sexta-feira, 18 de setembro de 2020

1º RELATO- TRANCA-RUA.


Esse é o vídeo do relato em nosso canal no Youtube. 
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Abaixo o texto para ser lido na sua integra. 





Não podemos correr, esconder, ou largar a nossa sombra, sob pena de perdermos nossa luz.

Domingo, madrugada de segunda-feira. Feriado Nacional (21/4/2003). Estou ao lado de Tranca-Rua. É assim que se chama e se declara esse irmão de caminhada que se apresenta aos olhos dos videntes como um ser alto, pele negra, queimaduras no corpo que cada vez mais vai voltando ao normal, assim como algumas cicatrizes. Pernas cambotas, pés e mãos que cristalizam como fossem garras. Olhar penetrante e impactante de quem conhece todos os desejos e reconhece o gosto de cada um deles. Noutrora, ele carregava muitos cadeados junto ao seu corpo, hoje possui uma única chave, um símbolo que carrega na altura do peito representando o poder e a força de abrir e fechar caminhos. Abrir e fechar caminhos, entrar e sair são os movimentos basilares e essenciais dos Exus. Eles lidam com as energias das repressões, dos tabus, do escondido, do confinado, do não dito, do não pensado, do não expresso. Lidam com a energia sexual no seu estado mais primário. Lidam com a energia do querer, do possuir, do conquistar, do desejar no seu estado mais básico. Nossos medos, nossas fantasias, nossos recalques, nossas privações tudo isso alimenta Exu, tudo isso lhe proporciona o banquete de ser quem ele é, nos ajuda a limpar, escamotear, uma parte nossa que envergonhamos, lutamos para não ter e fazemos de tudo para esconder. Reprimir essa energia cria e ocasiona os mais diversos graus de transtornos, mas isso é outro assunto[1].

É usualmente comum visualizarmos Tranca-rua e outros EXUS com o corpo retorcido, rosto transfigurado, pernas tortas, dedos em formato de patas, pelos espessos ao longo do corpo, dente em formas de presas, cadeados ao longo do pescoço e na cintura. Olhos avermelhados como chamas de fogo e ira. Um aspecto impactante para atemorizar, espantar, causar medo e pavor, numa representação bem perto de uma Carranca, de uma Gárgula, com a distinção que é bastante comum encontrar com o mesmo Tranca-Rua numa forma menos animalizada, vestindo-se de roupas de centurião, saia curta, sandálias trançadas até a altura dos joelhos, dorso nu, mostrando várias cicatrizes. Rosto pesado, colossal, denso, com um olhar penetrante, impactante. Um ser que faz uso dos seus conhecimentos de magia, feitiçaria, encantos e especialmente militar para proteger, inibir, desestabilizar os inimigos daqueles que ele foi escalado para proteger, defender com a própria vida. O aspecto animalesco é uma roupagem utilizada por ele e outros para trabalhar e prestar socorro nos vales das sombras, das drogas, do tráfico, da violência e da morte. Um trabalho extremamente pesado e desgastante e que sempre temos que prestar esclarecimento.

Respondem sob a alcunha de exu um sem número de seres, dos mais diversos, nos mais variados níveis. Sendo assim é preciso distinguir os Exus, dos exus. Quando estivermos falando de Tranca-Rua, um Exu estamos falando de seres que não são orixás (ESÚ), e sim de seres que se aproximam e se identificam dessa forma-força arquetípica se prestando aos mesmos atributos de mensageiros, comunicadores, brincalhões, obstinados, protetores. É comum vermos e lidarmos com vários Exus que modificam sua roupagem de acordo com o ambiente em que se encontram. Tranca-rua nas casas espiritistas apresenta-se com características humanas normais como descrevemos e é o protetor espiritual, defensor, guardião de nossa casa e algumas outras. Nessas atividades, ele pode ser chamado ou reconhecido como centurião Arnaldo, ou como coronel Xisto, porém é o mesmo amigo, irmão, que ao descer no lodo, caracteriza-se com outras feições. Em cada uma dessas casas e lugares, Tranca-rua auxilia e coordena na parte da defesa e proteção dos médiuns, dos visitantes, do ambiente, dos que chegam, dos que pretendem chegar, assim como a negociação das dívidas com outros seres.

 


Na madrugada de domingo, ele e outros vieram me chamar para iniciarmos nossos trabalhos. Ao sair do corpo fomos levados a uma região do Umbral, na Crosta Terrestre, local de muito lodo, muita escuridão e um sentimento no ar de medo, desassossego, sendo necessário muito equilíbrio interior para não se deixar afetar pelas cenas dantescas e pelos seres dantescos que por lá passeiam e habitam. A moralidade dos trabalhadores da luz tende a considerar esses lugares e seus habitantes como irmãos necessitados, espíritos endividados e coisas do gênero, o que de fato são. O inusitado é ouvir Tranca-rua e outros nos esclarecer que o lugar que eles habitam, a energia que eles usam e especialmente quem eles são, deve-se a nossa dificuldade de lidar com nossos desejos. Aqueles lugares eram criados pela dificuldade de olharmos para o nosso querer, nossa vontade e reconhecer a fúria, a raiva, a inveja, a cobiça, a ira, a tristeza, o egoísmo, o orgulho, a vaidade e tantos outros pontos que por não reconhecermos em nós, acabamos por co-criar e dar mecanismos de perpetuação de tudo isso em outros. Numa perspectiva energética em que nada se perde e tudo se transforma não é difícil considerarmos que nossas energias de recalque vão parar em algum lugar. No caso, Tranca-rua nos mostra que ela alimenta o umbral e seres umbralinos dos mais diversos matizes. Insistentemente, ele tenta nos mostrar que esse lugar não é um lá e aqueles habitantes não são um eles e sim, que aquele lugar é um aqui (apontando para si mesmo) e um nós, indicando uma relação complexa de identificação que não cabe por hora falarmos. Pelo menos não era há treze anos. Hoje é imprescindível que falemos desses espaços. Os espaços astrais que percorremos, adentramos, são construções coletivas, fruto de pensamentos, sentimentos, vibrações que se consolidam. O umbral é formado, é composto por nossa inconsciência no sentido mais irresponsável. É a somática de nossos desejos, vontades, não declarados, não manifestos. Nessa concepção, o sentido básico por ele relatado é o que somos todos um. Não um apenas com as partes luminosas, ascendidas e esclarecidas. Somos um também com as partes sombrias, por vezes trevosas que fogem da luz e da consciência. Essas partes que não desejamos ver, que escondemos, camuflamos, ocultamos e pior, apontamos nas outras pessoas. É fundamental olharmos para essas partes nossas que por vezes obsedam a nós mesmos e a pessoas que amamos.

Tranca-rua assim como outros EXUS tem uma base de apoio justamente nessa localidade, onde trabalha com outros irmãos de luz no auxílio a seres que fizeram da vingança, do ódio e do medo à razão de suas vidas. É um lugar terrível, onde o único sentimento, se é que podemos qualificar assim, que impera é o do vazio interior, o nada existencial. Às vezes, alguns desses seres são chamados na superfície e é aí que se inicia parte do trabalho de Tranca-Rua e a falange de EXUS. Auxiliar num processo de despertar consciencial de todos os envolvidos. A matriz de entendimento para isso é coletiva, plural, sistêmica, desdobrando-se como raízes de uma árvore para diversos pontos. Não importa o ponto no qual se faça a observação todo ele é plural e coletivo. Se o foco é um médium, logo estamos diante de suas entidades, que se desdobra para uma casa espiritual que ele trabalha. Se estivermos diante de uma casa espiritual, logo nos são apresentados seus membros e, por conseguinte, suas entidades. Se o foco é um visitante, logo estamos diante de sua família e de seus contatos. Não importa por qual via, por qual estrutura, todos são um e percebidos como componentes de uma rede. Um sistema holográfico no qual a parte desvela e revela o todo. Um fragmento comporta toda a característica do todo e este ‘todo’ fragmenta a visão de todas as partes. Por essa via de movimentação é que situamos a diferença do espectro consciencial desses seres, de ESÚ a exu. O sentido desses seres, que trabalham nesse fragmento da totalidade, é espelhar, produzir e reproduzir uma cadeia na qual promova a justiça. Uma Justiça que se atrela as leis do karma, que se estende do passado ao presente, do presente ao passado. Quanto mais ciência dessa temporalidade, maiores os recursos, as potencialidades dos mensageiros. Praticamente, é nesse cenário que os EXUS trabalham.

Imaginemos como:

·        Uma pessoa que deseja e procura ajuda de quem pretensamente pode movimentar energia espiritual para obter o seu intuito;

·        Um médium e a casa que se faz de intermediários entre esse desejo e a sua realização;

·        Os seres desencarnados que motivados e incentivados pelas oferendas irão aceitar o contrato;

·        A pessoa alvo da ação;

·        Os demais seres (encarnados e desencarnados) que indiretamente receberão essas ações.

Na visão material, física cada um desses pontos é visto como uma fase isolada. Na perspectiva espiritual e isso é que caracteriza e diferencia um Exu de um exu tudo isso é visto como uma rede, relações intricadas e interligadas, com poucas possibilidades de separação. Ou seja, mostramos uma parte bem visível desses elos sem entrar nos méritos pessoais de cada um, mas o trabalho dos Exus é acompanhar todo o processo e interferir apenas se forem conclamados. Os Exus respeitam as leis da vida, isto é, do carma e da justiça divina. É muito raro, raríssimo encontrar um Exu que fez parte de algo que contraria essas regras, pelo contrário, eles são os que a fazem cumprir.

Peguemos um caso concreto no qual a mulher solteira se apaixona pelo homem casado. Entendam que isso é normal, são pessoas bonitas, saudáveis, interessantes e afins, porém um fez um voto de fidelidade e deseja cumprir. Lidássemos melhor com nossos desejos, o marido diria para esposa:

- Conheci uma moça que está tirando o meu sono.



Sim, ela ia tirar o sono, mas esse homem conseguiria dormir, acordar, aproximar e levar uma vida sossegada. Porém, esse homem tem um sistema de crença muito rígido, bem consolidado do que representa o matrimônio. Nessa visão esse desejo é pecado. Para ele a moça é tentação do diabo, luxuria colocada na vida dele. Ele vai lutar, ele vai fugir e é dessa energia, é dessa falta de luz e consciência que as forças desarticuladoras vão fazer uso. Elas se alimentam do medo, da omissão, da falta de clareza. Elas se alimentam do medo. A moça vai até uma casa de sortilégios e encomenda a separação do casal para ela ter o que deseja, sonha.

Nosso trabalho enquanto Exu é tentar proporcionar ao casal a expressividade dos desejos, a busca por luz e esclarecimento seja psíquica, espiritual, religiosa. Esclarecimentos que não criem medo/culpa e sim apresente clareza. Não há escuridão que resista a luz. Porém o habitual é a condenação do desejo é o aumento da culpa e da vergonha e essas energias não beneficiam a saúde psíquica do indivíduo, nem do familiar, nem do social. Essas energias geram o umbral, alimentam o inferno. O inferno não é o desejo e sim a ocultação dele, a vergonha dele. Não é ilícito sentir, desejar, imaginar. A ilicitude está em negar isso, negar tanto e até o ponto que outro fara por você. Construir situações nas quais por não se dar conta e nem consciência do desejo um terceiro o realiza e nessa realização você ainda condena, julga, joga pedra, não reconhece que ele fez a expressão da sua vontade, do seu querer[2]. Quando falamos de energia do astral, quando falamos de umbral, estamos falando da soma de todos esses recalques, de todas essas inconsciências. Estamos falando de tudo o que negamos ser e julgamos, condenamos, criticamos. Há aspectos nossos que vivem nesses lugares e que nós os alimentamos. Essa é a complexidade que gostaríamos de falar e não é fantasioso dizer que muitas vezes o obsessor que nos atormenta é uma parte nossa que jogamos na escuridão por medo, culpa, vergonha.

Dar clareza aos nossos desejos movimentá-los e especialmente materializá-los esse é o trabalho dos Exus. Eles são aqueles que intermediam de forma mais clara os planos materiais e espirituais, a “alta energia” e a “baixa energia”, o em cima e o embaixo. Enfim, são seres que dominam os dois lados da energia e optaram conscientemente por fazer esse movimento do lodo para as nuvens. Esses outros que pousam/baixam nos diversos centros e se autodenominam exus, são na verdade, irmãos ignorantes, muitas vezes manipulados, muito longe da sabedoria desses amigos injustamente ultrajados. Essa é uma longa conversa que já podemos contar com obras bem escritas, percebidas e elaboradas que mapeiam e descrevem essa distinção. Podemos citar Tambores de Angola de Robson Pinheiro e algumas outras que distinguem o que é exu de ESÙ, EXU e exus, malandros, aproveitadores que desencarnados permanecem dando golpes e se alimentando dos vícios de outros. Quando as pessoas chegam ao centro tramando por vingança, eles acabam por alimentar àqueles seres que por sua vez dão força para que sejam realizados os trabalhos desditosos de amor, luz e compreensão.

 

Nesta noite fui levado e apresentado a dois casos: um no seu período inicial e outro no seu período final.

CASO UM.

Tudo começa quando Marcos conhece Joana (nomes fictícios) mulher casada, mãe de três filhos, trabalhadora. Marcos também pai de família, casado, dois filhos com a companheira atual e alguns outros com outras mulheres que nunca assumiu, nem o relacionamento e nem os filhos.

Marcos é o que podemos denominar de médium ainda que não trabalhe ostensivamente, mesmo sendo um frequentador assíduo de casas espirituais onde impera a maldade. Compreenda por maldade casas que tem como proposito e meta fomentar a vingança, o desejo, a cobiça a qualquer preço sem levar alguma coisa em consideração a não ser a satisfação própria. Esses lugares como quisemos deixar claro e vamos aclarando a todo instante servem para alimentar seres perversos, cruéis numa retroalimentação doentia e satânica. Marcos e Joana são ‘companheiros’ de trabalho e ele a desejou fisicamente desde o primeiro instante. Quando digo ele, refiro-me tanto ao próprio Marcos, quanto e especialmente aos amigos que o acompanha energeticamente. Uma simbiose complexa de auto obsessão e obsessão, um processo de ressonância em que está em jogo não apenas os entes físicos e encarnados, mas muitos dos entes espirituais e desencarnados. Talvez a frase: “meu anjo da guarda; meu santo bateu, ou não bateu com o dele” ilustre essa simbiose, que facilita ou dificulta, impossibilita inúmeros relacionamentos.

Joana tem um marido e um lar que passa por dificuldades, entre outras coisas pela falta de um tempo para a espiritualização. Parte dos conflitos do casal tem um fundo espiritual: vingança karmica. Compreendendo esse espiritual como a força que aglutina, direciona, abriga, que conforta as demais esferas da vida- econômica, física, emocional, financeira. O espiritual é o que consegue dar sentido, preencher o vazio de uma vida calcada apenas em valores materiais.  No que se refere à vingança ficava-nos claro astralmente a presença de uma mulher e de um homem que foram cônjuges respectivamente de Marcos e Joana e que ainda por ciúmes, inveja, vingança, um amor doente, não permite e não aceita a união atual deles. Para aqueles dois seres desencarnados, eles estavam sendo traídos e juntos se unem para separá-los, pois no entendimento comum que tinham sobre os fatos- Marcos e Joana eram deles. Marcos passa a ser o ‘cavalo’ de Tróia que será utilizado para arruinar o tanto o próprio lar, quanto o da Joana. Envolvido que estava pelos lugares nos quais frequenta, pelos desejos que vibra, Marcos invoca forças de baixa vibração para ter Joana para si sem saber que por trás do seu desejo, ele está sendo igualmente manipulado. Ele está dando forças e abrigo para que seres de outra e mesma monta o arruíne por vingança, cobiça, inveja.

Talvez o leitor mais cético duvide, que algo possa ser tão fácil de ser realizado. Perguntam-se: afinal, cadê a proteção divina? Perguntas válidas, mas que não alteram os dispositivos, as engrenagens atrativas da força do desejo, do querer, seja ele qual for. Não dissuadem seres que tem a coragem de lidarem com o próprio desejo, mas que não se responsabilizam com o que isso pode causar. A sua maneira, Marcos desperta esse desejo e ele tem atrelado em seu campo áurico seres que por diversas aparelhagens e mecanismos conseguem atrair e movimentar esse querer os materializando. Esses seres dão forças aos médiuns e a algumas entidades para terem os seus fins realizados nesse conluio escuso de forças.

Marcos consegue o seu intento: dorme com Joana. Dessa relação há uma gravidez. Como já era esperado, Marcos não assumi, o marido de Joana desconfia e descobre. Joana aborta. Marcos a despedi por um motivo banal, o marido se separa dela.

Joana se sente injustiçada, quer vingança e encontra quem a faça. Paga por ela, alimentando o médium, a casa, os seres e o ciclo não para, a dor não cessa, a luz não entra, o sofrimento impera e permanece. Joana quer vingança contra Marcos. Marcos fica impotente, em seguida neurastênico, mais tarde depressivo, desenvolve câncer na próstata, desencarna. Antes de seu corpo virar pó, ele já está aprisionado no vale das sombras por criaturas que irão continuar sugando o resto de energia vital que ele ainda possui. Quando não conseguirem retirar mais nada, eles os enviarão para ser Zumbi, isto é, trabalhar como exu, se alimentando de sexo, cachaça, raiva e rancor nos becos, nas encruzilhadas, nas esquinas, literalmente incorporando em cachorro para se alimentar. Quase nunca ocorre a esses seres refletirem sobre o que fazem, fizeram e continuam fazendo. Permanece com eles o desejo inconfesso de algum dia, serem os maiorais, continuam alimentando a roda de dor e sofrimento continuam dando vazão aos seus desejos acreditando que eles não podem ser realizados ‘pela luz’. Continuam escondendo-se nas trevas, na escuridão e impedindo de crescerem e serem melhores. Continuam o ciclo de inconsciência e escuridão. Algo que se dissipa, calmamente, assumindo o próprio desejo. No caso de Marcos e tantos outros, aprendendo a lidar com o magnetismo pessoal e o liberando. As formas para isso são imensas, inúmeras, vai do passe a dança, do ganhar dinheiro ao uso ostensivo da mediunidade.

 

Esse é só mais um exemplo de inúmeros outros que ocorrem, como o do empresário passado para trás, o do político ganancioso e outros tantos e inúmeros outros casos assustadores e terríveis.

O trabalho de Tranca-Rua é o de conscientização dos médiuns e dos seres do vale sobre o alto preço dessas atividades e suas afetividades. Uma tentativa de unir e clarear as duas pontas da corrente. Na verdade, as pessoas do vale são em sua grade parte médiuns de outrora que se disponibilizaram para ser veículo de escândalo entre os dois planos. Esse conluio energético prende, aprisiona, interconecta esses seres por muitas vidas. Trabalhar mediunicamente com bases no amor, no esclarecimento, mais do que cuidar dos outros é lançar luz em nossas próprias cadeias e elos conscienciais. Para cada um que falamos, com cada um que conseguimos explicar os pontos de estrangulamento do jogo kármico é a nós mesmos que estamos clareando e esclarecendo. Tranca-Rua ajuda a desfazer essas correntes karmica perniciosas, daí a alcunha do seu nome- Tranca rua. Não só no sentido comum de fechar e abrir caminhos no campo material, profissional, sexual e alguns outros; como também no de liberar e fechar energias que aprisionam e libertam os seres. Estamos falando, basicamente, da ENERGIA SEXUAL. A Kundalini, a serpente, a corrente que ele detém o poder de manipular e explorar o funcionamento travando e liberando o fluxo, ajudando os seres a se desprenderem desses laços (correntes). Esse é um caso que eles nos apresentam e parte do seu trabalho na espiritualidade.

Se ao invés de Joana ter buscado uma casa de vingança e encontrado uma de luz, estaria acionando um grau de consciência a todos os que a cercam. Teria sido realizado uma “puxada”, ou desobsessão na qual todos os irmãos desditosos, paulatinamente, seriam chamados a se conscientizarem dos seus atos, ações e pensamentos. E essa luz seria novamente devolvida ao nosso irmão médium que poderia esclarecer Marcos. Por essas vias o trabalho de conscientização romperia o elo vingativo da corrente, introduzindo um novo padrão de luz e vibração a todos os envolvidos direta e indiretamente. Podemos pensar a corrente como sendo uma condutora elétrica, o choque de consciência em um dos elos é reproduzido e amplificado para todos os demais, numa força e grau bem mais rápido e forte do que provocado pela força ‘exógena’ das entidades.

O trabalho dele(s) não para aí, além de examinar cada caso, eles veem até que ponto pode interferir no processo de conscientização, esclarecimento e como farão isso. Qual o grau de merecimento para resolverem o problema e qual o nível de consciência para que ele seja solucionado, indo desde locais de apoio e estruturação para os envolvidos até as pessoas que cruzam o caminho. A conversa afiada, assim como a obstrução das entidades que querem obstinadamente o mal é parte do trabalho desses amigos.

 

Tenho que acordar, levanto, mas após o almoço sinto sono e volto a dormir. Estou de volta com os meus amigos ao local do nosso encontro. Lá saímos por incursões no astral. É Tranca-Rua conduzindo seres (amigos) ao umbral. Discorrendo sobre cada lugar com muita propriedade e falando da energia dos moradores das cidades. São cicerones, algo similar a guias turísticos do Umbral. Creio que ninguém vagueie por lá sem contar com o auxílio desses amigos.

Outro aspecto do trabalho deles é militar: montar guardar e desmantelar ‘quadrilhas’ umbralinas. Retirar casas espirituais, médiuns, entidades de circulação por estarem tumultuando e dificultando a circulação de luz aos seus laços. Essa já é uma arquitetura mais sofisticada que conta com diversos tipos de elaboração e entidades para ter funcionamento. Concomitante a tudo isso, eles dão apoio e estrutura as casas espirituais na qual trabalham e frequentam e aos médiuns que assistem de forma direta. São capazes de impedir vampirização energética, pensamentos negativos destinados aos médiuns. Assim como cuidar de pessoas da assistência que recebem vibrações para não irem à reunião, passando por fatos mais intricados relacionados à materialização- como o desviar balas das pessoas, evitar acidentes, retirar pessoas intactas de dentro de um carro com a lataria completamente retorcida.

Finalmente, a eles cabem a regulagem de quem entrara na sessão espiritual. Ficam na porta (umbral), ou nas adjacências (encruzilhadas) montando guarda, enviando seres e impedindo outros de adentrarem a reunião. Durante as mesmas, nas desobsessão ou até mesmo nas de esclarecimento e conscientização levam essas criaturas recolhidas ao longo do dia ou da semana para ouvirem, falarem se esclarecerem. No término conduzem cada participante até a sua residência para que nada fora dos desígnios do alto ocorra.

Olhar para os EXUS e os virem como seres que promovem toda desordem no astral é pré-conceito de quem deveria buscar a luz tanto para si quanto para melhor iluminar. São seres que em grande parte dos casos não precisam mais fazer uso do corpo físico, podem trabalhar, evoluindo, fora da matéria, mas em contato com ela. São mediadores celestiais. Precisam de uma roupagem pesada não por serem duros e lhes faltarem evolução como muitos videntes acabam interpretando. Usam essas formas em geral por residirem e trabalharem nos locais nos quais se encontram. Locais nos quais o dantesco, o burlesco tem mais valor do que o belo e o harmônico. Nesse papel barroco que eles têm: equilibrar os contrários. São seres amantíssimos que nos indica que o mal exterior, a obsessão nada mais é do que os sonhos interiores que todos desesperadamente querem ocultar.

Os EXUS nos ensinam que para chegarmos à luz precisamos iluminar e esclarecer nossas sombras interiores, os nossos porões internos. É isso que eles fazem, movimentam a nossa energia fantasma: a sexualidade. Mostram-nos que não podemos correr, esconder, ou largar a nossa sombra, sob pena de perdermos nossa luz. Precisamos utilizar nossa sombra com carinho e sabedoria para ajudar a esclarecer e acolher os elos que trazemos e carregamos. Eles são mestres do equilíbrio, são bailarinos do astral o que desvela o trabalho deles mais importante- o de senhores da lei e do karma. Mas, antes de desvelarmos isso, eles nos ensinam a arte de caminhar na corda bamba da existência sem medo e ou preconceitos morais, espirituais, sexuais. São seres abertos que se fazem e se pintam horripilantes para que consigamos suportar a beleza da sua luz, a majestade do seu gesto, de se fazer pequeno e habitar com os perdidos sem serem percebidos a sua grande elevação espiritual. Sem percebermos o trabalho deles de aplicadores da Justiça divina nas mais diversas formas que cada consciência compreende para o seu processo de crescimento e amadurecimento.

É esse equilíbrio que lhes dota do merecimento de serem agentes da lei do Karma. Longe dos palácios suntuosos da Justiça divina na qual os seres que por lá se encontram fazem com que a lei se cumpra mediante a capacidade amorosa e consciencial de cada um, os Exus são os juízes fardados que aplicam as medidas e as sanções. A imagem que me foi mostrada é a de que cada consciência tem o seu tribunal. Um tribunal que desconhecemos a amorosidade. Esse desconhecimento nos faz acreditar que tudo funciona pela dor, pelo sofrimento, pela culpa e pelo castigo. A maioria de nós não consegue aprender pela docilidade, pelo entendimento, pela fala amorosa, a maioria de nós só concebe aprendizagem quando ela está associada ao sofrimento, a dor, ao castigo. Os Exus são esses seres que regulam essas medidas nos planos mais densificados. São eles que ‘abandonando’ a sua amorosidade fazem uso de uma regulação mais instintiva, visceral, aplicando as leis de causa e consequência sem perdão, quase que nos moldes da lei de Talião.


Postulem, que o legislador celestial, imaginou que cada ser na sua experiência terrena, ao ser chamado para o Criador iria retornar de braços abertos e saltitantes. Porém, houve um desvio e nesse encontro diante desse ser amoroso, a gente começou a fugir desse contato por culpa e vergonha por não ter amado como somos amados. Diante dessa vergonha inventamos uma Suprema Corte para nós julgar. Todavia, não havia juízes, porque não há julgamento, mesmo assim a gente insiste e insistia que devemos ser julgados. Eles passaram a nos julgar dizendo: “vá em paz! Renasça outra vez! Faça melhor dessa feita!” A gente não entendia, voltava, renascia, cometia as mesmas coisas e não amávamos. Criamos o Tribunal para que fossemos corrigido o mais breve possível e com mais peso. Adiantou pouco e assim como tem um código civil que normatiza ações da sociedade e dos homens em sociedade, há um código penitenciário que se aplica aos que se encontram encarcerado. Os Exus são esses caras que dão para nossa consciência o grau de punição que a gente se aplica, com o intuito da gente despertar à consciência de que não tem ninguém nos punindo a não ser nós mesmos.

Crimes e castigos que nos impomos por não conseguirmos lidar com o amor divino que não nos pede, não nos cobra, não nos julga, apenas nos ama. Quando aprendemos a lidar com isso, a suportar esse amor que não nos pede nada em troca, não quer nada de nós, não espera nada da gente, nem mesmo que o amemos.... Tornamo-nos seres melhores, mais gratos. Os Exus ensinam isso da forma que nós compreendemos: cobrando e bem caro por nossas conquistas, por nossas faltas.



[1] Preciso e importante destacar a diferença entre ESÚ, que reportaremos como sendo uma força orixá, EXU que são esses guardiões e Exus que são seres desencarnados que praticam qualquer tipo de trabalho em troca de cachaça, dinheiro. Embora a força dos orixás, nos seus apelos míticos transpasse cada um dos outros dois polos, não estamos falando do mesmo nível consciencial e de trabalho. São e estão em espectros conscienciais diferentes.

[2] As imagens destas e outras cenas são inúmeras. São portas que vão se abrindo a cada linha, entre cada uma. É esse lugar que chamamos de livro, as imagens, os sons, a musicalidade que cada autor nos fornece e nos proporciona. Agora enquanto relia, desdobrava a cena em que Jesus se ajoelha diante da adultera e pede a multidão para atirar a pedra, aqueles que não tem nenhum pecado. Enquanto leio Tranca-Rua essa imagem e toda a história daquela mulher vem a mente. Uma história linda que é melhor compreendida como parábolas, alegorias. Diante da vida mesma precisamos de metáforas para darmos conta de suportar a existência.