quarta-feira, 31 de maio de 2023

COMO FICAR RICO OU MELHOR- QUAL É A SUA VIDA RICA?

 

  

O título não é bom. Na verdade, é bom para quem gosta dessa temática e aposta no non sense dessas práticas que são uma febre na internet. Numa busca rápida pela busca do trailer do documentário voltaram centenas de pessoas mostrando, ensinando, explicando como ficar ricas. 99,8% mostrando como ficar rico num entendimento precário, escasso, mesquinho, torpe, vil, isto é, reduzir a riqueza a ficar milionário.

A proposta do analista financeiro Ramit Sethi é diferente. Ele alarga o conceito de riqueza, ou melhor, ele ao singularizar o conceito de riqueza a expande, a universaliza, a amplia, a retira da miserabilidade com a qual ela é pensada, justamente, para concentrar renda, criando grupos seletos de colecionadores de dinheiro (Ferrez) e dos explorados.

Ramit nos ensina a valorizar nosso trabalho e a partir dele compreendermos a nossa saúde financeira. Na verdade, Ramit adentra um campo existencial, terapêutico que poucos se atrevem a olhar, a entrar, a debater seja como terapeuta, seja como partilhantes. Sem colocarmos atenção nesse campo nos permitirmos sermos movidos por instintos, desejos, que herdamos, recebemos, compramos, vivenciamos, mas que não nos são escolhas conscientes e atentas.

Quem está no consultório tem recebido cada vez mais pessoas com compulsão por compras. E quem lida nos atendimentos energéticos e espirituais sabe como as dívidas, a questão financeira, econômica é o motivo da busca de mais de 80% dos homens.

Muitas mulheres sentem a relação no emocional e muitos homens no financeiro. Uma das intercessões de mundo dos casais é o sexual. Enquanto muitas mulheres desenvolvem a compulsão por compras para saciar uma falta amorosa, um problema na relação, maioria dos homens desenvolvem a impotência quando o financeiro é afetado.

No sexual os casais encontram um termômetro, um parâmetro de avaliação de como as coisas estão entre ambos: quente, frio, próximo, distante? Íntimo?

Interliguei todos esses campos, porque ele é casa de Esú. Os Esus na Umbanda lidam, trabalham, movimentam, justamente esse tema do maldito, do tabu, do não observado, falado, comentado: sexo, dinheiro para ficar nos dois.

Os pastores evangélicos da antiga também adentravam essa temática, hj os pastores se voltam também, mas numa roupagem à teologia da prosperidade que é o anti-Jesus. De modo geral, poucos toca o tema, ninguém fala do assunto. Como transamos, o que fazemos, o que gostamos, essa casa do prazer é um segredo que muitas vezes fica restrito a própria intimidade ou a confissão. Fala-se disso a padres, a entidades, as vezes para alguns terapeutas. No mais reina o silêncio.

O documentário é muito ilustrativo. Quando consegui superar meus preconceitos e cliquei no vídeo, logo de cara aparecia um casal no qual o cara tinha deixado o emprego para ficar tomando conta das filhas. A mulher era a chefa da casa e controlava o dinheiro nos mesmos moldes dos chefões e o cara trazia nas suas falas as queixas que ouvimos nas mulheres: o não reconhecimento do trabalho doméstico, a dependência econômica, o sacrifício de ter aberto mão da carreira. 

A esposa que faz 4 dígitos por mês, trabalha fora enquanto o marido, engenheiro fica em casa cuidando das crianças e reclama da forma com que é tratado por ela. Aquilo subverte toda concepção tradicional elaborada. Estampa-se de forma clara e definitiva como o poder econômico oprime. Mas, não é essa análise que me interessa. O maravilhoso é ela dizer que mesmo ele sendo o pai de dois filhos dela, ela o amar, ela NÃO CONFIA NELE no quesito dinheiro.

 


Isso me fez ver a série e indicar para muitas partilhantes. Assista e vamos prosear em seguida. 

E ver as dinâmicas dos casais nesse enriquecimento é muito interessante. Observar a dinâmica com o dinheiro dos solteiros é sensacional. E o documentário nos proporciona uma visão clara, direta, intimista, subjetiva, de que não estamos falando só de dinheiro. Os gastos, as compras, a poupança, a forma de lidar com o dinheiro reflete mais do que aparece. 

Indo em direção ao outro casal, a esposa explana a mesma queixa, a mesma desconfiança, no caso de terem uma conta conjunta. 

A medida que o documentário vai desenvolvendo vamos vendo as feridas de cada um. Como que a forma com a qual fomos criados define a maneira com que vemos e lidamos com o dinheiro.

A moça que faz 4 dígitos e não confia no marido explica como é ser filha de mãe solteira, as exigências feitas por ela e a gravação implícita de que ela não pode CONFIAR nos homens. Essa gravação ecoa na relação dela. A autonomia financeira que ela desenvolve é ao mesmo tempo uma couraça, uma proteção para não depender de ninguém, de nenhum homem.  

O outro marido, cuja esposa descarta completamente a conta conjunta, explica que foi criado numa família pobre. Via os colegas tendo tênis, calças jeans e outros e ele não podia. Hoje, ele gasta todo o dinheiro com isso, jogos de videogame e outros produtos que ele compra sem saber o motivo.

O documentário é muito mais do que análise financeira. A análise financeira é uma porta de acesso a saúde econômica. Uma saúde que é vislumbrada a partir de duas perguntas lindas:  

primeira- qual é a sua vida rica? 

segunda- qual é a sua psicologia do dinheiro? 


A primeira quebra essa visão capenga, universal, grotesca de que e na qual ser rico é ter um milhão de dólares. Pode ser, mas há pessoas que tem dez milhões e são pobres, miseráveis.

Então, qual é o seu modelo de riqueza? Singularizar essa pergunta é o diferencial de Ramit que o torna um best-seller.

Enquanto casal, qual é o nosso modelo de riqueza? O que é ser rico para nós? Responder essa pergunta, dialogar com essas questões nos aproxima da nossa vida rica. Na verdade, nos aproxima daquilo que nos mobiliza a trabalhar. 

A segunda agudiza a primeira. E me levou a entrada muito profunda, que me trouxe a associação com Esú. Eles sempre nos falam, nos mostram, nos apontam essa dinâmica, mas perceber o quanto o dinheiro está incrustado e em diálogo com a nossa forma de ver o mundo, de pensar o mundo, em especial, com a nossa fragilidade tocou pontos mais fortes.

O documentário vale a pena ser visto.