possível, o que não deixa de ser uma pena.

IV O Imaginário  

Sendo que entrando nesse imaginário, que recupero filmes como “O Inimigo do Estado” (1988), “ A Rede” (1995); “A Senha” (2001); “Controle Absoluto” (2008) para falar dessa relação do Estado com mecanismos tecnológicos  capazes de espiar a vida de seus cidadãos. Mais do que espiar são capazes de adentrar, invadir e controlar a vida dos cidadãos. E a se espelhar pelos filmes mencionados, cada vez com maior nível de precisão e sufocamento. 

É então de posse desse cenário e desses argumentos que recupero Snowden e a espionagem. Acreditar que não estamos sendo vigiados, controlados, mapeados é um deleite da inocência. É um pensamento ingênuo de quem não esta atento às transformações e imposições de uma nova sociedade. Nesta nova ordem, ao que parece, não tememos abrir mão de nossa liberdade individual desde que tenhamos condições e meios de usufruir dos recursos que nos oferecem. No final das contas podemos dizer que vendemos a nossa liberdade por um preço bem barato. Ou, pode-se alegar, que o conceito de liberdade foi deslocado e isso é paranoia filosófica.

De todo modo, a espionagem esta em toda parte, em todo lugar. Há câmeras de vigilância espalhada pelas cidades. Câmeras de vigilância no supermercado, lojas, casas, apartamentos; por enquanto, poupam os banheiros. Os programas de televisão de maior apelo são os que expõem a vida das celebridades, noticiando desde o que elas comeram até com quem saíram, o que vestiram e coisas do gênero. Pelo Twitter e face pessoas comuns registram um a um dos seus passos durante o dia, num pedido incomum de ter a vida compartilhada, ou vasculhada. Muitas vezes essa é uma pessoa que pede ao pai e o marido sair do quarto para não invadir a privacidade dele, sem ver nisso nenhuma contradição. Isso tudo sem contar  os programas de monitoramento no qual se acompanha a vida das pessoas passo a passo, meses a fio, e que no Brasil já dura mais de uma década. 

V Snowden

Finalizando, Snowden expõe as feridas de um mundo que recusamos a enxergar. Ele indica, claramente, que no momento no qual mais se fala de liberdade individual, na qual achamos, ou sabemos, que gozamos de um grau de liberdade nunca experenciado em toda a história da humanidade, nunca estivemos tão controlados. Essa contradição é algo que teremos que aprender a lidar nos próximos anos, talvez décadas. Teremos que aprender a lidar com os limites do controle, dos acessos, dos registros, das informações criadas na sociedade da informação. Sendo que nessa nova abordagem não podemos ser ingênuos de acreditar que uma tecnologia como o Google Earth pode ser disponibilizada para o mundo inteiro sem ter ficado completamente obsoleta para quem as criou por volta dos anos 50/60. Ou vamos continuar acreditando que os satélites e telescópios de milhões, bilhões de dólares são mesmo para as telecomunicações pacíficas e não bélicas? Vamos continuar acreditando que o sequestro de informações por parte de agentes oficiais é monitoramento contra possíveis ataques terroristas? "Rede de Intrigas" (2008) seria o ícone do que estamos falando, tanto nos furos, quanto na possível paranoia desse mundo que antes privado e seleto tem se tornado mais coletivo, por vezes brutal e totalitário. 


E ainda acerca desse controle não vou entrar no terreno dos monitoramentos e implantes realizado por... por??? 

domingo, 14 de julho de 2013

Piano bar: entre a recusa e a aceitação.

A letra é de Humberto Gessinger- Engenheiros do Havaii- que embalou minha adolescência, juventude. A montagem/clip esta no youtube e é criação de juniortowe2008. Mas, se tanto letra e vídeo são belos, em verdade, quero recortar apenas as duas primeiras estrofes da letra para pensar relacionamentos de forma geral e de casais em especial.


O que você me pede eu não posso fazer
Assim você me perde e eu perco você
Como um barco perde o rumo
Como uma árvore no outono perde a cor
O que você não pode, eu não vou te pedir
O que você não quer, eu não quero insistir
Diga a verdade, doa a quem doer
Doe sangue e me dê seu telefone
Todos sabem que os relacionamentos são tensos. Conviver é perigoso. Mulheres têm TPM, variações hormonais e explodem.... ora de candura, ora de ternura, ora de raiva, ora sem motivo aparente a não ser aquela gestação invisível que precisa ser parida. No entanto, a maior influência vem da lua, este astro romântico. E pobre coitado do homem que não sabe disso. Mas, não quero falar da lua. Quero falar dessa relação louca que desenvolvemos. Mais precisamente, quero falar da loucura de pedir ao outro, justamente aquilo, que ele não pode nos dar. Pelo menos não para aquela pessoa, muito menos naquele momento.

E me ocorre duas coisas: uma- se fazemos isso de forma consciente ou inconsciente? Duas- se fazemos tendo como finalidade terminar a relação?

Respondendo as duas de uma vez só, acredito que haja uma inconsciência intencional, ou seja, queremos que algo termine, queremos que algo acabe, não necessariamente, a relação. Pelo contrário até, muitas vezes se deseja que a relação se transforme, mas a falta de clareza acaba levando a relação à berlinda.

Na letra dos Engenheiros a relação é pensada e discutida pela ótica de um. Esse um tenta explicar ao outro os seus limites e isso não é uma tarefa fácil. Nem para quem realiza o comunicado, nem para quem o recebe. Quem o realiza, provavelmente, já o tenha feito outras vezes, de outras formas, em outros carnavais e com outras fantasias. Quem recebe se depara com uma situação na qual pode estar imprensado na parede, diante do seu limite. E toda questão é: como cobrar? Como pedir ao outro aquilo que ele não pode dar? Por outro lado, como não cobrar? Como não pedir ao outro aquilo que a gente deseja?

Assim, se de certo modo, acho que não podemos, nem devemos fazer tais exigências. Por outro lado, não se pode exigir que a pessoa que realizou o pedido se acomode e viva insatisfeita, permanecendo numa situação que ao que tudo indica a faz infeliz. Tento exemplificar: frigidez, impotência, depressão são motivos para se terminar uma relação? Sim? Não? Depende? Bebida, traição, toalha molhada em cima da cama, calcinha pendurada na torneira são motivos para se terminar uma relação? Muitas vezes mais do que terminar, retirar essa pessoa do seu convívio? A maioria vai dizer que não, mas a maioria terminou relacionamentos por motivos similares a esses.

É aqui que se relacionar é complicado, é tenso, é árduo, é difícil e é a um só tempo útil e inútil ficar brigando. Útil porque as pessoas podem mudar. Inútil, porque as pessoas não mudam. Mais precisamente, há coisas que nós mudamos, deixamos de fazer, de realizar, de praticar. A namorada pode deixar de conversar com um determinado amigo devido ao ciúme do namorado. O namorado pode deixar de jogar futebol cinco vezes na semana por carência da namorada. O marido pode voltar mais cedo para casa a pedido da esposa. A esposa pode falar menos das atividades do dia para não entendiar o marido. Isso é possível fazer. Mas há princípios que talvez o outro não possa, em detrimento de deixar de ser ele mesmo, abrir mão. Assim existem mudanças que se solicitadas ao outro só podem ser atendidas se a pessoa deixar de ser quem ela é, ou o que ela foi até aquele momento. E em parte é melhor procurar outra pessoa do que desejar essa mudança.

Relacionamentos terminam, findam. E todo término é prenuncio de morte, ou melhor, sensação de morte, mesmo que gere alívio. Mesmo que temos ciência da vida eterna. Mas, o término faz parte do ato de se relacionar.

Enfim... há pedidos nossos que nunca serão atendidos, que o outro, simplesmente, não pode atender, pois se não, ele já não é mais ele. Ele é outro. 

E aqui é talvez um dos x da questão que escapa a nossa consciência: o que de fato queremos? Quem de fato amamos ou estamos apaixonados? Se estamos em busca de um par perfeito, um ser idealizado na própria cabeça, é fácil, simples, ao não encontrarmos as características que desejamos, imediatamente, mudarmos a nossa afecção. Mas, isso significa que não estamos apaixonados, ou envolvidos com o outro e sim com nosso mundo ideal.
Se por outro lado, nos apaixonamos pela pessoa e descobrimos que ela é assim, vivencia-se a relação. O meio termo entre o egocentrismo da primeira experiência e o altruísmo da segunda é a clareza- dos sentimentos, da linguagem, do diálogo. Ou seja, aquele papo chato, mas real e verdadeiro: “te acho uma pessoa super bacana, mas você não é a pessoa com quem quero ter meus filhos”. Ou, “gosto demais de você, mas te prefiro como amigo(a) do que namorada(o)”. Ou, “você é a mãe dos meus filhos, mas eu desejo a sua amiga”, o inverso é recíproco: “você é o pai dos meus filhos, mas eu não te desejo mais como homem”.

Parece que é fundamental termos esses dizeres, essas conversas para diminuirmos nossas dores, amarguras e infelicidades.


domingo, 7 de julho de 2013

Cura Gay: agora só falta contra a ignorância e a hipocrisia.



Pensando sobre os preconceitos de forma geral, recordo-me de uma frase atribuída a Einstein: “Triste época!! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”. 

O gênio da humanidade referia-se à época ao nazismo. Mas, a frase se faz ainda atual em todos os aspectos e sentidos, especialmente, quando entramos no terreno da religião. De forma trágica, em pleno século XXI ainda não assumimos Jesus e continuamos assassinando Cristo (Wilhen Reich). É o que me parece propostas como a Cura Gay de Marcos Feliciano, apoiado por outros tantos. 

O tema só se faz questão para mim, porque eles usam a PALAVRA para legitimarem o preconceito. Nas mesmas medidas, que segundo A PALAVRA, eles legitimaram a dizimação indígena, a escravidão africana, o machismo. Tudo com fortes bases bíblicas. Tudo com aprovação do Deus dos exércitos e o mais inacreditável- de Jesus. E quando a gente pensa que a mistura da religião e o poder estatal já fizeram estragos o suficiente em todos os lugares do universo, temos Feliciano, Malafaia, Bolsanaro e outros aloprados.

Por falar neles, escrevo tudo isso devido a uma publicação de Reinaldo Azevedo. Ele num artigo repleto de falácias defende o projeto, na verdade, ele defende o direito de que tal projeto seja defendido, assim como o abuso e autoritarismo de um conselho que proíbe seus membros de tratarem dos problemas de seus pacientes. Ele como o bastião da democracia, o novo Iluminista, se coloca nesse pedestal. 



Antes de prosseguir é necessário fazer um esclarecimento vital: não leio Veja. Não leio Reinaldo Azevedo, Diogo Mainard e tantos outros. Lia Veja por Roberto Pompeu de Toledo e Jô Soares (bons tempos). O que aconteceu foi que uma amiga me pediu para que eu lesse o que ele escreveu. E aqui é o complicado. Obvio que todo autor tem seus admiradores, atualmente, seguidores. Os leitores de Veja, muitos tem uma admiração pelo PSDB, o que os daria uma orientação de centro esquerda, mas desde a vitória do PT, que eles estão virando direita, e, alguns, extrema-direita. Todavia, o autor que defende a liberdade de expressão com tanta galhardia quanto Reinaldo não deveria censurar, ou restringir, ou impedir, que na resposta dos leitores existissem opiniões contrárias as dele. E em mais de 200 comentários, nenhum é contrário ao que ele escreveu. Isso não é estranho, é bizarro. E vindo de quem vem, que defende o que diz defender- é cretino. 

Juro para vocês, que eu não esperava outra coisa dele. Como dizem: “A pátria é o último reduto dos canalhas”. E tenho profunda desconfiança de quem ganha para acusar, combater, injuriar, distorcer, difamar e acredita que isso é jornalismo; aliás, acredita que isso seja neutralidade. Mas, definitivamente não é disso que quero falar e sim postar o comentário que realizei e ficou aguardando moderação. E não passou pela moderação. Segue o comentário realizado: 


 Boa noite. O texto é bom, parece até correto, mas ele é falacioso. Não dá em um comentário expor as falácias do texto, ou melhor, do contexto. Todavia, focarei esse ponto (texto e contexto). No texto não há cura gay. No texto não tem nada acerca disso. Mas, pode um leitor ignorar o contexto de um texto? Dar, criar, manipular, especular contextos não é isso que esse dedicado escritor faz nesse espaço mediante o que ele chama de fatos? Quero acreditar que sim e diante disso é estranho ele desafiar a nossa lógica colocando o projeto que tramita na câmara como sendo um poço de inocência e pura perseguição da mídia que não gosta dos evangélicos. Poxa vida! O contexto é que quando se fala de cura gay esta fazendo menção a duas psicólogas e a um lobby evangélico que afirma que curam homossexuais. O deputado que leva essa discussão para a Câmara também é evangélico e tem relações com as psicólogas. Ora!!! A discussão dos limites do CRP e quaisquer outros conselhos é válido, mas num Estado laico o último fórum de discussão para essa contenda deve ser as casas legislativas. Essa discussão tem que ser feita dentro dos próprios conselhos e caso não se alcance um consenso entre os pares nos tribunais judiciários até as últimas instâncias. Acreditar que se é mais democrático ou antidemocrático por ler o texto no contexto que ele é apresentado é pedir uma inocência, uma ingenuidade que fere e machuca. Qualquer leitor atento, independente da orientação religiosa, precisa estar ciente disso, especialmente, se são tão ordeiros e conscienciosos como descreve o autor do artigo. Peça as duas psicólogas que apresente dados que efetivaram suas curas e as apresente no próprio conselho. Caso não consiga, leve a justiça para que analisem a contenta. Enquanto isso nos poupe da vinculação, nesse caso, espúria, entre orientação religiosa e Estado laico.

Finalizando, o articulista que defende o projeto da cura gay, a liberdade de expressão, a democracia, aparentemente censura os seus   leitores. O Pastor que fala em nome do amor de Jesus, apregoa o ódio. E se conseguimos curar os gays agora devemos desenvolver a cura contra a ignorância seja ela qual for e a hipocrisia. Assim que conseguirem deem uma capsula para Feliciano, João Campos,  Reinaldo Azevedo e outros. 

Se não somos seres capazes de amar que pelo menos não criemos o ódio em nome de Jesus. 




sexta-feira, 21 de junho de 2013

I Fórum Mundial de Contatados



Meu interesse pela ufologia é pouco. Conheço, escuto, já li, mas para mim não tinha nada de novo a ser dito, a ser feito, a ser realizado. Para mim todas as perguntas sobre a área estavam respondidas. De modo que nunca me interessei em participar de um encontro com ufólogos. Na minha cabeça, eles nem acreditavam em disco voadores. Rsrsrs. Um fórum de contatados seria para mim um fórum de iguais e me interessei, enormemente.
Fui ver o nome de algumas palestrantes e acabei realizando a minha inscrição. Mais importante, fui até Floripa conhecê-los. Gostei do que vi. Em todos os aspectos, alias, quase todos.

O quase se deve a minha pergunta inaugural (de mim para mim mesmo); a pergunta foi: existe espiritualidade sem comércio? E cada vez mais percebo que não. Precisamos de dinheiro. Realizam-se muitas poucas coisas sem dinheiro. E nós precisamos perder esse ranço que temos com o dinheiro. Tinha uma moça muito bonita, pouca simpática, organizadora do evento, que só a via rir quando ela estava vendendo. Melhor, só via felicidade nela, quando ela estava vendendo. Mas, tirando esse único aspecto, comprar os DVDs de Marco Antônio Petit, os CDs da Margarete Áquila, os livros dos demais palestrantes deveriam ser um dever, assim como os livros e outros produtos de cada um dos palestrantes que expuseram seu material.

São pessoas sérias. Trabalhadores de uma área pouco divulgada e valorizada, mas que desenvolve trabalhos seriíssimos. Trabalhos como os das psicólogas Gilda Moura, pesquisadora de renome internacional; Mônica Medeiros, Margarete Áquila que desenvolvem trabalhos interessantes em Sampa. Trabalhos como os de Leonardo B Martins que levou a pesquisa ufológica para dentro da USP em dissertação de mestrado e agora tese de doutoramento.

Contatados da envergadura de Bianca (de uma simplicidade, de uma humildade, do tamanho da distância física entre ela e Karran). Urzi sobre quem os discos voadores brincam, cantam, fazem firulas ao avistá-lo. Ou Asís um peruano que contata os discos, mas eles sempre se mantém sóbrios, serenos, distantes, como exige o capitão da frota.

Mas, escrevo tudo isso para falar que eu nunca me vi como contatado. Nem sabia que o termo existia. Sabia menos ainda que houvesse pessoas interessadas nessas histórias. Até hoje, em vários anos de incorporação, mediunidade, só escrevi publicamente duas vezes sobre isso. A terceira esta sendo agora. E estando lá, eu recebi um chamado para escrever sobre essas coisas. Na verdade, postar.

Recordo que em 1997/8 na Faculdade de Filosofia, saí perguntando para um grupo de colegas, assim como outros que freqüentavam as reuniões espiritistas que realizávamos se vocês pudessem fazer uma pergunta a um extraterrestre, qual pergunta você faria?

Recebi uma média de trinta, quarenta perguntas e me coloquei junto a Somater para respondê-las. Terminado essa primeira fase, nós aprofundamos alguns pontos. Emprestei esse caderno de respostas para uma amiga e nunca mais o vi. A segunda parte do trabalho não tem sentido sem a primeira.

Depois disso, Somater “aparecia” em algumas reuniões deixando recado. Certo dia, ele me apresentou uma “moça” chamada Amaril. Achei a psicografia dela tão idiota, tão ridícula que cheguei mesmo a debochar. Amaril dizia que a civilização dela estava desenvolvendo estudos que os aproximava da energia da vida. Eu no alto da minha arrogância achei aquilo tão infantil, tão idiota, que praticamente não voltamos mais a falar do assunto.

Demorou dez anos para que eu entendesse a profundidade do que ela dizia e o nível de adiantamento no qual eles se encontravam.
A arrogância tem preço, geralmente, o da ignorância. Voltamos depois a falar disso, espero ter registrado em algum lugar. Mas, o interessante de tudo isso é que nas minhas conversas com Somater, ele me disse que eu precisaria estudar para ele ter condições de me explicar as coisas que eu desejava saber e ele queria falar. Foi assim que comecei a estudar física quântica e foi nesses estudos que a Filosofia fez sentido para mim. Os físicos, os matemáticos aplicavam o que a maioria acreditava ser meramente teórico. Foi nesse jogo que parei no mestrado de educação tecnológica buscando estreitar um diálogo entre a Filosofia e a Física.

E isso que é interessante nesses estudos. Você acha que esta se formando em educação tecnológica, mas a verdadeira formação é outra na qual você acessa somente depois. Esse acesso do somente depois, esse conhecimento que irrompe sem que você defina fisicamente de onde veio, esse outro conhecimento que você acessa como se estivesse acessando uma central de informação invisível, um ponto eletrônico embutido dentro do cérebro e do coração foi o grande achado para mim do fórum.

A Dra Gilda Moura falava das áreas de ativações dos contatados, especialmente, de como alguns conhecimentos eram apenas decodificados quando em estado de hipnose. O termo que a gente usa é hipnose, mas eles preferem dizer que são codificações que a pessoa acessa por um estressor interno. Há um estopim que acende e irrompe o conhecimento no momento no qual estamos prontos. São por vias similares que ocorre as aparições, avistamentos, abduções. Algo diz que estamos prontos e o fenômeno, o conhecimento aparece.

E parece que um estressor desses destravou em mim. Desde meados do ano passado, eles disseram que eu poderia falar de muitas coisas que nunca disse. Algumas, eu nunca vá dizer. Ainda não gosto, acho estranho. Não vejo isso como missão, nem de salvamento, nem de esclarecimento, nem de resgate. Vejo como uma coisa a mais a ser feita, que pode ser realizada ou não, conforme minha vontade, meu desejo; embora saiba que sou encaminhado para situações que não pensei e vislumbrei.
É isso por hora. Vou começar a escrever e a editar algumas coisas escritas nessa área. Elas serão colocadas em outro blog.


terça-feira, 11 de junho de 2013

Encenação Mistificação


Na semana que escrevia sobre isso, Luana Piovani dava mais um chilique e Zezé Polessa era acusada na impressa pelo infarto de um motorista. Na mesma semana (27/1/2013), tive a felicidade de assistir a “peça” teatral “Assunta Brasil” do Saulo Laranjeira. Durante a peça, na qual estou até agora impressionado em todos os sentidos e em todos os âmbitos, inúmeras questões passaram pela minha cabeça, em especial uma que retornava: a relação da representação com a incorporação. Essa é para mim uma grande questão a ser pensada. 

Nos meios mediúnicos nada é mais hostilizado do que a mistificação, isto é, fingir estar incorporado quando não se esta. A mistificação é complicada, porque ela fere o princípio de veracidade. A crença que se tem, dado ao espaço em que se está, e pela moralidade do que se faz naquele momento de que naquele espaço sagrado, ninguém abusaria da fé e da confiança de outrem. Abusar disso é um ato indefensável e de covardia.

Não obstante, a incorporação tem muitos atributos da representação, o que me faz retomar o caráter mágico e sacro do teatro. Entre os gregos e para os gregos o teatro era o espaço do sagrado. As encenações realizadas eram partes dos rituais orficos cujo grande centro era o culto a Dionísio. O teatro em sua essência é uma celebração aos deuses. Era um momento no qual o ser humano deixava de ser quem era para assumir outra identidade, outra persona. Parte dessa celebração esta inserida na missa.

Persona é o nome que era dado à máscara utilizada pelo artista na encenação. É também o nome que utilizamos para falarmos de uma identidade, de um algo que nos apresenta e nos identifica. Aceitamos e até confundimos a personalidade como sendo nossa própria identidade. É similar ao artista que acaba acreditando que é o personagem que encena. E igualmente trágico ao médium que assume as dimensões e personalidade do espírito que incorpora. Tudo isso em cada lócus especifico apresenta problemas e dificuldades aos seus. 

Mas, porque trago tudo isso? Por que a cada momento, acho mais tênue a linha que separa a representação de alguns personagens no palco da mediunidade de incorporação. E não estou falando aqui de mistificação, pelo contrário. Estou falando mesmo de como esses dois espaços que foram separados na sociedade atual parecem compor um mesmo cenário.

Saulo explora essa relação mágica, mística, do teatro. Essa possibilidade de um ser vários, ser muitos, ser tantos e ainda assim, continuar sendo si mesmo. Há personagens de Saulo, encenados por Saulo, que denominamos encenação e representação unicamente por ele se dizer artista e estar no palco. Caso, ele estivesse em um centro, ele estaria “incorporando” ou melhor incorporado. E seria mistificação?

Não creio. E isso é novamente um outro terreno sutil. Em Saulo e em alguns médiuns o espírito não é um ente externo que chega e se aproxima; parece mais um ente interno no qual o ser se avoluma, cresce de dentro para fora, como se de fato, ele estivesse incorporado. De maneira similar as pessoas que não retiram a mascara do que foram ou do que gostariam de ser.

Vendo Saulo eu vi um médium. Sem sombra de dúvidas. Vi uma platéia encantada, que não compreendia a força fabulosa, mágica, encantadora, sagrada que se manifestava ali. Imersos a risadas mediantes falas e trejeitos do ARTISTA, a energia da platéia era transmutada. Permitam-me dizer mais, a energia do Vale do Jequitinhonha e de lugares similares nos quais grande parte da miséria é fruto da indiferença dos governantes, esses lugares recebiam uma revitalização energética. Saulo estava no teatro da Alterosa e também no Vale do Jequitinhonha. Saulo estava nos conectando ao mundo, um mundo que estamos perdendo, que estamos esquecendo, mas um mundo que o artista retoma, nos trás para dentro e o deixa semeado em nós.

Esse mundo é sagrado. Não o mundo em si, mas a operação realizada para que os expectadores sejam transportados até ele. As forças invisíveis que atuam no palco são as mesmas que atuam nos centros. A transmutação energética realizada é formidável e o que o ARTISTA consegue plantar, semear em cada expectador é igualmente esplendoroso.

Saulo é um artista renomado. Quero diferenciar renomado de famoso. Os atores televisivos são famosos. A fama os engole, os envolve, os devora. Não sei se os atores são eles mesmos. Não sei se os atores conseguem avaliar qual persona eles vestem. É nesse sentido que quero registrar a simplicidade de Saulo. Há nele uma pessoa, um ser, que não esta envolvido por uma máscara. Há nele a dimensão humana que os famosos perdem se tornando e se fazendo personagens de si mesmos, alguns até, caricaturas.

Diante dessa espetacularização cada vez maior fico me perguntando: qual o sentido do ARTISTA? O sentido dele esta em não permitir que ele se sinta maior do que a arte que ele faz. Essa simplicidade retoma o teatro no seu sentido clássico: celebração à vida, uma forma de religar(e) os seres. O teatro é a representação da existência. É o palco do existir.

De maneira se nos centros o problema é a mistificação, na arte o problema é a fascinação. Saulo não é um fascinado, um deslumbrado. Saulo não é uma Luana Piovani.


segunda-feira, 27 de maio de 2013

O que é um sonho?



Os japoneses estão criando uma máquina que decifra sonhos. É parecida com aparatos astrais que permitem e possibilitam adentrar os sonhos de outras pessoas. Na minha concepção a máquina falha, porque para eles o sonho é meramente uma função cerebral, um estado alterado da consciência (se é que acreditam na existência dela).

O sonho ao que tudo indica é mais. O sonho é a abertura para outra realidade. Uma realidade que ora é externa ao sujeito sonhador, ora é interna do sujeito sonhador, mas que invariavelmente independe. O interno e o externo têm cada vez se misturado mais e se confundido mais. Na ficção científica do mundo astral o sonho pode ser visto como uma função de onda, uma fenda orbital pela qual muitos seres que conseguem alargar esses espaços adentram. Similar ao filme Akira Kurosawa na qual adentra a tela de Van Gogh e vive aquele universo interno. Similar a uma sonda na qual utilizamos para visualizar o universo interno da pessoa. há máquinas nas quais conectadas aos lóbulos da pessoa consegue-se ver claramente seus pensamentos projetados numa tela. Os sentimentos são representando pelas cores e as emoções pelo odor. O conjunto de tudo isso é uma tela de cinema na qual entramos, caminhamos, ouvimos uma musica ser tocada. É algo inenarrável, mas vamos conseguir criar esse modelo no plano físico.

A percepção dos sonhos por essa ótica nos lançaria não mais para o mundo interno do sonhador e sim para a possibilidade de compreendermos o que são os universos paralelos e mundos multidimensionais. Vamos caminhar para essa direção, embora algumas compreensões conceituais sejam necessárias.
Basicamente, em Freud o sonho é um diálogo que a consciência, ou melhor, a inconsciência tem com seus recalques, seus desejos não manifestos. Nessa análise o sonhador é um sujeito no qual os objetos gravitam em torno da sua libido.


Em Jung os sonhos são representações simbólicas de estados ora individuais, ora coletivos. Nessa análise o sonhador é menos sexualizado e mais simbólico, ou melhor, nem tudo tem uma fonte sexual primária como advogou Freud, pelo contrário. E nesse contrário, o sonhador se identifica com todo o cenário, com todos os objetos e personagens que gravitam no seu sonho. Todas as representações são símbolos do self e da busca do sonhador em direção ao seu eu mais profundo.

Na concepção religiosa de cunho espiritualista o sonho é a emancipação da alma. O sonho não seria e não é um estado produzido internamente e sim uma comunicação na qual o espírito, fora da matéria corporal, recebe informações, viaja por lugares, encontra com parentes falecidos, vive a verdadeira vida.

No oriente de fundo budico o sonho é a ilusão, é Maya. O sonhar se equivale ao estado de vigília. É na meditação e pela meditação que o sonhador acorda, isto é, se ilumina; mais precisamente, compreende que tudo é sonho e é imperativo despertar dessas irrealidades.  

Essas concepções teóricas não conversam entre si. Somam-se a elas as descobertas neurológicas e fisiológicas do cérebro que apontam numa direção ainda mais mecânica e funcional dos sonhos. Numa direção quase inversa a apresentada pela concepção médica, mas nem tanto, temos a conscienciologia para quem o sonho acaba sendo a representação do estado de inconsciência social, espiritual, ética, no qual estamos. Nesse modelo, nada mais justo, do que enquanto o corpo dorme, sermos capazes de despertar o espírito, ou mais precisamente, sabermos que podemos acordar dentro do sonho e ficarmos conscientes dessa realidade.
Mas qual realidade?

Sonho e realidade se confundem. Assim como sonho e vida. É difícil desassociá-las e até mesmo defini-las. Afinal: o que é o sonho?

E se estivermos todos sonhando? E se você estiver lendo esse texto enquanto seu corpo sonha e depois de duas semanas, três meses depois que eu postar, você ter a nítida sensação de já tê-lo lido antes? E se formos como conta a Chuang Tsé uma borboleta sonhando ser homem? Isso muda alguma coisa?

Seria possível despertar e acabar com essas impressões ou entraríamos em outro sonho sem nunca acordarmos? Afinal, reencarnar-se para dormir ou para acordar?
E se a matéria na qual se tece o sonho for a mesma com a qual se tece a realidade, ou seja, da mesma maneira que no sonho você pode acordar, interromper, criar monstros, fantasmas não seria possível criar uma vida melhor? Quais forças e que quantum de energia seria preciso para isso? Mas, caso aprendêssemos a manipular esse tecido da matéria não ficaríamos ainda mais infantilizados do que já estamos? Refiro-me a cada vez mais não termos distância entre o desejo e a realização. A sociedade do consumo satisfaz ou se coloca a disposição para satisfazer todos os nossos desejos, mas alguém na altura do campeonato sabe mesmo o que deseja?

Segundo os budistas essa é a razão de não acordarmos. Os desejos adormecem e entorpecem a mente. Mas parar de desejar não pode ser um ardil? E achar que não se deseja e se iluminou uma armadilha ainda maior?

Mexer na estrutura dos sonhos, seja mecanicamente, seja espiritualmente é dar sustentação para um despertar coletivo. Um despertar que ajuda na sutilização da matéria. Na suavidade da vida. Em determinado momento todas as matrizes teóricas serão importantes para mostrar níveis de sonhos e quiçá dos sonhadores. Mas, independente do nível, creio que a grande surpresa será a descoberta de que todos estamos no mesmo sonho, isto é, no mesmo sopro de Brahma.




sábado, 18 de maio de 2013

Amor e Felicidade- expressões da inter e multidimensionalidade





Afinal o que é isso? Tem quase duas décadas que a literatura exotérica tem trazido essas classificações. Eles têm falado de seres interdimensionais e aspectos multidimensionais. Recentemente, três meses atrás, um amigo me perguntou quais seriam as diferenças entre uma e outra. Recordei que eu havia feito uma explicação em uma apostila que criei para o curso Leitura Energética e resolvi retomar o tema em alguns pontos que me surgiram mais recentemente a partir dos atendimentos clínicos.


Os atendimentos permitem um olhar mais apurado e detalhado sobre os fenômenos que se desdobram. Fenômenos que visualizava e visualizamos nas reuniões espiritistas, espiritualistas ganham maiores contornos e profundidade nos atendimentos. O repouso, o olhar, a interlocução com o partilhante se faz mais precisos. A orientação teórica por parte dos Universitários (como eu chamo os mentores, amparadores, dê o nome que desejar) se faz opcional. Nas reuniões espirituais a presença deles é uma constante e marcante. Já nos atendimentos se a presença é constante a manifestação, o esclarecimento é opcional.


Mas vamos ao que interessa. O ser são muitos. Uma pessoa são milhares, centenas. Cada vez mais me impressiono com as riquezas que trazemos em nosso ser. Como se acessa esses outros eus? Como localizamos esses outros eus em nós? Como que sendo tão diferentes, nós conseguimos denominar todos eles de eu?


Esse conceito de identidade, de primeira pessoa, merece um post a parte. Creio que parte significativa do nosso entendimento sobre a psique vem desse conceito cristalizado de que existe um eu compacto, sólido, robusto, tal qual um ponto.


No entanto, entrando nos labirintos do eu, avistamos e adentramos inúmeros recintos. Alguns dão passagem para a personalidade da pessoa, isto é, algumas, ela já viu no espelho e reconhece como sendo aspecto de si mesmo. Outras passagens estão sem articulação com a persona dela, ela não consegue reconhecer como sendo ela mesma.


O interessante dessas passagens é que elas são acessos internos, privados do próprio ser da pessoa. Acessos que espacialmente e temporalmente não deveriam estar conjugados. Sendo mais claro: como que uma moça nascida no século XX pode ser uma cigana romena do século XIX? Como que esta mesma pessoa pode ser ao mesmo tempo uma egípcia de quatro mil anos antes de Cristo? E como todas elas podem ser agora?


Outra questão que se abre constantemente são o que na filosofia clinica denomina-se estrutura de pensamento (EP). Como é que uma mulher, do século XXI, negra, pobre, pensa, sofre e não consegue romper com uma EP que a colocam como sexista, machista e racista? E, após uma Leitura Energética, a moça já não é tão moça assim, ela é homem, escravocrata, grande proprietário de terras. Em outros momentos, ela é nórdica, alemã, casada com ao que parece um oficial nazista. Mas, por que ela não desatrela essa EP que tanto a prejudica atualmente?


Todas essas paisagens encontram-se na pessoa. Ela abre e fecha essas portas muitas vezes sem consciência, mas e se tivéssemos? Se fossemos capazes de localizar que alguns princípios que nos norteiam eram úteis milênios atrás, séculos passados, até mesmo décadas anteriores, mas hoje não tem a mesma valia devido à mudança de circunstancias?




Sim, de certa forma, defendo a nossa atualização no tempo-espaço. Sermos capazes de ler e de nos situar onde e quando estamos. Defendo ainda, de forma mais resoluta, que sejamos capazes de encontrar o nosso centro interno e junto a ele conseguirmos ter claramente quais são os nossos princípios norteadores. Quais são os princípios que nortearão nossa conduta, nossa ação, nosso agir no mundo?


Se isso costuma ser extremamente individual, dois princípios que se correlacionam são universais- AMOR E FELICIDADE. Os amigos espirituais, os relatos dos partilhantes mostram que seremos cobrados e temos que dar conta da nossa felicidade. E a única pergunta que se responde, no sentido de prestarmos conta é: você amou?


Esta é uma pergunta única. Quem já teve momentos no qual a recebeu, compreenderá imediatamente o que estou falando. Por que esta pergunta nos silencia, nos deixa mudo. E nos cala tão fundo, porque a falta de amor, a falta de amar não tem justificativa. Nada justifica o não amor. Nossas desculpas pela falta de tempo, pela falta de recursos não justifica. A tentativa de apontar os problemas como sendo culpa do governo, da sociedade capitalista, da humanidade, de Deus; também não tranqüiliza e nos dá satisfação, alivio. Nada, absolutamente nada justifica o não amor. Simplesmente porque é muito simples amar. Simplesmente, porque no momento no qual deixamos o corpo e voltamos a existir como energia as distinções e separações da matéria desaparecem. Eu e outro, meu e seu, irmão e filho, tudo isso some. Passa a existir uma sensação, mais do que uma sensação, uma compreensão de unidade. Somos todos um. Todos e tudo que existe nesse planeta azul é de responsabilidade sua. E isso pesa mais do que a mão de uma criança, muito embora, ninguém esteja te julgando. É que simplesmente nossa racionalização e justificativa para com as desigualdades não se justificam para nós mesmos. Ou algo que somos quando não estamos enfurnados, aprisionados ao corpo.  


E é essa capacidade amorosa que dá a plenitude, que garante a felicidade. Se o amor é um doar-se para o outro, isto é, algo no qual o outro ocupa uma centralidade. A felicidade é um voltar-se para si. É o encontro consigo a partir da centralidade do outro. É nessa combinação que é impraticável desassociar interdimensionalidade de multidimensionalidade. Da mesma maneira que não se distingue amor de felicidade. Somos felizes na medida em que se ama e se ama na medida em que se é feliz. São energias proporcionais.


A felicidade então é um fazer por si mesmo. É uma auto-realização. Mas esta auto-realização se dá no encontro amoroso com o outro. É por intermédio do outro que nos fazemos seres felizes. É por intermédio do outro que nos auto-realizamos.


Percorrer o caminho da inter e da multidimensionalidade é caminhar pelo caminho do amor e da felicidade.