domingo, 3 de novembro de 2019

SISTEMA REPRODUTOR: gestando a criação.




Eu não iria escrever sobre a reunião, mas três pessoas me instigaram a relatar algumas percepções. Primeiro foi uma moça bonita que foi impedida pela chuva e ventos de chegar ao nosso encontro. Outro querido, que esteve conosco no encontro anterior e por motivo de localidade não conseguiu estar conosco, mas se interessou em saber o que tinha rolado. E uma terceira ao narrar suas investigações internas. No geral, os três me apontavam um caminho que resolvi seguir. Por essas trilhas fui consultar um texto que estava psicografando em junho de 2010. Vou colocar esse capitulo especifico a parte e quem se interessar leia. Embora seja de 2010, ele tem uma pertinência e relevância imensa com a reunião.

 https://universofiholosofico.blogspot.com/2019/11/2-os-jardineiros-o-comercio-e-os.html


No encontro desse mês falamos do SISTEMA REPRODUTOR e conversamos sobre ele a partir de três perguntas:


O QUE RE-PRODUZIMOS? O QUE GESTAMOS? O QUE CRIAMOS? 




De uma maneira muito sincrônica as três concepções foram simbolizadas, representadas, estampadas na figura de um casal gravido que nos honrou com a presença. Eles, gestando Maria Clara, simbolizavam tudo o que pensamos e mais. Maria Clara que ainda está no ventre foi a presença mais impactante do nosso encontro. Ela nos envolveu num espectro que marcou toda a reunião. Ela talvez seja um desses muitos seres que deslocam nosso planeta para uma nova áurea. Uma retomada, um reencontro da nossa sexualidade com o nosso coração. Um caminho que separamos, que nos separou, nos dividiu, nos aprisionou. Um caminho no qual perdemos parte significativa da nossa consciência criadora, criativa e gestamos a Idade das Trevas. Um período que sexualmente não saímos de todo, não nos libertamos ainda. Não coletivamente, não como um padrão harmônico, uma estrutura de felicidade, de amor e gozo. Volto e insisto que depois leiam o link posto acima, será de grande ajuda. 


Quando começamos a reunião não tínhamos noção desse percurso, pelo contrário. A energia dos que estavam lá presentes, nas mais diversas dimensões e dos que não puderam estar, nos mais diferentes lugares, nos possibilitou um itinerário muito bonito. Um caminho no qual fomos conduzidos a percorrer, cada um individualmente, a partir do nosso próprio entendimento e vivência reprodutora, criativa, gestadora. De repente estávamos numa seara coletiva. Estávamos trilhando pegadas sagradas há muito abandonadas, há muito distorcidas, desrespeitadas, incompreendidas. Um caminho que ao ser perdido, virou lenda, imaginário, porém se transformou em algo pior e mais corrompido: moralidade tacanha.





Passamos a associar energia sexual a moral e bons costumes, a tradição e valores, a correção e caráter. E, isso é uma corrupção do entendimento do que seja essa energia. O fato é que ela é divina, sagrada, porque ela porta a capacidade criadora, criativa, gestadora da existência. Isso é mágico. É sublime. Alguns povos e culturas compreendem a energia sexual com esse espectro, com essa magia. A cultura cristã entorpeceu essa energia, porque ela não é um sacramento, um ritual. Ela não pode ser sacra de fora para dentro. A única forma de sacralidade dela é de dentro para fora. É da fusão do dentro-fora, fora-dentro. E, perdemos isso. Perdemos esse fazer, esse ser e sentir porque fomos buscar uma definição, uma explicação. E, como definir o divino? Como explica-lo? Pode-se observar a áurea de integridade que ele nos repassa. Essa áurea nos remete a pureza, a beleza, a castidade, a sacralidade, no entanto, nada disso é moralista. Nada disso diz respeito ao que é certo ou errado sexualmente dizendo. Nada disso é um parâmetro que deve ser imposto para todos e a todos, pelo contrário, a forma dessa energia fluir e se fazer divina é respeitando a individualidade de cada um. Pouco disso está no ato e sim no como se faz.






Foi a partir então dessa energia, dessa sintonia que fomos convidados a percorrer um caminho sagrado, misterioso, profundo. Uma peregrinação muito bonita. Eu sempre fico tentando me ater na metodologia que os caras utilizam para alcançarem, tocarem nossos pontos. E para falar de re-produção, criação, gestação; eles fizeram uma visualização criativa que partia do coração. Eles não foram direto ao Sistema Reprodutor. Menos ainda ficaram tentando mostrar que o sexo é sagrado, ou qualquer coisa parecida. Eles nos levaram para nosso cardíaco. De dentro dele, internamente, percorremos um caminho no qual fomos parar no chacra sexual. Esse caminho interno que percorremos é idêntico, é o mesmo caminho sagrado das peregrinações. Se pudéssemos fazer uma sobreposição veríamos as mesmas rotas. A distância entre o cardíaco e o sexual é a distância de Roma a Jerusalém. É rigorosamente o mesmo caminho e definitivamente a rota que nos ‘aprisiona’ em re-produções viróticas, desconectadas do sagrado. São ritos, repetições que ativam e reforçam um padrão no qual não se quer sair.






Toda manipulação que recebemos, sofremos, praticamos em 95% dos casos passa pela energia sexual. Praticamente, não há carma sem energia sexual. É o sexo que nos prende, nos aprisiona, nos escraviza. É essa força que é usada contra nós e somos manipulados. Nossa reprodução de violência, nossas compulsões, nossos vícios todos eles guardam uma relação ainda estreita, oprimida e opressora dessa energia sexual. Mais do que da energia, do caminho que passa do cardíaco ao chacra sexual. De modo geral, nós lidamos com essa energia de forma mecânica, instintiva. O trabalho que realizamos foi abrir essa senda.

Estava fechada? Parece que sim. Coletivamente falando essa senda é complicada. Mas, quando dois de nós, ou mais de nós se reúne, essas e outras portas vão se abrindo. Em nosso encontro a abertura nos remeteu a essa peregrinação interna, a nossa lenda pessoal, ao nosso trabalho alquímico. 





Nessa nossa trilha aconteceu algo diferente, mágico. Uma re-tomada mesmo de uma sacralidade. Uma retomada conjunta, coletiva, mostrando que essas saídas são coletivas. Não da humanidade inteira, mas pequenos grupos movimentando-se. Insisto que é complexo decalcar o movimento que trilhamos em palavras. Tornar palavra o que fomos fazendo, por onde fomos passeando. Mas, percorremos em 15 minutos, se isso tudo, mais de 1300 anos de história. Mais de milhares de quilômetros. Peço que depois, ou agora, leiam o capitulo que postei do A PREPARAÇÃO DO HERDEIRO. Das muitas coisas interessantes no capitulo em intercessão com esse texto diz respeito aos símbolos. Como que a partir da força do símbolo, éramos lançados nesse diálogo entre o subjetivo e do objetivo, de como nos perdemos nessas relações, nesse imaginário. A imagem que eu senti quando recebia a mensagem era de que estávamos na iminência de darmos um salto coletivo, mas forças oriundas das nossas sombras e não apenas delas, nos retrocederam. Mais do que retroceder, nos trancafiaram dentro de um ciclo virótico. Quando estávamos na iminência de um salto nos veio a Peste. A peste é mais do que uma metáfora que dizima a Europa e séculos depois ira contaminar e destruir em todos os níveis a África, Ásia e América. Esse vírus foi espalhado mundo a fora. Ele é transmitido a cada reprodução. Ele ganha sobrevida a cada ato sexual com culpa, tristeza, forçado. É a peste que assola o mundo, intoxica tudo envolta. Em nosso encontro estávamos acessando uma energia prazerosa, amorosa, livre dessa reprodução que não tocarei mais nela para focar na beleza do caminho. Uma beleza que insisto será melhor compreendida na leitura do link deixado acima.  Uma beleza que remete a vivência e a experimentação da energia reprodutora como criativa e criadora, não apenas de corpos de carbono como que de sonhos, ideais, espaços de esperança e amor. Essas criações são possíveis em muitos níveis, padrões, dimensões e podemos começar a nos atentar para elas. 


Essa jornada interior lembrava, literalmente, a peregrinação de Roma a Jerusalém e diversos outros caminhos sagrados. Rigorosamente, era e é o mesmo caminho do cardíaco aos testículos/ovários. Essa é a Jihad que depois da peste contaminou e entorpeceu a visão dos seres. Essa é a guerra santa a ser lutada, combatida. Mas, ela não é guerra no sentido das cruzadas. Só vira isso quando esse interno foi obnubilado. Quando o caminho passa a ser corrompido. Quando se deseja encontrar e resolver fora- rotas sagradas- estados internos da alma e do ser. 








Saber distinguir o que é interno do que é externo, o que é subjetivo do que é objetivo, conseguir perceber as sobreposições dessas abordagens é uma percepção iniciática. Um processo de iniciação era aprender sobre esses marcadores, transitar entre essas dimensões e não perder o rumo, o sentido. 


Hoje nós temos a Web. Deslocamos do virtual para o real, confundimos os dois, entremeamos os dois, com-fundimos todas essas dimensões, estados, humores, pensamentos, desejos, vontades; porém não temos mestres que nos orientem sobre as sobreposições, o que é interno, o que é externo, o que é individual, o que é coletivo, o que é real, mas imaginário, de outra dimensão. O que e como a partir desse imaginário, essa figura pode e movimenta toda nossa malha energética. Estamos perdidos, desorientados, desnorteados e as doenças psíquicas se avolumam, os distanciamentos se aprofundam. Fala-se com seres que existem, realmente existem, em alguma dimensão da intercessão da nossa psique com o imaginário coletivo, porém não conseguem dar bom dia. Outros estão com pânico e não chegam ao portão. É importante percebermos como que tudo isso está fundindo e como que nossa mente, ou nossos desejos, emoções tem dificuldade em lidar. E a dificuldade é oriunda da dificuldade em aceitar essa integração. Nessa modelagem que está sendo realizada, que nos aproxima de nós mesmos, de quem somos e não quem gostaríamos de ser. O tempo das idealizações vão ficando para trás. Somos convidados a ser quem somos e aceitarmos esse ser. E essa integridade não se faz por idealização. Se faz permitindo ser quem se é. Se faz aceitando ser quem é e sobretudo expressando esse ser no mundo. 

De modo que, isso vai nos retirando do mecanicismo, biológico, instintivo e nos conduzindo para uma sintonia criativa, criadora. Podemos trabalhar o instinto de sobrevivência sem cairmos na re-produção serial e sexual-genital. Podemos aprendermos e despertamos o prazer sexual para além da genitalidade e com isso mulheres fertilizarem mundos e homens gestarem criações. É um processo alquímico que está aberto, lançado no ar e estamos nos perdendo. 

 
Foi belo ver como que dos homens presentes despontavam visões de arados, terra, cultivo, flores, penas, mandalas. E de como que das mulheres saiam visões de espadas, flechas. Realizava-se ali um processo de integração muito bonito; os homens em contato com a terra, as mulheres no manejo da espada, flecha não estavam em desarmonia ao que eles são.



Esse caminho a gente fez junto. Essa abertura foi coletiva. Um acesso coletivo que nos permitimos, experimentando a sexualidade num nível de integridade, que não tem relação com moralidade. É um respeito a energia sexual, porque ela é divina, criativa, gesta uma nova humanidade, uma nova forma de ser. Essa sexualidade está relacionada ao coração, ao cardíaco. É um caminho do amor em sua manifestação e expressão. É sexual no sentido de um prazer amoroso, semeado e expresso sem culpa. Uma forma de ser. O que acaba por dar ao sexo um novo significado. O sexo é energia de manifestação, de precipitação. O sexo é energia de criação. Força capaz de trazer um ser à matéria. Mas, o uso dessa energia pode ser para co-criar, gestar outras realidades. O que novamente, implica em sairmos da re-produção instintiva, praticamente virótica que nos encontramos e nos trazer para uma consciência na qual compreendemos e saibamos usar essa energia sexual para criar felicidade, alegria, suavidade, beleza, encontros. Já estivemos imersos a essa energia. Nós já a vivenciamos e num processo descrito num capítulo que postei a mais nos Jardineiros, denominado Rotas Comerciais, um amigo fala dessa perda. 




Mas, essa energia da alegria, do sexo com prazer, sem culpa já vivenciamos. Temos registros dessas celebrações, festejos, porém nos perdemos no caminho da interioridade/exterioridade. Quando falamos de Alquimia os caras deixaram pegadas sobre esse processo de equivalência de transformar chumbo em ouro, o mais popular dos ensinamentos. Justamente, porque empobrecidos internamente, busca-se riquezas externas e tornam ainda mais árido o interno. Os não iniciados não compreendiam a dimensão subjetiva, arquetípica dessa transformação. Dessa transformação ambicionada em si mesmo e não nas lutas fraticidas por roubar, saquear, destruir de outros povos e seres. 




Outra parte dessa energia chegou com a magia. Mas, igualmente não compreenderam que a magia é sexual. Precisa ser. É o encontro de polaridades elétricas em atuação para ativar diversos estados de consciência, comunicação, compreensão. Mais uma vez, se prenderam nos atos, nas cenas e perderam o que movimenta, co-cria a realidade. 

Finalmente, temos as bruxas e o pavor que essas mulheres provocaram no imaginário coletivo. E as bruxas, demarcam o que foi perdido no não entendimento da magia (a sexualidade) e a da Alquimia (a liberdade da experimentação). Desvelar esses e tantos outros aspectos é o nosso caminho. Em comum temos as metáforas, o percurso subjetivo claro, marcando com clareza cartografias internas que não se sobrepunham as objetivas. A sobreposição desconfigurou nosso olhar, nos perdeu. Estamos agora reconstruindo e retomando uma nova abertura para mudança de fase.



Em suma, essa energia vem nos mostrando que sexo é mais do que genital. É mais do que reprodução. É sexualidade no seu sentido mais pleno, o que implica uma relação amorosa consigo, com o outro, com o mundo, com o universo. Uma transa de corpo-mente-coração-alma. Uma integração sagrada e divina entre nosso biológico e nosso espiritual. Essa força é divina e quando a trocamos em comunhão e não há nada mais sexual do que a comunhão na face da Terra, comer o corpo, beber o sangue... essa força se torna CRIATIVA. Gesta-se novos mundos, pare-se novos seres. 




Seja bem vinda Maria Clara. Recebamos todos nós a partir dos nossos filhos a vida que se renova, mas nunca se repete. A vida que se nega a aceitar padrões estanques. 

Sejamos. 













2- Os Jardineiros: o comércio e os templários.







Sobre a minha vista se abre um lenço branco. Aos poucos, o lenço vai se moldando a uma cabeça e forma como um gorro inteiriço que desce até a altura do pescoço. Esta é apenas a primeira parte de um rosto que vai se desnudando. Um rosto que vejo desde a minha infância. Uma vestimenta que vejo desde há muitos anos. O lenço sobre a cabeça revela um rosto de homem, um homem maduro, aparentando uns 40 anos, com traços duros, bem definidos, bem marcados, barba cerrada, avolumada. Pele branca queimada pelo sol, deixando-o bronzeado. O lenço se desvela como uma touca e desce até o pescoço. Uma outra parte se estende daí pegando dos ombros até a cintura. Um pano branco se desvela e uma cruz vermelha, imensa, esta estampada em seu peito. Sim, ele é um cavalheiro, ele é um templário, seja lá o que representa isso. Em suas mãos há uma espada, um juramento, um segredo, um compromisso, uma missão. Junto a ele também se vê, um pouco mais afastado, um escudo, mas sem dúvidas fazendo parte de seus pertencentes. Próximo a ele há uma rosa, vermelha, que nunca murcha, que ele nunca se afasta dela. Sua vida é proteger e defender a rosa. Todo ele é marcado de símbolos, de sinais e cada um tem um significado próprio. Cada símbolo representa um nível dentro da ordem da qual ele pertence e revela as cidades pelas quais passou, as missões que executou, o nível consciencial que ele ocupa, a hierarquia e comando a qual pertence. São silenciosos com as palavras, com os dizeres, com os pensares, mas os seus símbolos gritam e se comunicam para aqueles que os sabem ler e os entender. São seres simbólicos. Seres que aprenderam e ensinam mediante a simbologia sagrada do mundo visível e invisível. São homens que transitam por entre mundos e esferas psíquicas diferenciadas.

2.1 Mundos Simbólicos.

São pelos símbolos que eles atravessam os desertos, as montanhas, os penhascos, os desfiladeiros, a vida e cumprem a sua missão. São homens simbólicos. Preste atenção na marcha do cavalo! O cavalo é também um iniciado. Seu adestramento, seu instinto natural é a captação da elegância e do nível do seu dono. É possível perceber isso, enquanto eles marcham? Enquanto eles combatem? Cavalo e cavaleiro se tornando e se fazendo um?

O cavaleiro deve aprender a domar seu cavalo, a ouvi-lo, a compreendê-lo. O cavaleiro deve aprender a se conduzir pela noite com o olhar do cavalo, percebendo o invisível que os cerca, que os ronda. Essa é a primeira missão do cavaleiro, aprender a ser cavalo. Sendo cavalo, transformando-se em cavalo aprender a ser cavaleiro. Um dos primeiros registros simbólicos do cavaleiro é o centauro. O aprendizado de conciliar a razão com o instinto, libertando a intuição. É a integração entre esses dois opostos que gera um terceiro, mais claro, mais nítido, mais consciente. Muitos cavalheiros se perdem no uso demasiado da razão. Outros se empolgam com a capacidade inebriante dos instintos. Poucos conseguem se tornar Quiron: o centauro. De todo modo o cavaleiro que não adestra seu cavalo não pode e nem consegue se preparar para receber a sua donzela, cortejar a sua donzela e sem transpor um nível, dificilmente outro se abre. Muito embora os caminhos se abram por vias não lineares.  

A donzela é o seu amor intocável. É a sua Guinevere. É aquela na qual ele amará, pela qual ama. É um símbolo de um outro encontro, de uma outra busca, de uma outra integração. Deve o cavalheiro cortejar a sua donzela, buscar a sua donzela e saber que ela é um símbolo. Não estamos falando da donzela de carne, com a qual terá filhos, casa, lar e sim de uma donzela interna. Uma donzela que quando ele a desposar, encontrará uma força dócil, suave, que existe dentro dele. Uma força que vence sem lutar, que desarma sem ferir, que mesmo ao destronar o oponente, o acolhe. Receber a donzela, encontrar a sua donzela é encontrar a maior arma do cavaleiro. É a arma que nasce da fusão do escudo, do elmo, da armadura, da espada e da rosa. A arma que vence sem lutar, derrota sem combater, submete sem humilhar. A fusão e integração de cada um desses instrumentos é o véu da donzela, que poucos cavalheiros encontraram.

Sim, a medida que o cavalheiro se arma, ele se afasta da sua donzela. E a medida na qual o cavaleiro se desarma, ele se aproxima da donzela. A donzela nunca se apresenta ela mesma, ela em si. Ela se preserva ao máximo. Ao primeiro sinal de rudeza, agressividade, grosseria, de truculência, ela foge, escapa, retorna ao vale da lua, ao mundo das sombras, para a sua caverna, o local no qual ela habita e sente-se bem. E lá, fica a espreita, a espera de uma ponte, de uma lança, que possa ajudá-la a atravessar e entrar no mundo solar do cavalheiro. A donzela no mundo do cavalheiro pode destruir o seu senso, seus julgamentos, seus instintos. Pode retirar dele a sua virilidade. Por isso muitos passam a vida apenas deixando suas donzelas trancadas em um castelo, em uma torre de marfim. Lá, ele sabe, que ela está protegida, a sua espera. E protegida, eles não se perdem de si mesmos, não se perdem em combate. Não deixam suas donzelas a mostra e desprotegidas. As donzelas aceitam qualquer lugar no qual seu cavalheiro as coloque. Os cavalheiros é que não conseguem se desculpar, nem em se entender ao deixá-las tão a parte deles mesmos. Fique claro que a donzela é o prêmio máximo da iniciação. Poucos encontraram a donzela, embora as tenha cortejado como musas, com poesias, com várias artes. Pelas artes em geral o cavalheiro flertava com sua donzela. Dava vazão ao seu lado mais sensível sem perder a sua virilidade e masculinidade. Pena que aqui não é local para que se ensine a arte do cortejar, esse duelo mais espiritual da existência. Esta preparação iniciática para se buscar o santo graal.

Todo cavalheiro é símbolo e falamos de dois que lhes serão a marca primordial. Um por representar o início da jornada (o cavalo), outro por representar o fim da jornada (a donzela). Nada garante que se será capaz de adestrar o seu cavalo interno e fazer-se Quiron. Nada garante, que se adestrando, conseguira chegar diante de sua donzela. São caminhos que não há garantias, apenas travessias. O cavalheiro de ontem jamais é o mesmo de hoje e nunca será o mesmo de amanhã. E é isso que os mestres do caminho observam, se atentam.

Os mestres dos caminhos se encontravam e se colocavam pelas jornadas dos cavalheiros, diretamente nas estradas, indiretamente, dentro das grutas, cavernas, templos e mosteiros. Eles eram homens que conheceram a estrada, que receberam a visão das missões, das conquistas, das buscas. Do Jihad. Não se espantem a guerra santa existe. A guerra santa é uma necessidade. A guerra santa existe em todas as culturas, em todos os tempos. A guerra santa é apenas um símbolo. Uma etapa da luta, do cortejo entre o cavaleiro e a donzela. É uma etapa do processo no qual o cavalheiro é impelido a lutar. Ele não pode não lutar, mas lutando ele perderá, mas lutando, ele perde também. Se ele matar a donzela, ele morre. Se ele a deixar viver, ela morre. E nesse Jihad os dois só podem existir como um. Os dois só podem se realizar, aceitando o fim do que foram e sendo um novo começo, uma nova etapa. Um novo surgimento. E isso é difícil de conciliar, de vivenciar, de encarar e de aceitar. E esta é a Jihad interna que se colocada no mundo é motivo de escândalo.

2.2 Mundos sem Símbolos.

Em algum lugar da história grupos perderam a visão simbólica das coisas. Ao ouvirem lendas e histórias dos cavalheiros pela metade, quiseram fazer e tornar literal algo que só fazia sentido, quando desvelado e velado pelo simbolismo. Na ânsia em ser cavalheiros fundaram um novo imaginário para o mundo, em especial, para o ocidente. Os cavalheiros nos quais nos referíamos, inicialmente, muitos fizeram viagens de milhares de quilômetros sem nunca terem saído de suas abadias. Sem nunca terem se deslocado de seus lugares. Outros percorreram milhares de quilômetros, por diversas culturas e lugares, mas todos eles sabiam incorporar a dimensão simbólica do universo ao mundo, sem produzir atritos ruidosos. Esses cavalheiros viajantes de mundos externos e viajantes de jornadas interiores, ambos em seus mundos, lutaram contra os seus dragões.[1] Domesticaram as forças mais primitivas e selvagens da psique e sabiam utilizar esse animal sobrenatural para cuspir fogo, serem respeitados, serem temidos, serem amados.

Os dragões são um símbolo templário para demonstrar que o cavalheiro adquiriu técnicas e conhecimentos orientais. Simboliza na sua dimensão histórica o contato com a tradição chinesa, indiana, oriental. Aquela que demarcamos páginas atrás como sendo semente dos aspectos femininos, voltado ao feminino. E o detalhe é que tudo o que se relacionava com o feminino, no advento do cristianismo, foi colocado na pecha da corrupção, da degeneração. E assim, criou-se fantasias de dragões raptores de donzelas, salvas por cavalheiros. Uma visão simples, mas que nos permite salientar uma fissura no imaginário pela qual atravessariam muitas trevas retesadas e reprimidas. Afinal, quando desvelamos os símbolos deste novo imaginário que se construía, isso representava primeiro, a luta do feminino (dragão) contra a mulher. Segundo, da mulher (donzela) contra o feminino. Terceiro, do homem contra o seu feminino, isto é, a sua sabedoria interior (dragão). Representava um momento de luta, disputa, de guerra de todos contra todos.

A única parte salutar dessa tensão era o resgate da donzela pelo cavalheiro, no entanto, isso implicava ou em matar o dragão, símbolo do feminino, do corpo, da natureza sexual, da energia sexual e outras forças rejeitadas; ou em aprisionar a donzela em uma torre para que não corresse riscos. Na primeira alternativa evidencia-se a gradativa demonização do feminino. Na segunda o temor ao feminino, as mulheres. Mas se isso se dá nas dimensões simbólicas, a incorporação desse símbolo, o uso dos dragões por parte dos cavalheiros, representava que ele teve contato com forças da pólvora, do fogo, dos raios, com um uso ainda mais vigoroso, intenso, do poder da mãe Terra, da magia telúrica, sexual, feminina, originários na Índia, China.

Representava que conseguiram informações mágicas, telúricas, acerca das grades cristalinas da Terra. E este momento dos cavalheiros é muito emblemático, porque registra um momento no qual as coisas fugiram de controle. No qual as coisas se inverteram. Essas inversões são tão naturais que a maioria nem se dá conta, nem as percebem. Como este exato momento no qual há uma inversão do campo magnético e a maioria não sente, não pressente, não vislumbra. Naquele momento da inversão passamos a ter milhares de cavalheiros amando donzelas platonicamente, negando contato físico com as mulheres. Outra gama entrando em cavernas com fúria e temor a procura de dragões para matá-los. Outra sorte encontrava-se fazendo de fato a Jihad, escolhendo um outro, um diferente, para atacá-lo, para matá-los, em nome de Deus, ou de Alah. Matavam em nome de Deus, sem piedade cristã ou mulçumana. E arrastavam para esse universo fissurado, outros milhares de seres.

2.3 O hálito do dragão.

As atividades dos templários, dos cavalheiros, mexeram nas estruturas cristalinas da Terra, principalmente, quando incorporaram, novamente, o uso dos dragões. O dragão é também o símbolo dos guardiões das grades cristalinas. Dessas forças não locais do espaço-tempo. Conseguem entender o que é a grade cristalina?

Imaginem um prisma de luz, um espectro luminoso. Antes de passar pelo espectro temos apenas a cor branca. Essa cor é o que se denomina realidade. É a parte visível, objetiva, clara. Oposto a essa matriz há a cor negra e a isso se denomina loucura, irrealidade, sonhos, devaneios. Por milhares de anos viveu-se com essas duas matizes de cores: preto e branco. O preto, o escuro, como sendo negativo e o branco, o claro, como sendo positivo. Esse mundo não oferecia dificuldades de entendimento e permitia aos iniciados atravessarem para outras freqüências cromáticas. Aqueles que assim procediam eram respeitados, admirados, temidos. No entanto, o plano de interligar o mundo, as sementes, levou cada povo a germinar sementes e a trocá-las entre si. Essas trocas energéticas proporcionaram a re-abertura de uma fissura, pela qual muitas imagens, muitos devaneios, muitas realidades não locais atravessaram. Essa travessia gerou perturbações múltiplas em todos os planos.

Acompanhem-nos. Quando se esta fisicamente, astralmente na Terra a vida é vista assim- preto x branco. A grade cristalina é a possibilidade de se captar outras matizes de cores dentro desse espectro. O que queremos ressaltar é que esses espectros às vezes “baixam” e colorem a realidade, forçam um novo olhar e uma nova perspectiva para as coisas. De toda forma o que faz com que esses espectros se tornem vivenciáveis é a consciência dos seres. E nesse molde consciencial, nesse espectro consciencial, não há tempo, espaço, linearidade, causalidade. As movimentações se fazem de imediato, de forma não local. Ainda não temos como lhes fornecer provas materiais e documentais, mas o que estamos dizendo, é que o contato do ocidente com a simbologia dos dragões abriu uma fenda na grade cristalina que impactou a distensão entre o objetivo e o subjetivo, o mundo interno e o externo, o sonho e a realidade e a conseqüência disso foi a criação de um mundo de trevas, acinzentado, que mergulhou a humanidade por milênios. Um mundo de culpa, pecado, medo, expiação. Um mundo de dor, lágrimas, sacrifícios. Um mundo no qual se vivia ao mesmo, simultaneamente, a idade média e os momentos finais de Atlântida. Em verdade, Atlântida é a ferida de morte do imaginário do planeta. As dores, as culpas, os medos, as sujeições e controles de todos os tempos se articulam a retomada desse padrão vibratório. 

Poucos conseguiram pontuar essa tensão com tanta precisão como Rene Descartes em seu “Discurso sobre o Método” e Cervantes na literatura com “Don Quixote de La Mancha”. Poucos viram que em plena idade média, abriu-se uma fenda, que provocou uma inversão, similar à vivenciada nos tempos finais de Atlântida. Poucos percebem que o que se vivenciou no período da idade média foi um misto de sonho e pesadelo do grupo 2. E o que se vivenciou do Iluminismo até os dias de 1999 foi o pesadelo e o sonho do grupo 1. Foram os medos, os dissabores, as culpas e as tensões de um grupo sobre o outro. A demonização de um grupo pelo outro assombrando o astral, o imaginário, a realidade das pessoas. Diante desses momentos de muitos séculos, eles puderam perceber que são iguais. Seja pelas searas da fé, seja pelas searas da razão, eles buscam a dominação pelo medo, pela subjugação, pelo controle do outro, pela escravização dos mais fracos, pela não aceitação dos diferentes.

Nesses períodos medievais os cavalheiros iniciados se recolheram para dentro dos templos. Nesses momentos muitos tiveram que trabalhar esses símbolos em um nível ainda mais sutil e mais distante do que era ostentado pela massa conduzida por lideres políticos e religiosos. Lideres que sempre sonharam e desejaram possuir esse poder “sobrenatural” que eles acreditavam que os cavalheiros possuíam. Acreditavam que as glorias seriam alcançadas mediante a luta fratricida, os rancores e o ódio contra o diferente. Não percebiam como que com tais praticas ficava-se a cada momento, mais evidenciado, de que eles não eram iniciados, de que eles nada entenderam da vida dos cavalheiros, do trabalho da Ordem. De que os feitos de justiça, de paz, de lealdade, de princípios, de nobreza não eram dados pelo nascimento, nem pela sua capacidade de comprar o alazão mais caro e de cortejar as donzelas mais belas. Que de pouco adiantava a obtenção dos conhecimentos simbólicos sem saberem por qual processo se realiza a incorporação desses conhecimentos na própria vida. De maneira que se entenda que todo símbolo templário é o cavalheiro mesmo. Ele é a um só tempo: o escudo, a rosa, a armadura, a espada, o véu, o cavalo, a donzela, o cálice, o graal. Se ele não se faz o símbolo de si mesmo, de nada lhe adianta os conhecimentos, as lanças, as pontes, as travessias, os lenços e os brasões.

Os mestres do caminho conseguiam observar, clara e cristalinamente, cavalheiros montados em jumentos. Cavalheiros cortando lenhas. Cavalheiros desposando mulheres desprovidas da beleza física. Os mestres do caminho conseguiam deixar claro e estampado que o caminho do cavalheiro não passava exclusivamente pela vida monástica, ou militar, pelo contrário. E é a partir desse contrário que a Ordem investe em outra modalidade de contato e de busca interior. Essa modalidade será anos, séculos mais tarde imitada, corrompida, representando a necessidade de se criar outra alternativa e uma outra via. Esse tem sido a senda dos puros- percorrer caminhos de forma pioneira e abandoná-los quando esses caminhos se fazem perniciosos e corrompidos.

O novo caminho dos caminhantes. As novas sementes dos jardineiros receberam o nome de comércio e de alquimistas. Os comerciantes fizeram a aglutinação e o encontro das muitas sementes, riquezas dos povos e dos mundos. Os alquimistas fizeram a contra partida dos monges, aqueles que ilaçavam os símbolos, seus sentidos e significados, a partir da reflexão, do silêncio, da jardinagem interior. Os comerciantes faziam as vezes dos cavalheiros a andar pelos campos, a colher sementes, a plantar grãos. Mas poucos sabiam que esse trabalho era um trabalho do espírito, de muitas vidas. Depois de muitos grãos reunidos, muitas sementes plantadas, nascia-se como monge para auxiliar a si e aos outros na compreensão do quebra-cabeça. Na compreensão dos plantios e jardinagens que estavam realizando.

Mas é a partir dos comerciantes que unificações serão realizadas e contatos estreitados. Comerciantes europeus com comerciantes árabes difundem a matemática, os algarismos arábicos, retomam Platão e Aristóteles, abrem as portas de entrada do mundo grego perdido, despedaçado. Aos poucos, o Logos vai retornando ao seio da Europa, clareando e iluminando concepções fechadas. O contato com os árabes enriquecem a Europa de conhecimentos. O mesmo acontece quando encontram os africanos e descobrem o valor dos livros, das universidades, dos centros de estudo. Tradição que os africanos mantiveram intactas desde a destruição da biblioteca de Alexandria. E que acalentaram como guardadores da semente de feitos prodigiosos de outros tempos. O contato com os chineses abre os horizontes para novas paragens, novos lugares, novas terras e o sonho de que deveriam ir ao outro lado do mundo. Lá onde existia o paraíso.

O comércio fez a fusão e a globalização do mundo mediante um sistema de trocas, de interesses que não se restringia apenas ao lado material e físico das coisas. Houve um comércio de informação, de bens imateriais, só comparável com a Web no século XXI. O que se transportou, o que se levou de um lugar para outro. Devolveu ao mundo, pelo menos a figuras de relevância e importância um conhecimento que se encontrava disperso há milênios. E esse é o tema do nosso próximo capitulo.

9/6/10



5- As rotas comerciais.

(30/6/10)


 


Genova e Veneza. Colocar o mapa dessa rota para se chegar ao oriente, assim como outras. A busca de Portugal e Espanha para furar o bloqueio e buscar além mar. Preste atenção nas informações. Lide com elas com cuidado e destreza, habilidade e cuidado. Como disse o poeta:

 “navegar é preciso, viver não é preciso.”

Tutto va da Itália. Tuto pasa per la Itália. Era essa a frase mais recorrente no final do século XIV, início do XV e meados do XVI. Os italianos, herdeiros de Roma, filhos de César, berço de nossa civilização gozavam de um poder formidável, maravilhoso, universal. Isso não é acaso, não é coincidência e tal fortuna, como diria Maquiavel, pode ser entendida por um ângulo pouco explorado: o clerical e espiritual. Vá com calma. Falaremos de coisa que não se diz, de segredos de estado que não se revelam. Tenha paciência e destreza. Busque a comprovação documental, elas estão aí à espera de serem coligadas, interligadas, mostrada. Por poder clerical entenda-se o poder dos papas e do clero católico. Por análise espiritual entenda esses desdobramentos que abordaremos.

Genova e Veneza eram as capitais do Ocidente. Tudo passava por elas. Tudo, que entrava na Europa vinha por ali. Essa força foi sendo reunida e acumulada desde o período das cruzadas. Não mais a cruzada dos cavalheiros e sim a cruzada dos clérigos. Sim, eles também empreenderam as suas cruzadas em busca de ouro, fortuna, riqueza e bens materiais. Como é sabido, eles encontraram. O que não se sabe muito é que eles também tomaram, seqüestraram, roubaram, saquearam, não apenas a mouros, na sua maioria, nossos irmãos cavalheiros, nossos irmãos que nos deram inúmeras contribuições, que nos forneceram inúmeras informações. Roubaram, seqüestraram, mataram, torturam, queimaram na fogueira, principalmente, os templários e os cavalheiros das Ordens secretas. Por detrás das cruzadas clericais escondia-se a busca e a batalha por apoderar-se do poder dos templários. Sim, eles acreditavam que nós tínhamos poder. E de fato o tínhamos. Nos moldes colocados páginas atrás, mas sempre fomos vistos como uma ameaça. E ameaçados fomos perseguidos, mortos, queimados, torturados, banidos, excomungados. Assim como nossos conhecimentos, assim como nossas descobertas, assim como o mundo que vivíamos e habitávamos. Isso é difícil de compreender, de explicar, de ensinar, de falar, de escrever, mas o mundo já acabou várias vezes. Neste período em questão o mundo acabou.

O mundo acaba, quando subitamente e inesperadamente a consciência dá um salto e muda de fase, muda de plano. Seja por susto, seja por medo, seja por quantum de alegria e de esperança. Nesses sustos a consciência salta, altera e mundos inteiros são deixados para trás, são esquecidos. O mundo acabou no século XIII. Quando voltou estávamos todos no século XIV, XV assistindo o poder infinito das crendices católicas. O terror que eles impuseram aos seus, queimando vivo outros seres humanos, retroagiu a humanidade em séculos, milênios. Sim, o medo pode produzir esse salto consciencial. Na iminência do perigo, os seres, coletivamente, podem alterar a percepção de realidade. Esses momentos aconteceram outras vezes e mais recentemente como puderam observar em pleno século XX. O mundo também acabou. Muitos ainda não perceberam e nem perceberão. Todavia desta feita o padrão de alteração foi realizado por consciências esperançosas, confiantes em um futuro agora, capaz de remodelar esse passado. E foi por esse presente ter sido possível, que este retorno ao passado se faz realizável. Voltem comigo. Não sei se chegaremos, mais voltem comigo.



É meio dia na Terra, mas tudo está escuro. Não há luz. As trevas reinam e vencem. O meio dia é a hora mais sombria. O meio dia é o momento mais doloroso. Os animais se calam. As vegetações secam. É o reinado da morte. É a força das trevas reinando. As mulheres se escondem e os homens se calam. Qualquer fiapo de luz pode levar à destruição, à ruína. As luzes são caçadas. Mulheres, crianças, homens, pensamentos, verdades, tudo é caçado e extinto. A alegria, o prazer, a satisfação, o gozo, a harmonia, a felicidade são proibidos. A Terra pesa como se estivesse grávida. E a Terra pare ratazanas monstruosas e abundantes. Rituais são feitos nos centros do poder para que as ratazanas não parem de nascer, não parem de gerar e elas se reproduzem, levando o medo, a morte, a fome, a peste. A escuridão repousa sobre a Europa, não há possibilidades de saída, de alteração, de mudança. A opressão é grande e aqueles que a desafiam são lançados à fogueira. Tem seus direitos cassados, são mortos de forma infame, são torturados de maneira vil. Tudo alimenta as ratazanas. Tudo fortalece a peste.

Missas negras são celebradas. A degeneração toma conta dos centros de poder. O cetro se faz objeto fálico, e é instrumento de gozo, orgias e delírios. Os Bórgias alçam voo, alcançam o poder, profanam a Igreja, denigrem as Marias, sodomizam Jesus, bestializam seus fieis, seus seguidores. Os templários são perseguidos. Os magos são perseguidos. As mulheres são transformadas em bruxas.

As bruxas. Sabem o que era uma bruxa? Sabem quem eram as bruxas? O sonho de todas as meninas, o dever sagrado de todas as mulheres. Encontrar no contato com o amado o desvelamento do mundo. Encontrar junto ao outro o sentido intimo da natureza. Ler o que a Terra lhes confidenciava e juntas celebrar a alegria da mãe, no próprio útero, com os próprios filhos. Essas mulheres de poder foram combatidas, dizimadas, seus nomes esquecidos, seus segredos extintos da Terra, retirados da Terra e lançados no fogo. Foram tristes estes momentos. Este momento só teve alegria e gozo para alguns poucos. A totalidade sofreu as dores, os medos, as angústias de ter tudo o que acreditava distorcido.

Poucas rotas existem para sair da Europa. A opressão é legitimada pelo monopólio, pela exclusividade. É necessária a criação de uma rota alternativa. É necessário encontrar frestas de luz nesse universo de ratazanas, pelo menos antes que a amnésia contamine a todos. Antes que os cavalheiros esqueçam quem são, qual mundo habitam, de onde saíram, de onde vieram. As Ordens secretas precisam se tornar braços armados, pontos estratégicos dos governos que desejam lutar contra as trevas. Por sobrevivência os templários e as Ordens se ramificam, se descentralizam e oferecem serviços de consultoria, aconselhamentos a padres, bispos, reis de outras nacionalidades. Em Portugal e Espanha a gente trabalha com o mar. Com o além-mar. Criamos centros de estudos de caráter secreto, com total autonomia dos reis, que cooptamos para nosso lado oferecendo poderes inimagináveis e jamais sonhados. Montamos a Escola de Sagres.

Conhecem a NASA? A Escola de Sagres tinha a mesma importância. Em todos os sentidos. Em verdade, a NASA é Sagres. O que fazíamos ali? Os livros de história não têm registros. O que ensinávamos lá, a história não sabe ao certo. Restaram alguns artefatos como um astrolábio, umas vaus, alguns mapas e eles nos são suficientes para brindarmos simbolicamente com o mundo.

Acreditariam em chineses em Portugal no século XIV e XV? Mas como há chineses que falam português? Por que nós chegamos até lá? Não, eles chegaram até nós, muito antes. Acreditariam em informações de que sabíamos a existência de terras além-mar, habitados por povos de peles avermelhadas? Havia inúmeras espécimes trazidos de lá, desde antes a data do descobrimento da América e da chegada de Cabral. Acreditam em negros habitando as terras portuguesas e espanholas em pleno século XV? Dando aulas em nossas universidades? Ensinando direito, filosofia do mundo grego? Vejam como a jurisprudência portuguesa é diferente da jurisprudência francesa e inglesa e compare-a com a do mundo árabe, em especial dos países negros de cultura árabe. Esta tudo aí. As pistas, os registros. Precisam ler e olhar com outros olhos. Não mais os olhos do medo, das sombras do mal e sim os olhos da alegria, da inocência, do amor que nos permitiu sonhar em meio ao maior pesadelo da Terra.

Eles acabaram com o mundo, mas nós o reconstruímos. Ainda dentro desse mundo de trevas, houve a luz do Renascimento. O sopro da arte, da beleza, dos gregos. Da riqueza, do monopólio e das taxações alfandegárias criou-se também o mecenato. E artistas puderam viver de suas obras. A arte passou a ser valorizada. E naquele cenário de opressão a única possibilidade era revisitar os antigos essa é a interpretação dada para esta fase. Todavia, ele revisita não aos gregos, ela revisita o homem ocidental antes da peste e do domínio das ratazanas. Eles falam não de um ontem, distante, cujos olhos não viram, e sim, de um ontem próximo, que a memória se negou a esquecer, que a alma se negou em calar. Os artistas renascentistas criam o homem que eram, que foram, que voltaríamos a ser. O homem expresso por Leonardo de forma divina e maravilhosa. O homem Davi esculpido em pedra por Michelangelo. Davi o símbolo tão caro a nossa ordem. Davi a representação da batalha que travávamos naqueles momentos.

Sim, ainda há lágrimas em meu peito. Ainda vejo o mundo mergulhado em uma noite escura e em um sono profundo. Ainda vejo e ouço as gargalhadas de Morfeu, enquanto outros cerram os olhos de meus irmãos. Ainda vejo os olhares patrulhadores dos morcegos noturnos, a espreitar durante a noite, os movimentos de nossos passos. Ainda vejo os ferros em meus braços, o aço perfurando minha carne. Ainda vejo os rostos sanguinários pronunciando palavras mágicas. Mas tudo isso em carne e alma como as nossas, nos fortalecem, nos aumenta. E se um dia senti ódio a tudo isso, hoje, acho graça, porque aqui estamos de novo. Por que aqui estamos mais uma vez. Aqui estamos trazendo o perfume das rosas, a brisa do sol. Aqui estamos como colibris, pequenos, diminutos, mas realizando um trabalho que acredita ser de parceria com o sol e com toda primavera. Com todo outono e todas as estações. E tenho uma felicidade que transborda o tempo, que abraça aquele homem carrancudo, cujo nome foi lançado da história. Que abraça aquele peregrino que foi desterrado, jogado fora lançado aos cães para morrer como lobo, mas sobreviveu. Vive e agora sorri para mim, sorri comigo, porque nós não nos esquecemos de quem somos, o que somos, do que somos feitos. Somos feitos da armadura das pétalas de rosas. Nossas lágrimas é o nosso sol. Somos templários, cavalheiros do tempo, guardiões da rosa. O irmão que zela e protege o irmão. Nós somos os guardiões de nossos irmãos. E assim como eles vieram da África, da China, do mundo árabe e até das Américas nos abraçar. Nós também fomos até eles retribuir os abraços. Somos irmãos. Somos um. Somos da mesma Ordem, da mesma família: os guardiões do graal. E se houve fel no cálice, agora o pulo, o lustro, o ofereço aos meus inimigos: brindem conosco, bebam conosco. Nós não esquecemos quem somos. E só podemos ser aquilo que somos. Não foi isto, meu irmão, que deixastes gravado para ti mesmo, em muitas vidas nas quais não te apagaram? Aprendemos com tu. Agradecemos a todos. Em resposta as ratazanas, nós criamos Sagres, que é um capitulo a parte.

(30/6/2010)







[1] CABÚS, Ligia. Dragões: fatos e lendas. Disponível em: http://www.sofadasala.com/pesquisa/dragoes.htm  Acesso em: 14 jun. 2010.