terça-feira, 18 de junho de 2019

MORREMOS!



Deveria ter um jeito fácil, quiçá simples de escrever sobre isso, mas não tem. A morte nos ronda, nos persegue, caminha sob nosso encalço. Morremos! E qual o problema disso?

Criamos muitos problemas devido ao medo da morte, sofremos com boa parte deles. Uma das representações mais sintomáticas a morte é a perda do nosso controle. Controle do que? Da nossa crença que controlamos a vida, de que ela só faz aquilo que desejamos, quando queremos. Sabemos que não, mas enquanto não morremos, não perdermos a esperança de tomar o controle remoto das mãos da vida e ditarmos nosso ritmo. 
Fico imaginando uma peça teatral que não finda? Uma peça teatral sem fim. Eternamente se repetindo. As mesmas falas, os mesmos desfechos, as mesmas conclusões? Ou, por outra; uma peça na qual se tem novas falas, novas conclusões, novos papéis, mas irremediavelmente, o mesmo desfecho: MORREMOS!
Em parte é isso o trágico, como sempre nos lembra o sátiro Sileno ao ser perseguido por Midas: "O melhor de tudo era não ter nascido." Como nascemos... vai concluir o sátiro nos remetendo ao trágico: "O melhor é morrer depressa." 

Contrariamos os sátiros. Queremos viver. Mais do que viver queremos expurgar a morte de nossos olhos e convívio. Queremos uma vida sem dor, sofrimento, velhice, doença ao mesmo tempo em que desejamos todas as vicissitudes da existência. Poucos de nós busca o 'caminho do meio' que evita a mortificação do corpo e preguiça insana da alma. Poucos de nós usa o remédio dado por Buda para vencermos a ignorância, nos prepararmos para o desconhecido. Desconhecido? 

Morrer é do desconhecimento de alguém? Preparar-se para morte não deveria ser o sentido primeiro de nossas atividades? Ensinar a morrer não deveria ser a preparação para uma vida melhor? Temos lidado pouco com essas perguntas. Nos anestesiamos para não lidarmos com a morte. 

Deveríamos lidar melhor com isso. Com uma maturidade psíquica, emocional, mental maior. A morte não deveria nos assombrar tanto, nos paralisar tanto. Mesmo porque essa paralisia indica uma dificuldade em lidarmos com a VIDA. Afinal, como separar vida de morte? Como viver melhor sem concebermos a morte como uma parte intrínseca e inerente do viver? Essa separação, essa distinção nos aparta de nós mesmos, dos outros, de um sentido mais amplo e profundo da existência. Essa separação nos mutila. Ora nos faz só mente, ora só corpos e quase nunca unidades psicobiológicas em busca de integração e sentido. 

Isso, novamente, me trás a imagem do teatro. O teatro como espaço do trágico, das representações existenciais. O locus no qual encenamos, in-cena-mos o nosso viver. Por essa temática, a morte é um enredo teatral de monta. Mas, as pessoas só prestam atenção no final. E o final é sempre o mesmo: MORREMOS. Não tem o que fazer. Não há nada a ser feito. Em determinado momento, em alguma hora, MORREREMOS. Assim, o foco não deveria estar na morte e sim na vida. O foco deveria estar no processo que nos conduz ao desfecho. O foco deveria estar na construção dessa nova personagem que tem hora marcada, não sabida, de quando morreremos. E nesse intercurso significar a existência. Enriquecer a existência para poder ao final da peça estar pleno.


Mas, como é sabido, não é isso que acontece. Queremos ser eternos, achamos que escaparemos da morte, mas como? Ela é inevitável. Viver deveria ser, aprender a morrer. Cada dia, cada ato, cada momento, aprendermos a abrir mão, desapegarmos e nos nutrirmos. Desapegarmos das muitas inutilidades que carregamos e nos nutrirmos daquilo que é essencial. Mas, o que é essencial?

O essencial é que morremos! É que não temos todo o tempo do mundo. O essencial é que somos finitos e a finitude dói e alivia. É por sermos finitos que cada momento é importante, derradeiro, único e último. É pelo fato da peça acabar que o teatro faz sentido. É por não sabermos quando ela (vida) vai terminar, que cada segundo, minuto, sopro, encontro é derradeiro e final. Colore a nossa existência. 

Em outros termos é no diálogo com a finitude que nos humanizamos. E é justamente, no silenciamento dessa reflexão que nos desumanizamos. É por nos colocarmos na posição de plateia da peça da nossa existência que a perdemos. É por estarmos na posição de plateia na vida das pessoas que contracenamos é que entendemos pouco da trama existencial que estamos inseridos. É por não travarmos uma batalha contra a nossa ignorância que esse desconhecimento ganha o mundo em práticas individuais, sociais, coletivas. E ao tocar essas ignorâncias não podemos deixar de mencionar o tema da sexualidade e Freud que a melhor a compreendeu. 

Para Freud nossa trava está no campo da sexualidade. Uma visão que nos abre para os campos dos contatos, da afetividade, as trocas que efetuamos ao longo da vida. Desde a maneira como somos conduzidos à existência (o ato sexual) e por toda ela mediante nossas trocas, parcerias, relações. Por esse prisma não há dúvidas da importância da sexualidade em nossas vidas. Somos seres cuja sexualidade está em cada toque, olhar, fazer, deixar de fazer. Tudo é uma maneira de tocarmos o universo do outro e sermos tocado por outros universos. E perceber esse ato, localizar esse movimento, pode auxiliar no enriquecimento da nossa vida. 


Mas, se psiquicamente, esse relacionar-se com o outro e com o mundo é estrutural e fundamental. O relacionar-se consigo mesmo, o conhecer a si mesmo e as formas com que adentra e interage com outros mundos e consigo é essencial. Uma essência que novamente, nos remete em direção a morte- a matéria prima da Filosofia, de toda nossa busca e procura. MORREMOS e desejamos dar um sentido a nossa peça existencial.

Cada um de nós vivencia a morte como sendo algo inesperado, abrupto. (Vivenciamos a morte como se as despedidas, os orgasmos, o sono, não fossem preparação para o fim corporal). Vivenciamos a morte sem nos tocarmos que ela é esse algo mais esperado, rotineiro da jornada: somos finitos.

Sabemos disso. Não deveríamos fugir disso. Mas, infelizmente, nunca estamos prontos. Sempre temos desculpas. Jamais nos conformamos quando ela chega, inexoravelmente nos chega.

E o ponto que desejo tocar é justamente esse da eterna justificativa que damos seja para não re-conhecermos a cena que estamos, seja para tentarmos justificar nossa completa infantilidade diante da morte, como criança pela 1ª vez diante da ausência da mãe. Estamos no século XXI. Não há um único ser vivo que tenha durado para sempre. Não há um único ser entre nós que não tenha perdido alguém ou que não perderá e continuamos vivendo a peça como se ela não tivesse desfecho, fim. Como se o fim fosse de fato surpreendente. Não é isso um DRAMALHÃO?

Não é isso uma atuação capenga? Não é isso um ato formado e composto por um bando de canastrão?

Saindo da seara estética e retornando a epistemológica, ainda se deseja utilizar como prerrogativa argumentos como: “ninguém voltou para contar! Ninguém sabe ou pode dizer o que acontece!” Isso não é verdadeiro. A bem da verdade é que reconhecer a finitude do corpo e a ‘imortalidade’ da alma, implica em assumir para si atos, afetos, escolhas, responsabilidades que não queremos, não desejamos. Ignorar a morte é permanecer numa infância infinita, constante, segura.

As pessoas no século 21 colocam essa temática no espectro da CRENÇA, e temos conhecimento suficiente em diversas vertentes e ordens para tratarmos desse assunto com mais propriedade, rigor, segurança, sem recorrermos a crença. Não é mais questão de eu acredito, ou não acredito. É questão de ter a maturidade suficiente para ler, ouvir, pesquisar, desejar encontrar respostas. Respostas que não precisam ser direcionadas para o além, para o depois do amanhã. Respostas que podem configurar e revelar um viver melhor, uma vida melhor.

Num passeio rápido, temos no campo filosófico-religioso o KARDECISMO e fenômenos correlatos que dialogam com essa transcendência desde o final do século XIX. Passando por mesas girantes e indo até fenômenos de materialização, sem contar as psicofonias, psicografias. O fenômeno da vida pos morte existe e não nos faltam relatos em nenhuma cultura. Ninguém mais pode afirmar com seriedade que o fenômeno é um embuste, que não há um princípio inteligente que o rege, o regula.




Temos no campo da empiria a PROJECIOLOGIA que ensina pessoas a deixarem os próprios corpos e assim constatar a existência de algo que sobrevive além do corpo físico. Há experimentos dos mais variados, assim como relatos dos mais improváveis. Mas, todos levando a uma conclusão que a consciência não está restrita ao corpo físico e que ela tem uma independência em relação ao corpo físico. 



No campo da medicina temos os estudos de EQM (EXPERIÊNCIA DE QUASE MORTE). Com milhares de relatos que corroboram as informações dos projeciologistas e dos espiritualistas. Há uma outra dimensão que voltamos quando deixamos nosso corpo físico. Que podemos acessar se não formos tão reducionistas, materialistas. 


No campo da ciência temos a TRANSCOMUNICAÇÃO INSTRUMENTAL. Ciência? Talvez não nos moldes do paradigma atual, mas há gravações por áudio e vídeo de seres que se encontram mortos falando por gravadores e sendo vistos por televisores. 


o Tudo isso e muito mais é real, verdadeiro. Deveríamos estar nos ocupando para qualificarmos mais a nossa existência. Afinal, se tudo não acaba com a morte, qual é o sentido? 

Se já temos respostas a essas perguntas, porque as ignoramos? Lidar com a morte é aprender a viver melhor, mais, com mais plenitude e integração. Honrar o corpo físico, honrar a vida na matéria. Honrar a vida!!