sábado, 17 de março de 2012

Aranha e realidade


REALIDADE e PSICOSE: Aracne e a tessitura da realidade



De fato, o psicótico perde a dimensão do que vamos denominar real. Todavia é um absurdo que no século XXI depois de Planck, Einstein, David Bohn, Welher e tantos outros, médicos, filósofos, psicólogos, psiquiatras continuem mantendo uma concepção de tempo, espaço e realidade nos moldes newtonianos. É simplesmente absurdo acreditar e conceber que todos nós estejamos vivendo o mesmo tempo e acessando ao mesmo espaço só porque estamos encarnados no planeta Terra no século XXI e compartilhamos o mesmo tempo cronológico. Os escritores reconhecem os tempos subjetivos, os físicos falam abertamente da relatividade do tempo e do espaço e alguns mais ousados de mundos parelos e outras dimensões, meditadores não apenas falam desses tempos e espaços não locais como os descreve e os freqüenta. No entanto, academicamente, ainda resiste-se a essas possibilidades e padroniza-se um conceito de realidade.

Os hindus gostam de representar o mundo físico como Maya. E uma das representações de maya são as teias de aranha. Teias que simbolizam a sutileza, a leveza da aranha que no seu ato poietico[1] fia o mundo a partir de si mesmo, a partir de suas ações. O seu viver é o seu fazer e o fazer dela é o seu próprio fiar. Nesse ato esconde-se e revela-se a força dançante de Aracne[2] que se compara a imagem de Shiva que dançando cria e destrói o universo, ou a de Isis que com seu véu esconde o seu verdadeiro ser. Essas representações míticas do universo serviram de base para Fritjof Capra escrever o seu "Tao da Física" estabelecendo um pararelo entre a física quântica e as cosmogonias orientais. De forma que tudo isso nos serve de auxilio para mergulharmos no símbolo dessa aranha tecelã que fabrica suas teias = mundo.


 Geralmente, vemos uma teia de aranha, somente, depois de termos nos embolado nela. Para avistar uma teia de aranha necessita-se da luz do sol, da atenção, da cautela.  Não são atoa que esses são alguns dos componentes da meditação, assim como a tentativa de iluminar a escuridão interna e a atenção para que perceba essa iluminação. O erro das escolas meditativas, iniciáticas e até mesmo psicológicas é que elas querem acreditar que meditar e se autoconhecer é acender um farol dentro da alma. E nada é mais distante da iluminação do que a luz solar dentro da esfera psíquica. Esse desejo é uma tentativa de racionalização, de comandar algo cujo entendimento se dá por um outro plano e dimensionalidade. No plano psíquico as coisas funcionam no escuro, por uma inteligência que não é racional, direta, sistemática, objetiva, linear, clara.
Heisenberg nos contou no seu princípio da incerteza que não é possível calcular com precisão a posição e a velocidade de um elétron ao mesmo tempo. Ou, se foca em um, ou se foca em outro. Bohr depois nos fala do princípio da complementaridade. Esses caras falaram isso no milênio passado, nas primeiras décadas do século XX. E todas essas descobertas embora sejam amplamente documentadas por meditadores ao longo da história são ignoradas e desconhecidas de psiquiatras, neurocirurgiões, psicólogos, filósofos, educadores e outros tantos. Mas, meditadores de forma geral, sabem que de forma similar ao princípio da incerteza, não se pode querer a um só tempo focar a aranha e a sua tessitura. Ou bem se avista a aranha, um processo de entrada na senda meditativa, ou bem se é tomado pelas tessituras da aranha. Sendo que a literatura fala de um momento de conexão em que não se distingue mais o eu, a aranha, suas teias e suas milhares de tapeçarias. Seria a completude. Uma completude que se dá não na mente, mas para além dela. Se faz por ela, mas não nela como querem os neurocientistas com suas sinapses neurais.
O que desejo enfocar é que quando se deseja colocar luz no inconsciente, abre-se as portas para se avistar o que já esta lá. O que esta sendo construindo e remodelado, desfeito, desmanchado a partir desse novo olhar, não pode ser avistado ao mesmo tempo. E aqui no ocidente não é avistado em tempo nenhum. Essa tapeçaria psíquica não é completamente ignorada graças a Freud e os seus, mas a observação mecânica, cartesiana dessa tapeçaria impede a visualização da multiplicidade do fazer lúdico, poético de cada esfera psíquica, de cada ser no mundo, ator de sua história. Impede que se abra a possibilidade de compreender cada estrutura psíquica como uma Mandala singular, com conexões, ilustrações, cores, formatos diversos de alguns seres para outros. Sem respeitar isso, incompreende-se o que mora tacitamente em cada processo neural, em cada caminho sináptico da consciência. Ignora-se o eu tecelão que fabrica mundos, sonhos, realidades. E a questão é que grande parte dos denominados psicóticos, especialmente, os esquizóides tem uma configuração energética de outra ordem e natureza. Parece-nos poeticamente possível, ver em cada neurônio, algo similar a um filamento das teias da aranha. Dentro dessa premissa os neurônios nas suas sinapses formariam teias, seriam teias que capturariam a realidade. Esta realidade seria apreendida pelas redes neurais, constituindo algo próximo a Mandalas. Há uma crença de que todas as mandalas psiquicas são iguais porque possuem a mesma estrutura, que Kant denominou de razão e sensibilidade. Nós defendemos há décadas a idéia de que essas estruturas não são iguais e atualmente elas teriam novos formatos, novas tessituras.


[1]A palavra arte  é uma derivação da palavra latina “ars” ou “artis”, correspondente ao verbete grego “tékne”. O filósofo Aristóteles se referia a palavra arte como “póiesis”, cujo significado era semelhante a tékne. A arte no sentido amplo significa o meio de fazer ou produzir alguma coisa, sabendo que os termos tékne e póiesis se traduzem emcriação, fabricação ou produção de algo”. (Professor Lindomar. Disponivel em: http://www.infoescola.com/artes/o-que-e-arte/ acessado em 20/02/2012

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