Espaço utilizado como amparo e reflexão da Holos Consultoria Fiholosofica/Spaço Iluminar. Este espaço se torna o lugar no qual discorremos sobre as implicações, as atividades e os serviços prestados por nós. De forma que buscamos dar uma visão unificada, integrada dos acontecimentos da existência, colorindo-os com uma visão artística, cientifica, desportista, filosófica, denominada pelos gregos de Tecnhé. Contemplando a nossa visão holística e holográfica, isto é, φholosofica.
Se a 1ª posição: trepando
na goiabeira é da ordem de um universo infantil com dificuldades de lidar e
acessar o mundo. Essa 2ª posição é da ordem do machismo e do autoritarismo.
Essa posição aqui é da perversão. Não que ordens, comandos não sejam prazerosos,
gostosos, eficazes, eficientes, satisfatórios. É que nesse caso o prazer não
está na ordem e nem na submissão. O prazer está no abuso. A ereção acontece
pela fragilidade do outro. E diante dessa fragilidade, a necessidade da vítima
agiganta o moço em todos os corpos. É a fisiologia da perversidade que nasce do
autoritarismo. Ele é João de Deus.
O comando feche os olhos.
Concentre. Tenha fé. Faça uma oração silenciosa que continuaremos o seu
processo de cura é marcado pelo diabólico. Quando a moça abre os olhos, ela foi
abusada, mas ela se sente agradecida. Privilegiada, lisonjeada. Será mais
tarde, só mais tarde que isso vai virar revolta, vazio, dor, culpa, repulsa,
nojo. É quando ela desperta.
Claro que abusos sexuais
são mais grotescos. Mas, da perspectiva energética todo abuso é gosmento. Um
misto de lesma, com toque em caramujo com pressão de barata esmagada com os
dentes. Aquele caldinho escorrendo parte para dentro da boca e outra entre os
lábios. Todo abuso traz isso. E a característica dos abusos é o abuso da fé
alheia. A manipulação da confiança do outro para tirar e encontrar uma
satisfação estritamente pessoal. O abusador sabe que ele está tirando tudo do
outro. Ele sabe que nada do que faça poderá restituir aquilo que ele retirou,
mas talvez, justamente essa descompensação seja o prazer.
As vezes há enganos e são
genuínos. Não há manipulação. A pessoa caiu no buraco junto com quem o seguia.
Isso tem razoabilidade. O duro é a moça pagar para ser fertilizada pelo marido
e acabar sendo dopada e estuprada por um médico. O insano é o fiel tirar o
dinheiro do aluguel da família para ofertar para igreja e o pastor usar aquele
dinheiro com sexo, orgia, em hotel cinco estrelas. O inacreditável é o cara
bolinar novinhas aspirantes de cura e saber que ele está as violando em todos
os sentidos, em todos os corpos, em todos os níveis. O inaceitável é julgarmos
João de Deus por uma prática que alimentamos todas as vezes que divinizamos um
ser humano dessa forma.
As semelhanças entre João e
Abdelmassih diz respeito a capacidade de desafiar a natureza, a vida, Deus. Um
conseguia fazer inférteis gerar até gêmeos, o outro conseguia curar doentes
terminais e desenganados pela medicina. Ambos eram vistos como a última
fronteira, ambos habitavam um espaço mental que não é mais da psique humana.
Poderia se valer dos semideuses. É mais ou menos isso que faz a 3ª pessoa do
Edson Arantes ao falar do Pelé. É ele, mas é outro e é esse outro que permite
ambos serem. Quando isso funde o humano pira, dança, enlouquece, ensoberbece,
se envaidece; acredita que é mesmo imortal. Um deus. João e Abdelmassih tinham
certeza de que eram e por que um deus não pode tocar uma mortal? Como que uma
mortal não se sentiria agradecida e curada/fertilizada com o toque/penetração
deles?
Saindo do âmbito do
estupro, do abuso, da violência que não carece de nenhuma elucubração a não ser
a punição dos responsáveis, quero entrar nessa fábrica de idolatria. Porque é
nela que alimentamos e servimos de alimento a esses predadores sexuais. É a
nossa negativa enquanto sociedade de nos melhorarmos, de nos aperfeiçoarmos, de
encontrarmos o nosso lugar que constrói essas monstruosidades. Elas são geradas
dentro de um sistema energético abusivo, repulsivo não importa que ele seja de
cura, que ele seja terapêutico, que ele seja econômico. Ele se constrói na
perspectiva de que necessitamos ser adorados. Os fiéis atuais perdem muito
tempo contra os ateus. São raros os ataques aos ateus no livro sagrado cristão.
Perdem muito tempo atacando terreiros de matrizes afro, numa interpretação
caduca e equivocada do combate a outras religiões. De modo geral esquecem da
idolatria que sempre foi combatida. E a idolatria não diz respeito a cultuar
outros deuses, deuses diferentes e sim a fazer imagens, representações do
divino e as materializar, por exemplo endeusando pessoas.
No que se refere a nossa
aparelhagem psíquica, todos nós temos asas de cera que não podem nem ficar
próximas demais do mar, nem arroubar a desafiar o sol. Icaro nos ensinou isso
em seu voo. Aprendemos pouco e a Hybris cobra o seu preço, ela nunca renuncia ao
seu tributo. Assim, assusta o fato de criarmos essas condições. A idolatria, a
adoração. A crença de que haja seres além do humano alimenta a devassidão, as
sombras desse mesmo humano. Não faz bem para ninguém ser idolatrado. Afinal,
como alguém pode lidar com essa energia? Como que um ser humano que acha que
curou o outro de uma doença terminal comporta-se diante da vida? Esse ser passa
a acreditar que é deus. Que é capaz de tudo. Mais um pouco, ele ganha a
convicção intima de que todo o universo lhe deve favor, lhe deve obrigação. O
ego não cabe dentro da calça, nem dentro da mente. Nem dentro de qualquer
lugar. A Hybris vai pedir o seu tributo.
O caso de João de Deus é
mais um de muitos que continuam a acontecer e permanecerão por mais tempo,
porque não compreendemos as dimensões do amor. Porque diante da energia amorosa
a restringimos a um uso genital. Poucos sabem amar sem levar essa energia para
o lado genital. E diante dessa pobreza, o abuso acaba virando moeda de troca. E
o preço dessa troca é que o predador se alimenta proporcionalmente a
subjugação que promove e realiza. É um mecanismo doentio, que reflete nosso trato
com o espiritual, com o divino. Quem ora sem estar passando por dores? Quem chega a Deus,
Oxalá, Buda, Krishina sem sofrimento? Quem vai a igreja, ao centro e não pede e
espera que essa força divina faça algo na vida deles? E quantos que depois de
receberem essa graça retornam a sua vida deixando Deus de lado de novo? De modo geral, com raríssimas exceções é como nos relacionamos. É recente o uso da gratidão como moeda de troca. O simples agradecer sem esperar nada em troca, sem desejar nada, apenas agradecer.
A forma com que lidamos é
um tipo de abuso. Não que Jesus, Buda, Krishna precisem de nós para eles serem
quem são. Mas, se o humano não encontrar em si essa conexão com o divino, nós
não somos em nossa inteireza e integralidade. Nessa falta somos vazio
preenchido por uma idolatria estéril, pervertida. Adoramos ídolos de carne e
osso que obviamente irão nos decepcionar, porque o vazio é nosso. É seu. É meu.
E o preenchimento precisa ser seu, meu, nosso para não deixarmos que um ser
humano fique nesse papel e nesse lugar de ídolo. As vezes nós o ocupamos, mas
quando isso acontece e ocorre é preciso termos claro a construção de uma
terceira pessoa. O Edson do Pelé ou o Pele do Edson. Um não é o outro. Um fala
do outro, com o outro, mas são distintos e esta distinção preserva a
aparelhagem psíquica de ambos. Maradona é só um e queimou. Garrincha era só um
e embriagou. Não é atoa que cada vez mais famosos surtam, adoecem e são
esquecidos, relegados, trocados por seres desejantes desse lugar. Enquanto isso
a máquina idolatra não para. “O dinheiro nunca dorme.”
Para muitos ser
espiritualizado é estar fora da carne, do mundo. Numa posição de elevação na
qual tomar bebidas alcoólicas, transar, falar palavrão é impureza. Lidamos mal
com a sexualidade. Genitalizamos tudo, todos os contatos. Incompreendemos a
energia de cura. Uma energia que é altamente sexual. O que não significa que
ela seja genital, mas ela é sexual. É atrativa, magnética, sedutora. Pode ser
utilizada para reestabelecer harmonia celular, ou para fins de manipulação de terceiros.
A maioria das pessoas
diante da declaração da ministra Damares sobre o seu encontro com Jesus fez uma
interpretação política, social e não poderíamos deixar passar esse contexto.
Uma amada-amiga, em especial, quando afirmei que tinha compreendido a ministra,
me mostrou como meu posicionamento poderia retirar o lado político-social da
frase. No entanto, terei a ousadia de fazer esse ‘entendimento’, porque ele
será essencial sobre o que escreverei. Escreverei dessa doença eterna que é a
negação da energia sexual. Talvez um pouco da repressão. Vamos ver como o texto
vai se fazendo. Sim, ele é vivo e independe de mim. Eu quero uma coisa, mas ele
vai para outro lugar, como essa parte agora.
Sou afeito à mística.
Acredito em espiritualidade na acepção mais gnóstica e anti institucional que
pudermos conceber. O que significa que acredito nas raízes e sementes de
Lutero, na qual os indivíduos podem ter um contato com o sagrado sem
intermediações. Mas, o que vinha percebendo antes de ir para a clínica e muito
mais agora é que a psique não dá saltos. Foi uma frase de efeito. Ela dá saltos
sim. Em verdade, ela salta o tempo todo e talvez esse seja o problema. O preço
que essas lacunas cobram. Cada salto psíquico, precisa de uma sedimentação, uma
solidificação para que a pessoa não fique a deriva, a nau dos loucos. E aqui
pinto dois retratos que são semelhantes em tudo e distinto em tudo. Quando
observamos avatares e a sobriedade espiritual deles, nós os encontramos no
vazio, completamente equilibrados num alfinete e inteiramente harmonizados no
caos. Esse cenário surge como uma alucinação. Um oásis ao caminhante do
deserto. A literatura cristã coloca Jesus nesse espaço como se ele fosse um
espaço que já nasce pronto. Jesus nasceu e o espiritual, o mental, o emocional,
o sexual estavam já prontos. E na tentativa de imitá-lo damos esse salto e
claro que ele está nos esperando do outro lado. Obvio que ele nos impede de
cair no abismo. Notório que o psiquismo, a sexualidade, o cognitivo vai nos
puxar de volta.
Vou usar o caso da Damares
pela repercussão que ela teve na mídia. Assim, serão 4 posts, representando 4 posições. Na 1a posição eu vou falar do pé de goiabeira. Na 2a dos abusos de João. Na 3a posição falo de um estudo que fiz parte, no qual relacionava o tráfico de ectoplasma e
as consequências disso, focaremos a manipulação do esperma. Na 4a posição, finalizo falando de como seres empedernidos que somos,
traduzimos toda energia de cuidado, de amor como sendo genital. Espero que
tenham a paciência de ler, discordar, lançar novos olhares. Mas, o fato é:
PRECISAMOS FALAR DE SEXUALIDADE. Especialmente, entre religiosos.
Vai parecer que estou
fugindo do assunto. Não estou. As eleições nos mostrou que estamos doentes,
adoecidos. Eu tentei até onde a bílis permitiu verificar nosso adoecimento. E
foi muito legal, mês depois do processo, encontrar um colega que disse: “você
entrou na loucura também!” Sim, também fui intoxicado. Retornando às eleições.
Quando eu recebi o vigésimo fake de uma mesma pessoa, no mesmo dia, eu vi que estávamos
doentes. Não importava. A cada desmentido a pessoa enviava outros dez, como se
dissesse: “tudo bem, aquilo pode não ser verdade, mas todas as outras postagens
aqui são.” Ali eu vi que não importava fatos, argumentos. Aquela colega
expressava uma dor, uma falta, uma angustia, um vazio que era impossível
suprir. Não estávamos falando de política. Esta era apenas um pano de fundo
para uma dor que ele carrega, nós carregamos e pouquíssimos de nós damos
atenção.
No caso essa colega perdera
uma filha para o câncer. Como explicar, aceitar que sua filha morreu no auge da
idade? Onde e quem dá conforto para isso?
Outro amigo muito querido,
namorou e noivou uma moça por anos. Dias da cerimônia de casamento, ela diz que
não iria ao altar. Como a gente supera isso? Como a gente lida com essa frustração?
Essa rejeição?
São dois exemplos mais cabem
milhares, cabem todos nós. (Cabe
meu amor! Só não cabe...) Cada um de nós com dores, medos, frustrações.
Uns com a capacidade de elaborar melhor, processar melhor. Outros jogando tudo
isso para um lugar sem nome, sem espaço, longe da consciência. Mas, uma hora
isso sai de dentro de nós sem que a gente veja, controle.
Fui percebendo que aquela
defesa louca, apaixonada ao capitão era uma expressão de dor, raiva. As do Lula
também. De muitas formas e maneiras o capitão era tido como o único que
legitimava a dor que cada uma daquelas pessoas tinham passado e estavam passado. A
injustiça com Luís Inácio tem uma mesma matriz, porém a do capitão suscita o
apelo de que por sentir dor eu posso urrar, destruir, matar, odiar. De alguma
forma, a presença dele, conforta as dores dessas pessoas. Dores que nós não
minimizamos, mas mostramos que a dos negros, das mulheres, dos lgbts são prioritárias. Isso parece que potencializou a rejeição.
Nesse escopo, odiando,
sentindo raiva, desprezando; a revolta de seus eleitores estava acolhida. Individualmente
isso já assusta. Coletivamente é um barril de pólvoras. A constatação era
notória estamos doentes. Especialmente, porque não vemos os danos do nosso
ódio, da nossa intolerância.
Posto esse cenário
político-energético, posso retornar à pastora. Damares é a menina que veste
rosa. Uma criança abusada. Ameaçada. Como toda elas o ponto nevrálgico surge: contar
para quem? Falar com quem? Quem vai acreditar que um membro laureado da igreja
a violenta? Quem acredita em narrativas femininas? Quem acredita em apelos e
falas de criança? Qual destas narrativas, que mesmo quando acreditamos, não são
imediatamente desconstruídos perante o dizer de um homem?
São poucos. O gênero, a
idade, a cor chegam antes da fala. Sobre o homem adulto, hetero, branco,
ocidental não paira dúvidas. O silêncio dele o absolve. A áurea entorno dele purifica
o mundo. Já a mulher, o negro, o índio, a criança, o homossexual... não há
discurso que nos redima. Não frente a frente com o HOMEM BOM. Assim, ela sem
recorte, sem edição, sem intermediários encontra resposta naquele que acredito
que consola, redime, ressignifica; Jesus. Aquele que por mais que os HOMENS
BONS tentem o construir a sua imagem e semelhança, a narrativa dele escapa. Ele
anda com puta, ele fala com leprosos. Ele abraça ricos opressores como o
cobrador de impostos. Ele ri junto a revolucionário injustiçado, Iscariotes.
Ele ama uma mulher sem medo do gozo e da liberdade dela, Madalena. Ele acolhe a
sua mãe e diz, se preocupa com esse menino aí (João) porque tenho mais o que
fazer. Ele se enfurece com os manipuladores da fé, tantas vezes admirados e
idolatrado pelo próprio povo que eles oprimem. Por mais que tentem, não dá para
esconder que ele foi crucificado entre dois ladrões e não havia em Roma
humilhação maior do que ser crucificado. HOMENS BONS não vivenciavam isso. Não
sabem o que é isso. Jesus soube. Conheceu. Perseguido desde a infância como nos
lembra Frei Beto e Flávio Josefo. Ele sabe o que é a dor, o sofrimento, o
tormento, a angustia. É fácil olhar para ele no nascimento e depois nos três
últimos anos. Nesse salto a gente é levado a crer que ele nasceu pronto. Mas,
esquecemos que ele é da Galileia. Um tipo de curdo misturado com pária. Sua mãe
não fosse por um anjo no céu e um da Terra (José), teria sido apedrejada.
Já dei aula para muitos
Jesus. Todos renegados pelos HOMENS BONS. Muitos filhos destes homens que nunca
assumiram e deixam mães cuidando de seus filhos sozinhas. Jesus lapidou,
esmerou seu universo psíquico em meio a insensibilidade dos BONS. Não estava
pronto. Ninguém está pronto à rejeição, ao escarnio, à zombaria, ao ódio
gratuito. É preciso muito carinho, amor, acolhida por parte dos pais, de
amigos, para não sucumbir a auto sabotagem e depreciação. O caminho psíquico de
Jesus tende a ter sido um calvário, só assim caminhar até o Golgota seria
possível. Sem esse amadurecimento interno, ele teria negado seu pai. Teria se
escondido atrás de seus discípulos e da multidão que o assistia. Sem ter
depurado o ódio, a magoa em amor, ele teria sido convencido por Judas o Zelote
a fazer o enfrentamento armado a Roma. Seria mais fácil. Seria adorado,
idolatrado. Seria herói. Talvez até rei. Jesus tinha condições de colocar a
multidão contra Roma e expulsá-los da Judeia. Foi seu amadurecimento interior
que facultou outro caminho, outra escolha. Não temos a história toda, mas tudo
indica que ele não deu saltos. Ele aprendeu ao ser perseguido, ao ser
ridicularizado, ao ser estrangeiro, ser diferente, apontado, perseguido. Por isso
30 anos depois é fácil o ver junto aos desgarrados, aos deixados para trás.
Damares não fumou maconha.
Ela não cheirou lolo. Ela não tomou ácido e ainda que tivesse feito tudo isso,
o encontro dela com Jesus foi real. Não que ela precise que eu ou alguém
avalize o que ela sentiu. É que se a dor é real o salto é verdadeiro e o
encontro é tremendo. Tentarei mostrar que só isso não basta, mas é forte e
real. De maneira geral, encontramos Jesus e outros seres nesses momentos de
profunda angustia e desespero. Quando não temos mais local para ir, ponto de
fuga, as portas da transcendência se abrem. É a abertura do mar vermelho. É o
milagre da água em vinho. Ela viu Jesus e dialogou com ele. Isso é lindo. Acredito
que tenha sido essa imagem que a permitiu estar conosco. Foi essa imagem que a
salvou e lhe possibilitou caminhar, estudar, se formar, virar mestra. Foi essa
imagem que a retirou do desespero e da vergonha, da culpa.
Apresento outro cenário para
ilustrar com clareza o que desejo expor.
Imaginemos, que Damares
tenha subido no pé de goiaba e na descida quebrado a perna, tido uma fratura
exposta? Mesmo ela tendo sido salva por Jesus, todos pediriam que ela fosse ao
ortopedista. Depois de meses com o gesso e ela desejasse correr, as pessoas a
encaminhariam para a fisioterapia. Mesmo ela tendo sido salva por Jesus e com
uma experiência interna fantástica, alguém iria sugerir para ela fazer
musculação. E anos depois, quando ela tropeçasse, amigos poderiam lembrar:
talvez seja devido aquela fratura que você teve na infância.
No entanto, como salienta
uma amada-amiga, quando o assunto é adoecimento psíquico, seja por fissuras
emocionais, seja por adoecimento do cérebro, não temos paciência, cautela. Não
temos cuidado. Uma menina que fora abusada sexualmente por ano, subiu no pé de
goiaba. Viu Jesus. Desceu e para todos estava curada. E como é fácil para todos
os envolvidos que assim fosse. A cura dela é a absolvição de muitos culpados. A
cura dela é a remissão de muitos covardes. A cura dela é o adoecimento moral,
sexual, espiritual, social que estamos inseridos. Se aceitamos que Damares está
curada é porque desejamos fechar os olhos para situações que nos incomodam. No
caso desse texto vou explorar a sexual. Deveria ser notório, evidente a todos
nós que as declarações, as posturas, as falas mostram que há uma fissura no
corpo emocional dela. Quando olhamos para Damares vemos a dor que ainda não foi
tratada.
Mas, se foi curado, como
não foi tratado? Se Jesus curou, como que não está pronto, resolvido,
solucionado?
Jesus nesses casos é
atendimento de emergência. É colo de mãe. É acolhimento. É carinho. É sopro
divino. É proteção. Tudo isso uma mãe faz quando um filho se machuca, mas nada
disso impede os demais cuidados a serem tomados, os demais profissionais a serem
escutados. Nada disso restringe e/ou impede a cicatrização e a relação com o
tempo.
Damares é similar a minha
colega que perdeu a filha para o câncer. Só que ela se afastou de Deus; como
ela poderia aproximar-se dele?
Damares é similar a meu
amigo que foi abandonado meses antes de ir ao altar, com tudo pago. Com voltar
a confiar de novo? Como amar alguém outra vez?
O processo psicoterapêutico
ajuda demais. Nos faz dar conta de falar, de elaborar, de dizer, de explicar e
caso essas pessoas retornem uma atividade religiosa, Jesus as cura. Mas, essa
cura não é mais um abraço de acolhimento, de proteção. Essa cura é um momento
solidificado da experiência, da fé. É algo cicatrizado que não dói, por isso
superado. É algo que não rasga a casca, atravessa a pele ao ser tocado por
estar mal resolvido. É algo cicatrizado. Diferente de calejado, que evita
toques e quando tocado soltamos coice. Há cura em todos esses níveis e em
muitos outros, mas a verdadeira é a que cresce de dentro para fora e encontra
com a de fora para dentro. Sabe a ovelha desgarrada que a medida em que se
afasta do rebanho vai se aproximando de si mesma? Ao ponto que em determinado
momento o pastor a coloca nos braços e ela se permite estar nos braços do
pastor compreendendo sua caminhada, seu caminhar? Um dia as pessoas lerão o
Evangelho como sendo essa a expressão mais bonita e ilustrativa de cura. Mais
do que curar os leprosos, cegos e aleijados. A ovelha desgarrada que se deixa
retornar aos braços do pastor é a parábola de todo Evangelho de Cristo.
A dor de Damares é muito
das nossas dores emocionais que não tratamos, que relegamos a segundo e último
plano. Fazemos de tudo, menos olhar para ela e isso nos machuca e machuca a
quem está perto de nós.
Sendo assim chego onde
queria chegar. Espiritualistas dão saltos mortais triplos carpados, piruetas para não
tratarem do emocional. Na negligencia ao emocional os desejos começam a gritar,
a incomodar. Religiosos, espiritualistas acreditam que viver é lutar contra os
desejos. No cristianismo então, não há um único desejo do corpo que não esteja
associado ao mal e cujas consequências seja o inferno. Os paradoxos disso são
infernais, porque os desejos do corpo são prazerosos. O corpo em estado de
alegria, de êxtase, de amor não tem tempo para rezar, para ajoelhar, para se
curvar. O corpo sem dor não lembra que tem espirito. Não constrói catedral. Ele
faz sexo, ele come, ele bebe, ele xinga, ele mata, ele ama. Ele vive sem se prender
as visões do amanhã, ou do depois de amanhã. O ser está no corpo e todo esse
corpo é alma, é luz, é felicidade. É vida.
No cristianismo eles
conseguiram fazer com que invertêssemos a lógica. O prazer é do espirito e
claro que ele sente prazer mortificando o corpo. E cada corpo que balança, cada
corpo que dança, cada alma feliz é uma ameaça que passa a ser encarada como
existencial. Cristãos diante dos pagãos enlouqueceram, adoeceram até que
começaram a matar. Imagina um cristão diante de índias nuas correndo pela
selva? Imagina uma cristã diante do corpo seminu de um homem negro? É
impossível não odiar. E odeia-se justamente porque queria amar, mas não dá
conta. O espartilho mental não permite que aqueles seres deem um passo para
fora dos seus condicionamentos.
Enquanto não colocarmos o
corpo como uma variável imprescindível dessa equação existencial teremos
abusadores. E a sua maioria será religiosos, seja de qual denominação,
congregação for. Buda teve filhos. Pedro e os apóstolos eram casados. A energia
do celibato é linda, mas se imposta corrói a alma. Dilacera vidas. Para muitos
cristãos pensar Jesus sexualmente ao lado de Maria de Magdala é uma heresia. O
Jesus homem, com corpo, desejo, prazer sexual, genital desconstrói todo o
imaginário que foi construído sobre ele e Maria num puritanismo absurdo.
Enquanto a matriz do culto
tiver o corpo como repressão, a culpa, a vergonha, o medo a manifestação dessa
repressão aparecerá na figura do diabo, do obsessor. Entes abstratos que vão
personificando até ficarem concretos. De repente, o obsessor são as mulheres
que não se calam, ou as que não vestem rosa. Elas são vistas como demoníacas,
sedutoras. Ou as crianças brincando, sorrindo, se tocando, se divertindo com
malicia e pureza. Com desejo e leveza, enlouquece e perverte os ADULTeradOS.
Olhar para o emocional é a
primeira etapa para um processo de cura. Sem um emocional minimamente saudável
os desejos, encarados por nós como sexuais, vão se transformando em fobias,
compulsões. Hoje (12/1) pela manhã ouvia um vereador incomodado com as pessoas
que chupam picolé, sorvete de forma lasciva. E a doidera toda é essa. De moças
e moços que precisam de um picolé para isso e a maior de quem polícia isso na
chupada do outro. O preenchimento espiritual harmoniza, sereniza, mas não
retira a necessidade de lidarmos melhor com nosso emocional, com o nosso
psíquico, com o nosso sexual. Essas tentativas desesperadas de se sair do
humano para encontrar uma ascensão ajudam a criar todas as formas de abuso.
Elas são frutos de uma negação, de uma repressão.