quarta-feira, 21 de agosto de 2013

HORÁcio: a teatralização da vida.



Ontem, 18/8/2013 fui com Primavera ver uma peça teatral- Horácio. A peça aborda as reflexões de um homem em três momentos da sua vida. HORA/CI/O. Esta é uma abordagem comum, acompanhamos esses temas na literatura e no cinema. A novidade é que as reflexões são realizadas por três artistas o que dá a encenação a dinâmica da simultaneidade, da multidimensionalidade. O mais interessante ainda é que embora conflituosos, eles se escutam, não concordam, mas se escutam, estreitando um diálogo entre cada um deles. Na peça não seria nenhum exagero ver nesse diálogo a relação freudiana entre Id, superego e ego.

A peça por si só é boa, não apenas pela trama, mas como essa trama é emaranhada pelos objetos cênicos, no caso espelhos que HORA refletem o próprio personagem, HORA reflete a face de um dos seus outros momentos. Um pêndulo que oscila, malditamente, sem parar, ainda que bem no fundo do palco, imperceptivelmente.

Fato é que as abordagens são inúmeras, desde a que esta relacionada ao tempo cronológico, linear, que caminha para a finitude- passado, presente, futuro- simbolizado, respectivamente por: um jovem que sonha ser poeta; por um adulto que se torna advogado; por um idoso que se encanta e desencanta com a vida e tenta elaborar a síntese, a reflexão final.

Uma dessas reflexões é a traição. O Horácio velho acusa o Horácio adulta de ter traído a ele e ao jovem. De ter matado os sonhos deles virem a ser poeta. A marca dessa traição localiza-se num acontecimento traumático, um acidente fatal que culmina com a morte do pai de Horácio. Mais do que a fatalidade do acontecimento, o drama, o trauma repousa na forma, que segundo o Horácio adulto relata a ordem recebida pelo policial para que ele leve a moça que acompanhava o pai na viagem e deixe o velho, no caso o pai dele.

A partir desse acontecimento, HORAcio muda toda a sua vida. E nessa mudança com inúmeras reflexões sobre a vida, a morte, a finitude, o tempo, que a peça se desenvolve, mas não linearmente, e sim, ciclicamente, já que a reflexão final retoma a inicial, mas agora de maneira mais profunda com o HORÁcio velho, sentado, na verdade, “infartado”, reflete sobre qual a diferença entre morrer na beira da estrada ou com plano de saúde? Interroga a si mesmo e ao seu interlocutor adulto sobre o sentido da vida, naquilo que ela tem de mais pessoal- a própria existência. Se valeu a pena ter deixado de ser poeta, vivido na sarjeta para se tornar um advogado respeitável, quando no final das contas.... o fim chega para todos? A morte é igual para todos, deixando como legado aquilo que fizemos, ou no caso, deixamos de fazer. A grande pergunta, tácita é se vale a pena não vivenciar os sonhos?
Essa é a grande pergunta e é sobre ela que falaremos do espaço terapêutico.

II O eu terapêutico.

Dentro do espaço terapêutico é indubitável que temos muitos eus e não estou falando de vidas passadas. Estou falando desses eus, que a peça HORAcio explora tão bem.


Embora haja, invariavelmente, uma justaposição de um eu sobre outro, muitas vezes, não vemos e nem percebemos esse acontecimento. Nem observamos como que determinadas situações evocam nossa criança, outras, nosso adolescente, outras nosso jovem. Como que pulamos de tempo para tempo tentando alinhavar tudo entorno de uma ordem, de uma coerência que no final da contas não podemos afirmar que existe, a não ser para nossa cabeça. Essa busca cria muitas tensões.

Mais do que tensões, geram conflitos, porque há uma falta de relação e sintonia entre o que eu penso e o que meu corpo sente. Entre a minha experiência sensória e a minha idealização imagética. E de forma geral por desprezarmos o corpo queremos, de todo modo, a todo custo, que a vida se adapte as nossas exigências. Queremos que a vida siga nossas regras, ainda quando o corpo, o outro, o mundo, a vida esteja nos mostrando que estamos em desarmonia.

Os exemplos são milhares tanto pessoais quanto de amigos, conhecidos, de livros, filmes, etc... Mas, vou citar como exemplo um amigo que em sonho se viu casado, noivo de uma menina que não tinha mais do que 13 anos. Por muito tempo, ele quis se ver como pedófilo, mas essa conceituação não era condizente ao momento no qual ele vivenciou a estória, século XIII, XIV. De forma que em nossos deslocamentos trazemos esses olhares descontextualizados e produzimos uma carga imensa, enorme, sobre nos mesmos, quando o sentido seria esvaziarmos desses pesos.

Ainda nessa mesma linha, me recordo de uma mendiga que entrou na lanchonete pedindo alimento, dinheiro. Ninguém deu e eu ofereci um pastel assado que tinha levado uma minúscula dentada. A moça olhou para mim, agradeceu com certo desdém e disse que não comia resto. Eu a compreendi, especialmente, porque no momento no qual ela dizia isso, eu não a via mais como sendo mendiga, eu a via como uma donzela, de pele muito clara, cabelos louros, segurando uma sombrinha, com um chapéu e vestido de renda típico da corte francesa do século XVII, XVIII. Como um negro tem a audácia de dirigir a palavra para uma donzela e ainda oferecer pastel assado mordido? Sei que na lanchonete as pessoas me olhavam querendo se desculpar pela humilhação que eu recebi, mas eu estava super bem. Ela não quis e a vida segue. Para mim, ela está presa a uma imagem dela do século XVIII. Ela esta presa num desses espelhos da existência.

De modo que, terapeuticamente, acredito que seja possível colocar um Horácio conversando com outro, ouvindo o outro, um tomando consciência da existência do outro e curando as feridas e dores do outro. Podemos exemplificar com a dor da menina abandonada aos 7 anos. Hipoteticamente, ela pode ser acolhida pela mulher de 55 hoje. Ela e mais ninguém pode pegar essa menina no colo e a acolher, cuidar dela, mostrar como elas caminham juntas. E a loucura maior é que é essa menina de 7 anos que cura a mulher de 55 do seu medo de ser traída, abandonada, humilhada. É ela que a auxilia a tirá-la do espelho.

De uma maneira que aqui não cabe adentrar, os tempos subjetivos não obedecem a linearidade do tempo cronológico. Todos ao olharem para essa mulher bonita acreditam que ela é uma adulta, que ela tem 55 anos e resolveu suas questões; todavia, a verdade, é que emocionalmente, ela esta estacionada nos 7 anos. Quando o bicho pega, é para esse tempo, para esse lugar que ela retorna. Ela continua se vendo desprotegida, sem lugar, sem saída. Assim como ela, se dá com cada um de nós. Poucos, pouquíssimos de nós têm a idade cronológica atrelada à idade mental, emocional, sexual para falar de meramente três. Esses tempos são outros e muitas vezes não percebemos.

III Atêlie Interior. 

Mas a razão pela qual escrevo isso é que amo a arte. Amo como a arte, o palco, o teatro, a pintura, a escultura, a música, o poema esclarecem aquilo que precisamos de muitas páginas para explicar. Se a peça ficasse mais tempo em cartaz levaria alguns “partilhantes” para assistirem. No diálogo entre os artistas acredito que ressonaria as vozes caladas, massacradas do nosso ser que vamos impedindo de falar. Essas vozes então passam a gritar e ainda assim são ignoradas, assim, elas se distendem e ainda assim não são percebidas, até que elas se separam, aí, geralmente, é tarde para uni-las. Em todos esses movimentos, fica notório, que o tom aumenta quanto menos se dá vazão e escuta a essas vozes. E, em certa medida, todo trabalho terapêutico, consiste em harmonizar cada uma delas. Dar espaço para cada uma delas. Permitir que cada uma delas seja o que elas são.

HORAcio toparia ser advogado, ele aceitou a advocacia, mas o que o matou foi ele não ter dado espaço para o seu poeta. O poeta de Horácio não podia morrer. Talvez, ele não fosse Drummond, nem Castro Alves, mas seria Horácio e isso se não valesse de nada esteticamente, seria a redenção dele, existencialmente. O vazio existencial dele não seria tão grande, tão forte, tão imponente. Bastava, ele ter escrito e publicado os seus poemas, deixado essa energia fluir, permitido essa energia caminhar. 

E esse é o ponto interessante, que durante a apresentação da peça me reportou diretamente a uma conversa que tive com um dramaturgo brasileiro meses atrás. Como não me canso de dizer, os artistas desencarnados continuam suas atividades, mediante, oficinas, palestras, cursos, workshops e outras variedades de facilitação interior. E é muito salutar visualizar como essas oficinas são desdobradas no plano físico. É muito legal perceber essas intercessões entre os dois lados. 

Uma dessas intercessões denominei de Ateliê do Espaço Interior cujo foco sempre foi com os poetas, músicos e artistas plásticos. O trabalho com os dramaturgos é recente, esta em gestação e tenho que afirmar, que terapeuticamente, tem alto impacto na transformação e conscientização das pessoas. A técnica, hoje, amplamente utilizada no plano físico consiste no desdobramento da personalidade da pessoa para que ela se veja representada, encenada no palco da existência. Ou seja, desdobra-se a personalidade para que ela seja projetada, exteriorizada. De modo que olhando para si mesma, ela consegue integrar aspectos, partes que antes andavam soltas, sem lugar.

A peça me remeteu, diretamente, a essas práticas, a essas possibilidades de se auxiliar o outro mediante práticas teatrais. 


domingo, 11 de agosto de 2013

HANNAH ARENDTH na Comissão da Verdade,




Semana retrasada fui com Primavera ver “Hannah Arendth”. Apaixonei-me ainda mais por ela. Fiquei ainda mais maravilhado por ela e pensando uma série de coisas nas quais enumero as principais:

1-      Todo brasileiro, de esquerda ou de direita, que seja favorável ou contrário a ditadura militar tem o dever moral de ir assistir o filme. Digo mais, deveria ser prática obrigatória para quem fosse depor- assista ao filme antes.
  2-     Não deveriamos pensar mais a construção do conhecimento, sem termos nitidamente, a importância de cada interlocutor oculto, que auxilia a compor o contexto de uma época, de uma mentalidade, de um imaginário.
 3-            A discussão entorno do OUTRO e da alteridade tende a se constituir, se é que já não se constitui a parte mais importante da filosofia atual e da sociedade de modo geral.
I

Para muitos o filme é cansativo, exaustivo e até a diretora brinca com isso ao falar da inviabilidade de se fazer um filme sobre um filósofo. No filme não há carros em fuga, tiros a esmos e mudanças de cenas rápidas e velozes. O ritmo é outro, respeita-se o tempo interno, subjetivo das reflexões.

E o ponto alto da reflexão do filme se dá sobre a “banalidade do mal”, mais precisamente, sobre o julgamento de Eichmann em Jerusalém. Não é preciso dizer que qualquer nazista depois do fim da 2ª guerra já estava condenado, aliás permanecem condenados até hoje. O que fizeram foi inominável. Foi a mais brutal forma de violência que presenciamos, devido a sistematização racional orquestrada, inclusive por Eichmann e outros. Essas violências são sistemáticas e repetitivas na história da humanidade: romanos lançaram cristãos aos leões; depois cristãos lançaram hereges na fogueira. Como isso era pouco, cristãos e mulçumanos fizeram guerra santa; não obstante, em nome da fé e na crença que uma raça é superior a outra mataram índios e escravizaram negros.


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Historicamente, após a abolição da escravatura, homens de bem, racionais, acreditaram que algo tão nefasto não mais se repetiria, mas o preconceito permaneceu e permanece ainda. Sem perder as esperanças, acreditamos que entraríamos em uma era de respeito, qual não é a nossa surpresa ao depararmos com os nazistas que assassinaram 6 milhões de judeus, milhares de ciganos. Um pouco mais estarrecidos, quase sem forças, pensamos que o último suspiro do mal foi em 1945. Qual não é a nossa surpresa ao vermos as mesmas brutalidades sendo realizadas nas ditaduras militares latinas, africanas e asiáticas.

Em todos os casos, desde antes de cristãos serem lançados aos leões, até hoje quando se assassina homossexual, negros e outros, o que esta em evidência é o desrespeito ao outro. Matou-se pelo outro ser o que ele era. Mata-se por não aceitar que o outro seja aquele que ele é. Eis a banalidade do mal na sua forma mais torpe, mais vil, mais banal. Mata-se, porque não se suporta conviver com o diferente, com as diferenças.

Mas, a discussão que Hannah deseja não é essa. A discussão que ela suscita só se faz mais clara se formos à França visitarmos Sartre. Após analisar o nazismo todos querem entender.... por quê? Mais chocante do que buscar o motivo é constatar que depois de 6 milhões de morte de um povo, sem contar a dos ciganos, a dos homossexuais, a dos deficientes, não havia um único culpado. 7 milhões de mortos e ninguém se responsabilizava. Ninguém era responsável. Como isso é possível?

Se por um lado temos a infantilidade, a irresponsabilidade do outro temos o endemoniamento do mundo, a atribuição de que o que aconteceu se deveu a monstros, a seres fora da história. Nos dois casos temos a banalidade do mal, justamente, por retirar a condição humana dos sujeitos.



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Retomando Sartre, justamente por pensar esse mal, que colocando palavras na boca dele, chamarei de absurdo, é que ele desenvolve e amplia a sua discussão sobre liberdade. Liberdade não pode mais ser encarada como uma expressão liberal, de dimensão individual, sem relação e comprometimento com o outro, com a vida, apenas consigo mesmo. Essa percepção egóica, demasiadamente individualista precisa ser revista e revisitada. E nesse novo viés, Liberdade é escolha e comprometimento. Liberdade não é um atributo abstrato, uma condição ideal. Liberdade é uma atitude imanente, situada, por vezes determinada. A liberdade não é um ente solto e vazio, pelo contrário, ela só existe no ser que escolhe, de forma que se há possibilidade de escolha, estamos falando de liberdade.

E se liberdade é escolha, sou livre quando opto, quando elejo, quando escolho. A liberdade esta naquele que escolhe, esta com quem escolhe escolher e até mesmo no que renuncia a escolha. Em todas as situações se é responsável por isso. Ninguém esta isento de culpa seja por ter atirado em um judeu, seja por apenas tê-los colocado dentro de um vagão de trem.

É esse cenário que Hannah nos desenha e que o filme nos coloca que tenta analisar a situação, ou seja, longe de ver Eichmann como um monstro, um ser sem alma, Hannah nos convida a vê-lo como humano, demasiadamente humano. Esse senhor era uma pessoa comum, um sujeito comum, ou como diagnosticou Wilhem Reich- Zé Ninguém. E o mundo estava e esta cheio deles. Pessoas que cumprem ordens sem lidar com a responsabilidade de seus atos. Pessoas que escondem o mal ao não optarem pelo bem. Pessoas que estão prontas a praticar o mal, porque não pensam o seu fazer no mundo, o seu ser na existência. E é diante disso que trago a comissão da verdade.
É dever histórico relembrar, recontar, não deixar esquecer. É dever histórico apontar lados, práticas, métodos. É dever histórico salientar que a história não é neutra, não é dada, mas é uma construção coletiva dos atores sociais envolvidos e inseridos naquele momento. A comissão da verdade busca mostrar que houve torturas, que teve sevicias, que tiveram práticas perversas, maldosas no olhar de qualquer tempo, de qualquer época. E aos que não sabem é preciso que fiquem sabendo, que se recordem, que se lembrem para nunca mais voltar a acontecer. Não se pode dar nome de praças e ruas a torturadores. E a sociedade brasileira tem que discutir isso. Um país não pode fechar os olhos para o que aconteceu. Temos milhares de pessoas desaparecidas. E alguém é responsável por isso, independente de terem agido certo ou errado; não é esse o julgamento. O julgamento é: houve violação do direito das pessoas e o mínimo que o Estado pode fazer já que não vai prender ninguém, condenar ninguém é apontar os responsáveis. E como parte deles acham que agiram certo e que fariam tudo de novo não há motivo para que se escondam, que não queiram lidar com o que fizeram.

II

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De certo modo, eu já caminhei para dois ao falar de Sartre, Nietzsche, Reich. No entanto, não posso perder de vista, Heidegger e Levinas.

Thomas Kuhn pensa a ciência como um quebra-cabeça, deixando claro que não temos todas as peças. Com isso, ele quer salientar que o conhecimento científico é uma construção, não nasce pronto. Essa percepção que já era cara as ciências humanas adentrou o universo das ciências duras, hoje não se discute ciência sem pensar nas várias interlocuções. Um cientista, ainda que gênio desenvolveu e estabeleceu diálogo com o seu entorno. E esses diálogos são essenciais para a compreensão de qualquer conhecimento.

Vendo o filme é formidável as rodas de conversa, as tensões estabelecidas entre os envolvidos. Quando adentramos historicamente podemos ver como que a partir de um professor em comum- Heidegger- Levinas e Hannah discutem sua obra. Obras que somos convidados a ler como sendo autorais, biográficas, particulares, mas que durante o filme me veio a intuição de que o pensamento de cada um deles, acompanhado de outros tantos conhecimentos compõem uma obra única. Sendo mais claro, a obra de Hannah adentra na de Levinas, que adentra na de Simone de Beauvoir, que se estende na de Sartre, que desemboca em Reich e não se esgota e se renova em Hannah, reiniciando um novo ciclo que nos permite vê-los como discutindo a mesma coisa, cada um com um ângulo específico, mas que são peças do mesmo quebra-cabeça.
Espero que consigamos formar esse espectro de uma época o mais rápido possível, libertando o conhecimento de suas amarras individuais de forma idêntica cada um desses pensadores libertou o conceito de liberdade da sua dimensão individualista.

III

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De certo modo a história da filosofia tem sido a filosofia histórica do eu, do masculino, da identidade, da igualdade. Essa história não vai mudar, talvez não deva. O importante é saber que correlata a ela tem uma filosofia histórica e uma história da filosofia que trata do outro, do feminino, da alteridade, da diferença. Essa filosofia precisa de lugar não na academia, mas dentro de nós. Essa Filosofia que tem no respeito a sua grande marca, que tem na tentativa de compreensão do mundo, o outro como ponto de reflexão. Essa face, esse rosto que Levinas nos informa. Precisamos disso cada vez mais, especialmente no nosso país que murmura saudades da ditadura, acirra-se o patrulhamento aos homossexuais, amplificam-se nos parlamentos os discursos fundamentalistas religiosos e matam-se jovens negros por serem pretos demais para existirem.


Ver Hannah, ler sua obra, discutir suas idéias podem ser de muita ajuda e valia. 

domingo, 28 de julho de 2013

Snowden: a sociedade discutindo a liberdade individual.


O caso de espionagem de Snowden reacende velhos debates e considerações- a mais importante aos meus olhos é a da liberdade na sociedade de informação. No entanto, o mais curioso para mim é o espanto indignado, quase com ar de surpresa e estupefação sobre a espionagem. Fico me perguntando: será mesmo que o roubo de informações, a bisbilhotagem internacional é algo mesmo recente, súbito, inesperado como a maioria dos governos pintaram e querem fazer acreditar? Cada um mais surpreso que o outro com algo que entre eles não é apenas comum, como fundamental, essencial e faz parte do métier; ou seja, não há informação capturada por uma agência de inteligência que não seja compartilhada no mínimo com outras duas.

Sem adentrar a história, mas também não a deixando a reboque, é bom recordar que a Inglaterra para cada kg de ouro saqueado em alto mar dispunha de uma rede de roubo de informações igualmente elaborada e destemida. Entrando no século XX e passando pelos países latino-americanos, não houve um, siquer um, cujas ditaduras não tenha se efetivado e se cristalizado sem o apoio irrestrito da CIA (inteligência americana) que ensinou tudo, inclusive tortura. Assim, me causa espécie, trinta e poucos anos depois, toda essa gente se mostrar indignada, como se de fato isso fosse novidade. Assim me pergunto: há alguém de fato, que não saiba que somos vigiados e que o uso gratuito da internet, especialmente de sítios como faceboock e google, alimentam as estatísticas mundiais? Ou melhor, o quanto eles custam caro à liberdade individual, mas que aceitamos pagar esse preço numa renúncia coletiva de nossa individualidade?

Tentando acreditar nessa inocência fiz duas pesquisas rápidas. Uma relacionada a hackers e outra mais melindrosa que exponho daqui a pouco.

I Hackers



No que se refere a hackers institucionais, com carteirinha de governo e tudo, encontrei inúmeros, mas destaco os chineses que tem roubado informações corporativas do mundo inteiro, inclusive de embaixadas, como fizeram com a canadense por anos a fio. Não obstante, encontrei uma denuncia de hackers informando que agência de segurança alemã estava introduzindo trojans em computadores dos seus usuários. Nessa loucura toda, o que ficou implícito é que quanto mais clandestino, caso de hackers russos, mais ousado são os ataques a embaixadas e a dados oficiais.


II Espionagem psíquica

Foi nessa direção de encontrar órgãos oficiais e oficiosos que me recordei de filmes como “Scanners sua mente pode destruir”. Era um filme da década de 80 que falava do uso de paranormais para obtenção de informações privilegiadas. Esses paranormais eram treinados por agentes do governo, no caso russo e americano para realizarem espionagem e contra espionagem.

Assim, a partir dessa idéia “ingênua, surreal”, exagerada do filme fui buscar mais informações e pude verificar que a guerra psíquica é um tema amplamente documentado, especialmente pelos russos. Inúmeros psicólogos publicaram seus vários anos de pesquisa de ponta. Esse know How foi jogado fora? Será mesmo que as autoridades militares que ridicularizam o fenômeno psi em público fazem o mesmo em meios fechados? Independente das respostas hoje sabemos sem sombra de dúvidas que a guerra psíquica foi uma arma utilizada por potencias mundiais no período da guerra fria e depois dela também.


III Relações



Nesse ponto, o que acho interessante delinear, de forma mais clara, é que, praticamente, não há distinção entre o espião psíquico e o hacker. O mais inusitado de tudo é que acreditamos que é mais possível realizar isso de posse de um artefato tecnológico do que por mecanismos naturais (mente e os outros sentidos). As habilidades são correlatas. Adentrar um computador, invadir um sistema à distância é similar a acessar a mente de outro ser humano; mas volto a insistir que achamos isso muito menos provável e possível, o que não deixa de ser uma pena.

IV O Imaginário  

Sendo que entrando nesse imaginário, que recupero filmes como “O Inimigo do Estado” (1988), “ A Rede” (1995); “A Senha” (2001); “Controle Absoluto” (2008) para falar dessa relação do Estado com mecanismos tecnológicos  capazes de espiar a vida de seus cidadãos. Mais do que espiar são capazes de adentrar, invadir e controlar a vida dos cidadãos. E a se espelhar pelos filmes mencionados, cada vez com maior nível de precisão e sufocamento. 

É então de posse desse cenário e desses argumentos que recupero Snowden e a espionagem. Acreditar que não estamos sendo vigiados, controlados, mapeados é um deleite da inocência. É um pensamento ingênuo de quem não esta atento às transformações e imposições de uma nova sociedade. Nesta nova ordem, ao que parece, não tememos abrir mão de nossa liberdade individual desde que tenhamos condições e meios de usufruir dos recursos que nos oferecem. No final das contas podemos dizer que vendemos a nossa liberdade por um preço bem barato. Ou, pode-se alegar, que o conceito de liberdade foi deslocado e isso é paranoia filosófica.

De todo modo, a espionagem esta em toda parte, em todo lugar. Há câmeras de vigilância espalhada pelas cidades. Câmeras de vigilância no supermercado, lojas, casas, apartamentos; por enquanto, poupam os banheiros. Os programas de televisão de maior apelo são os que expõem a vida das celebridades, noticiando desde o que elas comeram até com quem saíram, o que vestiram e coisas do gênero. Pelo Twitter e face pessoas comuns registram um a um dos seus passos durante o dia, num pedido incomum de ter a vida compartilhada, ou vasculhada. Muitas vezes essa é uma pessoa que pede ao pai e o marido sair do quarto para não invadir a privacidade dele, sem ver nisso nenhuma contradição. Isso tudo sem contar  os programas de monitoramento no qual se acompanha a vida das pessoas passo a passo, meses a fio, e que no Brasil já dura mais de uma década. 

V Snowden

Finalizando, Snowden expõe as feridas de um mundo que recusamos a enxergar. Ele indica, claramente, que no momento no qual mais se fala de liberdade individual, na qual achamos, ou sabemos, que gozamos de um grau de liberdade nunca experenciado em toda a história da humanidade, nunca estivemos tão controlados. Essa contradição é algo que teremos que aprender a lidar nos próximos anos, talvez décadas. Teremos que aprender a lidar com os limites do controle, dos acessos, dos registros, das informações criadas na sociedade da informação. Sendo que nessa nova abordagem não podemos ser ingênuos de acreditar que uma tecnologia como o Google Earth pode ser disponibilizada para o mundo inteiro sem ter ficado completamente obsoleta para quem as criou por volta dos anos 50/60. Ou vamos continuar acreditando que os satélites e telescópios de milhões, bilhões de dólares são mesmo para as telecomunicações pacíficas e não bélicas? Vamos continuar acreditando que o sequestro de informações por parte de agentes oficiais é monitoramento contra possíveis ataques terroristas? "Rede de Intrigas" (2008) seria o ícone do que estamos falando, tanto nos furos, quanto na possível paranoia desse mundo que antes privado e seleto tem se tornado mais coletivo, por vezes brutal e totalitário. 


E ainda acerca desse controle não vou entrar no terreno dos monitoramentos e implantes realizado por... por??? 

domingo, 14 de julho de 2013

Piano bar: entre a recusa e a aceitação.

A letra é de Humberto Gessinger- Engenheiros do Havaii- que embalou minha adolescência, juventude. A montagem/clip esta no youtube e é criação de juniortowe2008. Mas, se tanto letra e vídeo são belos, em verdade, quero recortar apenas as duas primeiras estrofes da letra para pensar relacionamentos de forma geral e de casais em especial.


O que você me pede eu não posso fazer
Assim você me perde e eu perco você
Como um barco perde o rumo
Como uma árvore no outono perde a cor
O que você não pode, eu não vou te pedir
O que você não quer, eu não quero insistir
Diga a verdade, doa a quem doer
Doe sangue e me dê seu telefone
Todos sabem que os relacionamentos são tensos. Conviver é perigoso. Mulheres têm TPM, variações hormonais e explodem.... ora de candura, ora de ternura, ora de raiva, ora sem motivo aparente a não ser aquela gestação invisível que precisa ser parida. No entanto, a maior influência vem da lua, este astro romântico. E pobre coitado do homem que não sabe disso. Mas, não quero falar da lua. Quero falar dessa relação louca que desenvolvemos. Mais precisamente, quero falar da loucura de pedir ao outro, justamente aquilo, que ele não pode nos dar. Pelo menos não para aquela pessoa, muito menos naquele momento.

E me ocorre duas coisas: uma- se fazemos isso de forma consciente ou inconsciente? Duas- se fazemos tendo como finalidade terminar a relação?

Respondendo as duas de uma vez só, acredito que haja uma inconsciência intencional, ou seja, queremos que algo termine, queremos que algo acabe, não necessariamente, a relação. Pelo contrário até, muitas vezes se deseja que a relação se transforme, mas a falta de clareza acaba levando a relação à berlinda.

Na letra dos Engenheiros a relação é pensada e discutida pela ótica de um. Esse um tenta explicar ao outro os seus limites e isso não é uma tarefa fácil. Nem para quem realiza o comunicado, nem para quem o recebe. Quem o realiza, provavelmente, já o tenha feito outras vezes, de outras formas, em outros carnavais e com outras fantasias. Quem recebe se depara com uma situação na qual pode estar imprensado na parede, diante do seu limite. E toda questão é: como cobrar? Como pedir ao outro aquilo que ele não pode dar? Por outro lado, como não cobrar? Como não pedir ao outro aquilo que a gente deseja?

Assim, se de certo modo, acho que não podemos, nem devemos fazer tais exigências. Por outro lado, não se pode exigir que a pessoa que realizou o pedido se acomode e viva insatisfeita, permanecendo numa situação que ao que tudo indica a faz infeliz. Tento exemplificar: frigidez, impotência, depressão são motivos para se terminar uma relação? Sim? Não? Depende? Bebida, traição, toalha molhada em cima da cama, calcinha pendurada na torneira são motivos para se terminar uma relação? Muitas vezes mais do que terminar, retirar essa pessoa do seu convívio? A maioria vai dizer que não, mas a maioria terminou relacionamentos por motivos similares a esses.

É aqui que se relacionar é complicado, é tenso, é árduo, é difícil e é a um só tempo útil e inútil ficar brigando. Útil porque as pessoas podem mudar. Inútil, porque as pessoas não mudam. Mais precisamente, há coisas que nós mudamos, deixamos de fazer, de realizar, de praticar. A namorada pode deixar de conversar com um determinado amigo devido ao ciúme do namorado. O namorado pode deixar de jogar futebol cinco vezes na semana por carência da namorada. O marido pode voltar mais cedo para casa a pedido da esposa. A esposa pode falar menos das atividades do dia para não entendiar o marido. Isso é possível fazer. Mas há princípios que talvez o outro não possa, em detrimento de deixar de ser ele mesmo, abrir mão. Assim existem mudanças que se solicitadas ao outro só podem ser atendidas se a pessoa deixar de ser quem ela é, ou o que ela foi até aquele momento. E em parte é melhor procurar outra pessoa do que desejar essa mudança.

Relacionamentos terminam, findam. E todo término é prenuncio de morte, ou melhor, sensação de morte, mesmo que gere alívio. Mesmo que temos ciência da vida eterna. Mas, o término faz parte do ato de se relacionar.

Enfim... há pedidos nossos que nunca serão atendidos, que o outro, simplesmente, não pode atender, pois se não, ele já não é mais ele. Ele é outro. 

E aqui é talvez um dos x da questão que escapa a nossa consciência: o que de fato queremos? Quem de fato amamos ou estamos apaixonados? Se estamos em busca de um par perfeito, um ser idealizado na própria cabeça, é fácil, simples, ao não encontrarmos as características que desejamos, imediatamente, mudarmos a nossa afecção. Mas, isso significa que não estamos apaixonados, ou envolvidos com o outro e sim com nosso mundo ideal.
Se por outro lado, nos apaixonamos pela pessoa e descobrimos que ela é assim, vivencia-se a relação. O meio termo entre o egocentrismo da primeira experiência e o altruísmo da segunda é a clareza- dos sentimentos, da linguagem, do diálogo. Ou seja, aquele papo chato, mas real e verdadeiro: “te acho uma pessoa super bacana, mas você não é a pessoa com quem quero ter meus filhos”. Ou, “gosto demais de você, mas te prefiro como amigo(a) do que namorada(o)”. Ou, “você é a mãe dos meus filhos, mas eu desejo a sua amiga”, o inverso é recíproco: “você é o pai dos meus filhos, mas eu não te desejo mais como homem”.

Parece que é fundamental termos esses dizeres, essas conversas para diminuirmos nossas dores, amarguras e infelicidades.


domingo, 7 de julho de 2013

Cura Gay: agora só falta contra a ignorância e a hipocrisia.



Pensando sobre os preconceitos de forma geral, recordo-me de uma frase atribuída a Einstein: “Triste época!! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”. 

O gênio da humanidade referia-se à época ao nazismo. Mas, a frase se faz ainda atual em todos os aspectos e sentidos, especialmente, quando entramos no terreno da religião. De forma trágica, em pleno século XXI ainda não assumimos Jesus e continuamos assassinando Cristo (Wilhen Reich). É o que me parece propostas como a Cura Gay de Marcos Feliciano, apoiado por outros tantos. 

O tema só se faz questão para mim, porque eles usam a PALAVRA para legitimarem o preconceito. Nas mesmas medidas, que segundo A PALAVRA, eles legitimaram a dizimação indígena, a escravidão africana, o machismo. Tudo com fortes bases bíblicas. Tudo com aprovação do Deus dos exércitos e o mais inacreditável- de Jesus. E quando a gente pensa que a mistura da religião e o poder estatal já fizeram estragos o suficiente em todos os lugares do universo, temos Feliciano, Malafaia, Bolsanaro e outros aloprados.

Por falar neles, escrevo tudo isso devido a uma publicação de Reinaldo Azevedo. Ele num artigo repleto de falácias defende o projeto, na verdade, ele defende o direito de que tal projeto seja defendido, assim como o abuso e autoritarismo de um conselho que proíbe seus membros de tratarem dos problemas de seus pacientes. Ele como o bastião da democracia, o novo Iluminista, se coloca nesse pedestal. 



Antes de prosseguir é necessário fazer um esclarecimento vital: não leio Veja. Não leio Reinaldo Azevedo, Diogo Mainard e tantos outros. Lia Veja por Roberto Pompeu de Toledo e Jô Soares (bons tempos). O que aconteceu foi que uma amiga me pediu para que eu lesse o que ele escreveu. E aqui é o complicado. Obvio que todo autor tem seus admiradores, atualmente, seguidores. Os leitores de Veja, muitos tem uma admiração pelo PSDB, o que os daria uma orientação de centro esquerda, mas desde a vitória do PT, que eles estão virando direita, e, alguns, extrema-direita. Todavia, o autor que defende a liberdade de expressão com tanta galhardia quanto Reinaldo não deveria censurar, ou restringir, ou impedir, que na resposta dos leitores existissem opiniões contrárias as dele. E em mais de 200 comentários, nenhum é contrário ao que ele escreveu. Isso não é estranho, é bizarro. E vindo de quem vem, que defende o que diz defender- é cretino. 

Juro para vocês, que eu não esperava outra coisa dele. Como dizem: “A pátria é o último reduto dos canalhas”. E tenho profunda desconfiança de quem ganha para acusar, combater, injuriar, distorcer, difamar e acredita que isso é jornalismo; aliás, acredita que isso seja neutralidade. Mas, definitivamente não é disso que quero falar e sim postar o comentário que realizei e ficou aguardando moderação. E não passou pela moderação. Segue o comentário realizado: 


 Boa noite. O texto é bom, parece até correto, mas ele é falacioso. Não dá em um comentário expor as falácias do texto, ou melhor, do contexto. Todavia, focarei esse ponto (texto e contexto). No texto não há cura gay. No texto não tem nada acerca disso. Mas, pode um leitor ignorar o contexto de um texto? Dar, criar, manipular, especular contextos não é isso que esse dedicado escritor faz nesse espaço mediante o que ele chama de fatos? Quero acreditar que sim e diante disso é estranho ele desafiar a nossa lógica colocando o projeto que tramita na câmara como sendo um poço de inocência e pura perseguição da mídia que não gosta dos evangélicos. Poxa vida! O contexto é que quando se fala de cura gay esta fazendo menção a duas psicólogas e a um lobby evangélico que afirma que curam homossexuais. O deputado que leva essa discussão para a Câmara também é evangélico e tem relações com as psicólogas. Ora!!! A discussão dos limites do CRP e quaisquer outros conselhos é válido, mas num Estado laico o último fórum de discussão para essa contenda deve ser as casas legislativas. Essa discussão tem que ser feita dentro dos próprios conselhos e caso não se alcance um consenso entre os pares nos tribunais judiciários até as últimas instâncias. Acreditar que se é mais democrático ou antidemocrático por ler o texto no contexto que ele é apresentado é pedir uma inocência, uma ingenuidade que fere e machuca. Qualquer leitor atento, independente da orientação religiosa, precisa estar ciente disso, especialmente, se são tão ordeiros e conscienciosos como descreve o autor do artigo. Peça as duas psicólogas que apresente dados que efetivaram suas curas e as apresente no próprio conselho. Caso não consiga, leve a justiça para que analisem a contenta. Enquanto isso nos poupe da vinculação, nesse caso, espúria, entre orientação religiosa e Estado laico.

Finalizando, o articulista que defende o projeto da cura gay, a liberdade de expressão, a democracia, aparentemente censura os seus   leitores. O Pastor que fala em nome do amor de Jesus, apregoa o ódio. E se conseguimos curar os gays agora devemos desenvolver a cura contra a ignorância seja ela qual for e a hipocrisia. Assim que conseguirem deem uma capsula para Feliciano, João Campos,  Reinaldo Azevedo e outros. 

Se não somos seres capazes de amar que pelo menos não criemos o ódio em nome de Jesus. 




sexta-feira, 21 de junho de 2013

I Fórum Mundial de Contatados



Meu interesse pela ufologia é pouco. Conheço, escuto, já li, mas para mim não tinha nada de novo a ser dito, a ser feito, a ser realizado. Para mim todas as perguntas sobre a área estavam respondidas. De modo que nunca me interessei em participar de um encontro com ufólogos. Na minha cabeça, eles nem acreditavam em disco voadores. Rsrsrs. Um fórum de contatados seria para mim um fórum de iguais e me interessei, enormemente.
Fui ver o nome de algumas palestrantes e acabei realizando a minha inscrição. Mais importante, fui até Floripa conhecê-los. Gostei do que vi. Em todos os aspectos, alias, quase todos.

O quase se deve a minha pergunta inaugural (de mim para mim mesmo); a pergunta foi: existe espiritualidade sem comércio? E cada vez mais percebo que não. Precisamos de dinheiro. Realizam-se muitas poucas coisas sem dinheiro. E nós precisamos perder esse ranço que temos com o dinheiro. Tinha uma moça muito bonita, pouca simpática, organizadora do evento, que só a via rir quando ela estava vendendo. Melhor, só via felicidade nela, quando ela estava vendendo. Mas, tirando esse único aspecto, comprar os DVDs de Marco Antônio Petit, os CDs da Margarete Áquila, os livros dos demais palestrantes deveriam ser um dever, assim como os livros e outros produtos de cada um dos palestrantes que expuseram seu material.

São pessoas sérias. Trabalhadores de uma área pouco divulgada e valorizada, mas que desenvolve trabalhos seriíssimos. Trabalhos como os das psicólogas Gilda Moura, pesquisadora de renome internacional; Mônica Medeiros, Margarete Áquila que desenvolvem trabalhos interessantes em Sampa. Trabalhos como os de Leonardo B Martins que levou a pesquisa ufológica para dentro da USP em dissertação de mestrado e agora tese de doutoramento.

Contatados da envergadura de Bianca (de uma simplicidade, de uma humildade, do tamanho da distância física entre ela e Karran). Urzi sobre quem os discos voadores brincam, cantam, fazem firulas ao avistá-lo. Ou Asís um peruano que contata os discos, mas eles sempre se mantém sóbrios, serenos, distantes, como exige o capitão da frota.

Mas, escrevo tudo isso para falar que eu nunca me vi como contatado. Nem sabia que o termo existia. Sabia menos ainda que houvesse pessoas interessadas nessas histórias. Até hoje, em vários anos de incorporação, mediunidade, só escrevi publicamente duas vezes sobre isso. A terceira esta sendo agora. E estando lá, eu recebi um chamado para escrever sobre essas coisas. Na verdade, postar.

Recordo que em 1997/8 na Faculdade de Filosofia, saí perguntando para um grupo de colegas, assim como outros que freqüentavam as reuniões espiritistas que realizávamos se vocês pudessem fazer uma pergunta a um extraterrestre, qual pergunta você faria?

Recebi uma média de trinta, quarenta perguntas e me coloquei junto a Somater para respondê-las. Terminado essa primeira fase, nós aprofundamos alguns pontos. Emprestei esse caderno de respostas para uma amiga e nunca mais o vi. A segunda parte do trabalho não tem sentido sem a primeira.

Depois disso, Somater “aparecia” em algumas reuniões deixando recado. Certo dia, ele me apresentou uma “moça” chamada Amaril. Achei a psicografia dela tão idiota, tão ridícula que cheguei mesmo a debochar. Amaril dizia que a civilização dela estava desenvolvendo estudos que os aproximava da energia da vida. Eu no alto da minha arrogância achei aquilo tão infantil, tão idiota, que praticamente não voltamos mais a falar do assunto.

Demorou dez anos para que eu entendesse a profundidade do que ela dizia e o nível de adiantamento no qual eles se encontravam.
A arrogância tem preço, geralmente, o da ignorância. Voltamos depois a falar disso, espero ter registrado em algum lugar. Mas, o interessante de tudo isso é que nas minhas conversas com Somater, ele me disse que eu precisaria estudar para ele ter condições de me explicar as coisas que eu desejava saber e ele queria falar. Foi assim que comecei a estudar física quântica e foi nesses estudos que a Filosofia fez sentido para mim. Os físicos, os matemáticos aplicavam o que a maioria acreditava ser meramente teórico. Foi nesse jogo que parei no mestrado de educação tecnológica buscando estreitar um diálogo entre a Filosofia e a Física.

E isso que é interessante nesses estudos. Você acha que esta se formando em educação tecnológica, mas a verdadeira formação é outra na qual você acessa somente depois. Esse acesso do somente depois, esse conhecimento que irrompe sem que você defina fisicamente de onde veio, esse outro conhecimento que você acessa como se estivesse acessando uma central de informação invisível, um ponto eletrônico embutido dentro do cérebro e do coração foi o grande achado para mim do fórum.

A Dra Gilda Moura falava das áreas de ativações dos contatados, especialmente, de como alguns conhecimentos eram apenas decodificados quando em estado de hipnose. O termo que a gente usa é hipnose, mas eles preferem dizer que são codificações que a pessoa acessa por um estressor interno. Há um estopim que acende e irrompe o conhecimento no momento no qual estamos prontos. São por vias similares que ocorre as aparições, avistamentos, abduções. Algo diz que estamos prontos e o fenômeno, o conhecimento aparece.

E parece que um estressor desses destravou em mim. Desde meados do ano passado, eles disseram que eu poderia falar de muitas coisas que nunca disse. Algumas, eu nunca vá dizer. Ainda não gosto, acho estranho. Não vejo isso como missão, nem de salvamento, nem de esclarecimento, nem de resgate. Vejo como uma coisa a mais a ser feita, que pode ser realizada ou não, conforme minha vontade, meu desejo; embora saiba que sou encaminhado para situações que não pensei e vislumbrei.
É isso por hora. Vou começar a escrever e a editar algumas coisas escritas nessa área. Elas serão colocadas em outro blog.


terça-feira, 11 de junho de 2013

Encenação Mistificação


Na semana que escrevia sobre isso, Luana Piovani dava mais um chilique e Zezé Polessa era acusada na impressa pelo infarto de um motorista. Na mesma semana (27/1/2013), tive a felicidade de assistir a “peça” teatral “Assunta Brasil” do Saulo Laranjeira. Durante a peça, na qual estou até agora impressionado em todos os sentidos e em todos os âmbitos, inúmeras questões passaram pela minha cabeça, em especial uma que retornava: a relação da representação com a incorporação. Essa é para mim uma grande questão a ser pensada. 

Nos meios mediúnicos nada é mais hostilizado do que a mistificação, isto é, fingir estar incorporado quando não se esta. A mistificação é complicada, porque ela fere o princípio de veracidade. A crença que se tem, dado ao espaço em que se está, e pela moralidade do que se faz naquele momento de que naquele espaço sagrado, ninguém abusaria da fé e da confiança de outrem. Abusar disso é um ato indefensável e de covardia.

Não obstante, a incorporação tem muitos atributos da representação, o que me faz retomar o caráter mágico e sacro do teatro. Entre os gregos e para os gregos o teatro era o espaço do sagrado. As encenações realizadas eram partes dos rituais orficos cujo grande centro era o culto a Dionísio. O teatro em sua essência é uma celebração aos deuses. Era um momento no qual o ser humano deixava de ser quem era para assumir outra identidade, outra persona. Parte dessa celebração esta inserida na missa.

Persona é o nome que era dado à máscara utilizada pelo artista na encenação. É também o nome que utilizamos para falarmos de uma identidade, de um algo que nos apresenta e nos identifica. Aceitamos e até confundimos a personalidade como sendo nossa própria identidade. É similar ao artista que acaba acreditando que é o personagem que encena. E igualmente trágico ao médium que assume as dimensões e personalidade do espírito que incorpora. Tudo isso em cada lócus especifico apresenta problemas e dificuldades aos seus. 

Mas, porque trago tudo isso? Por que a cada momento, acho mais tênue a linha que separa a representação de alguns personagens no palco da mediunidade de incorporação. E não estou falando aqui de mistificação, pelo contrário. Estou falando mesmo de como esses dois espaços que foram separados na sociedade atual parecem compor um mesmo cenário.

Saulo explora essa relação mágica, mística, do teatro. Essa possibilidade de um ser vários, ser muitos, ser tantos e ainda assim, continuar sendo si mesmo. Há personagens de Saulo, encenados por Saulo, que denominamos encenação e representação unicamente por ele se dizer artista e estar no palco. Caso, ele estivesse em um centro, ele estaria “incorporando” ou melhor incorporado. E seria mistificação?

Não creio. E isso é novamente um outro terreno sutil. Em Saulo e em alguns médiuns o espírito não é um ente externo que chega e se aproxima; parece mais um ente interno no qual o ser se avoluma, cresce de dentro para fora, como se de fato, ele estivesse incorporado. De maneira similar as pessoas que não retiram a mascara do que foram ou do que gostariam de ser.

Vendo Saulo eu vi um médium. Sem sombra de dúvidas. Vi uma platéia encantada, que não compreendia a força fabulosa, mágica, encantadora, sagrada que se manifestava ali. Imersos a risadas mediantes falas e trejeitos do ARTISTA, a energia da platéia era transmutada. Permitam-me dizer mais, a energia do Vale do Jequitinhonha e de lugares similares nos quais grande parte da miséria é fruto da indiferença dos governantes, esses lugares recebiam uma revitalização energética. Saulo estava no teatro da Alterosa e também no Vale do Jequitinhonha. Saulo estava nos conectando ao mundo, um mundo que estamos perdendo, que estamos esquecendo, mas um mundo que o artista retoma, nos trás para dentro e o deixa semeado em nós.

Esse mundo é sagrado. Não o mundo em si, mas a operação realizada para que os expectadores sejam transportados até ele. As forças invisíveis que atuam no palco são as mesmas que atuam nos centros. A transmutação energética realizada é formidável e o que o ARTISTA consegue plantar, semear em cada expectador é igualmente esplendoroso.

Saulo é um artista renomado. Quero diferenciar renomado de famoso. Os atores televisivos são famosos. A fama os engole, os envolve, os devora. Não sei se os atores são eles mesmos. Não sei se os atores conseguem avaliar qual persona eles vestem. É nesse sentido que quero registrar a simplicidade de Saulo. Há nele uma pessoa, um ser, que não esta envolvido por uma máscara. Há nele a dimensão humana que os famosos perdem se tornando e se fazendo personagens de si mesmos, alguns até, caricaturas.

Diante dessa espetacularização cada vez maior fico me perguntando: qual o sentido do ARTISTA? O sentido dele esta em não permitir que ele se sinta maior do que a arte que ele faz. Essa simplicidade retoma o teatro no seu sentido clássico: celebração à vida, uma forma de religar(e) os seres. O teatro é a representação da existência. É o palco do existir.

De maneira se nos centros o problema é a mistificação, na arte o problema é a fascinação. Saulo não é um fascinado, um deslumbrado. Saulo não é uma Luana Piovani.