O título não é bom. Na verdade, é bom para quem gosta dessa temática e aposta no non sense dessas práticas que são uma febre na internet. Numa busca rápida pela busca do trailer do documentário voltaram centenas de pessoas mostrando, ensinando, explicando como ficar ricas. 99,8% mostrando como ficar rico num entendimento precário, escasso, mesquinho, torpe, vil, isto é, reduzir a riqueza a ficar milionário.
A proposta do analista
financeiro Ramit Sethi é diferente. Ele alarga o conceito de riqueza, ou melhor,
ele ao singularizar o conceito de riqueza a expande, a universaliza, a amplia, a
retira da miserabilidade com a qual ela é pensada, justamente, para concentrar
renda, criando grupos seletos de colecionadores de dinheiro (Ferrez) e dos
explorados.
Ramit nos ensina a
valorizar nosso trabalho e a partir dele compreendermos a nossa saúde
financeira. Na verdade, Ramit adentra um campo existencial, terapêutico que poucos
se atrevem a olhar, a entrar, a debater seja como terapeuta, seja como
partilhantes. Sem colocarmos atenção nesse campo nos permitirmos sermos movidos
por instintos, desejos, que herdamos, recebemos, compramos, vivenciamos, mas
que não nos são escolhas conscientes e atentas.
Quem está no consultório tem
recebido cada vez mais pessoas com compulsão por compras. E quem lida nos atendimentos
energéticos e espirituais sabe como as dívidas, a questão financeira, econômica
é o motivo da busca de mais de 80% dos homens.
Muitas mulheres sentem a relação no emocional e muitos homens no financeiro. Uma das intercessões de mundo dos casais é o sexual. Enquanto muitas mulheres desenvolvem a compulsão por compras para saciar uma falta amorosa, um problema na relação, maioria dos homens desenvolvem a impotência quando o financeiro é afetado.
No sexual os casais
encontram um termômetro, um parâmetro de avaliação de como as coisas estão
entre ambos: quente, frio, próximo, distante? Íntimo?
Os pastores evangélicos da
antiga também adentravam essa temática, hj os pastores se voltam também, mas
numa roupagem à teologia da prosperidade que é o anti-Jesus. De modo geral,
poucos toca o tema, ninguém fala do assunto. Como transamos, o que fazemos, o
que gostamos, essa casa do prazer é um segredo que muitas vezes fica restrito a
própria intimidade ou a confissão. Fala-se disso a padres, a entidades, as
vezes para alguns terapeutas. No mais reina o silêncio.
O documentário é muito
ilustrativo. Quando consegui superar meus preconceitos e cliquei no vídeo, logo
de cara aparecia um casal no qual o cara tinha deixado o emprego para ficar
tomando conta das filhas. A mulher era a chefa da casa e controlava o dinheiro
nos mesmos moldes dos chefões e o cara trazia nas suas falas as queixas que
ouvimos nas mulheres: o não reconhecimento do trabalho doméstico, a dependência
econômica, o sacrifício de ter aberto mão da carreira.
A esposa que faz 4 dígitos por
mês, trabalha fora enquanto o marido, engenheiro fica em casa cuidando das
crianças e reclama da forma com que é tratado por ela. Aquilo subverte toda concepção
tradicional elaborada. Estampa-se de forma clara e definitiva como o poder econômico
oprime. Mas, não é essa análise que me interessa. O maravilhoso é ela dizer que
mesmo ele sendo o pai de dois filhos dela, ela o amar, ela NÃO CONFIA NELE no
quesito dinheiro.
Isso me fez ver a série e
indicar para muitas partilhantes. Assista e vamos prosear em seguida.
E ver as dinâmicas dos casais nesse enriquecimento é muito interessante. Observar a dinâmica com o dinheiro dos solteiros é sensacional. E o documentário nos proporciona uma visão clara, direta, intimista, subjetiva, de que não estamos falando só de dinheiro. Os gastos, as compras, a poupança, a forma de lidar com o dinheiro reflete mais do que aparece.
Indo em direção ao outro casal, a esposa explana a mesma queixa, a mesma desconfiança, no caso de terem uma conta conjunta.
A medida que o documentário
vai desenvolvendo vamos vendo as feridas de cada um. Como que a forma com a qual
fomos criados define a maneira com que vemos e lidamos com o dinheiro.
A moça que faz 4 dígitos e não
confia no marido explica como é ser filha de mãe solteira, as exigências feitas
por ela e a gravação implícita de que ela não pode CONFIAR nos homens. Essa gravação ecoa na relação dela. A autonomia financeira que ela desenvolve é ao mesmo tempo uma couraça, uma proteção para não depender de ninguém, de nenhum homem.
O outro marido, cuja esposa
descarta completamente a conta conjunta, explica que foi criado numa família
pobre. Via os colegas tendo tênis, calças jeans e outros e ele não podia. Hoje,
ele gasta todo o dinheiro com isso, jogos de videogame e outros produtos que
ele compra sem saber o motivo.
primeira- qual é a sua vida
rica?
segunda- qual é a sua
psicologia do dinheiro?
A primeira quebra essa visão capenga, universal, grotesca de que e na qual ser rico é ter um milhão de dólares. Pode ser, mas há pessoas que tem dez milhões e são pobres, miseráveis.
Então, qual é o seu modelo de riqueza? Singularizar essa pergunta é o diferencial de Ramit que o torna um best-seller.
Enquanto casal, qual é o nosso modelo de riqueza? O que é ser rico
para nós? Responder essa pergunta, dialogar com essas questões nos aproxima da
nossa vida rica. Na verdade, nos aproxima daquilo que nos mobiliza a
trabalhar.
A segunda agudiza a
primeira. E me levou a entrada muito profunda, que me trouxe a associação com
Esú. Eles sempre nos falam, nos mostram, nos apontam essa dinâmica, mas
perceber o quanto o dinheiro está incrustado e em diálogo com a nossa forma de
ver o mundo, de pensar o mundo, em especial, com a nossa fragilidade tocou
pontos mais fortes.
O documentário vale a pena
ser visto.
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