REALIDADE e PSICOSE: Aracne e a
tessitura da realidade
De fato, o psicótico perde a
dimensão do que vamos denominar real. Todavia é um absurdo que no século XXI
depois de Planck, Einstein, David Bohn, Welher e tantos outros, médicos,
filósofos, psicólogos, psiquiatras continuem mantendo uma concepção de tempo,
espaço e realidade nos moldes newtonianos. É simplesmente absurdo acreditar e
conceber que todos nós estejamos vivendo o mesmo tempo e acessando ao mesmo
espaço só porque estamos encarnados no planeta Terra no século XXI e compartilhamos
o mesmo tempo cronológico. Os escritores reconhecem os tempos subjetivos, os
físicos falam abertamente da relatividade do tempo e do espaço e alguns mais
ousados de mundos parelos e outras dimensões, meditadores não apenas falam
desses tempos e espaços não locais como os descreve e os freqüenta. No entanto,
academicamente, ainda resiste-se a essas possibilidades e padroniza-se um
conceito de realidade.
Os hindus gostam de
representar o mundo físico como Maya. E uma das representações de maya são as
teias de aranha. Teias que simbolizam a sutileza, a leveza da aranha que no seu
ato poietico[1] fia o mundo a partir de si
mesmo, a partir de suas ações. O seu viver é o seu fazer e o fazer dela é o seu
próprio fiar. Nesse ato esconde-se e revela-se a força dançante de Aracne[2]
que se compara a imagem de Shiva que dançando cria e destrói o universo, ou a
de Isis que com seu véu esconde o seu verdadeiro ser. Essas representações
míticas do universo serviram de base para Fritjof Capra escrever o seu
"Tao da Física" estabelecendo um pararelo entre a física quântica e
as cosmogonias orientais. De forma que tudo isso nos serve de auxilio para
mergulharmos no símbolo dessa aranha tecelã que fabrica suas teias = mundo.
Heisenberg nos contou
no seu princípio da incerteza que não é possível calcular com precisão a
posição e a velocidade de um elétron ao mesmo tempo. Ou, se foca em um, ou se
foca em outro. Bohr depois nos fala do princípio da complementaridade. Esses
caras falaram isso no milênio passado, nas primeiras décadas do século XX. E
todas essas descobertas embora sejam amplamente documentadas por meditadores ao
longo da história são ignoradas e desconhecidas de psiquiatras, neurocirurgiões,
psicólogos, filósofos, educadores e outros tantos. Mas, meditadores de forma
geral, sabem que de forma similar ao princípio da incerteza, não se pode querer
a um só tempo focar a aranha e a sua tessitura. Ou bem se avista a aranha, um
processo de entrada na senda meditativa, ou bem se é tomado pelas tessituras da
aranha. Sendo que a literatura fala de um momento de conexão em que não se
distingue mais o eu, a aranha, suas teias e suas milhares de tapeçarias. Seria
a completude. Uma completude que se dá não na mente, mas para além dela. Se faz
por ela, mas não nela como querem os neurocientistas com suas sinapses neurais.
O que desejo enfocar
é que quando se deseja colocar luz no inconsciente, abre-se as portas para se
avistar o que já esta lá. O que esta sendo construindo e remodelado, desfeito,
desmanchado a partir desse novo olhar, não pode ser avistado ao mesmo tempo. E
aqui no ocidente não é avistado em tempo nenhum. Essa tapeçaria psíquica não é
completamente ignorada graças a Freud e os seus, mas a observação mecânica,
cartesiana dessa tapeçaria impede a visualização da multiplicidade do fazer
lúdico, poético de cada esfera psíquica, de cada ser no mundo, ator de sua
história. Impede que se abra a possibilidade de compreender cada
estrutura psíquica como uma Mandala singular, com
conexões, ilustrações, cores, formatos diversos de alguns seres para
outros. Sem respeitar isso, incompreende-se o que mora tacitamente em cada
processo neural, em cada caminho sináptico da consciência.
Ignora-se o eu tecelão que fabrica mundos, sonhos, realidades. E a questão é
que grande parte dos denominados psicóticos, especialmente, os esquizóides tem
uma configuração energética de outra ordem e natureza. Parece-nos poeticamente
possível, ver em cada neurônio, algo similar a um filamento das teias da
aranha. Dentro dessa premissa os neurônios nas suas sinapses formariam teias,
seriam teias que capturariam a realidade. Esta realidade seria apreendida pelas
redes neurais, constituindo algo próximo a Mandalas. Há uma crença de que todas
as mandalas psiquicas são iguais porque possuem a mesma estrutura, que Kant
denominou de razão e sensibilidade. Nós defendemos há décadas a idéia de que
essas estruturas não são iguais e atualmente elas teriam novos formatos, novas
tessituras.
[1]
“A palavra arte é uma
derivação da palavra latina “ars” ou “artis”, correspondente ao verbete grego
“tékne”. O filósofo Aristóteles se referia a palavra arte como “póiesis”, cujo
significado era semelhante a tékne. A arte no sentido amplo significa o meio de
fazer ou produzir alguma coisa, sabendo que os termos tékne e póiesis se
traduzem emcriação, fabricação ou
produção de algo”. (Professor Lindomar. Disponivel em: http://www.infoescola.com/artes/o-que-e-arte/
acessado em 20/02/2012
[2]
Sobre a história de Aracne: http://www.fernandodannemann.recantodasletras.com.br/visualizar.php?idt=2072163
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