segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

À amada-amiga Elo

 


Salve a todxs

Tenho vindo pouco por aqui. Estou atuando em outros canais. A escrita sempre foi a manifestação mais expressiva do meu ser. Na escrita eu manifesto partes minhas que não tinha colocado atenção direta. Na minha escrita sai conteúdos que capturam partes da minha alma, do meu ser que nem sempre falam diretamente comigo.

A despeito disso tenho falado pelo canal do youtube:

Fiholosofia: a casa do autoconhecimento. - YouTube

Lá tenho feito postagens semanais num veículo que me lembra a sala de aula, um espaço que amo. Pois bem, na medida do possível trarei alguns textos da descrição para cá e espero que vocês vão até lá curtir, comentar, expor suas perspectivas, enfim interagir.

Para esse retorno eu trago o vídeo que dediquei a Eloise Paiva, uma Amada-Amiga, uma inspiração, um amor, uma companheira, uma parceira. Um Elo. Uma direção e um sentido.

Nesse vídeo continuamos falando de 1987- a Convergência Harmônica adentrando a abertura de tempos, espaços, portais, esperanças. A Convergência traz uma imagem muito cara a nós dois, porque remete a um sonho, no qual segundo ela, um menino estava sentado no passeio, na porta da sua casa e eles conversavam sobre a vida. Esse sonho seria de 1983/84. Eu estava com 9/10 anos de idade. Em 1987 já com 13/14 anos eu recordo de alguns desdobramentos, alguns encontros com pessoas que vim a conhecer mais tarde, seja como pessoas encarnadas, seja como entidades que trabalhamos juntos.

Essa temporalidade descontínua, picotada, que sai do onírico, adentra o astral, dialoga com o factual, volta para o imaginário teve em 1987 sua abertura mais clara e falamos um pouco dessa atemporalidade no vídeo.

Deixo dois textos que dialoga com ela e com o Nós. https://universofiholosofico.blogspot.com/2012/07/as-senhas-do-eu-preambulo.html https://universofiholosofico.blogspot.com/2018/05/o-eu-ela-us-nos-caminhando-pelo.html

Assim como o vídeo onde podem acompanhar essa abordagem.

 


sábado, 8 de maio de 2021

Mães: o campo feminino

 

Esse fragmento é parte do capítulo da Obra que tenho trabalhado com Amaril, inicialmente, denominado de A ROSA AZUL.

A temática do livro nasce como uma busca para aprofundar, esclarecer, compreender dois pontos: o machismo e o racismo. Os dois acabam criando uma intersecção ao situar a mulher negra. Toda a construção vai se dando por esses mecanismos e recortes.

Aqui apresento a parte inicial do capítulo- O RETORNO DA DONZELA. E trago esse fragmento, porque trabalhando em seu ajuste, ficou claro que ele dialogava com inúmeros casos que me chegaram na semana, que tocava essa relação mãe-filho. Uma relação que ao ser desdobrada nos remete a relação homem-mulher e que em outro desdobramento nos desvela a relação nossa com a Natureza, nossa com o Cosmos. 


Esses casos chegaram a partir de elementos avulsos, que culminaram numa foto muito bonita de Primavera abraçada com seu filho no luar. A foto traduzia uma cumplicidade, um encantamento, uma amizade, como que aquele filho ocupasse o lugar de Príncipe, de amigo, de herói. A foto dialogava com esse lugar que tinha avistado em uma partilhante de largar tudo para cuidar do filho que estava necessitado. Conversava com minha ex, com minha filha e estou mencionando as mães que tem filhos únicos. É uma outra apreensão. Havia uma redoma, um elo, uma camada protetora que envolvia e envolve essa relação. Se benéfico, se negativo, não entro no mérito, fiquei na beleza da cumplicidade. Eram muitas mulheres, amigas, pessoas. 

A partir disso tive que fazer a pergunta para elas de como era essa relação, com Primavera insisti na foto e ela me disse que na hora da selfie pediu a Lua que o(s) envolvessem, que cuidasse dele. Que ela desse a ele colo até ele atingir o ponto máximo. E, magicamente, a foto registrou esse encontro. Nele há um abraço que é um sorriso. Um enlace que é uma camaradagem, uma cumplicidade, uma relação entre iguais. Uma relação amorosa como poderia ser entre todos, especialmente, entre homens e mulheres. Não é o que acontece. Não vemos as mulheres com essa igualdade, com essa força. Ela estava o entregando aos cuidados dela. Era uma mãe conversando com a outra. 

O que me direcionou aos trabalhos marianos que temos realizado nos Bravais Conscienciais no Youtube às 4as feiras às 18:00 horas. 


A energia amorosa e misericordiosa de Maria. A energia de doçura e amor de minha mãe e outra companheira sempre fiel a reunião. A minha tentativa yang de mostrar e pedir para que não se ocupem com os filhos, deixe-os aos cuidados do Pai, da vida. Mas, isso dói nelas e a reza, a oração, a proteção se faz cuidado, por vezes dor e sofrimento. De todo modo, essa energia de acolhimento, de envolvimento, de algo que adentra, penetra e transforma sutilmente por dentro está lá em todas as suas fases e desdobramentos. Posto isto, posso ir trazendo os elementos do livro. 

Hoje a imagem que trago é do universo interno. Dos estilhaços e fragmentos desses mundos que se quebram num olhar, num grito, num silêncio, numa ação. Em certo sentido esses mundos quebram quando nos deparamos com o fato de não sermos e nem termos relevância no mundo dos outros. No caso em questão falo da descoberta do egoísmo, creio que seja esse o nome.

Uma mulher fantástica (Nereida) aqui das Minas de Belo Horizonte diz que egoísmo é tentar ser o centro, o umbigo da vida do outro. Já ser o centro da própria vida caracteriza-se com outro nome, que não é negativo como o primeiro movimento. Temos assim o egoísmo clássico que consiste em colonizar o umbigo da outra pessoa como se fosse o próprio e por outro lado a necessidade de encontramos nossa centralidade e saber que cada sujeito possui a sua.

Por muitas vezes nos perdemos nesses movimentos, nesses deslocamentos de eixo e de rota. A saída de si mesmo em direção ao outro, a permanência em nós para evitarmos colonizações, as brigas por independência e autonomia, a disputa para que outros saiam dos nossos umbigos, as rogativas estranhas que vemos pessoas realizarem para terem alguém que ocupe o umbigo delxs. Os movimentos existenciais são muitos e em cada um deles precisamos colocar atenção de que há uma impossibilidade fisiológica de tal ocupação. Todavia, energeticamente, isso não é tão fácil e simples. O cordão umbilical pelo qual somos alimentados sempre busca uma conexão com mecanismos externos a nós. Há assim uma dupla interface que se estabelece, PRIMEIRA uma evolução que nos direciona e nos coloca em busca da autonomia. Estamos pensando no desenvolvimento físico, orgânico e separando isso de quaisquer outros elementos.

 


Durante toda a gestação somos alimentamos, em todos os sentidos e níveis, por esse cordão umbilical. No momento do parto, poucos minutos depois de sairmos do útero, temos esse corte violento, essa ruptura com o caminho que nos nutriu por meses. Meses, que da perspectiva do feto, são eras. Dado o corte, recebemos o seio materno. E o laço permanece, continua. O peito nos faz esquecer do umbigo e o umbigo será curado, tratado com todo zelo, cuidado. Por vezes, pela avó, já que há um temor de algo dar errado nesse trato. Findo o cuidar do umbigo e meses, anos mais tarde, ocorre o desmame, inicia-se a infância, depois a adolescência, a juventude, a vida adulta.

Em cada passo há um desenvolvimento para que sejamos independentes. O desenvolvimento natural, fisiológico seria o de ir permitindo essas expansões, seria o de ir dando autonomia aos seres para cuidarem do próprio umbigo.

Nem sempre é assim que acontece, por diversos motivos. Há processos formativos nos quais nunca se dará independência ao outro. Nunca! Há seres que se alimentam e exploram, justamente, essa necessidade de conexão, de transcendência. Eles oferecem canais que mantem as pessoas viciadas, hipnotizadas, egocentricamente presas no próprio umbigo. As religiões são as que mais ofertam esse caminho de satisfação, de saciedade dessa fome infinita, ao mesmo tempo em que alimenta as pessoas só com ração de carne humana triturada.

 

Há outros processos terapêuticos, que para evitarem a armadilha religiosa, a ilusão da satisfação, apregoam que a falta é uma presença constante, que nunca será saciada, satisfeita. 

Somos seres de falta e isso que nos impele e nos locomove em direção as conquistas que irá nos satisfazer por algum tempo, até que a fome infinita nos preencha de novo. Queremos discutir a possibilidade de encontrarmos satisfação entre esses dois pontos. De assumirmos que sim, algo nos falta e encontrarmos esse algo se dá no entendimento de que somos seres de relação. Somos seres que precisam cuidar de si, do outro, mas esse cuidado não é uma posse, uma apropriação do umbigo do outro. O outro pode requerer a posse do seu umbigo a cada minuto, a cada instante e nesse requerer, estamos diante dos limites. Estamos, novamente diante das portas do Paraíso e tudo que Amaril está nos apresentando nessa Teologia dos Sonhos, na Teologia dos Despertos.

quinta-feira, 15 de abril de 2021

COMO SE AJUDA A MULHER MARAVILHA: entre a dor incomensurável e a fragilidade embotada.

As redes sociais mentem. Todos nós sabemos. Os que não sabem poderiam desconfiar. O riso dado, a selfie tirada, tudo isso esconde mais do que revela. Esconde o que? Revela o que?

Revela o que as pessoas gostariam que víssemos. Esconde o que elas não podem mostrar nem para elas. Como mostrar a solidão, a tristeza? Como mostrar a fragilidade, a angustia, o medo? Não mostramos. 

Por vezes falseamos, mas eu não quero falar disso. Isso já está batido igual doce de leite. Quem ainda não sabe disso, precisa acordar. Quem ainda acredita em tudo o que vê, lê, escuta nas mídias sociais, ainda não compreendeu a sociedade da ostentação.

 

Eu quero falar da dor imensurável. Foi assim que uma partilhante descreveu o que estava sentido. Depois de ter ficado 35 minutos falando do filho. Depois de ter atravessado dezenas de cidades para buscar o filho que ‘saiu da casinha’. Depois de ter demorado quase um dia para chegar ao encontro desse filho querido, amado e de lá retornado, com ele nos braços, sob os seus cuidados. 

Depois de ter pedido trancamento do mestrado, licença do trabalho. Depois de tudo isso, ela ainda não teve tempo de olhar para a dor. E é essa a loucura: algumas pessoas não tem a possibilidade de parar, de lamber feridas, de lamentar. Algumas pessoas diante da dor, ainda tem que dar conta da própria vida e da de outros. Então, se por vezes, está tudo 'sussa' demais para o seu lado, é que com quase toda certeza, alguém está carregando sua parte no ombro. Por vezes, você é quem está montando no ombro de alguém e ainda não percebeu. Outras vezes não, aprendemos a distribuir pesos e a cuidar da nossa parte. Sem sacrifícios, sem dramas. Distribuição equitativa, isto é, ou fica suave para as partes envolvidas, ou se faz remodelação de contrato, ou se alguém largar a parte que lhe cabia, desobriga o(s) outro(s) de levarem adiante; não tem mártir, nem salvador para carregar relações e ações sozinho.

Óbvio que há outras opções e alternativas, nem sempre claras a lógica masculina, sempre afeita a ter o próprio pênis como centro de medida do universo. Mas, como esse largar é por vezes importante. Ontem conversei com uma amada e outra partilhante. Em comum, o sofrimento pelas mortes do Covid. A angústia e o sufocamento de ver, ler, saber que pessoas estão morrendo, acordando entubadas por falta de sedativos e envolta delas, na governança, eles não se importam. Não vou dizer que eles largaram, porque eles nem pegaram. O que é inusitado? É que enquanto uns simplesmente não estão nem aí, tem outrxs que adoecem, sofrem com essa indiferença. 

De longe, as ouvindo, eu fico tentando ensinar- larga isso! Solta isso! Mas, elas não são eu. Elas não tem pênis para saberem que se o nosso está vibrante e pulsante, nada importa. Elas tem útero e sentem dores que as levam a importar. Não que isso seja um atributo fisiológico, a fisiologia aqui é de outra ordem. Há mulheres indiferentes a tudo, a todos, com nojo e raiva de todos os que ainda teimam em permanecerem vivos. Há homens sofrendo, doendo, desesperados, histéricos diria eu se fosse psicanalista. Não é da ordem da fisiologia, pelo menos não essa. É da ordem do couer, do coração, do energético. Algumas pessoas sentem, outras disfarçam, uma boa parte, não sente. 

De todo modo, como esse largar é fácil entre homens. Como essa lógica é tranquila entre os iguais, se não cumpre a sua parte, não cumpro a minha. Independente se é pai, filho, irmão, esposa, amante, não sendo patrão, não sendo autoridade, enfim... não ostentando um pênis maior do que o nosso, abandona-se, mata-se, agride-se. Diante de exibicionismos obscenos, geralmente, cala-se, bajula-se, fica excitado, querendo um daquele para chamar de seu. Infelizmente, não se vê essa valentia, essa masculinidade toda diante dos obscenos e as obscenidades sociais e políticas que estamos mergulhados, afinal como aceitar a obscenidade econômica de se comprar tudo, de capitalizar todos, de dar preço à vida, à saúde, ao ponto de se comprar vacina? Ao ponto de em meio a uma pandemia mundial, reflexo e espelho de OBSCENIDADES (não paro de repetir) tenhamos gente entrando na lista da Forbes, como? Mas, não há gritos de revolta quanto a isso. Ela se volta contra crianças, contra animais, contra mulheres, contra garis, contra funcionários públicos. 

Deixe-me voltar ao que vim escrever, basicamente da covardia com que lidamos com o sexo oposto. Estou voltando a falar da ideia deixada acima de que se está muito 'sussa' (sossegado) para você é possível que estejam carregando sua parte, ou você está sendo carregadx, ou pior, você de fato monta. Naturalmente, monta-se nas mulheres. Naturalmente, uma parte considerável das mulheres acham que faz parte mesmo do contrato. Naturalmente, muitas gostam do papel de mártir. Naturalmente, algumas não tem chance de exercerem esse papel.

 

E isso me leva a outra amiga. Linda. 

Sempre sorridente. Sempre alegrando nossas vidas e as embelezando com as tranças que faz. Ligou-me dia desses e me contava que estava arrasada por dentro. Perdeu um sobrinho que era um filho. Numa morte, dessas absurdas. Sem muita explicação, apenas morreu. Cantou no The Voice, apresentou. As portas se abriram, a vida parecia que iria virar. Um desconforto, uma dor, uma entrada na UPA, nenhum diagnostico preciso. Não era Covid. Morre no dia seguinte com menos de 38 anos. Assim. Inesperado. Súbito. Arrasador. 


Olhando para as duas (acabei trazendo mais agora, mas eram só duas, inicialmente- a que foi em busca do filho, a que perdeu o sobrinho. As outras duas que menciono, gritam, meio que sem voz, em todas as redes sociais, em todos os espaços sociais) e para tantas outras: não há cara de dor. Não há gemido, não tem lamento, não tem revolta. Chegando mais perto: não tem frieza, nem indiferença. Aproximando mais, tem um pedido de ajuda. Como a gente ajuda?

Tem umas moças que quando quebram a unha postam no face pedindo ajuda, fazendo campanha. Conseguem diversos salões dispostos a colocar unha em gel, cílios, silicones. Há outras mulheres que não tem tempo pra chorar, nem mensurar a dor. Como ajudamos a essas, as outras conseguem ajuda com mais facilidades, mas e essas outras, como as ajudamos? 

Aqui para baixo faço um recorte racial, porque as mulheres negras, as mães pretas, carregam dores que os homens- negros ou não, não observam, não percebem, não respeitam, por vezes abusam. Montam sobre elas e elas carregam. Na travessia dos espaços ocupados, nas invasões sangrentas, nas quedas e paradas institucionais, não há flores, nem carinho, nem passagem de pano, há pedidos de acelera o passo! Vai ficar aí de mimimi? Não tem uma trouxa de roupa para lavar não? Faço o recorte, porque se as mulheres não são iguais de modo geral, as mulheres pretas, por vezes, não são tidas como mulheres nem por uma parte significativa das mulheres brancas. Sendo assim, há um adoecimento que precisamos expor para começarmos a tratar. Mesmo porque, elas não vão pedir ajuda. Elas não serão vistas como donzelas indefesas, precisando de homem para as redimir, as orientar, as sustentar, as.... Não, as mulheres, cada vez menos precisam de nós para isso, o que não significa que somos desnecessários e inúteis em suas vidas. Aqui acabo fazendo mais um recorte: não falo para as radicais. Falo para as heroínas.

 


Não é fácil ajuda-las. Não temos muitas heroínas negras. Então, visualizem a Mulher Maravilha negra. Algo nessa direção. Como se ajuda a Mulher Maravilha?

PRIMEIRO: ajudando-a ser mulher. Se você é o namorado, o marido, o ficante de algumas delas, peça a elas que tirem a armadura. Mas, tenham a hombridade de receber a nudez de uma guerreira. Não ousem traí-las. Não ousem feri-las. Elas têm amigos que escrevem. Elas têm filhos que zelam por elas. Elas têm a força que se apodera delas. Elas têm a elas mesmas. Respeite a armadura de uma guerreira.

SEGUNDO: veja-as como mulheres. ‘Frágeis’. ‘Tolas’. ‘Tontas’. Dessas que gostam de carinho. Dessas que gostam de toque. Dessas que derretem com flores. Dessas que gostam de mãos dadas. Dessas que vivem sem a gente, mas que nos aceita. E, nessa aceitação explique que ela é a Mulher Maravilha para todos, mas que para você, ela é uma maravilhosa mulher. Nessa inversão, subversão, esteja ao lado dela, como que dizendo: "do meu lado, pode guardar a sua armadura. Suas batalhas serão minhas guerras. Já termino de conquistar o mundo e volto. Ao meu lado, pode ficar tranquila, ninguém ousa te ferir, te magoar, te machucar. Qual parte da vida, vamos compartilhar primeiro?"

TERCEIRO: como e para os filhos delas. Não caminhes por onde a decepcionaria. Não faças aquilo que a envergonharia. Não a submeta a isso. Por maior que seja o ódio ao teu pai que te abandonou, te rejeitou, não te assumiu, não permita que ele seja maior do que o amor imensurável que essa mulher sente por você. Não permita que o vosso machismo, tua lealdade ao patriarcado, culpe sua mãe, solteira, abandonada, pela irresponsabilidade, a falta de compromisso dele com a vida, com o outro, com o que ele gerou. Um puto covarde. Você é o cara que pode alterar essa omissão maldita e iniciar uma nova forma de igualdade e respeito. Saia das costas da sua mãe. Não estamos pedindo para que a carregue. Basta, ser talvez o primeiro, que vai andar com ela ao lado, de mãos dadas e vai estar lá, quando ela precisar.  

QUARTO: como filhas delas. Use a capa e o escudo da sua mãe. Pegue a lança e a espada dela e vá mais longe. É um dever seu dar um passo a mais do que permitiram a ela. Faça o curso superior que roubaram dela. Faça as viagens que não permitiram a ela. Viva em você os sonhos que roubaram dela e que tu traz enquanto óvulos no teu ser. Não permita que nenhum puto, seja branco, seja preto, roube essa força de você. Lute como uma GAROTINHA. Suas ancestrais sabem como é e elas já fizeram isso por você.

 


Bem, nada disso vai adiantar alguma coisa, mas é importante que a gente diga, que a gente honre, que a gente agradeça. É importante que a gente compreenda que Mulher Maravilha é adorável no cinema, mas que ao nosso lado, costuma ser chata. É chato para elas também ter que defender marmanjo, ter que sair às ruas dizendo #ELE NÃO, ter que lutar contra aqueles que querem matar seus filhos. Terem que discutir com vocês, conosco, por causa do amigo escroto que dá cantada nela pelas nossas costas. Não é fácil conviver com mulheres maravilhas, eu mesmo tive que recusar várias vezes a Gal Gadot, Rosário Dawson, Viola Davis (não posso revelar o nome das atrizes e cantoras nacionais que me assediam e outras lindas por aí), rsrsrs

Mas, agora sério de novo. A maioria delas estará ao nosso lado, segurando a barra e não veremos que entre a dor imensurável e o estar arrasada, um colo, um abraço, uma mensagem, as ajudariam.

Entre a dor imensurável e a fragilidade embotada o afeto, o carinho, a presença, o estar junto, pode contribuir, porque elas, independente do que aconteça, sempre estão ao lado daquelxs que elas amam. Não deveria ser tão difícil fazer o mesmo. 



 

 Referências

10 – Super Heroínas Negras para chamar de sua :) – Parte I – esseesomaisumblogdemoda (wordpress.com)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

sábado, 3 de abril de 2021

Plantação de Kristal: do onírico a tecnologia.

2020 LG NanoCell TV | Nano Creates Pure Colors - YouTube


Eu gosto quando algumas imagens ajudam a ilustrar movimentos que muitos veem. São visões e percepções que por vezes transcendem um dado, um posto, adentram o imagético. É cada vez mais belo, quando elas vão se precipitando, descendo de esferas mais melífluas e se condensando, se materializando. No caso das estruturas cristalinas é um processo, relativamente, inverso, já que brotaria das dimensões terrenas, basilares, telúricas nos permitindo visualizar, acessar, vislumbrar, mundos, lugares, ritmos, temporalidades, que literalmente, pisamos, passeamos.

 

Nos trabalhos com as malhas cristalinas essa percepção de plantação de cristal, nascimento de Kristal é comumente descrito por várias pessoas. As descrições são insólitas, porque acabam remetendo a lugares, a temporalidades e a corporeidades. Muitos dos meus acessos a esses mundos foram musicais. Havia uma musicalidade que era emitida, que era entoada, que eu pensava em quais instrumentos poderiam ser capazes de reproduzir tal som. Até que anos, décadas mais tarde, ouvi a reprodução com Dinorah que transliterava o som dos cetáceos. 


O desdobramento desse canto se fez o Canto Lemuriano que sei pouco, mas se aproxima demais do som que eu ouvia quando Gustavo aplicava EMF lá nos idos dos anos de 2002/3.


Anterior ao som, eu visualizava linhas, que uniam e interligavam pontos nas pessoas, nos seres. Um fio de luz saindo do cardíaco de um e entrando no plexo do outro, que por sua vez adentrava no básico de uma outra pessoa e pegava a pineal de uma sétima pessoa. Porém esses fluxos eram remetidos em todas as direções umas em contato com as outras. Um entrelaçamento que ia se movimentando e tinha uma regência, cadência que podia ser dada pela emoção, pela inteligência, variava e varia. Esses pontos eram observados nos lugares mais variáveis, criando padrões geométricos sofisticados, que literalmente, abriam para outras dimensões e realidades, cenários insólitos. 

Aquelas pessoas que nunca se viram, por vezes já estiveram ali em outro plano e agora só condensavam um acontecimento que tinha ocorrido a meses, anos. Outras vezes, uma daquelas pessoas entoava padrões muito pertinentes, muito próximos que poderiam ser considerados como de encontros karmicos. De toda sorte, aquelas pessoas no restaurante, dentro do ônibus, no campo de futebol, compunham uma engrenagem, altamente sofisticada, que alimentava muitas realidades. Se era praticamente impossível ter uma visão clara e específica desse detalhamento em cenários públicos, o que deduzíamos é que ninguém estava ali por acaso. E que os acontecimentos que se desdobravam dali também não eram casuísticos.

Em outros termos é possível plantar energia. É importante quando nos reunirmos ‘saber’ o que estamos imantando, plantando, gerando?

Já em espaços controlados, como nossos encontros semanais, era visível e notório perceber, como cada participante na mesa ou não, abria um ponto, uma rede e o conjunto desses pontos nodais, hoje utilizo Bravais, davam acessos a seres das mais diversas dimensões e também a diversas dimensões. E como que essa percepção era percebida, sentida, captada, capturada e expressa pelos participantes em suas falas e em especial as médiuns da reunião.

A sala do 9º andar da rua da Bahia era transformada em uma savana, ou em um palácio, ou em uma pradaria, ou em uma pirâmide, ou.... E, onde isso localizava? Onde isso de fato existe? Seria possível retornar no tempo e encontrarmos parte de nós movimentando a mesma malha? Algumas vezes sim. Algumas vezes, elas traziam uma dimensionalidade tempo-espacial localizada, precisa, histórica. Como a vez que um amigo acabou caindo, novamente, numa masmorra medieval, sendo silenciado pela inquisição, mediante torturas psicológicas. Outras vezes, ela nos remetia a uma dimensionalidade que era igualmente real, mas imponderadamente não material. Era uma realidade que existia similar a um sonho, um campo onírico, um mundo dimensional cujas portas parecem de Avalon. O que dizer desses mundos? Como falar desses lugares? Contos de fada? Fantasias? Delírios? Loucuras? Arte? Como podemos falar desses mundos? As ficções são a melhor forma e tem sido uma válvula de escape.

 


Tudo isso para dizer que o que reputei interessante é que é uma propaganda de Tv de nano e temos falado de como essa movimentação cristalina abre para novos e outros acessos. Como que o acesso a grades e redes cristalinas possibilitam deslocamentos, teletransportes de seres, figuras, atributos, estados. E ficamos tranquilos para falar disso, porque quando dizíamos sobre isso, não tínhamos muitos elementos, hoje temos mais e é possível que num futuro próximo, quando vier a falar disso outra vez, já estejamos teletransportando por dentro de nossas telas, diversos produtos. Tal qual, em determinada proporção, vemos saindo e entrando dentro deles seres e realidades que não nos são diretamente dadas, por exemplo, você acessa o meu texto num tempo que é seu. Você chega a esse endereço eletrônico por um processo vibracional que lhe direciona. Esse mundo que era tido como mágico e sobrenatural está sendo amplamente utilizado nos dias de hoje e ira aprimorar ainda mais.

 

O próximo passo das convergências dessas mídias multidimensionais tende a ser a gente atravessar a tela e acessar a realidade do outro lado dela. Similar ao filme de Akira Kurosawa que nos colocou dentro dos Girassóis de Van Gogh e hoje é uma tecnologia de realidade ampliada com as mais diversas utilidades. Chama atenção nessa realidade ampliada o fato de que milhares de pessoas sempre viram uma figura de dentro delas. Sempre ouviram música meio que de dentro das notas, sempre lemos os livros dentro das pautas. A descoberta de que as pessoas precisavam de um filme para entrar dentro da obra e passear por ela sempre me fez detestar esse filme. Custei a perceber que aquilo não era a forma habitual com que as pessoas viam, enxergavam uma obra. De uma perspectiva muito interessante, elas estava fora do que viam.

Esse deslocamento é uma das coisas mais complexas a se ‘ensinar’ para médiuns, sensitivos, especialmente, os empatas e curadores. Fazê-los recuar e deslocar até perceberem a realidade, a vida a partir da própria pele e não da pele do outro. Fazê-los compreender que quando olhamos um corpo não estamos vendo os órgãos internos, ou pontos luminosos. Esse é sem dúvida um desafio que precisamos fazer para perder a estranheza que causam e sofrem ao abrirem a boca, mostrarem um pouco de como são e como veem o mundo.

Nesses horizontes silenciosos que temos abertos e que vem sendo modelados e modulados pela tecnologia. Espaços que quase nunca foram percebidos e/ou captados por boa parte das pessoas, a gente vai compreendendo que ele é um espaço, um local, repleto de seres. Muitos desses seres somos nós mesmos, vendo cenas que já ocorreram ou vão transcorrer. Outros são seres que são confundidos como entidades. Outros são lembranças, memórias que a gente está conseguindo acessar de vias diferentes. 

É bonito observar, aprender.


quarta-feira, 3 de março de 2021

O GOSTO DO DESEJO.

 

Uma moça sedenta, dessas que sussurram enquanto fala, me contava sobre o gosto do desejo. Algo mais ou menos assim:

PRIMEIRO a salivação que antecede a mordida.

DEPOIS a explosão esfuziante e alegre da dentada,

Quase CONCOMITANTEMENTE a dentada advém o possível arrependimento de que o gosto imaginado tenda a ser melhor que o gosto degustado. A tensão de que o prazer do desejo ser maior do que o do ato. E essa reflexão acompanhar a próxima salivação- morder ou não morder? Poderia só lamber, mas de todos esses gostos, na concepção dela, nenhum se compara com a amargura de não ter provado o desejo, nem que seja para acariciar o arrependimento de ter ousado tanto.

A fala da moça é bela. A fala dela me remeteu a muitos mundos, a vários lugares e passeios. Fui até Eva e a imaginei diante da maça. Aos meus olhos todo desejo evoca uma maça. Toda tentação se veste de vermelho, usa salto alto, tem batom e um fogo inadiável. Um fogo a ser consumido para ontem. E nessas imagens saltam a mente como a tentação nos remete as mulheres, que nos remetem a sedução, que nos remetem a tentação, que nos liga ao pecado, que nos gera a culpa, o ressentimento e a castração de todo feminino. Acredito que esse caminho não seja uma exclusividade minha, tampouco uma marcação apenas dos homens.

Nada é tão feminino quanto o desejo. E nada é tão combatido, tão proibido quanto a mulher que QUER. A mulher disposta a provar do fruto proibido do querer, do não poder querer. Esse também é um obstáculo sempre presente, por vezes e muitas vezes as mulheres podem querer, há uma licença para isso. Um passaporte e um salvo conduto. O intrigante, o chocante é quando as mulheres desafiam o que elas não podem querer, por exemplo: a igualdade. Não só a igualdade de gênero, mas a igualdade subjetiva do desejo. Não somente o desejo do papel social, profissional. O desejo do desejar subjetivo. Daqueles campos, lugares, espaços que sempre estiveram destinados aos homens, aos heteros, aos brancos, aos que professam a religião oficial do Estado.

As mulheres que adentram esse espaço subjetivo, que os subvertem, nós as admiramos e as amaldiçoamos. Paga-se por elas, fortunas, mas as expulsamos de casa. Nunca encontramos o equilíbrio entre essa mulher que é desejo, que é querer, que queremos, mas não queremos. As desejamos, mas não como filhas, esposas, mães.

Todo machismo, todo patriarcalismo é essa busca de domínio do desejo da mulher, da fêmea. É a tentativa trôpega, sofrível de converter o desejo da mulher para um único foco, lugar- seu marido, seus filhos, sua casa, seu lar.

E aquelas que desejam desejar nós as queimamos. As que desejam para além dos limites do seu corpo, nós apedrejamos. E a questão toda é: os desejos cabem no mundo? Até quando vamos tratar os desejos como sujos? Impuros? Pecaminosos?

 


Recordo de uma falando-me da sensação de ser tocada por um primo mais velho. De outra que falava da sensação de poder ao seduzir um homem mais jovem. De outra falando do seu estado de gravidez e da plenitude da sua barriga. Da outra contando do transbordamento de ser devorada por dois homens ao mesmo tempo. Da outra falando da liberdade em trair o marido e a culpa de voltar para casa, porque ele é um homem bom. Em todas a boca enchia de água, mas o coração se afogava em culpa. Uma culpa que não existe no desejo masculino. A não ser quando adentra a esfera do ser tocado por outro homem. Esse talvez seja o único desejo com misto de vergonha que homens heteros sintam. Matar mulheres não causa. Debochar e espancar homo e trans também não causa. Somente ser descoberto que transou com uma trans, que transou com outro homem. Roubar, matar, corromper, ser corrompido, nenhuma vergonha, quiçá culpa.

Por outro enfoque, mas a mesma moeda. Vejo as pessoas trabalhando o feminino. Inúmeros e belos trabalhos sobre o liberar o feminino (que necessitamos demais), porém que feminino é esse que estamos libertando? Ouvindo os relatos tanto dos trabalhos ‘místicos’ quanto dos trabalhos políticos e relacionados a militância, a minha questão é: como estão acolhendo o gosto que chega a boca e provoca salivação? Como estão lidando com os olhares que devoram?


E aqui é o paradoxo, a maioria está lidando de forma altamente masculina. No caso, significa, mercantilizada, fetichizada no que tange a transformar o outro em mero objeto desse desejo. Em acreditar que o poder econômico dá conta de saciá-lo, de satisfazê-lo. Uma lógica altamente masculinizada de pagar por. De acreditar que por se estar pagando tem o controle, o domínio, o desejo do outro. E se tem algo nessa história toda incorruptível é o desejo.

 

O que eu espero, sonho e desejo é que sejamos capazes de fazer o movimento que Eva fez- chamar Adão para provarem juntos da maça. Mas, não aceitar após a dentada, nenhuma reprimenda pela mordida. E Adão diante dos amigos, dos parças, do Pai, afirme: comemos juntos e nos deliciamos. Querem experimentar também?


Talvez, essa seja a parceria que todos tem buscado e se frustrado ao não encontrar. Observando relacionamentos, por incrível que possa parecer, os casais mais afinados são aqueles nos quais os desejos de ambos são acolhidos. Os desejos de ambos são colocados a mesa e nenhum fica privado de desejar. Há uma aceitação nesse gosto que pode ou não ser feito em conjunto. A clareza dessa fala é libertadora para a relação.

 

Cada casal precisa criar seu próprio jardim. É só assim que qualquer lugar da Terra será paraíso. Ao que tudo indica, inferno é o lugar no qual escondemos nossos desejos e eles nos devoram de dentro pra fora. Vai devorando tudo até queimar, matar, agredir negros, mulheres, gays, trans. Tudo o que é diferente de nós, tudo o que encontra um prazer que nos privamos de sentir.

Qual é o gosto do seu desejo?






domingo, 3 de janeiro de 2021

QUANTUN DE AMOR

 


Quanto de amor suportamos? Quantos amores damos conta de viver numa vida? Que tipo de amores vivemos?

O amor é um SER. Para muitos seres o amor é o SER, por exemplo: na Cosmogonia grega, do Caos saem Eros (amor) e Anteros (antipatia). Duas forças, dois princípios (atração e repulsão) que irão movimentar todo o Cosmos. Isso é muito significativo e representativo para o que iremos abordar. Como que essas forças nascem juntas, estão correlacionadas. Como elas habitam em cada um de nós e situações, momentos, pessoas, vivências aumentam o quantum de uma, diminui o da outra.

 

Para muitos povos, raças, isso que visualizamos como sentimentos, pensamentos, vibrações, são seres. Estão em nós, mas seriam atributos que podemos chamar para viver conosco, morar em nós. Para eles, sentimentos como o que denominamos amor e outros existe independente dos nossos atributos. O amor existe a revelia de nós, o ciúme, a posse, o egoísmo também. Eles são compreendidos como SERES em determinados estados frequenciais que alcançamos ou não, que chamamos e permitimos nos habitar ou não.

Há pessoas que mesmo odiando são amorosas. Há pessoas que mesmo amando são raivosas. Estranho em tudo isso é que nós vemos o amor como cupido. Um ser alado, infantil, que nos flecha. Como se jamais nos fosse dado a responsabilidade de assumir o amor. Como que sendo flechados por forças maiores do que as nossas, não tivéssemos nada a fazer com esse sentimento. Nem o observar, nem o melhorar, nem aprendermos, nem ensinarmos. O amor e o amar ficam congelado a uma idade infantil. Poucos de nós o amadurece, o aperfeiçoa, permite que ele cresça em nós e nos retire das perspectivas de abandono, rejeição, carência que povoam as infâncias e as primeiras relações.

Nossa literatura, nossas vidas são cheias de exemplos, de como a imagem de amor, nosso conceito de amor, nossa imaturidade, expulsam o amor; sobretudo porque acreditamos que o amor nasce pronto e nada mais se tem para ser feito. Quando na verdade, os amigos tentam nos mostrar que o amor é um ser, que habita em nós como quaisquer outros seres e precisamos dar a ele cuidado, atenção. Sempre recorro a Romeu e Julieta. Tinham 14/15 anos o par trágico. Tivessem 21/22, 30/31 e estariam vivos, prontos para viverem outros amores. Mas, 14/15 anos a impossibilidade de estar com o ser amado é de fato trágica, ruinosa, cuja única alternativa é tentar encontrar o ser que ama do outro lado. 

Gente, observa a lógica disso. A força trágica desse movimento: se matar para encontrar com o ser amado no céu, no inferno, não importa. Acreditar, piamente que há esses lugares e que eles estarão lá de mãos dadas depois de mortos. Essa confiança, essa fé é linda, bela, mas quem não se matou pela impossibilidade amorosa na adolescência, início da juventude, sabe que essa febre retorna em outros momentos da vida. Gera delírios, produz ações intempestivas, falas loucas, poemas arrebatadores, dores lancinantes e depois tudo passa. Tudo acalma. O fogo continua ardendo, mas devora menos.

Bonito é ver como há pessoas que adoram se consumir no fogo da paixão. Para elas não há espetáculo mais belo do que consumirem-se em fogo dizendo o nome do amado, da amada, enquanto ardem em cinzas. 

QUANTOS AMORES HABITAM EM VOCÊ?


Aqui entramos nas tensões mais drásticas do amor. Nossa tentativa de aprisiona-lo em hábitos, convenções, ideias. Nossa tentativa de amordaçar o amor, faz com que nossa própria boca nos morda. Dá para visualizar a imagem: uma boca se mordendo? Uma boca se contorcendo toda, inteira, feérica, querendo si morder. Mais desesperador do que cão querendo morder o próprio rabo. Mais desesperador que ver Romeus e Julietas em combustão espontânea. O que fazer com um ser que arde em fogo? A boca que tenta se morder é similar. Mas, se é difícil visualizar um corpo em combustão em contato o outro. Ok! Não é tão difícil assim. Nada hipnotiza mais do que corpos em chama. Homens, mulheres, admiram seres que pegam fogo sozinhos. Acreditam que eles podem acender alguma coisa na vida delas. Sonham, desejam que serão capazes de controlar o fogo dessas mulheres e ter somente para eles. Então, sei que os devaneios são imensos, mas não vou entrar neles agora. Ficarei na boca.

E como seria essa boca ao encontrar outra? E saberiam essas bocas que elas não carecem de mordaças? Que elas podem falar, sussurrar, beijar, morder, chupar, lamber, comer, engolir, sorrir, ranger.... Conhecem os inúmeros movimentos que uma boca pode fazer? Acredito que não. Somos levados a acreditar que sobre amor e sexo nada há a aprender. Cada um é um amante perfeito, afinal vimos novelas, comédias românticas, revistas de sacanagem, filmes pornôs. Então... o que há para se aprender? E se há alguma coisa a aprender, porque ninguém ensina, fala? Por que em matéria de amor e sexo continuamos deixando que cada um descubra a roda e acredite que é um inventor(a) sensacional? Que não há ninguém mais fabuloso(a)? Por que até entre os casais é um tabu, uma proibição falar de como gostava de determinadas coisas que o outra, outro fazia? Amordaçamos nossas bocas e depois não sabemos de onde vem o bafo que nos devora.

No entanto, alguns movimentos bucais são individuais, outros podem ser feitos a dois, alguns tem feito a três e mais. 

Existe um certo? Existe um errado? Existe um feio? Parece que o amor não gosta dessas convenções. Parece que o amor quer ter a liberdade para amar e amar é um exercício, uma prática, uma ação que se aperfeiçoa, que se aprimora, que melhora a medida em que nos permitirmos movimentar nossa boca. Não estou reduzindo o amor a boca, mas de toda forma é bom quando a gente tira o amor do genital.

HÁ MUITOS NÍVEIS DE AMOR.

Certa feita uma moça me disse que a vida dela estava completa. Ela desejava viver mais ainda, ter uma vida pela frente, mas a vida dela estava completa, porque ela foi amada. Não apenas pela mãe dela, por Deus, mas por outro homem. Ela guardava essa sensação num grau de plenitude que quando ela falava disso era abençoava todo o ambiente. Ela me redimia e me fazia confraternizar com aquele homem que a amou e que a ama. O amor não passa, não acaba. Muda. Por vezes o prostituimos, mas o amor permanece. O gostar não, mas o amor parece gozar da eternidade. Se te amei um dia estou fadado a te amar para sempre, por todas as vidas. O que não significa que irei gostar do que virou, do que passou a ser.



Essa moça, que entre nós não rolou sexo, me deu acesso a universos dela que guardo até hoje. A boca dela em contato com a minha me deram seivas que enraizou, polinizou outras bocas, tenha eu as beijado, tenha eu apenas falado, escutado. Essa moça numa noite banal, me ensinou facetas do amor que não conhecia. Hoje ela está casada, com filhos e sei que o marido dela e o filho ou filhos de ambos são a materialização do amor. Sei que nós dois teríamos outro destino caso ela não tivesse que viajar no dia seguinte ao nosso encontro. E eu quero pegar viagem nessa cena. Nesse enredo. Nesse se... então... para chegar nas clausuras que temos colocado nossos amores, nossos desejos, nossa IDEIA de amar.

Se eu estivesse casado ainda, não teria conhecido pessoas que não consigo imaginar minha vida sem elas. Mas, se casado fosse, elas apareceriam em minha vida? Nosso contato seria genital também? Ficaria em outros níveis? Caso fosse genital, seria uma traição? Pode o amor ser traído? Separações não deveriam ser tão trágicas como as tornamos. O amor, as bocas em conjunto, transformam o amar, nos alteram e ao ser amado também. Alterações que nem sempre gostamos e gostar é diferente de amar. Muito diferente e por confundirmos, tentamos matar o amor, a história que vivemos, a história que somos. O que viremos a ser ainda. Nessas brigas internas nos aprisionamos. "Se eu te amo e tu me amas um amor a dois proclamas..."

Quem pode satisfazer ou suprir uma IDEIA de amor? Quem consegue realizar a fantasia de um beijo, senão a própria boca, imaginando ser a boca que se beija? Qualquer outra boca que venhamos beijar nos trará outro hálito, outra saliva. Despertara em nós outros apelos degustativos, produzirá outras fomes, algumas que a gente nem conhecia, nem sabia da existência, não sabe como viver. Algumas bocas eram melhores não ter beijado, era?

Acredito que não, desde que sejamos capazes de desmontar as ideias entre as minhas representações e a boca do outro. Minhas representações, fantasias, desejos, precisam estar no meu beijo, na minha boca. Mas, se eu quero só isso é melhor beijar-me no espelho. Outra boca implica uma jornada na qual não sei onde vai dar. Uma jornada em que não posso esquecer que sou boca, mas não deveria ficar preso ao que entendo e sei sobre o que é beijo.

No entanto, como si permitir? Como lidar com a fome estando num mundo que não é mais o seu? Como confiar que estando nesse lugar de fome, a boca que te beija não irá ser a primeira a te devorar? Eros e Anteros nascem juntos. Amor traz medos, receios. Algumas fantasias que criamos sobre amor é o puro medo de termos contato com a voracidade das nossas bocas. Perder por um segundo, a racionalidade, a espacialidade, a cartografia fantasmagórica que criamos do amor. 

Em nosso paladar estamos confortáveis, mas em alguns mundos estamos vulneráveis, frágeis, precisamos confiar, estamos entregues, voltamos a ser crianças e é aqui que aprender sobre amor e sexo é tão importante. Ambos nos direcionam para nossos espaços subjetivos, nossos mundos íntimos e a maioria de nós chega a esses espaços lançado, jogado pelo outro. Muito daquilo que achamos ser a boca do outro é nossa seiva e se o outro vai embora, ele nos deixa abandonado em um lugar que ignoramos- nós mesmos. Para muito não há nada mais apavorante. Nesse tempo de atendimento vi várias e vários que se lançam desesperadamente para abraçar corpos em combustão. Saem chamuscados, mas redimidas, vivas, fortalecidas. Todavia, não há desalento maior do que a de estar depois de um término de relacionamento, em contato com elas mesmas. Não há lugar mais inóspito.

 


E aqui quero ir para duas direções. Uma os relacionamentos abusivos. Outra, a abertura para os relacionamentos. Um suspiro do amor.

Cada vez que me aproximo de algumas pessoas que  vivenciaram relacionamentos abusivos, ele parece ser a clausura diante da fome. Aquele universo lindo que se abre para ambos vai se fechando um dentro do outro, regado por muito medo, muita desconfiança. O amor vai congelando. A liberdade vai esvaziando. De repente, estão nutrindo raiva, fragilidade, dependência. Nenhuma das bocas tem força para se alimentar de mais nada que não seja o vomito que geram e repassam a cada beijo. É uma intoxicação. O amor não gera mais seiva. Os dois não conseguem trazer o melhor de si, nem o melhor do outro. Cada um a sua forma alimenta o que há de pior em si e o que há de mais nefasto no outro. E estão condicionados a isso até que um abra as portas para o amor. Abrir as portas para o amor é aceitar que o amor não tem uma fonte única.

Por controle, por nos acharmos os seres mais perfeitos do universo, somos tentados a acreditar que o amor vem só de uma fonte. Dentro dessa nossa redução, passamos a acreditar que se a pessoa nos ama mesmo, ela vai ter em nós a sua única fonte de abastecimento. O amor só virá de um lugar, uma única pessoa, na intensidade necessária, na dosagem precisa. Aqui podemos desvelar a imagem da boca como amamentação mesmo. 

E a amamentação no seu sentido mais grosseiro, mecânico que é o de simplesmente ofertar os seios, depois chupeta, mamadeira. Retirando o encanto, a magia do aleitamento que está em nutrir o outro para que ele seja capaz de num futuro cuidar com zelo, carinho de outra pessoa, mas sobretudo, se nutrir. A maioria de nós vive aprisionada na mecanicidade do ato e no aprisionamento de que não há leite fora da exclusividade. Que outra pessoa nos dizer não, ela está nos rejeitando, nos abandonando. Enquanto humanidade parece que estamos nesse lugar em que fora da reprodução da mãe, não temos condições de amar.

Assim, nós nos rendemos a essas fantasias, que ganham o nome de amor. Quando por um segundo, algumas pessoas em relacionamento percebem que estão sendo abastecidas por outras fontes, elas piram, surtam, se culpam, traem. Em nosso imaginário mais forte, incandescente, não podemos amar, nos sentirmos amadas, sem identificação clara da fonte: marido, namorado. Nossa recusa em aceitar que adultos possuem outras formas de nutrição, por vezes de diversas fontes, acaba gerando outra redução, tão grave quanto a clausura amorosa, que é qualquer sentimento que venha a sentir por outra pessoa, esse sentimento é genital. A maioria de nós não consegue lidar com atributos de acolhimento, carinho, sem pensar em sexo. 

As mulheres nos reportam isso a toda hora, como que elas não se permitem nem serem educadas, porque para a maioria de nós homens, elas sendo educadas é que elas estão demonstrando interesse GENITAL. É muito insano como direcionamos tudo para isso. 

Uma situação que fui compreender quando vi as pessoas sentindo tesão genital por Pai Jeremias, um preto-velho. A energia era outra, ou melhor, a energia era a mesma, mas o que ele estava transmitindo era acolhimento. É o nome que tenho para agora, muitas pessoas captavam, decodificavam como genital. Poderíamos então entrar nessa e transarmos, mas a energia assinalava para outra coisa. Muitos médiuns transam e criam essa mistureba que obviamente piram as mulheres, homens, seja lá quem for entrar nisso. O mesmo vale para pastores, padres, são enredos de nutrição que podem se dar na casa do genital, mas o buraco é mais em cima.

Por uma profunda dificuldade de lidarmos com a liberdade e a maturidade, a traição é quase o desdobramento natural dessa lógica da exclusividade, da fonte única, da redução de todo amor a sexo. Enclausurados que somos das mais diversas possibilidades de expressão de afeto, duas pessoas que despertam interesse e que poderiam ser de outra ordem- emocional, mental, espiritual, acabam reduzindo ao sexo. É muito mais tranquilo a seres compromissados manterem sua relação no motel, onde dificilmente serão descobertos, do que num shopping com outra pessoa que não seja o marido, a noiva, a esposa. É mais tolerável aceitar a traição genital, do que aceitar que a esposa, o marido tem uma melhor amiga(o) do sexo oposto. A maioria de nós, simplesmente não dá conta de imaginar que o ser que amamos está encontrando nutrição em outro lugar que não seja em mim.

Nossa dificuldade de perceber o amor como boca (e esse é apenas um exemplo) leva a maioria das pessoas diante das sensações que outros lhe provocam a sentirem-se tentadas, atentadas pelos demônios. Como assim? Por que? Nossos desejos, nossas vontades, nossa saliva se torna tentação. Vira mesmo um diabo a nos tentar. É como até hoje estamos resolvendo questões psíquicas sérias: jejum e oração. Culpa e castigo. Penitência e abstinência. E, por vezes a gente só precisa falar, contar, dizer e ter alguém com uma escuta atenta para ouvir. Uma escuta que pode ser religiosa e dizer: vai e não peques mais, nem em pensamento. Ou outra terapêutica que diz: não tem nenhum problema no seu desejo. Ou que não diz nada, apenas reflete como um espelho o que está sendo trazido e o desembaça de visões muito enclausuradas.

O contraponto é que diante dessa imaturidade nós agredimos, violentamos, matamos, aprisionamos. Aqui estou falando do ciúme, passando pela posse e chegando ao feminicídio e crimes de ódio- raciais, homofobia, transfobia. Todos passam pela dificuldade de lidar com o desejo, a vontade. É essa a doença na qual nos metemos. É mais aceitável a injuria racial do que assumir a atração. É mais tolerável a agressão ao gay, ao trans do que aceitar o desejo de tocá-lo e ser tocado por elx. 

Em sala de aula fiquei chocado quando a imagem de ser tocado por outro homem causou em alguns garotos uma literalidade que não era o que estávamos propondo. Aquele medo em um tinha mesmo o desejo e em outro tinha o abuso recebido pelo padrasto. A questão é que não trabalhado, ambos estavam a um passo da agressão a outro ser humano.


Numa articulação muito restrita PENSAMOS amor como genitalidade. Não vemos que o amor é mais. Não suportamos que podemos amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo e quiçá não ter que transar sexualmente com nenhuma delas.

Há transas maravilhosas que não são genitais. Mas, damos conta de permitir esse nível de intimidade as nossas parceiras/parceiros? Permitimos que uma boca nos dique: “eu te amo, mas sexualmente/genitalmente, eu preciso de ciclano/fulana?” Damos conta de aceitarmos que para milhares de pessoa sexo não é amor, ou melhor, o fato delxs transarem com outrxs não arranha um segundo o que elas sentem por você? Que o marido quando diz: “não significou nada, eu te amo!” Não é safadeza. É mesmo verdade o que ele diz. Mas, quando a mulher diz o mesmo, conseguimos aceitar, entender, como necessidade sem rotulá-la de..? Infelizmente não. E minha questão é para onde vai toda essa energia? Que tipo de seiva, ela vai se transformando? Ela vai enraizar, frutificar, ou intoxicar a relação?

 

Por que enclausuramos tanto assim as coisas? A nós mesmos? O amor? Por que isso desconstrói tanto a nossa perspectiva de que o outro não nos ama? Quando o que elx está dizendo é: “não me realizo 100% em você. Preciso de outras partes, preciso de outras coisas e são essas outras coisas e partes que nutrem o beijo que damos”. Alimenta o amor. 

Por que enclausuramos tanto assim as coisas? A nós mesmos? O amor?

Não suporto você falando de futebol todo o tempo, mas o seu amigo sim. Vão ao campo vocês dois e outros, eu vou ao cinema com meu amigo, depois do jogo a gente se encontra no Bolão. Isso é como se fosse um tiro. Na verdade, a gente prefere dar tapa, soco, tiro, arranhar, ligar para milhares de amigas a aceitar que o parceiro vá ao futebol, a aceitar que a esposa vá ao cinema. Mesmo detestando cinema, mesmo odiando futebol. Se for tem que ser comigo. Por que?

A gente quer exigir do outro coisas que elx não pode nos dar, mas não é feio querermos, sentirmos. O sexual é onde isso mais esbarra, bloqueia, mas há outros níveis que também incomodam. É possível que ela tenha coisas que conta primeiro para uma amiga, mesmo o cara sendo um baita amigo e parceiro. É possível o cara gostar de pescar e precisa fazer isso sem a presença dela, mas todo o tempo, ele pensou em você.

Os amores são muitos. As bocas são gostosas. Se tirarmos o amor da redução genital, podemos alargar nossos afetos. Podemos deixar que faça parte de nós pessoas lindas, como a moça que se sentia plena, realizada, apta a morrer em qualquer instante da jornada, porque ela foi amada. E isso a fez amar mais e isso a ajudou a mim e creio que a outras pessoas a amarem melhor. Podemos amar melhor. Podemos amar mais. 


Quantum de amor você suporta?