sexta-feira, 23 de março de 2018

TEOLOGIA DA PROSPERIDADE: a miséria espiritual.

Seria fácil falar da teologia da prosperidade numa perspectiva meramente religiosa. Gostaria de reduzi-la a esse nicho, apontar uma meia dúzia de igrejas, uma dezena de pastores e aclarar o que pretendo expor. Porém, é algo mais árduo, mais demorado, menos específico. O que pretendo denominar como Teologia da Prosperidade diz respeito a um conjunto de ensinamentos que se baseando numa concepção distorcida do sentido da gratidão, produzem sensação de fracasso, miséria moral e espiritual ao invés de dar solução. Preciso que venham comigo.

I- 


Há energia mais graciosa do que a GRAÇA? Há atributo mais abundante do que a GRATIDÃO? Eu lhes respondo, não há. Tudo que somos emana da Graça e tudo o que podemos ter e somos é fruto da Gratidão.
Esse pulsar preenche a existência. O que somos, o que podemos ser é fruto dessa relação. Posto isto a pergunta que se segue é: pode-se ensinar sobre a GRAÇA? Pode-se tornar alguém grato a Deus, à vida, ao outro? Provavelmente não, e isso é o início da miséria e das falácias que cercam essas palavras. Então, quando falamos de graça e gratidão conjuntamente estamos falando de FELICIDADE, PLENITUDE, PROSPERIDADE, RIQUEZA. Na tradição cristã há três símbolos que representam isso: Pedro, a rocha. Jesus, o Cristo. Maria de Magdala, a "amaldiçoada".

Pedro era um pescador. Era feliz dentro do seu mundo, pescando no lago de Cafarnaum. Tinha o necessário para viver. Não passava fome, tinha um teto, tinha família, possuía amigos. Pedro era rico, mais a frente vou aclarar o sentido de riqueza. Um dia, ele conhece Jesus. Este nasceu em uma manjedoura. Dele mesmo pelo que se sabe não tinha nada, talvez a carpintaria do pai em Nazaré. Mais nada. Não tinha duas túnicas, ou duas sandálias. Não tinha um travesseiro para repousar a cabeça. Não se fala dele com moedas no bolso. Dele mesmo, ele tinha o corpo, porque até a vontade ele atribuía a Deus, seu pai. 


Alguém ousa chama-lo de pobre? Alguém? Mas, economicamente ele era e isso nunca lhe importunou. Jamais foi ao templo orar pedindo dinheiro para o seu Pai que ele ensinou ser nosso também. Não se tem relatos dele organizando campanhas de doações para aumentar o tamanho dos templos. Não se tem notícias de que os que se aproximavam dele eram levados a fazer ofertas e apostas contra Deus para ele lhes honrar. Não obstante, conta-se que quando parou certa vez para ver as pessoas indo ao templo, chamou atenção para uma pobre viúva que dava parcas moedas e nos ensinou dizendo algo como: ela dá daquilo que ira lhe fazer falta, os outros tiram de onde há muito mais.” 

Sim, para o Neymar dar cem mil reais é muito, mas é pouco. Um assalariado dar 900 reais é pouco, mas é tudo. Em todo Novo Testamento a ideia de riqueza é outra. A riqueza no novo testamento não é a ostentação, a exibição pública, pelo contrário, são os atos internos, silenciosos, de completa cumplicidade entre o sujeito e Deus. Riqueza no novo testamento é o crescimento dessa relação intima com Deus sem mediadores, sem platéia. É assim que pode-se ver a passagem da viúva, é assim que pode-se ler os pedidos que Jesus fazia para que os curados não comentassem nada para ninguém. É assim que ele pode dizer: " Dai a Cesar o que é de Cesar. E em outro momento: "atire a primeira pedra quem nunca pecou." 


Em cada um desses ensinamentos, ele está ensinando sobre um tesouro onde as traças não roem. Ele está falando de uma riqueza imperceptível aos homens daquela e da nossa época. Tanto lá quanto cá compreende-se como riqueza as roupas de Salomão e os palácios que ele edificou, porém Jesus nos falava dos lírios do campo. Antes dele alguém tinha visto beleza nos lírios do campo? 

Pois bem, os adeptos da teologia da prosperidade captam a essência prospera de Jesus, mas o transforma em miserável quando constroem esse discurso de conquista, cobiça, querer, desejar, ostentar em detrimento de ser.  

Esse homem pobre, até mesmo se comparado a Pedro que tinha barco, casa, desvelou um mundo que Pedro pôde ver o seu tamanho. Pedro poderia ter morrido sem conhecer esse universo que Jesus lhe possibilitou. E ele seria sem esse conhecimento, porém quando conhece, ele ganha uma riqueza que o eleva e o posiciona como SER na melhor acepção da palavra. É sem dúvida um dos encontros mais lindos da Bíblia, porque aquele estranho de olhar doce o persuade a voltar ao mar. Segundo alguns faz mais: entra na embarcação e no alto do lago diz a Pedro: “joga as redes!” Pedro um teimoso, um orgulhoso, um vaidoso se nega e deve ter jogado com muita resistência. Talvez tenha jogado só com a intenção de provar que não havia peixes e humilhar aquele estranho atrevido que tentava lhe dar 'ordens'. 


Mas, depois de jogar a rede, depois de ter sido acolhido por aquele olhar, Pedro não seria mais o mesmo. Ele não sabia, não tinha como saber. Tirando a vez em que Krishna foi estreitar diálogo com Arjuna em pleno campo de batalha nunca mais na Terra tivera um encontro e um diálogo como aquele. Pedro, fica sem chão, sem referência quando ao arrastar a rede há centenas de peixes. Fica estarrecido quando o estranho lhe diz que ele não pescaria mais peixes e sim homens.

Pedro foi pescado, fora fisgado. Ele não sabia. Pedro podia ficar sem peixe mais uns dias, mais alguns meses. Isso fazia parte do mundo que ele habitava. Ele compreendia aquela natureza, aquele universo. Pedro conhecia aquele lago, aquele barro, aquele solo com cheiro de Mediterrâneo. Mas, o que ele tinha visto, ouvido, ele nunca ouvira falar. Aquilo que ele veio a conhecer e a ser, ele não imaginava. E como se paga isso? Como se retribui a GRAÇA? 

Pedro era apenas mais um pescador de Cafarnaum, por que ele? Por que um ser daquele tamanho, com aquela magnitude o escolhe? E, o escolhendo como ele pode retribuir? Como ele pode pagar? 

Não se tem outra possibilidade senão servindo. Pedro saiu da riqueza material para a riqueza espiritual. O pescador fisgado iria aprender a fisgar almas e quando ele acha que domina esse oficio, quando ele acha que é o especial, quando ele acha que pode ser o dono da GRAÇA, eis que Jesus, o seu amigo, o seu herói, o seu tudo, lhe olha no momento mais doloroso e angustiante da existência e lhe diz num tom que se saísse da boca de outro poderíamos pensar se tratar de raiva, mas era de alerta contra a soberba e a vaidade de Pedro, de cada um de nós: “antes que o galo cante, você ira me negar três vezes!!!”



Foi uma bomba no coração de Pedro. Ele que não era o mais esperto, nem o mais inteligente, nem o mais sensível entre os apóstolos, mas era o mais fiel. Acreditava ser o mais fiel. Ser acusado de traição, de traidor? Ele que deixara tudo para seguir o seu mestre e agora estava em Jerusalém, longe de casa, da própria vida. Doeu. Magoou, feriu. Mas, o mestre precisava alertá-lo. E quando o galo cantou e ele havia negado Jesus por três vezes, a decepção dele para com ele mesmo foi imensa, enorme. Onde um orgulhoso esconde seu fracasso? Em quem ele poderia lançar a culpa? Se não tivesse sido advertido pelo seu mestre, amigo, jamais se recuperaria. Jamais. A advertência foi a salvação psíquica dele. E, quando os dois se reencontram, Jesus lhe pergunta: “Pedro, filho de Jonas, você me ama? Apascenta as minhas ovelhas.” Ele repete a pergunta três vezes. Era fundamental ele afirmar esse amor três vezes. 
E gravado no coração, na alma, Pedro se torna o representante da Graça, o que ele liga na Terra está ligado no céu e o que ele liga no céu está ligado na Terra. Isso é PROSPERIDADE.



II- 

É estranho não reconhecermos o lado simbólico dessas representações. Mais estranho é não compreendermos o lado concreto dessas situações. E por ignorarmos isso somos confundidos, somos enganados, somos manipulados.

Para os judeus não há Messiah que não seja rei, ou seja, não há poder temporal sem poder espiritual. Por isso esperam ainda por um Messias, Jesus na concepção deles é apenas um profeta. Seria o enviado se tivesse lutado contra os romanos e garantido um poder de orgulho, ostentação e temor. Se tivesse livrado Israel do julgo romano seria o messias deles. Esse é o papel temporão, esse é o papel dos humanos que talvez coubesse a Jesus não fosse ele o Cristo. Esse é o diferencial entre os profetas, os reis, os que batizavam com água. Ele trás o fogo divino, nele o pai, ele e essa presença divina se fazem um. 


Ele se negou a fazer esse papel. Afirmou que o reino dele era de outro mundo. Tentou nos mostrar que essa luta não finda, não termina, precisamos de consciência. Uma consciência capaz de compreender que as dualidades são dois lados de uma mesma moeda. Energia.
Então, 'dinheiro é bom sim se essa é a pergunta'! Ter dinheiro e ser rico não é pecado, pelo contrário, porém isso é muito diferente de buscar a Deus para ter casa, carro, Smartfone. Transformar o evangelho nisso é de uma pobreza miserável descabível. Apenas miseráveis conseguem transformar a riqueza em teologia da prosperidade como estão fazendo. E fazem na música, no esporte, nos aconselhamentos, nos coach. Ficam ensinando a miséria e o pior é que ensinam isso roubando a riqueza das pessoas.

Pedro era rico, sempre foi. Não podia deixar de ser. Quando, ele conheceu Jesus, ele passou a ter riqueza material e espiritual. Pedro foi a lugares que nunca sonhou, esteve com pessoas que nunca imaginou que existia. Viu coisas que marcam a alma dele para o resto da existência. Mas, se Pedro estivesse no século XXI seria convencido de que era pobre. Seria convencido a achar que o universo devia alguma coisa a ele, que as pessoas devem alguma coisa a ele; por ele ser filho de Deus ele não pode aceitar a casa que ele tem, o barco que ele tinha. Ele tem que QUERER mais, DESEJAR mais, CONSEGUIR mais, porque só assim ele honra Jesus, ele honra DEUS. Pedro seria transformado em um miserável. Sentiria-se derrotado, porque as ambições dele não seriam atendidas, ou seja, ele não compreenderia que elas não são atendidas, justamente para que ele não perca o que há de divino e prospero nele. 



III
Quem promove esse discurso sabendo o que ele é, não serve a Cristo. Serve a outras forças. Percebam que Pedro melhorou a vida dele e isso é lindo. Entendam que você deve e pode melhorar a sua vida, a dos seus amigos, irmãos, pais, familiares, conhecidos. Entenda que essa melhora se faz pela GRATIDÃO e o caminho que os teóricos da prosperidade ensejam é o da provocação. Claro que funciona, óbvio que dá certo. Jaco lutou contra o anjo. Os dois exauridos, o anjo querendo ir embora e Jaco lhe diz: “ só te soltou quando o senhor me abençoar.” Ele recebe a benção do anjo e o mesmo dá a ele outro nome- Israel. E a vida dele muda.

Mas, você não precisa brigar com anjos todas as noites. Você não precisa desafiar os céus toda a sua existência. Basta aceitar a GRAÇA e ser GRATO. O crescimento disso não é imediato. Você não vai acordar amanhã numa mansão, a não ser que já more em uma. Porém ao longo dos dias, dos anos, sua vida vai sendo conduzida para isso, é o caminho natural. Simplesmente, um momento sua energia não cabe mais naquele ambiente, você cresceu, expandiu, igual feto na barriga da mãe; igual recém nascido que do berço vai para cama. O crescimento do universo é natural. 


É preciso muita força, muita violência, muita crueldade para que a pobreza, a feiura, triunfe, prospere e se reproduza. Elas não são naturais, pelo contrário, e agora caminho para o fim.








IV
Sabemos que há forças que fazem de tudo para que a gente enquanto humanidade não cresça, não avance. E, vocês devem imaginar, saber que há seres lindos e maravilhosos como Jesus que lutam por nós e conosco a cada instante, momento.

Conta a lenda que era preciso a gente compreender que a riqueza é divina, que Deus é rico, prospero, abundante. Precisavamos ensinar entre as pessoas, especialmente, as religiosas, que ser feliz, ser alegre, ser gostoso, fazer sexo em plenitude, gozar deliciosamente, gastar dinheiro, ter dinheiro, sentir prazer em ir a um bom restaurante, nada disso é pecado. Pelo contrário, Deus, os parceiros dele ficam altamente felizes e satisfeitos com nossa felicidade, com nossa plenitude. 

Assim, reza a lenda, que para isso acontecer, era preciso quebrar algumas dicotomias, quebrar uns paradigmas, isto é, modelos que a gente tem na cabeça, na sociedade. Sendo assim, muitas pessoas vieram com a missão de fazer isso. Estava dando certo. Os caras vieram ensinar que podemos nos apropriar das coisas e usufruirmos delas; mas qual foi a tentação, a casca de banana na qual temos derrapados, na qual transforma esse discurso de amor, de prosperidade em miséria moral, espiritual, econômica?

Antes da resposta, uma última referência, dessa vez a uma estória da mitologia grega. Gostaria que mentalmente, vocês comparassem esse rei a Pedro.

O nome do Rei é Midas. Midas era rico, tinha tudo o que o dinheiro podia comprar. Tinha filhos, esposa, mas ele desejava mais, queria mais. Por ironia do destino, Sileno estava perdido e foi levado a sua corte, onde foi muito bem tratado. Depois de quase duas semanas, Midas o leva de volta para Dionísio. Este agradecido garante a Midas o direito de fazer um pedido e o tê-lo concedido. Midas, seguindo a ambição do seu coração, o seu desejo de QUERER, CONSEGUIR, DESEJAR cada vez mais, pede para que tudo o que ele tocasse virar ouro.
Midas fica embasbacado com a sua capacidade, vai tocando os mais diversos objetos e todos vão se transformando em ouro. 

Aposto que ele deve ter organizado um banquete para mostrar a todos o seu poder, pura OSTENTAÇÃO. E, tudo caminhava bem, até que ao tentar se alimentar, os alimentos viravam ouro antes dele levar a boca. A água, o vinho tinham a mesma sorte. Até a filha que foi abraçá-lo se transformou em estátua de ouro. As pessoas foram se afastando, afinal a qualquer toque, elas perderiam a vida. Caminhando para um estado de inanição, Midas roga a Dionísio que desfaça aquele pedido, que ele possa voltar ao normal. Dionísio lhe pede para se banhar em água corrente que o dom desapareceria. Assim, ele faz e volta ao normal. Pode tocar as coisas, pode abraçar a filha. Mas, conta o mito que ele resolve largar tudo e seguir Dionísio, porém essa é outra estória, tem a ver com a Gratidão, com a retribuição, mas é outra estória. 

O legal é compreenderem como a teologia da prosperidade tem esse toque de Midas. Como que eles insistem nessa visão miserável de que transformar o mundo em ouro é riqueza. Porém no mito, riqueza é poder se banhar na água do rio, isto é, permitir o fluir da existência com suavidade, com alegria, com prazer. 


Riqueza é a de Pedro que pode pescar, sabe pescar, depois aprende a pescar almas. Não há riqueza maior. Porque quando estamos falando dela, o que a mede não é a conta bancária e sim esse estado de PLENITUDE e FELICIDADE que ela lhe garante e lhe assegura.






Claro que Pedro tinha uma dor, um vazio e foi preenchido por Jesus, por Cristo. Obvio que Midas tinha uma dor, um vazio, que num primeiro momento, ele preencheu com riquezas, depois com ouro. Mas, a vida pôde mostrar para Midas o quanto ele era MISERÁVEL e ao largar tudo e seguir Dionísio, ele encontra um sentido.


Os coaching que ensinam a vida como luta, os artistas da ostentação, os teólogos da prosperidade são todos MISERÁVEIS. E em suma, o que eles ensinam, no melhor estilo de praga dos infernos, de devoradores de almas, é a você vender a sua riqueza divina para obter a MISERABILIDADE FINANCEIRA que eles são portadores a partir da ilusão que vendem. 


“buscai o reino dos céus e tudo lhe será dado por acréscimo.” No Evangelho riqueza é aceitar o que se é. 











domingo, 4 de fevereiro de 2018

GRATIDÃO

Isso aconteceu lá nos meses finais do ano de 2017. Uma visita rápida, breve, apenas para saber como a moça estava se recuperando, como vinha evoluindo do quadro que se encontrava. Durante a visita algumas imposições de mãos, alguns toques específicos, furtivos, bem discretos e sutis, pois estamos no hospital.


Quando termino a realização dos toques, fico observando a moça deitada. Discretamente, olho para a irmã que a acompanha e naquele silêncio gracioso recebo um olhar que eu chamei de GRATIDÃO. Um olhar que entrou na minha alma por completo. Deixou-me ao avesso. Um olhar inesperado como beijo roubado, igual toque despretensiosamente mal intencionado no corpo do outro. Um olhar nu, desvelado, repleto de abundância. Um olhar que adentra minha alma, revira meu ser e destrava espaços, padrões, fechaduras e cadeados trancados a sete chaves, a setenta vezes sete segredos. O olhar daquela moça transporta uma candura, uma doçura, uma reciproca, um amor que está além de tudo o que convencionamos; além do que tento exprimir em palavras. O olhar dela abraçava meu ser de dentro pra fora, por inteiro. Um olhar acompanhado de uma fala que a única palavra que me lembro foi: obrigada. Mas, as palavras dela eram olhar e minha única ação diante dessa ação foi abraça-la. Até onde eu sei não tinha nada ali a ser feito a não ser permitir o encontro de dois corações. Deixa-los bater no mesmo ritmo, numa mesma cadência de felicidade e gratidão. 

II

O olhar da moça me retornou à dimensão da gratidão. Palavra ultimamente tão gasta, tão prostituida. Todos dizem gratos, pedem gratificação em vez de salário, pagamento como que associando o dinheiro a uma impureza e sublimando um sentimento que não se tem, não se possui, ao ponto de chamarem empregados e funcionários de colaboradores e manterem uma relação escravagista.


Quando acesso o olhar da moça, a energia transportada pelo olhos dela é algo que não tem preço. Não há nada que eu receba, não há preço que possa pagar a expressividade daquela moça. Como em certa medida, fazendo um deslocamento e indo em direção ao universo dela, posso insinuar que ela daria qualquer coisa, pagaria qualquer preço por aquele estado. Está troca é de uma riqueza impagável, incalculável. Esse nível de riqueza é o que mais se aproxima do dai de graça o que de graça recebestes.

A frase fala desse estado vibracional de imenso amor, carinho, respeito, sacralidade e despojamento no qual não se tem cobranças, não se tem o código de defesa do consumidor de um lado e a busca pela implementação do ISO 9000 de outro. Há uma entrega, um acolhimento, uma troca amorosa que culmina nesse estado de gratidão. Nessa plenitude graciosa e dadivosa.

E isso me empele de novo ao receber, agradecer, redistribuir. E esse ato não importa se você faz sem cobrar, ou se você cobra um bilhão de reais. O que de fato está sendo trocado, a magia que de fato está ocorrendo não pode ser paga por nenhum dinheiro, por nenhum imóvel, por nada material. Ao mesmo tempo em que o material apenas simboliza e por vezes interdita essa beleza de funcionar. Quero dizer que uma pessoa poderia te dar uma galinha, outra te dar uma ilha, outro uma fazenda, outra um carro, outra cem reais, outra uma bala, outra um abraço; porém tudo isso representaria, simbolizaria o olhar terno, mágico, leve, sagrado, grato da moça. É essa troca que vai além do comercial, do material. Essa troca envolve a engrenagem invisível que movimenta nossos feitos, nossos afazeres. Essa energia é sagrada e envolta no sacro-ofício que vai da carpintaria de Jose, relaciona-se com o ser veículo para a materialização de um novo ser tal qual Maria e todas as mães, ou como o sermão na montanha, ou lançar redes ao mar.  

III



O olhar da moça entrou em minha alma. Eu estava impotente diante daquilo. Não sabia o que falar, o que dizer, então eu apenas a abracei e recebi aquilo que ela me dava e o que ela dava não há dinheiro que pague. O que ela dava não tem nada material que seja capaz de valorar. Num olhar, ela se deu por completa, por inteira e os efeitos que isso causou em mim foram avassaladores. E se ela me desse todo ouro, toda mirra e todo incenso simbolizaria todo amor, toda prosperidade, toda luz que havia naquela troca.


No olhar daquela moça, eu vi o que meu trabalho produz. Consegui ter um vislumbre do que recebo e pude ver o movimento da GRATIDÃO  e os seus efeitos na minha alma. E talvez tenha se dado por ter sido tão inusitado, tão inesperado, tão indireto. Eu não estava esperando nada e aquilo foi tão glorioso que desci os seis andares de escada, caminhei toda Alameda Ezequiel, adentrei o Parque Municipal para compreender o que tinha acontecido. Que energia mais graciosa, encantadora. Que energia mais generosa e amorosa era aquela. Que coisa elegante é essa tal de gratidão.

Pessoas apressadas, desavisadas acerca da sutileza dessa energia tendem a confundi-la como sexual. Não que ela não seja. É que transportá-la para esse nível é uma redução selvagem, ogra. A gratidão está lá no sétimo céu e claro que a pessoa que demonstra isso para você tem afeto por você. Obvio que esse afeto pode se tornar e se fazer genital, mas é fundamental professores, alunos, mestres, gurus, compreenderem que essa afeição é de outra ordem e de outro campo.

Insisto no entendimento que quando falamos dessa diferença de nível não estamos elevando o espiritual  e diminuindo o sexual, tampouco separando-os. Estamos só querendo mostrar como isso é facilmente confundido, especialmente, em momentos de carência, de fragilidade, ou de ‘esperteza ao contrário’ como diria Estamira.


V

E aqui sugiro algumas coisas que aparecem no consultório, nas consultas, tem a ver comigo e talvez faça algum sentido para você:

UM: RECEBA!

Venho a muitos anos falando para muitas pessoas que o problema delas, enquanto dinâmica existencial, está em não conseguir receber. Grandes partes das pessoas que atendo não têm problemas em dar. São boas pessoas, estão e têm um padrão vibracional interessante, porém, elas não sabem receber. Aceitar receber, ter a HUMILDADE de receber o que a vida dá é tão difícil, porque mexe no orgulho. Quando você está dando, você se encontra numa posição que o seu ego acredita estar no controle, mas quando você recebe, para o ego, você está numa posição abaixo e esse contraste, essa oposição obstaculiza a vida, o fluxo do existir, porque nela há a dinâmica da troca. Uma troca que médiuns, espiritualistas quebram a corrente por acreditar que vieram no mundo para pagar, então eles só dão, só doam e a vida fica querendo nos dar, em nossa porta se acumulam flores e frutos e não os recebemos, por ORGULHO, PRESUNÇÃO, VAIDADE. Então aprenda a receber.

DOIS: PERCEBA

Aquela moça entrou em uma parte minha que estava trancada, travada e ela abriu mil portas com uma delicadeza, com uma elegância, com um desprendimento que não houve luta, não houve resistência. Ela me dava, se doava. Dava tudo o que ela tinha, doava tudo o que ela era e eu acolhia, recebia em mim. Fiquei percebendo a movimentação dessa energia na minha alma, nos meus espaços subjetivos.

Nessa dinâmica não tinha mais um ego que consciente ou não gosta de se elevar, gosta de acreditar que há uma superioridade no ato de dar. Ali o que eu recebia tinha o mesmo carinho, a mesma carga de tudo o que eu dou e só aí eu fui compreender o carinho de muitas pessoas para comigo, o respeito de muitas delas para comigo. Eu nunca compreendi e só não era mais seco, mais rude com isso, porque fingia ser sociável, mas definitivamente, nunca entendi até aquele olhar.

TRÊS: AGRADEÇA



Nesse dia, sincronisticamente, quando eu cheguei em casa, uma dupla de amigos que tínhamos combinado de irmos ver o jogo do Ronaldinho, depositaram um dinheiro para mais alegando que pagariam a minha. Em outro momento, eu não aceitaria. Em momentos anteriores, questionaria o ato, mas depois daquela dinâmica, eu só disse a eles que recebia de coração. E, recebia devido a isso, era um carinho para além do valor monetário. 




terça-feira, 26 de dezembro de 2017

A DANÇARINA


Meus olhos ficam fixos ao corpo dela. Um corpo que tem inteligência de alma, encanto de terra, tipo castelo de areia feito por crianças imersas no ato de brincar. O corpo dela se movimenta como serpente- pura sedução ondulante. Exala padrões como harpa alada. Fico olhando para ela e tentando traduzir o que os movimentos dela provocam em mim e sem descrever parte por parte, reparo que meus olhos cintilam, pulsam os sentimentos e desejos do meu peito. Mas, por um instante, quando consigo sair desse torpor que a sua dança e seus movimentos me envolvem, observo ao redor que o meu olhar não é único. Todos a olham. Todos a cobiçam. Todos a desejam e as moças a ‘invejam’. Do corpo dela sai padrões de luz que magnetiza o ambiente. Diante dela somos seres hipnotizados. E fico me perguntando: o que será de nós se ela nos escolher? Como um homem pode dar conta de toda essa energia? De toda essa sensualidade? Como compreender que isso é ela, dela e não deveria ser controlado?

O mais comum é que ela escolha um de nós que tem a força suficiente para orná-la, mas por ironia muda da vida, por despreparo, acaba-se por cerceá-la, limitá-la, podá-la e há casos até de espancamentos. Trágico e estúpido final do despreparo. O mais comum é que ela seja aprisionada. Afinal, como resistir a força dessa graça, dessa leveza, dessa beleza? Poucos resistem, poucos a compreendem. 



Estou buscando caminhos, indicações entre as dançarinas. Aqui, conto apenas alguns padrões que vi, observei de como que na privação da dança morre-se a alma. Como que na servidão voluntária a um amor, a um parceiro, a uma família muitas dessas mulheres se mortificam. O contraponto importante é que as mulheres comuns (não que seja possível ser comum e mulher), as mulheres que não dançam, se aprendessem a dançar; praticar a dança pode trazer a elas esse empoderamento, esse engajamento da alma com o corpo. Essa sedução sem culpa que amalgama o gozo com a beleza infinita do instante. Aquele brilho no olhar que acende estrelas e faísca corações. Esse caminho, esse encontro, se faz muito possível pela dança.

Bom, agora que já marquei o ritmo, demos uma cadência, posso fazer volteios, segure minhas mãos e já voltamos para os mesmos passos.  

A mitologia fala das sereias. Naqueles relatos somos levados a acreditar que o poder de sedução das mesmas vem do som, vem do canto, mas conversando com Ulisses ele me contou que não era bem assim.
Reza a saga que Odisseus/Ulisses em seu retorno a Itaca, sabendo que passaria pela ilha das sereias coloca cera nos ouvidos dos seus marinheiros e se amarra ao mastro do navio, dando ordens de que não o desamarrassem por nada. Odisseus o mestre das estratégias estava seguro que era o som, o canto daquelas sedutoras que causava naufrágios e desastres às embarcações. Não era bem isso como ele irá nos contar. 

Vejam, que Ulisses não podia se dar ao luxo de se deixar seduzir, porque Penélope sua amada o esperava. Enquanto todos o davam como morto, enquanto preparavam o casamento dela com outro, ela criou o ardil, a estratégia de se casar somente depois de tecer seu manto. E, assim durante o dia, a frente de todos, ela tecia e a noite, entre lágrimas esperançosa, ela desfazia o que havia tecido, enrolando seu casamento por anos. 

O que Homero não nos conta, mas nos deixa implícito é que ambos se moviam em direção ao seu amor. Ou melhor, ambos não se perdiam, porque tinham um amor para reencontrar, recuperar, dizer adeus e isso os uniu mesmo a distância. Isso os fez um, mesmo quando separados fisicamente.

O tempo de Penélope junto a Ulisses permitiu a ela encontrar ardis, estratagemas racionais capazes de congelar os desejos dos homens. Já Ulisses absorveu de Penélope a segurança de não se deixar hipnotizar por nenhum outro olhar afora o dela, nenhum outro corpo senão o dela e nenhum outro canto, senão o dela. Que ensinamento mais estranho é esse? Mas, é o ensinamento do corpo, é o ensinamento da dança.

Penélope me contou esse seu segredo que fez com que mesmo diante das sereias, seu amado voltasse, ela me disse: “eu danço para ele todas as noites!”

Os leitores e as leitoras mais desatentas, menos afeitas a essa energia guardada no corpo deve estar se perguntando: e acaso dançar para um homem faz com que ele retorne todas as noites para casa?

Penélope deve estar rindo, como somente as gregas riem, com aquela ironia que Sócrates aprendeu de sua mãe. Aquele riso cínico, estoico, brejeiro, debochado, vencedor, como quem diz: “não querida, dançar para um homem não faz com que ele venha para casa todas as noites, faz com que ele não tenha nenhuma outra morada fora do seu corpo.” 

É estranhamente mais forte. É estranhamente mais grego e isso Platão não compreendeu, consequentemente o cristianismo também não e repudiou o paganismo, enfim, eles censuraram o corpo, acharam que limitarias as mulheres quando na verdade castraram os homens. Qualquer sereia nos seduz. Não que as sereias não sejam encantadoras, é que elas são uma parte das mulheres e quando elas (mulheres) são privadas de lidarem com essa parte delas, nós desaprendemos a totalidade da entrega, da confiança, da segurança que Penélope possui. 

Antes que eu me esqueça, Penélope era uma eximia dançarina. Uma mulher grega aprende a reverenciar a deusa Héstia, a deusa da lareira. Um dos componentes fundamentais desse ritual é mexer os quadris. É acender o fogo, o caldeirão sagrado. Algumas precisam fazer isso para muitos homens, algumas apenas para um, mas todas elas fazem na dimensão do sagrado. 


Saio do mito e volto à realidade, porque essa energia da dança me fascina. Toda mulher deveria dançar, obrigatoriamente, uma vez por semana. Deveriam se reunir igual nós homens vamos jogar futebol, vamos ver futebol, mulheres deveriam se reunir para dançar. 
As escolas deveriam ensinar as meninas no ensino médio a dançarem e nessa dança que pode ser sagrada como a dança cigana, a dança do ventre, ou pode ser quadradinho de oito. 
A mulher só entende a sedução se ela dança. E é aqui que quero falar desse conflito, dessa ruptura. É aqui que quero retornar os passos que Odisseus me contou e Homero não relatou porque ele pediu segredo de 2700 anos. 

Ulisses falou que a sedução das sereias não era o canto, um cego as ouviria e sairia ileso. Não estava na beleza estonteante e impactante, seus marinheiros a viram, mas por não a escutarem continuaram. O segredo delas é que a voz é forma e a beleza é som. A sedução se dá na mistura fina, refinada do canto com o rosto; do rosto com o movimentar do rabo; o rabo com o movimento dos cabelos. Movimentos que Ulisses via todas as noites no bailar e locomover de Penélope e no centramento que ela lhe ensinou- amarre-se no seu mastro. Como ele acabou sendo colocado no navio. Contava ele que naqueles momentos, ele se conectava a sua amada em Itaca e só queria estar junto dela. A sedução das sereias uniu uma parte dele que lhe faltava consciência. E, quando as sereias não conseguiram seduzir, elas se perderam, dizem que morreram. Na verdade, elas despertaram para a beleza do ser mulher. 

Em suma, Ulisses me mostrou que toda transcendência é corpo, sensualidade. É o corpo que transporta a alma para outro nível.

Mentira, é uma linguagem que só pode ser mostrada, por isso Homero não disse nada, não escreveu nenhuma linha e eu me silencio agora. 


Voltando aos passos sem volteios:

Meu universo de pesquisa é pequeno, atendi apenas cinco partilhantes com esse padrão da dançarina. Conversei com outras dezenas, que esporadicamente dançam, mas os padrões não são tão fortes. O que me chamou atenção nas dançarinas é o que elas movimentam enquanto elas dançam.

Somos levados a acreditar que é o corpo delas que está movimentando, mas isso é um olhar superficial, apressado. O que está movimentando nelas é a alma. Não apenas a alma delas. Na dança elas se conectam a alma de muitas outras, a alma dos parceiros, dos amantes, dos maridos, o alcance é ilimitado e exponencial. De repente, elas estão preenchendo o ambiente e todos os olhares se voltam para elas. Nesse momento, ninguém vai acreditar, mas já não é mais uma mulher é uma deusa em movimento. Essa mulher é capaz de trazer para si tudo o que ela deseja, tudo o que ela quer. Nós homens nos rendemos diante dessa sacralidade. A sacralidade do corpo, da alma, do olhar, da boca. A sacralidade da alma que ao se permitir corpo, ao se saber corpo personifica e presentifica o espirito; a deusa, a mulher. 



Mas, como as dançarinas lidam com essa força? Com essa alma? Como que os companheiros lidam com essa alma e essa força? Não vi nenhum caso bem sucedido. Entenda por bem sucedido, meu olhar, minha decisão de quem tem a arrogância de estipular um mundo ideal para o outro. Muitas delas vivem bem, sentem-se bem. No entanto, eu vejo uma falta.

Algumas delas fecharam uma companhia de dança, porque os companheiros não suportavam os assédios que elas recebiam. Outras se casaram, largaram a dança, tem filhos, sentem-se bem, mas não conseguem compreender o motivo da vida delas ter parado. Literalmente parado, elas não conseguem fazer nada, realizar nada, trabalhar com nada e o que a alma dessas mulheres me pediam era música e movimento. 

E, as que voltaram a dançar, voltaram a movimentar uma energia na vida delas, na vida deles, mas que retoma a problemática de Ulisses e Penélope: o que nos torna casal? Continuamos sendo dois mesmo à distância?

Finalizando, o que eu percebi pelo relato delas é que os homens não dão conta de lidar com essa energia. Seja por insegurança, seja por desconhecimento, o movimento natural é de posse, de aprisionar, de controlar. Muitas aceitam esse movimento e matam o corpo, a alma, o espirito da deusa, desencontram-se de si mesmas, desconectam-se delas mesmas. Traem-se e sim, serão traídas. Porque o que enfeitiçou o parceiro foi o movimento da sereia, que ela perdeu, abriu mão e esse movimento seduz, arrasta, destrói se a própria dançarina não tiver ensinado o cara a se amarrar no mastro do navio.

O mastro do navio, nesse momento, para o encerramento desse post é a dança que a mulher faz para o seu parceiro. É o ensinamento silencioso, trocado entre ambos, que ajuda a cada um lidar com o sexo oposto e a contraparte interna de cada um. Não obstante, o manto a ser tecido é o estratagema que o parceiro deixa à dançarina e que Maiakowiski escreveu para Lila tão bem e belamente: “afora teu olhar, nenhuma outra lâmina me seduz.”

Reduzimos isso ao sexo, a penetração, as posições de kama sutra, mas isso diz respeito a um engravidar da alma, a compreensão de que aquela mulher é deusa. Nela se confunde e se mistura o profano e o sagrado, a puta e a santa. Quando ela dança para ele, ele sabe disso e reverencia. No caso reverenciar é olhar, tocar, pegar, cheirar, explorar os sentidos, ir além deles e voltar para casa. O sagrado grego, pagão é a integração de corpo e alma sem divisão, sem culpa, sem pecado. A oração se faz em vida, na imanência da carne, no desejo pelo corpo um do outro, na totalidade desse encontro. Essa casa que é morada dos dois. Casa que é lugar onde um habita o outro sem invasão. Casa que é a abertura de mundos possíveis e sonhos inimagináveis. A odisseia da vida na lareira dos quadris. 



                       Vem rápido dançar pra mim!


quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Caravana Cigana: a viagem de um povo.



Caravana Cigana foi a minha 1a obra psicografada. O carinho e gratidão que tenho por essa psicografia é tamanha que não publiquei nenhum outro livro antes dele. Depois de quase vinte anos a trago a publico. Parte do valor desta obra será destinado as casas que recebem andarilhos e a pastoral do povo nômade. 

Carava Cigana tem Alícia como autora espiritual. Falar de Alícia me felicita muito por ela ser uma das milhares de espíritos que trabalham em prol do desenvolvimento do planeta Terra. Com sua alegria, sua inteligência e sabedoria cativa a todos a sua volta. Ela é uma das poucas mulheres que vira o meu coração ao avesso e lá em 1998, ela me deu a honra de psicografar o que entendi como sendo a história do povo cigano. Uma história contada a partir de um romance de duas almas afins que vão se deslocando espacialmente, temporalmente em busca da sua estrela guia.  

Depois da Caravana vieram outras psicografias que acabei perdendo e se perdendo. Hoje compreendo que eu não tinha confiança suficiente para sustentar aquelas informações sozinho no plano material. Uma referente aos Artistas do Espaço que compunham uma trilogia: Penas Redentoras. Obras densas, pesadas, que mexiam com a banalidade do mal ao mesmo tempo que mostrava a fragilidade desses seres. Tudo isso, aparentemente assustador para pessoas que tinham uma concepção de espiritualidade composta por colônias espirituais cheirosas, repletas de rosas na janela e seres vestidos de branco. Outro agravante é que naquele tempo não se pensavam em trilogias, nem no cinema, nem na literatura, menos ainda em obras espiritistas, espiritualistas.


O primeiro livro da trilogia era com os Artistas do Espaço e tratava a pena no seu sentido de instrumento de escrita. Relatos compostos e produzidos por artistas desencarnados falando o que faziam e o que realizavam no plano astral. O segundo era pena no sentido jurídico de punição e referia-se ao universo do tráfico de drogas. Vários espíritos usuários, traficantes, magos negros, mães, mentores espirituais descortinando sobre o que verdadeiramente é o tráfico de drogas-manipulação de ectoplasma. O terceiro que não fizemos a psicografia referia-se as penas enquanto compromissos cármicos referentes aos mais diversos usos do magnetismo feito por artistas, religiosos, comunicadores, prostitutas com as finalidades de manipulação, distorção, ou não. 

Em sua essência todos eram temas polêmicos, com poucas informações de outras fontes que pudessem abalizar essas obras, envoltos em tabus e com poucas referências bibliográficas sobre esses temas. 


Não se falava e nem se discutia, por exemplo, o que e qual é o sentido de reencarnar, coletar informações, somar experiências no planeta Terra, o que se faz com isso no plano astral? Qual o sentido disso no plano astral fora o de viver em colônias felizes e perfumadas? Essas pistas eram dadas pelos artistas do espaço, inclusive na co-criação de uma nova Terra.

As psicografias sobre as drogas eram feitas com um moralismo extremado que impedia tocar a chaga metafísica que é essa praga apocalíptica, a saber, o verdadeiro tráfico é a manipulação de ectoplasma nos mais diversos planos acarretando transformações na estrutura morfogenética dos seres. Ouso dizer hoje que as drogas que foram um portal de uma nova consciência acabaram sendo transformada num catalisador extremamente poderoso de impedimento, cerceamento, recrudescimento do despertar de novos seres e uma nova consciência.




Retomando a Caravana, sobre a origem dos ciganos, não se tem nada oficial, em 1998/99 menos ainda. Nas casas de Umbanda, ciganos trabalhavam como Exus, pouquíssimas casas, só conhecia uma, que tinha uma linha para esse povo. No imaginário social ciganos eram tidos como ladrões, embusteiros e coisas do tipo. No campo editorial tinha apenas a Editora do Conhecimento com uma linha editorial espiritualista e para quem enviei a obra. Ela teve uma boa aceitação, o cara gostou, mas hoje eu sei que travei o processo de edição, de publicação, como fiz por todos esses anos e estou liberando agora. Permitindo a crítica, o elogio, a exposição. A maturidade ajuda a gente compreender o que estamos fazendo e como fazemos. 

A mediunidade é um processo de humildade. Se você envia uma obra ditada pelos espíritos e um grupo de analisadores espiritas recusam, muitas vezes sem apresentar os motivos, você deduz por si mesmo: sou um mistificador! Estou inventando coisas da minha cabeça! Mas, nunca me ocorreu que eu poderia estar captado informações que seriam anos mais tarde acomodadas em nosso imaginário coletivo. Nunca me passou pela cabeça que o imaginário é uma construção coletiva e algumas pessoas recolhem informações desse repositório um pouco antes e o preço desse pioneirismo é confiar no tempo, se aliar ao tempo e seguir com fé e confiança.


Silenciosamente fui observando, vendo o tempo passar e aí eu pude constatar que as coisas, as abordagens, as informações que eram tidas como sombrias, obsessivas se fizeram corriqueiras até no meio espirita. Eu vi que não havia embuste por parte dos amigos espirituais que me acompanham.

De todo modo, interrompi o processo psicográfico por mais de dez anos. Eu não via sentido em psicografar coisas que ninguém iria ler e desde o século XIX que prometi que não pagaria para editar livros. Hoje eu confio mais naquilo que transmito, nas informações que repasso e sei que muitas coisas necessitarão do tempo para mostrar o acerto, ou o equivoco. Foi o tempo que me mostrou que acertamos muito mais do que erramos. Estou falando do que né?

Nesse trabalho sobre tráfico realizamos um desdobramento no qual aconteceram duas passagens marcantes. Uma primeira se deu lendo uma revista semanal. A reportagem registrava que haviam matado um jornalista e uma foto espacial da comunidade revelava um lugar que era chamado de forno. Ao ver a imagem reconheci imediatamente, o local. Um ponto que vendo fotos e imagens me causavam a impressão de conhecer, mas não a certeza, porém a imagem espacial não deixava dúvidas. Mesmo porque, em desdobramento, chega-se na maioria dos lugares pelo alto, vendo-os de cima. 


Ademais nesse local acontecia a coisa mais inusitada que já tinha visto em desdobramento- seres encarnados negociando com seres desencarnados cotações e porcentagens. Mas eram seres muito diferentes, porque eles não demonstravam sentimentos, emoções, nada. Eles tinham uma frieza que era algo apavorante, assustador, congelante. Moral da história: o termo mago, alquimistas negros e os seres que eles utilizam nessas operações foram aparecer mais tarde, anos mais tarde por outro pioneiro na captação dessas informações. Naquele momento isso soava como um desalinho, um distúrbio mediúnico, quem levasse a sério deduziu que eu era um intermediário das trevas. Esse tipo de cartografia não compunha as paisagens espiritas e tão pouco espiritualistas. Imaginar mentores espirituais desmantelando ações trevosas era impensado. Conceber espíritos trevosos com tecnologia de ponta como implantes e outros recursos era tido como esquisoterico para falar o mínimo e grande parte das minhas atividades mediúnicas naquele momento se davam nesse universo umbralino.

Todo esse cenário hostil, inóspito me fez internamente recuar, desconfiar de mim, ficar receoso sobre quem trabalhava comigo e o propósito desse trabalho.

Agora, retornando a Alícia e a importância desse livro é que Alicia é um dos espíritos mais ousados que conheço, mais inventivos, festivos e integrativos. Grande parte dessas obras, dos outros autores me chegam por intermédio dela, nossa musa inspiradora. Em nossa parceria, não estive a altura dela para conseguir trazer todas as informações que o livro contém em sua edição no plano astral, mas em comparação entre o ideal e o material fiquei satisfeito com o trabalho. No plano material ainda falta aprofundar o aspecto mágico dos ciganos e a história de Santa Sara. Dois componentes altamente históricos que marcam a mística cigana. De forma que este livro narra a trajetória de Martal e Hamaras casal de almas afins que ao longo do livro vão ganhando outros corpos, novas vidas, novas aprendizagens. 




Assim, no livro é narrado de forma romanceada, as múltiplas contribuições anônimas desse povo na construção e arregimentação da humanidade nas suas mais diversas fases e etapas. Em comum a cada uma, ou na maioria dessas fases, há a perseguição por motivos diversos- cultural, política, econômica, religiosa. Nesta perspectiva, o livro traz novas revelações sobre a trajetória desse povo, marcando-o como exilados de esferas celestiais remotas que encontrariam no orbe terrestre as condições necessárias para retornar a sua verdadeira morada espiritual, a estrela guia. 

Isso tudo para dizer que estamos disponibilizando o livro para compra. Podem comprar quantos desejarem, dar de presentes, basta para tanto entrar no link, preencher os campos obrigatórios, escolher a forma de pagamento: boleto a vista para pagar no banco, pagamento direto no banco, cartão de crédito a vista, cartão de crédito dividido em muitas parcelas tudo de forma segura. Adquira já o seu. Baixe em seu pc e saboreie a leitura.

http://institutofiholosofico.com.br/

É um passear histórico que colocamos de forma romanceada.
Confira lá.
Um bj em vcs.