sábado, 8 de maio de 2021

Mães: o campo feminino

 

Esse fragmento é parte do capítulo da Obra que tenho trabalhado com Amaril, inicialmente, denominado de A ROSA AZUL.

A temática do livro nasce como uma busca para aprofundar, esclarecer, compreender dois pontos: o machismo e o racismo. Os dois acabam criando uma intersecção ao situar a mulher negra. Toda a construção vai se dando por esses mecanismos e recortes.

Aqui apresento a parte inicial do capítulo- O RETORNO DA DONZELA. E trago esse fragmento, porque trabalhando em seu ajuste, ficou claro que ele dialogava com inúmeros casos que me chegaram na semana, que tocava essa relação mãe-filho. Uma relação que ao ser desdobrada nos remete a relação homem-mulher e que em outro desdobramento nos desvela a relação nossa com a Natureza, nossa com o Cosmos. 


Esses casos chegaram a partir de elementos avulsos, que culminaram numa foto muito bonita de Primavera abraçada com seu filho no luar. A foto traduzia uma cumplicidade, um encantamento, uma amizade, como que aquele filho ocupasse o lugar de Príncipe, de amigo, de herói. A foto dialogava com esse lugar que tinha avistado em uma partilhante de largar tudo para cuidar do filho que estava necessitado. Conversava com minha ex, com minha filha e estou mencionando as mães que tem filhos únicos. É uma outra apreensão. Havia uma redoma, um elo, uma camada protetora que envolvia e envolve essa relação. Se benéfico, se negativo, não entro no mérito, fiquei na beleza da cumplicidade. Eram muitas mulheres, amigas, pessoas. 

A partir disso tive que fazer a pergunta para elas de como era essa relação, com Primavera insisti na foto e ela me disse que na hora da selfie pediu a Lua que o(s) envolvessem, que cuidasse dele. Que ela desse a ele colo até ele atingir o ponto máximo. E, magicamente, a foto registrou esse encontro. Nele há um abraço que é um sorriso. Um enlace que é uma camaradagem, uma cumplicidade, uma relação entre iguais. Uma relação amorosa como poderia ser entre todos, especialmente, entre homens e mulheres. Não é o que acontece. Não vemos as mulheres com essa igualdade, com essa força. Ela estava o entregando aos cuidados dela. Era uma mãe conversando com a outra. 

O que me direcionou aos trabalhos marianos que temos realizado nos Bravais Conscienciais no Youtube às 4as feiras às 18:00 horas. 


A energia amorosa e misericordiosa de Maria. A energia de doçura e amor de minha mãe e outra companheira sempre fiel a reunião. A minha tentativa yang de mostrar e pedir para que não se ocupem com os filhos, deixe-os aos cuidados do Pai, da vida. Mas, isso dói nelas e a reza, a oração, a proteção se faz cuidado, por vezes dor e sofrimento. De todo modo, essa energia de acolhimento, de envolvimento, de algo que adentra, penetra e transforma sutilmente por dentro está lá em todas as suas fases e desdobramentos. Posto isto, posso ir trazendo os elementos do livro. 

Hoje a imagem que trago é do universo interno. Dos estilhaços e fragmentos desses mundos que se quebram num olhar, num grito, num silêncio, numa ação. Em certo sentido esses mundos quebram quando nos deparamos com o fato de não sermos e nem termos relevância no mundo dos outros. No caso em questão falo da descoberta do egoísmo, creio que seja esse o nome.

Uma mulher fantástica (Nereida) aqui das Minas de Belo Horizonte diz que egoísmo é tentar ser o centro, o umbigo da vida do outro. Já ser o centro da própria vida caracteriza-se com outro nome, que não é negativo como o primeiro movimento. Temos assim o egoísmo clássico que consiste em colonizar o umbigo da outra pessoa como se fosse o próprio e por outro lado a necessidade de encontramos nossa centralidade e saber que cada sujeito possui a sua.

Por muitas vezes nos perdemos nesses movimentos, nesses deslocamentos de eixo e de rota. A saída de si mesmo em direção ao outro, a permanência em nós para evitarmos colonizações, as brigas por independência e autonomia, a disputa para que outros saiam dos nossos umbigos, as rogativas estranhas que vemos pessoas realizarem para terem alguém que ocupe o umbigo delxs. Os movimentos existenciais são muitos e em cada um deles precisamos colocar atenção de que há uma impossibilidade fisiológica de tal ocupação. Todavia, energeticamente, isso não é tão fácil e simples. O cordão umbilical pelo qual somos alimentados sempre busca uma conexão com mecanismos externos a nós. Há assim uma dupla interface que se estabelece, PRIMEIRA uma evolução que nos direciona e nos coloca em busca da autonomia. Estamos pensando no desenvolvimento físico, orgânico e separando isso de quaisquer outros elementos.

 


Durante toda a gestação somos alimentamos, em todos os sentidos e níveis, por esse cordão umbilical. No momento do parto, poucos minutos depois de sairmos do útero, temos esse corte violento, essa ruptura com o caminho que nos nutriu por meses. Meses, que da perspectiva do feto, são eras. Dado o corte, recebemos o seio materno. E o laço permanece, continua. O peito nos faz esquecer do umbigo e o umbigo será curado, tratado com todo zelo, cuidado. Por vezes, pela avó, já que há um temor de algo dar errado nesse trato. Findo o cuidar do umbigo e meses, anos mais tarde, ocorre o desmame, inicia-se a infância, depois a adolescência, a juventude, a vida adulta.

Em cada passo há um desenvolvimento para que sejamos independentes. O desenvolvimento natural, fisiológico seria o de ir permitindo essas expansões, seria o de ir dando autonomia aos seres para cuidarem do próprio umbigo.

Nem sempre é assim que acontece, por diversos motivos. Há processos formativos nos quais nunca se dará independência ao outro. Nunca! Há seres que se alimentam e exploram, justamente, essa necessidade de conexão, de transcendência. Eles oferecem canais que mantem as pessoas viciadas, hipnotizadas, egocentricamente presas no próprio umbigo. As religiões são as que mais ofertam esse caminho de satisfação, de saciedade dessa fome infinita, ao mesmo tempo em que alimenta as pessoas só com ração de carne humana triturada.

 

Há outros processos terapêuticos, que para evitarem a armadilha religiosa, a ilusão da satisfação, apregoam que a falta é uma presença constante, que nunca será saciada, satisfeita. 

Somos seres de falta e isso que nos impele e nos locomove em direção as conquistas que irá nos satisfazer por algum tempo, até que a fome infinita nos preencha de novo. Queremos discutir a possibilidade de encontrarmos satisfação entre esses dois pontos. De assumirmos que sim, algo nos falta e encontrarmos esse algo se dá no entendimento de que somos seres de relação. Somos seres que precisam cuidar de si, do outro, mas esse cuidado não é uma posse, uma apropriação do umbigo do outro. O outro pode requerer a posse do seu umbigo a cada minuto, a cada instante e nesse requerer, estamos diante dos limites. Estamos, novamente diante das portas do Paraíso e tudo que Amaril está nos apresentando nessa Teologia dos Sonhos, na Teologia dos Despertos.