quinta-feira, 8 de setembro de 2016

ALETHEIA: a História perseguindo a verdade.

Eu fico me perguntando: como atingir a verdade? Como saber se estamos de posse dessa senhora linda e casta? Como se ter essa certeza? Sim, porque algumas pessoas a tem. E são convictas dela. Isso é a um só tempo uma beleza e uma temeridade. 

Vejamos alguns casos: Inri Cristo diz ser a reencarnação de Jesus. Agora, um outro apareceu dizendo ser também. Ambos têm convicção, certeza, a beleza da persuasão de que dizem A VERDADE. Na mesma perspectiva do engano, Temer não se acha GOLPISTA. Se acha um eleito, um agraciado pela vontade soberana do povo e das divindades. Entendem a dificuldade da situação?


Os gregos chamavam a verdade de Aletheia, traduzida para o latim Veritas, que será compreendida como VERDADE. Aletheia conjugaria uma relação antônima (a) com Lethe (esquecimento). De modo que Aletheia foi interpretada como desvelamento, Verdade.

Se essa é a interpretação oficial e tradicional do termo, fundo outra baseando-me nos desdobramentos do nome A (partícula de negação), Lethe (esquecimento), Theo (deus/es). Essa composição ‘esquecida’ e ignorada pelos filósofos, ainda que mais tarde venham a falar da clareira como espaço de transcendência, me parece um retorno a essa parte ignorada.


É nesse sentido que Aletheia ganha mais um adendo, algo como- aquela que não se corrompe, que não se perde, que é alimentada pelo fogo divino. Esse fogo (lembrança), registro, impregna os seres de uma certeza, que pode por um lado produzir sombras, ou luz (Alegoria da caverna).


O engraçado e irônico é que os deuses gregos eram humanos, demasiadamente humanos, inclusive no ato de mentir, de enganar.

O que sabemos é que esse fogo divino que alimenta a heurística, a disputa, a certeza de que por se estar certo, obvio e ululante que o outro está errado. Nós vemos esse fogo divino em disputa muitas vezes. Pessoas em posições opostas possuem esse fogo, porque de fato acreditam que estão possuídos pela Verdade. E, como provar que não estejam, não estão?

Para Platão isso se daria por uma exposição matemática, típica entre os geômetras, nas quais a influência dos números (inspiração pitagórica) permitiria a exposição clara da verdade, não na sua simples forma, mas em seu conteúdo. Um triangulo não se faz triangulo, meramente por ter três lados e sim por possuir a 180° na somatória interna de seus ângulos. Isso se faz como diria René Descartes séculos mais tarde- verdade indubitável.
                                Resultado de imagem para geometra platonico
Ok, mas quando não temos elementos racionais tão fortemente claros e aclarados? O que fazemos? Como procedemos? Especificamente, quando um dos lados está mentindo e está cônscio da sua farsa, o que fazer? Mesmo ficando claro que pedalada fiscal é crime, mas não passível de impedimento e cassação de mandato, o que fazer?

Pensemos em Salomão diante das duas mulheres lutando pela posse de uma criança. Sem conseguir uma prova razoável a favor de uma ou outra, o sábio propõe uma ação extrema- cortar a criança ao meio e dar metade a cada uma das antagonistas.
Mas, eis que essa medida aos olhos da mãe é uma lastima. Aos olhos dela a verdade não valia tanto, não era maior do que seu amor e nisso, ela renuncia. Abdica do seu direito de estar certa, para apenas gozar da felicidade de ter seu filho vivo ainda que nos braços de outra.

No outro polo, está a canalha, a de má fé, a sórdida, que aceitaria a metade do filho da outra, apenas para prosseguir no seu intento. Qual intento? O de possuir aquilo que não é dela. O de ter ou de destruir algo que não possui. Essa é a tristeza da mentira, da farsa, do golpe, a usurpação. 

Fato, é que Salomão na sua sabedoria consegue reconhecer na renúncia da mãe o mais alto nível de verdade, o ceder para que a vida ganhe. Essa acaba sendo a lição que o rei nos dá para a posteridade. A renuncia se esconde nos braços da verdade e isso é uma característica que os humanos ensinaram aos deuses. Esses acreditavam possuir o fogo da Aletheia, mesmo quando mentiam e sabiam que mentiam, acreditavam que era algo divino. Como os mentirosos acreditam, piamente, nas suas inverdades e nas suas teias conspiratórias. A renúncia é um atributo humano dos mais transcendentais.

Resultado de imagem para renuncia

Ao longo da história, de todo o percurso histórico, nas contradições obnubiladas na busca pela VERDADE, a renuncia foi o canal da posteridade, a claridade que nos permitiu ver o desnudar das ações e quiçá intenções. A renuncia foi a marca e o sinal de que a vida falava e pulsava naqueles que fizeram e deixaram o fogo arder, mas de uma forma diferente. Valendo-se de outros princípios e formas.
Podemos pensar nos cristãos sendo conduzidos à arena para ser devorados pelos leões. Podemos voltar mais no tempo e ver Jesus se deixando crucificar, ou Sócrates tomando cicuta. Havia neles outra porta de acesso, dado por Aletheia que era a transcendência. Estavam convictos, cientes, de que há uma porta, provavelmente estreita, similar aos portais da cidade por onde os camelos tinham que se despojar de todas mercadorias dos donos para passar, rastejando, para outro lado. Nesse aspecto, a verdade, parece existir e permanecer para além do individuo. A verdade mantem-se e um dia ela liberta, esclarece, clareia.
Pena que é um saco, aguardar esse momento. 

Resultado de imagem para clareira

Por exemplo: Judas o Iscariotes acreditou que no seu beijo de traidor instauraria uma revolta, já que Jesus não aceitaria a morte sem luta.

Pedro, a pedra angular acreditou que no seu ato de cortar as orelhas do centurião, estaria defendendo seu mestre. Ambos, tinham noção do tempo histórico. Acreditavam e queriam fazer história naquele momento, naquele local. Não tinham a menor noção do não tempo, ou do tempo divino, ou da transcendência dos atos heroicos da renuncia. Mas, quem a não ser os sábios possuem esse entendimento?
Sempre queremos e desejamos a ação imediata, intempestiva, com o desfecho sonhado e desejado. Sempre acreditamos que estamos de posse da verdade e sendo assim, precisamos calar, extinguir, aniquilar quem diz o oposto do que falamos.

Penso em Giordano Bruno que morre por suas convicções e penso também em Galileu que de forma, relativamente, sossegada abjura de suas convicções e aguarda a posteridade para comprová-las. Permanece vivo sem com isso ter se martirizado. 

Renuncia a certeza que tinha, convicto de que o tempo histórico lhe faria justiça, mas tendo ciência que não valia a própria vida, tampouco a dos adversários que estavam pios e certos que matar era a melhor medida. A história mostra que os canalhas nunca retrocedem depois que chegam ao poder. Fazem de tudo. De tudo.


É assim, que tentamos compreender o nosso lado, nosso posicionamento, acreditando piamente em nossa certeza; certeza que pretendo refletir de onde vem, como sabemos que estamos certos? Como sabemos que a verdade nos deixou captura-la?

Quer me parecer que algumas vezes é pelo tempo, pelo processo histórico imanente. Quer me parecer que outras vezes é pelo transcendente, por aquilo que escapa ao sangue coagulado do tempo e só se abre quando esse sangue seca, evapora, fluidifica. Vira éter, memoria, imaginário. Interface subjetiva do ser fora do tempo, do ser no não tempo.

Ok, é uma falácia poética para eu sair da história enquanto constructo material, factual e adentrar na história enquanto impregnação imaginária, seja desta ou de outra localidade, seja deste ou de quaisquer outro tempo. Um retorno à clareira, a luminosidade que a História sempre precisa retornar e ser colocada. Faz-se má história enquanto as árvores da floresta estão em pé, as nevoas, ou as bombas de efeito moral ainda não volatizaram no ar. A História precisa de um respiro, da construção do seu espaço (a clareira) para que possa ser analisada.

Perceba que ela é feita em qualquer lugar, por todos, a qualquer tempo. No entanto, sua análise, sua compreensão requer a construção coletiva, individual de se abrir um espaço em meio, envolta desse tempo histórico e analisar, compreender, narrar, descrever, interpretar. Esse cuidado é de fundamental importância.

Resultado de imagem para processo histórico

Se Sócrates foge como desejou Críton não estaríamos falando dele. Se Jesus desce da cruz como queriam seus apóstolos e mostra sua força, não estaríamos falando dele, pelo menos não da mesma forma. 

Os dois apostaram na transcendência que talvez, somente os dois conhecessem e confiavam. E, confiando nos dois,  em seus exemplos e ensinamentos, quer nos parecer, que independente do tempo, do espaço, do lugar, o amor, a tolerância, o respeito, a dignidade à pessoa humana são características que nos aproxima de quem está mais próximo do fogo da Aletheia. A truculência, o deboche, a violência é uma arma, historicamente, muito utilizada por aqueles que não têm parte ou nenhum dos atributos acima. Precisam da força para dobrar, exigir, fazerem-se respeitar, porque não consegue o respeito, a admiração, o carinho que algumas pessoas têm de graça.

Luis Inácio é um líder. Podem prendê-lo, ridicularizá-lo, escorraça-lo. Ninguém tira isso dele. É algo que não se consegue dar a Aécio, a Alkmin, a Bolsonaro. 

Dilminha, não é carismática, está longe disso, mas tem uma fibra moral, uma conduta ética, que causa espanto, assombro, admiração. 




É assustador e admirável ver a menina sentada no júri de exceção, depois de torturada se posicionando de cabeça erguida enquanto os canalhas escondiam os rostos, por que? Não faziam o que acreditavam? O que era certo? Não estavam diante e de posse da verdade? De onde vem a vergonha? Não é Temer um legitimo presidente, porque teme as vaias?

Escrevi tudo isso e não disse nada que de fato desejo, quero e ficara para outro post- que é analisar este cenário numa perspectiva espiritual. Talvez, já ensejando que nem no espiritual conseguimos mais a exposição idealista platônica de ir além da figura e chegarmos na essência das coisas. Caso seja isso, o que de fato não acredito, creio que há mais equívocos de espíritos e de médiuns do que da espiritualidade. Pretendo, novamente pontuar, o risco, o perigo, de acreditar que espíritos estão em condições de analisar a História e o seu processo enquanto ela está em curso, enquanto ela ainda está sendo feita. Isso tem se mostrado para mim temerário. 

No entanto, não vamos nos opor a isso, como já ressaltamos, aqui nesse blog, achamos legitima a manifestação e o posicionamento das pessoas, inclusive médiuns, que são pessoas e não entidades como muitos gostariam. É um posicionamento que no melhor estilo de Voltaire defenderemos até a morte, porém, vamos colocar pontos de interrogação, questionamentos, como pede a boa Filosofia. Como exige os bons historiadores. É o que pretendemos escrever no próximo blog a legitimidade dos espíritos em analisar a História que ainda não fechou suas portas. Espero que consiga a claridade necessária e precisa para ver, observar e narrar com neutralidade. 


Resultado de imagem para fazer história e escrever sobre a história



segunda-feira, 15 de agosto de 2016

OTELO: amor, ciúme e tragédia.



Nós seres humanos somos complexos. Mesmo falando de uma mesma coisa a interpretamos e a sentimos de forma diferente (amor, ciúmes, por exemplo). E sentimos o mesmo por coisas, razões, motivos diferentes e diversos, causando tantas dores, aflições, desencontros. 

Sabe a moça auditiva que se relaciona com o cara material? Ou seja, enquanto ele espera que a moça mostre o seu amor lhe dando coisas, o tocando; ela espera que o cara lhe demonstre amor dizendo. E nenhum dois percebe que ela o toca dizendo eu te amo! Como gostaria de ouvir. E ele a ama lhe dando tudo que ela sonha. Como ele gostaria de ser tocado. 

Os dois se amam, mas constroem um vazio entorno de si mesmos cuja separação é um alívio e uma desilusão. E, eu sempre pergunto as Moiras e aos Poetas que assumem esse lugar de construtores de destinos: por que diabos vocês não colocam como casais pessoas que tem a mesma forma de amar?




E elas respondem com um sorriso nos lábios: colocamos, mas dessas vocês preferem ser amigas. 

Já os poetas, para mesma pergunta dizem sempre emburrados: “porque o romance é só um passatempo do destino. O cerne é aquilo que vivem sem ver. É nisso que acontece o sentido.”



Reza a lenda que "Mondi" havia dito que só pintaria os olhos de sua amada depois de ler a sua alma. Pouco depois de conseguir, ele morre e ela suicida. Por que somos trágicos? Não vou falar da sacanagem que Rodin submeteu Claudel também por ranço trágico e vou parar com os exemplos senão irei expor muitos amigos, a mim também. Mas, já não basta? Já não fizemos arte demais, amor demais? O que mais queremos? Por que não conseguimos amar fora do trágico?


Um amigo chegou para mim em tom de lamento e disse: “não sei o que é ciúme. Nem por objeto, nem por pessoa. Nunca senti ciúmes e isso é uma bosta para os relacionamentos.”

Uma outra amiga nos disse numa mesa de bar: “tenho ciúmes até dos meus amigos. Se é meu amigo, minha amiga, não pode ser mais amiga de ninguém, pode conhecer, mas ser amiga de outra pessoa é uma forma de traição.”

Eu vou escutando sempre atentamente e sempre querendo compreender mais e melhor. E, um dia numa conversa com Lua Nova, quando comecei a desenhar esse texto, ela me mostrou o ciúme. Um sentimento que não tinha, que não visitava, mas que abri um pequeno buraco de fechadura para visualizá-lo. Nossa!! Perturbador.

Ela me fez recordar cenas desmedidas, descontroladas de um passado distante. Cenas patológicas de quem num rompante, num repente, têm os sentidos apoderados por um misto de fúria, de excitação, de raiva, numa intensidade tamanha que o universo todo se reduz a um alvo, a um objetivo. E todos os sentimentos precisam ser ato e enquanto não são não há nada a ser feito, porque todo pensar, todo sentir existe para dar terminalidade a esse pensar-sentir que não finda e roda na cabeça—coração insuportavelmente.




O ciúme é mais perigoso que a morte. Recordo de cenas homéricas desta vida de ver carros de colegas depredados, e como segurar a mulher? Quem ousa tocá-la? Ela fica possuída de uma força, de um tormento, de uma dor, de uma raiva e também de uma culpa que devora, ataca, maltrata, mas sofre e dói. E como a pessoa se liberta disso?

Por que o que eu vi é que o ciumento dói. Na verdade, o ciumento é todo dor. Não há nele uma parte da alma suscetível ao toque. Todo ele é um ser dolorido, onde quer que você o toque, até mesmo por um sopro, pode lhe causar dor. O lado interno do ciúme é essa dor incessante, constante, permanente a martelar na mente do ciumento.
Mas, por que estou falando disso?



É que o ciúme são muitos. E, pessoas como o meu amigo que não sentem ciúmes desestabilizam os parceiros nas relações. Há algo na parceria que se não pede o ciúmes, exige o cuidado, a atenção. Há algo nas relações que se espera do outro um sentimento mínimo de importância, um aceno de mãos, um sorriso, um agrado, uma proteção. Há algo no ciúmes que roda junto com a nossa concepção trágica de amor. E acho que precisamos começar a escrever e a inventar novos roteiros, nem que para isso seja necessário a criação de novos atores e atrizes.

De modo geral, o não ciumento não compreende essa necessidade trágica das relações, essa forma mais doentia de sentir-se amado(a) e isso acaba provocando medidas cada vez mais ousadas e desesperadas da outra pessoa. As medidas passam por um flerte, por um ato falho, por uma troca de olhar, por uma troca de email, por um nudez pelo Messenger, até o ato em si. Tudo isso, toda essa escalada tem o intuito de despertar no outro atenção, cuidado, ciúmes, um sentimento de pertença. Um misero olhar de ciúmes.







Dá para entender isso?











Sair de si mesmo(a) para tentar chegar ao outro? Machucar a si mesma(o) para conseguir de alguma forma tocar o outro, tirar uma expressão do outro, nem que seja de fúria e de dor? Porque o ciúme depois que se espreme é só fúria e dor.

Esse universo tenso entre frustrações, expectativas internas, dores, relacionamentos e decepções externas me parece o segredo da tragédia, me parece o cerne da dramaturgia do maior de todos os dramaturgos da língua portuguesa, Nélson Rodrigues. Que, nessa obsessão em decifrar esse universo maldito dos sentimentos profanos, disse: 


Trair um amor é uma impossibilidade. Mesmo com outra mulher, é o ser amado que estamos possuindo”.

Muitas mulheres jamais compreendem que uma transa pode não ter significado nada. Que o parceiro transou e continua amando, talvez até mais e em alguns casos, o vazio interno do sujeito o levará a transar com muitas mulheres apenas porque ele não pode ter uma, ou tem e não consegue fazer com essa uma, o que lhe dá prazer fazendo com todas. De como essa obsessão pelo ente amado, por essa falta o coloca tragicamente longe e distante de quem ele ama. E, porque ele não ama de outra forma? Por que ela não consegue amar de outro jeito? Talvez por ser trágico.  




Deveria falar mais desse universo tenso, dessas observações que ele desenhou tão bem, mas prefiro ir com Otelo. Mas, um dia retornarei a essa frase.



II OTELO "Acautelai-vos senhor, do ciúme; é um monstro de olhos verdes, que zomba do alimento de que vive”



 Não se conheceu na dramaturgia ser mais ciumento do que Otelo. Mas, a grande questão é que Otelo é mais do que um personagem de ficção. Otelo é um lado nosso, guardado em alguns, a mostra em outros, mas um tipo que se encontra em cada paixão. Onde tem uma paixão há um Otelo em potencial. Foi mais ou menos isso que vi pelo buraco da fechadura.

Quando lemos, vemos a peça de Shakespeare somos conduzidos a ver Iago como um crápula, um ambicioso desvairado, um invejoso e rancoroso. Mas buscando uma interpretação mais psíquica, o que percebo agora é que Iago pode ser compreendido como uma voz interna do próprio Otelo. Iago não teria tanto poder não houvesse tamanho vazio, medo em Otelo.

E aqui é o curioso. Otelo é um vencedor. Otelo é um conquistador. Otelo é temido pela sua bravura, pela sua fúria, mas Otelo tem uma vulnerabilidade que foi explorada por um falso amigo. Uma fragilidade que o levou a ruína.


Como alguém iria supor que por trás de tanta bravura há uma profunda insegurança? Como acreditar que no mais fundo de si mesmo, Otelo desconfiava de tudo o que era, de tudo o que conquistou, especialmente da mulher que lhe ama. Como alguém saberia que quando Otelo se olhava no espelho ele não via o homem temido e respeitado que os outros viam e sim um saltimbanco qualquer, quase um vira-lata do reino? Quem iria supor que por trás de toda auto afirmação de Otelo havia uma inferioridade?

Esse é o trágico, ele também não sabia. Esse é o divertimento dos poetas: nos ensinar a ver de forma enviesada, invertida, aquilo que não veríamos. Rindo da estultice de Otelo ou se enervando com sua sandice, podemos olhar para nós e reconhecer num primeiro momento nosso ciúme.

No entanto, os poetas querem que descubramos, em nós, aquilo que existe em nossa alma, que se alimentada, é capaz de colocar tudo a perder; absolutamente tudo. E, não descobrimos isso vendo Otelo, apenas vivenciando essa personagem, essa tragédia. Mas, para que viver esse enredo até o fim? Por que não alteramos o final?  




Iago sem querer, meio que por acaso, acha uma vulnerabilidade entre aquele ser invencível e imbatível. A voz de Iago consegue alcançar espaços que nenhuma flecha, lança e espada conseguiria.

O assustador é que todos temos essa voz e basta um sopro, um cochicho para que elas comecem a gritar dentro da nossa cabeça de forma incessante- “ela te trai!!! Ele mente!! Está com outra!!!” Alguns vão controlar essa voz. Não darão crédito a elas. Já em outros(as) essas vozes vão se apoderar da mente, do corpo, dos atos, da vontade, dos desejos. Essas vozes irão enlouquecer a pessoa e quem está perto. Para os poetas e as Moiras, Iago é um fantasma que ronda nossos destinos. Uma voz que grita as razões e os motivos de não confiarmos no fato que o outro nos ama. 

Yago foi esse sopro, essa voz externa que alimentou o fogo corrosivo e putrefato que Otelo já tinha. Mas, de onde vem essa energia? Pelo menos no caso da relação entre Otelo e Desdemona? De onde vem a energia do ciúme? 


Se de alguma forma falamos da energia do ciúme, como é a energia do ciumento?

O ciúme é uma energia que ronda as relações, paira no ar. Já o ciumento é aquele que incorpora a energia do ciúme. Ele(a), os dois, dão a ela contornos, formas, relações que temperam, apimentam, azedam, borram de sangue várias vidas. É essa relação do ciumento e da vítima do ciúme que tocaremos abaixo, porque esse é o trágico. Um circulo vicioso, viciante, que ao ficar doentio coloca tudo a perder, inclusive a Si mesmo. 



III- DENTRO DO TRÁGICO

Da mesma forma que não se viu ser mais ciumento que Otelo, também não se viu alguém tão fácil de ser manipulado. Talvez pelo ciúme ser o mais veemente dos instintos, ele favoreça tanto a manipulação por um terceiro que capta esse medo, essa angústia, essa paranoia de ser preterido, de ser trocado, de ser esquecido; ser traído.


Em verdade, ciúme, medo de abandono, o pavor de ser traído, trocado, zombado, passado para trás, não se desassociam. O ciúme é tão doentio e tão feio, porque ele na verdade são muitos instintos e sensações juntas. A maioria delas tão primárias, tão irascíveis que dominam os seres, apoderam deles, os torna um bicho, uma fera. O ciumento está aquém da razão. Está um passo fora da humanidade na medida em que caminha para violência e não consegue desenhar nenhuma possibilidade fora dela. O ciumento é toda barbárie em si mesmo. Ele trás toda a horda em si. Toda vontade de acabar com o que sente, extinguindo o outro. Todo desejo de controle, de posse, de domínio.

O ciumento deseja um desejo que o transcende e a falta do mesmo o alija, o deixa tão vazio, que o outro não é alteridade, é parte dele amputada, mutilada. O ciúme envenena a alma.




No seu nível primário o ciúme atrela-se a posse, a propriedade, consequentemente ao apego. O outro é tido como uma extensão dele, e a aproximação, a tentativa de recusa desse outro lhe dói na alma. Quando o ser amado diz não, para o ciumento é similar a parte do corpo dele que não mais lhe obedece. 




Imagina sua mão com vida própria? Como conviver com isso? Como tolerar isso?

Assim, entramos num segundo nível dessa energia, a perda, o abandono. O ciumento, a ciumenta tem medo da perda, desse vazio insuportável do abandono. Afinal, como que o outro, ainda que por amor, aceita renunciar-se? Uma coisa é a sua mão direita que faz parte do seu corpo, outra é a mão direita de outra pessoa que pertence a outro corpo. O ciumento num processo de identificação passa a acreditar que não apenas a mão do outro(a) é dele, como também os desejos, as vontades, os sonhos dessa mão e sobre essa mão. E, sim, o ciumento tenta se apoderar de tudo, porque ele deseja um controle. 

O terceiro nível, como não poderia deixar de ser diferente é a conjunção de ambos: a necessidade de controle, que configura a neura que sai do espaço mental, das vozes internas que assombram os medos internos para ganhar ações desmedidas, descabidas, incontroláveis no mundo externo.

Falo da transformação do outro em mero objeto. O outro, a outra é transformada em uma parte decorativa dessas vozes, desses fantasmas que não sabem lidar com a rejeição, com o abandono, com o vazio. O outro some, desaparece já que está incorporado a ele. Não há outro e sim parte dele que teima em ter vida própria, existência própria, até que não tenha. Até que não vendo possibilidade nenhuma de incorporar esse ser dentro de si mesmo, a não ser provocando a submissão absoluta, a negação absoluta do si mesmo (a), que existe no outro; mata-se.

Em resumo, o ciumento sofre e faz sofrer, porque transforma o outro em sua propriedade, em uma projeção dos seus espaços mentais nos quais nenhum outro(a) deveria entrar e ocupar. 

Nenhum ser foi criado para ter sua existência tragada, absorvida e devorada pelo ser de outra pessoa.

Sei que isso é o que buscam os poetas: criação de seres que existem apenas em suas cabeças, com o intuito de fazer o que desejam e esperam. Mas, a vida não é uma ficção. Ou é?




Otelo envenenado pela própria mente era levado por Yago a cometer os atos mais impensados, a ter as piores inclinações. Ele não enxergava mais Desdemona, ele não conseguia vê-la. Diante dele estava a imagem da dor, do seu tormento. Mas, a questão que me ocorre é: por que continuamos a escrever, atuar, criar esse roteiro? Por que acreditamos que o amor é drama e tragédia?

ATO FINAL

Todos nós temos casos, ouvimos casos que sabemos como acaba. Não há uma virgula nova, não há um sorriso novo, mas afinal, por que continuamos acreditando que o amor é a maior tragédia que possa nos acometer? Pode-se escolher amar? Teríamos em nós essa capacidade de amar somente a quem nos ama? Algo como um botão de liga e desliga? É o amor de fato um destino? Podemos não amar? Rir do Cupido e das suas flechadas? 

Talvez não. Nem deveríamos cogitar fugir dessas perguntas, numa tentativa inaudita de se fugir da nossa predestinação: nascemos para amar. Cônscios desse nascimento, deveríamos receber o amor e acolhe-lo como o grande presente e o grande sentido. Acolher o amor como um ser que nos leva a transcender a nós mesmos e por vezes o além de nós. 




O que precisamos é iniciar um movimento interno no qual o amor guarde o lugar de algo que nos remeta à Felicidade, nos remeta mais ao autoconhecimento do que a posse do outro, mais a satisfação intersubjetiva do que ao vazio da perda. 

Penso que está na hora de criarmos outros roteiros nos quais os amores são possíveis sem drama, sem tragédia. Roteiros nos quais cada dois compreenda sua forma de dizer eu te amo e esteja disposto(a) a falar outras tantas. E no roçar de línguas, criem novas linguagens, que falam de novos amores, de novos heróis, de novas musas e heroínas. Amores possíveis como um beijo na boca.





quarta-feira, 20 de julho de 2016

SATURNO: o céu de um Novo Tempo. O tempo de um novo céu.





Essa cabra é o símbolo de capricórnio. Signo regido pelo planeta Saturno. É comum observamos essa cabra no alto de um monte, lá em cima, solitária, olhando para baixo, envaidecida de ter subido tão alto. Esse símbolo nos será importante para compreendermos muito do que vamos escrever.  

Semanas atrás, dentro do carro, ouvindo a Whitney Houston cantando: "I Will Always Love You" clássico do filme Guardas Costas me veio a ideia: para onde se vai depois que se chega no topo?

Pareceu-me a coisa mais natural do mundo, a queda, a descida. Depois que se alcança aquele nível de excelência, por mais que se mantenha,  que se estabilize, uma hora é necessário descer, ou simplesmente cair, ou quiçá ser empurrado do topo. E, não nos preparamos para a descida. De forma fantástica e formidável acreditamos que permanecermos na crista, no topo por toda a vida, isso é uma temeridade. O mais lógico seria quando alcançarmos o topo, já nos preparamos para a descida, mas muito longe disso.  

Recordo um ditado popular que dizia: “por mais alto que um pássaro voe, ele sempre retorna ao solo para se alimentar.”

Nada mais longe de um capricorniano do que um pássaro. E, nada mais distante para eles do que tirar os pés do chão. Capricornianos são engenheiros que sedimentam o futuro. Pássaros são aquarianos que voam. Capricornianos são engenheiros que criam o ar. Quero dizer que eles acreditam nos seus sonhos, vão em busca deles, mas não se jogam de cabeça, nem saltam, nem caem de paraquedas, eles sedimentam, constroem, alicerçam, estruturam cada passo para chegarem onde desejam. E, sim, eles sempre desejam o topo, o lugar mais alto. No entanto, o que vem depois do topo? O que há depois do céu? 

É a partir de agora que eu vos chamo para lerem com atenção, com carinho, com cuidado. Se em algum momento eu for rápido demais, é que só sei caminhar voando e nem sempre consigo amarrar um pensamento ao outro. Nem sempre consigo explicar que antes de saltar do nada para a utopia, meus pés estavam firmes e seguros numa cabeça de alfinete, ou numa nuvem esvoaçante. De todo modo, paciência, vão sentindo ao ler. 

Caso esteja certo, temos um novo céu a nossa disposição. Caso esta hipótese seja verdadeira, temos um novo playground no universo.


1os PASSOS: 

Na antiga e saudosa lista numerologia pitagórica do mestre Yub, eu gostava de dizer brincando, ou nem tanto, que minha astrologia era árabe, medieval, fatalista e determinista, rsrsr. Em uma oposição irônica as interpretações mais psíquicas, psicológicas da astrologia, muito bem realizadas e fundamentadas pelas colegas de lista.

De modo geral, gostava dessa visada por minha interpretação astrológica ser muito karmica. Adoro os nodos e Saturno, sendo que é desse planeta que vou focar. Vou falar a partir da leitura de dois mapas que realizei num intervalo de um mês, coisa rara, porque não sou astrólogo, mas sou metido a falar dos astros e das suas vontades para os humanos, rsrsr.

Na leitura de um, passou um amigo espiritual que fez uma interpretação que eu gostei demais e tento aqui reproduzir, abrir diálogo. Vem comigo:

I

Saturno foi compreendido por séculos como sendo um planeta pesado, denso. Um planeta que mal aspectado no mapa decretaria a ruína, conflitos, sabotagens na vida do nativo. Ao inverso de Júpiter que traria boa sorte e bons agouros, Saturno representaria as dificuldades, as calamidades. Na astrologia karmica, as dificuldades se avolumam ainda mais, pois indicaria áreas e setores na vida na qual abusamos, excedemos. De modo que Saturno representaria os limites, demarcados pela prisão no tempo. Saturno é Cronos, o tempo. Aquele ser impiedoso e faminto que engole seus filhos, menos Júpiter/Zeus. A relação de ambos é digna de estudo e aprofundamento.

Aos poucos novas interpretações e significados foram sendo dados a Saturno. Se por um lado é indubitável que ele demarca as dificuldades, os medos, os transtornos, os abusos; por outro ele é o mestre que libera nossos potenciais para usarmos com mais assertividade e responsabilidade. Ou seja, Saturno como o senhor do tempo, trancaria em si, potenciais nossos, que de alguma forma, por algum motivo, a gente exagerou, excedeu, transpassou os limites, esbanjou (Júpiter). Nessa temática atual, nosso Saturno representaria a área, o espaço, o locus no qual precisamos aprender a lidar melhor com isso. E a forma com que Saturno nos ensina é inicialmente pela escassez, pela aridez, pela efeméride do tempo. Não adianta correr, não adianta brigar, não adianta espernear. Esses potenciais só são liberados depois de 27/35 anos. Todo esse período é de aprendizagem, controle.

2os PASSOS

Temos que ir agora para astronomia. Em verdade, astrologia e astronomia compõem o que esse amigo chamou de CIÊNCIA DOS ASTROS.


A ciência dos astros é o entendimento da dinâmica sideral nos seus ritmos, ciclos, significados e sentidos simbólicos-existenciais. É a compreensão do Cosmos, do Universo como um ente orgânico e não meramente mecânico, causal. No  entendimento deles uma concepção do universo como entidade mecânica é um desconhecimento das relações não causais do mesmo universo, mas isso é outra história.

O fato é que da Terra, a olho nu, Saturno é o último planeta a ser visto. Nessa significação, ele representa o limite, já que depois dele não haveria ‘mais nada’ (visto). As descobertas de Urano, Netuno e Plutão virão apenas mais tarde, bem mais tarde. De forma que Saturno marca os limites de um céu. Um céu que não íamos além. Um céu que não tínhamos condição de ultrapassagem. Esse limite astronômico refletia nos limites existenciais de cada um de nós e agora é que entro na viagem.

Vem comigo, estamos quase chegando ao topo da colina:


III


Saturno é o tempo, para muitos o karma. Na astrologia árabe, fatalista, medieval éramos capazes de ao olhar para Saturno no mapa descrevermos um reino, um reinado, uma pessoa. Ninguém escapava de Saturno. Mesmo, porque os estamentos sociais eram mais rígidos, mais fixos, mais permanentes. Quem nasceu camponês morria camponês. Quem tinha o pai como alfaiate seria alfaiate. As possibilidades de mudança e alteração do destino (Saturno) eram poucas, quase nenhuma.

Tudo isso simplificava as predições. Conhecendo a posição de Saturno no céu e as condições sociais do sujeito na Terra éramos capazes de situá-lo no tempo e no espaço. A astrologia podia dar ao luxo de ser determinista e fatalista.

Hoje, isso é absolutamente fluido. Não temos como determinar a vida de ninguém, pelo contrário, a astrologia nos dá apenas mecanismos de entendimento para assinalarmos como a pessoa irá vivenciar, explorar as posições no seu mapa. Aquelas leituras fixas e categoriais que pré-determinavam o lugar do ser no cosmos, hoje se faz impraticável, já que esse Cosmos abriu um novo céu, com campos abertos para uma leitura interior. Na fatalidade determinista medieval, não há um sujeito capaz de escolher. O meio escolhe e determina o lugar do sujeito. Nesse novo céu que já foi aberto e vivenciamos como sendo natural e tranquilo, mas deixaria um astrólogo medieval aflito e alucinado, a vontade dos sujeitos, a consciência dos sujeitos pode alterar completamente seu destino (Saturno).




Sendo assim, nesse novo campo, nenhuma demarcação é precisa, porque os leques sociais ampliaram. Ter nascido numa cidade não te limita a ela. Ter nascido macho ou fêmea não determina sua manifestação libidinal por pessoas do mesmo sexo, do sexo oposto, ou por ambas. Ter nascido de pais ricos não decretam que será milionário e menos ainda ter nascido de pais iletrados, que você nunca se alfabetizará, ou não será um acadêmico. Os leques de possibilidades ampliaram demais e ampliam mais a cada dia. Os sujeitos passam a ser determinantes no posicionamento astrológico. Kant filósofo alemão do século XVIII nos fala da sua revolução copernicana, a saber, Kant  no que tange a relação sujeitos-objetos retira os mesmos do centro colocando o sujeito e com isso como o mundo lhe parece- fenomenologia. 

Numa analogia a astrologia psíquica retira os astros do centro do mapa e colocam os sujeitos, isto é, como que ele vivencia o seu mapa. Agora estamos descortinando um modelo no qual busca uma interação entre a consciência dos sujeitos e a ativação dos seus posicionamentos. Enfim...




Gosto de ressaltar que em meu tempo de estudante havia poucas engenharias: civil, elétrica, eletrônica. Hoje temos dezenas de engenharias para falar de um único campo. Os saberes, as existências se ampliaram, abriram, cresceram. Os leques de possibilidade são maiores. Esse não é um movimento apenas social, epistemológico, econômico. É também energético-espiritual com desdobramentos que nos assustam.


Desde os anos de 1990 os amigos espirituais tem nos falado de uma aceleração temporal, hoje também medida pelo efeito Schumann. Essa aceleração atrela um binômio que trabalhamos pouco, que exploramos pouco: tempo-consciência.

https://portal2013br.wordpress.com/2015/04/17/o-que-e-a-ressonancia-schumann-e-como-vai-nos-afetar-a-mudanca-dos-polos/


Para muitos seres tempo é consciência e consciência é tempo. É no tempo que a consciência se desdobra, se manifesta, se realiza, se plenifica. E, astrologicamente, num primeiro momento, quando estamos falando de tempo, estamos falando de Saturno. Mas, o que estamos querendo deixar cada vez mais claro é que quando estamos falando de Saturno no mapa astrológico estamos falando de consciência.

Consciência de limite e transcendência. Consciência de fechamento e abertura. Consciência de morte e renascimento. Num primeiro momento, estamos falando de Netuno, Urano e Plutão. Estamos falando que Saturno o limite visível do céu, nos abre para um novo espaço, um novo entendimento, um novo Cosmos. E tudo isso é feito no mesmo corpo, numa mesma vida.




3os PASSOS

Quando mapeamos Saturno no mapa, ele indica uma programação a ser realizada ao longo de uma existência. Todos os aspectos do mapa indicam aprendizados em áreas, setores que realizaríamos em uma vida. No entanto, estamos realizando o potencial de uma vida, cada vez mais rápido (consciência). Estamos exaurindo os exercícios de Saturno em seu primeiro ciclo, aquele que nas gerações anteriores serviam de esteio, de aprendizagem. De repente, cada vez mais, temos pessoas que já superaram os seus demarcadores, que já transcenderam os seus obstáculos e agora, fazem o que?

A maioria chora, esperneia, se revolta, se paralisam querendo a vida deles(as) de antes. Não aceitam essa mudança. Querem permanecer em suas antigas vidas, o que é uma impossibilidade sideral. E, com isso estamos fazendo o convite:


  • ·        se você se separou, abrace o seu novo amor;
  • ·        se você perdeu o emprego, abrace sua nova profissão;
  • ·        De fato você morreu, mas não perdeu seu corpo.
·         
Todavia, sua vida de fato acabou e está lhe sendo dada a possibilidade de viver uma nova existência, numa mesma vida. Não apenas uma, como várias e isso os amigos espirituais nos tem dito há muitos anos. Os amigos espirituais nos explicam que estamos vivendo mais de uma encarnação numa mesma vida.


Mais precisamente, aquelas programações que fazíamos para uma vida, aí desencarnávamos e fazíamos outra, estão acontecendo numa mesma vida. A gente está morrendo e nem percebe que mudamos. Claro que isso gera transtorno, desconforto, depressão, o que nos levaria a falar de Plutão e Netuno, mas deixo para outro momento. Agora acho importante frisar, que estamos morrendo e nascendo no mesmo corpo. Estamos vivendo vidas sucessivas numa mesma vida e os exemplos seriam.

Numa programação existencial normal, a gente encontra uma parceira karmica, no máximo duas para ter um drama, opta por uma e segue a vida. Nessa, estamos encontrando três, quatro. É cada vez mais comum pessoas se separarem, casarem de novo e serem felizes, cada vez mais felizes. É mais comum ainda a união, a parceria e a amizade que se desenvolve nesses relacionamentos onde esses casais convivem, os filhos convivem, proporcionando um novo rearranjo, um novo céu.
Agora posso tocar o ponto que desejo.

IV


Nunca pensei que fosse possível observar esses movimentos pelo posicionamento de Saturno no mapa, mas tive a felicidade de ver em dois.

No primeiro tratava-se de um Saturno na casa 10 em conjunção com Sol, Mercúrio, Marte e Júpiter, sendo que esses dois últimos estão na cúspide com sagitário. O outro se tratava de um Saturno na casa 9 em conjunção com Júpiter e  Plutão. Enquanto lia o Saturno da primeira partilhante, as dificuldades, as superações, ela deixava claro que já tinha vivenciado tudo aquilo. 

Essa percepção começou, porque eu não a encontrava no seu espectro solar. Eu a via com uma energia muito mais forte do ascendente do que do signo solar. Desenvolvendo a conversa, falei para ela das possibilidades incalculáveis daquele Saturno e ela me disse: “já aconteceu tudo isso comigo. Já ganhei prêmios internacionais, já trabalhei em grandes empresas nacionais e multinacionais.” Ela já tinha exaurido Saturno. E, quando a conheço, ela estava em depressão devido a uma crise financeira e também existencial. 

Capricornianos podem entrar em diversas crises, mas não por falta de planejamento. E, ela alega não ter visto a crise do seu empreendimento econômico. Foi acreditando que daria; uma fala altamente pisciana, seu ascendente. Mais especificamente, ela falava de uma visão obnubilida, netuniana, otimista e míope da realidade, muito contrária a visão capricorniana do seu signo solar. 

O fato é que onde ela obteve sucesso, reconhecimento, mérito, ela não tem mais saco, vontade, tesão para trabalhar. Ela morreu, mas continua viva, com toda habilidade e competência para inventar um novo futuro. Só que tem 50 anos e não nos preparam para isso. Re-começar uma vida com 50 anos, 45 anos, pelo contrário até.  




Recomeçar aos 27 como é o caso que irei contar é uma coisa. Ter folego para começar algo aos 50 não é fácil, mas milhares de pessoas estão enfrentando isso. Milhares de pessoas estão sendo convidadas a dar um significado a existência. Um significado real. Um significado que faça sentido para si mesma(o), para os outros, para o todo. Essas pessoas estão buscando respostas, caminhos, alternativas. Outras estão em depressão e não veem solução, caminho, resposta, sentido.

E, o que compreendo e quero dizer que tudo isso é melhor agora, enquanto ainda tem um corpo do que daqui a alguns anos quando o perderem. Essa depressão é muito similar ao sentimento de post morte que alguns desencarnados relatam e que a música do Titãs: Epitáfio traduz muito bem. 




E, como a gente se recupera desse bode? Programando uma outra vida, na qual a gente não vai desperdiçar as mesmas chances, as mesmas oportunidades. Então.... mãos a obras. Bora, pensar, planejar o que farão de suas vidas nos próximos anos, nas próximas décadas. 


Já a outra, me dizia: “com 27 anos eu mudei, eu morri. Eu sou outra pessoa.” Essa moça afirmava que morreria aos 27 anos e acabou que morreu mesmo. Ela não tem a menor dúvida em afirmar que é outra pessoa e uma pessoa muito melhor, porque ela era muito má. Essa tem Saturno em conjunção com Plutão na casa 9. E, a consciência de transformação dela, o lidar dela com a própria sombra é sensacional, fabuloso. Ela brinca também que vai morrer aos 54 anos, muito próximo de mais um ciclo completo de Saturno na sua vida, aspectando o seu Plutão.

Energeticamente, é fabuloso você conseguir mapear no mapa, em algo mais sólido e palpável, mais intersubjetivo que estamos vivendo mais de uma existência numa única vida. Falo isso, reproduzo essa ideia que recebi dos amigos espirituais a décadas e ninguém dá atenção. Agora estou pedindo aos astrólogos se eles tem mapeado, verificado isso também?

FINALIZANDO: o novo topo

O que tudo isso me suscita, a partir da fala do amigo espiritual é que estamos indo além de Saturno. Estamos desenhando um novo céu, uma nova Terra. Nós empurramos os limites de Saturno e o ultrapassamos enquanto habitantes terráqueos do sistema Terra-sideral. Na concepção desse amigo, toda programação karmica era feita para se alcançar Saturno. Alcançado Saturno, morria-se, desencarnava-se. Hoje, os limites internos de Saturno são alcançados mais rápidos. Essa moça que tem Saturno na 10 vivenciou o seu mapa completamente até os 40 anos. Empurrou com a barriga por mais 4, 5 anos, mas não deu mais conta. Mudou de profissão, o casamento já tinha terminado crises antes. Mas, observávamos que a crise depressiva, a morte, era mesmo oriunda de uma dificuldade de se adaptar para seguir depois do fim. Afinal, o que se faz quando acaba?

Isso ainda não foi ensinado, porque, praticamente, os nascidos da década de 1960 são os primeiros a vivenciarem essa transição consciencial no mesmo corpo. Recordo de Paulo Coelho falando numa entrevista na década de 1980 que a geração deles tinha revolucionado a juventude e iriam revolucionar a velhice. É cada vez mais verdade. Em todos os aspectos e sentidos.

Saturno, o planeta que representava a limitação, agora nos apresenta como sendo a abertura para um novo céu, para novas possibilidades. Assim, se serve de alento, as crises, as dores, as mudanças, não são o fim e sim o inicio de uma nova jornada, de uma nova conquista. É o inicio de uma nova jornada no tempo e no espaço com um alto grau de consciência. 



Bem vindos ao tédio e a exuberância da eternidade. Acredito que o ciclo irá se fechar, quando nascermos lembrando que não terminou. Nós somos!!! E estamos tendo a oportunidade de integrarmos isso agora. Cada um de nós com seu Saturno e capricórnio no mapa somos convidados a sedimentar um novo céu, a criar um novo tempo. Mãos as obras!!!

Finalizo deixando o poeta: RECOMEÇAR.

O melhor é encontrá-lo enquanto poema, sem som, sem imagem motivacional. Apenas letra que penetra a alma, calma que motiva e incentiva o coração bater mais forte. Como acredito que possam estar cansados de ler coloco em vídeo. Bjs grandes e aquelas(es) que estiverem vivenciando esse processo, RECOMECEM.