domingo, 30 de agosto de 2020

24 HORAS: INTRODUÇÃO



Frases da Série 24 Horas Para Status » Querido Jeito
O projeto 24 horas nasce em 2003 como um desdobramento natural das atividades que desenvolvíamos semanalmente no grupo Espiritualista Flor do Amanhecer. Àquela altura queríamos saber e compreender o que acontecia e como os amigos que nos assistiam realizavam suas atividades, seus afazeres antes e depois das nossas reuniões. Fomos percebendo o trabalho de limpeza e preparação por parte dos Exus, o trabalho de esclarecimento por parte dos pretos-velhos, o trabalho de imantação e ideoplastia por parte dos mestres ascensos.

Os focos dos relatos são às 24 horas da segunda-feira dia em que tínhamos uma reunião espiritualista. É esse registro do que antecede a reunião e o que a sucede o nosso foco. Importante destacar que os relatos foram realizados em 2003, porém por motivo de mudança parte deles acabou perdido, esquecido. Nesse ano de 2017 resolvemos digitar as partes que possuíamos e acresce-las com as informações e conhecimentos que temos hoje. Isso acabou configurando uma re-visão que irá acompanhar grande parte dos trechos escritos, uma percepção de 2003 que é revista, acrescida, re-interpretada e até mesmo reescrita 14 anos depois.

Como os autores salientaram e ressalto:

A princípio essa não é uma obra psicográfica, pelo contrário, ela é a elaboração e o registro de etapas realizadas em desdobramento astral e algumas outras práticas aventadas para vencermos as impossibilidades de o ser encarnado estar presente e consciente em todo esse processo. Nos períodos em que está no estado de vigília utilizamos de outros aspectos para que registre as lacunas, seja mediante alguns segundos de cochilo, seja como a visualização de cenas e dos acontecimentos. Dito isso e especificado por alto esses fatos iniciaremos.

Nesses moldes, 24 horas narra o dia de um ser espiritual. É um ensaio que tem a pretensão de relatar por vias mnemônicas os acontecimentos no período de 24 horas de alguns entes espirituais mais próximos de nós, buscando obter o que fazem? Como procedem? Onde residem? E outros fatos que reputamos importante.

Com fé em Deus e na Providência Divina relatamos às 24 horas de sete seres espirituais:
·        Tranca-Rua (Exu);
·        Paulinha e Ricardinho (Erês);
·        Júlio (Cigano);
·        Alícia (Cigana);
·        Pai Jeremias (Preto-velho);
·        Oran (Mestre Ascenso).




segunda-feira, 3 de agosto de 2020

NOVO NORMAL: netuno e desapego


Meses atrás quando escrevi esse post, eu o chamei de Netuno e o desapego. Hoje quase quatro meses depois, chamei de Novo Normal.

Temos falado muito da 40tena astrológica, essa conjunção de Saturno, Plutão e Júpiter em Capricórnio. No entanto, outros aspectos chamam igualmente atenção e um deles é Netuno. Mas, o olhar que lançarei sobre ele vai mais na dimensão das nossas posses, das nossas resistências, do que nos meios esotéricos temos denominados de EGO e a dificuldade de largá-lo. Não vou incorrer sobre o ego, é uma discussão estimulante, mas há vastas explicações para todos os gostos e orientações. O diálogo com o ego que estabelecerei é em relação ao NOVO NORMAL. É em relação a nossa dificuldade de aceitação das mudanças, das transformações que a vida nos traz, nos coloca e por vezes nos impõe. De modo geral, resistimos. Adotamos posições de combate que nos arrasta, nos faz sentir ora heróis, ora mártires, quase sempre, injustiçados pela vida. 

O Covid nos trouxe um novo, mais do que trazer, nos impôs, ainda assim uma parte nossa, uma parcela de nós, recusa aceitar. É um novo no qual resistimos, negamos, não suportamos, não queremos lidar. Um novo que como a maioria das novidades tememos, nos assustamos. É nessa direção que apontaremos. A nossa dificuldade em largar, desapegar, permitir ir, suavizar. A gente morre agarrado a uma visão de eu, de ego, de posse. Tememos a dissolução das nossas posses, das nossas identificações. É um temor que nos faz agarrar ao passado, nos torna conservadores, ortodoxos, deseja-se um mundo que talvez não volte mais, não seja mais, não encontraremos mais.  

Um diálogo com essas percepções é vermos como utilizamos os pronomes possessivos em tudo e para tudo, especialmente, em coisas e seres que não possuímos o mínimo controle. Em verdade, não conseguimos nomear sem possessivar, numa busca incansável por querer caracterizar e controlar tudo. Meu inconsciente, minha mente, meu carro. Meu filho, meu marido, minha esposa. Meus sonhos, meu presidente, meu partido, minha igreja, meu cachorro, meu país. Tudo é transformado em posse e toda posse se identifica como parte do ser. Dificilmente consegue-se ser sem ter algo para chamar de seu, para pegar como sendo seu. 

Na contramão disso, a vida de maneira silenciosa e imperceptível vai nos esvaziando, vai nos despossuindo, nos retirando tudo o que acreditamos que está atrelado e grudado a nós. 

Carros estragam, dinheiro muda de mãos, imóveis são vendidos, empregos são perdidos, pessoas se separam, filhos crescem, pais falecem. A vida tem o mau hábito de ir tirando de nós aquilo que pensávamos ser e possuir. E, esse simbolismo as vezes ganha dimensões maiores, seja por enchentes, seja por tsunamis, seja por epidemias ou pandemias. Essas marcações sugerem que estamos entrando em níveis sociais, coletivos, nos quais essas possessividades vão se diluindo, mas como largá-las? Como deixar para trás aquilo que acreditamos ser? Que identificamos como sendo nossa identidade? Nosso eu? 


A principio não conseguimos, nos recusamos, queremos lutar, brigar. Lutar para mostrar que somos mártires, brigar para mostrar para algo, ou alguém como a vida nos faz sofrer, nos faz doer. E talvez esse seja o único desprendimento do ego a ser feito: aceitar que ninguém te julga, nem te condena, nem te absolve, nem te redime, nem te aplaude a não ser a sua consciência. Nesse universo sem plateia quem é você de verdade? Do que você necessita de fato? O que te sustenta e te alimenta? 

Tem um vídeo sensacional, que acaba ilustrando isso. Uma enchente dessas que vimos e presenciamos (foi logo no início do ano). Todo mundo correndo e se abrigando. Parte dos abrigados com um celular na mão filmando tudo. Nas filmagens tem um rapaz tentando salvar a bicicleta. O pessoal dizendo, larga a bicicleta, segura a corda, segura a mão de alguém. Sai daí. O destemido e corajoso, não largou e foi sendo arrastado pela correnteza, ainda assim, ele continuou segurando a bicicleta, até que caiu num vórtice, acreditamos ser um bueiro e ele foi tragado e a bike seguiu correnteza a dentro. Provavelmente, parou na porta de alguém, que olhou para os lados, não viu ninguém que a reclamasse, montou e saiu pedalando. O cara morreu por algo que outro vai usar sem saber que alguém deu a vida por aquilo.  
O cara tem um bilhão de motivos para não soltar a bike. Não sabemos quais, mas já escutamos as estórias. "Trabalhei demais por isso! Se eu trabalhar o mesmo tanto, não consigo comprar outra!" É um apego, cada um de nós tem os próprios. Quando a gente conversa com o pessoal que perdeu o corpo físico e pergunta e aí? 

Eu ainda nunca ouvi ninguém dizendo: “valeu pra caralho ter morrido por não ter soltado a bicicleta, ou por ter reagido ao assalto. Me senti muito mais foda! E estou benzão só esperando outra chance para agora morrer lutando por um presidente, rsrs.” Vou escrever sério. 

De certo modo, aquilo que faz todo sentido num nível, em outro não tem nenhum. Mas, é complexo desapegar, cada um de nós está agarrado a uma bicicleta para chamar de nossa. Descobrir qual nos prende, talvez ajude. Talvez nos dê chaves para desapegarmos, largarmos um pouco de nós, ou do que a gente identifica como sendo nós. Identificações duras, cruéis, muitas vezes limitantes e limitadoras do que somos ou podemos ser. 




Ao mesmo tempo, desapegar nos remete e nos proporciona uma passagem para outra fase e grau de consciência. Porém, como dar esse salto? Como dar esse passo? De vontade própria não damos. Por isso que a vida de maneira Netuniana (astrologia), vai agindo à revelia da nossa vontade consciente. O processo vai se dando de forma que tudo vai sendo retirado aos poucos, diluído no oceano até virar água, sal, nada. 


Netuno vai tirando pedacinhos das pessoas, de um jeito muito peculiar. E, nessa dinâmica de sofrimento, há deleite, prazer, orgasmo, festa, comemoração a essa mutilação existencial. Sabe casa no barranco? Todo mundo já previu o desmoronamento, mas a pessoa tem certeza que ao desmoronar conseguirá reeguer um sentido na vida que dialoga com a dor, com a culpa, com a falta, com a luta. Mobiliza uma atenção. E, como essa atenção faz bem. Como que nos alimentamos desse olhar que vitimiza, infantiliza, que não permite crescer e nem se responsabilizar pelos afetos, pensamentos, sentimentos, escolhas. Netuno uma hora se apresenta diante de nós e para nós. E, aí precisamos escolher se largamos ou não a bicicleta. 

Aqui farei uma passagem rápida pelo tarot, pelo arcano XII, o Enforcado. 



Nos mais diversos tarot esse Arcano estreita um diálogo com aspectos netunianos, nas formas conscienciais que podemos associar com a dor, o sofrimento, a vida, a existência e as maneiras com que encaramos isso, lidamos com isso. Seja como vítimas, seja como mártires, seja como pessoas que compreendem as ilusões e esse estado meio sonambúlico, etílico, ébrio. Algo entre o estar acordado e o estar dormindo. Estados que dialogam com a posição do arcano que se encontra de cabeça para baixo, indicando a ótica da inversão. 


Essa é uma posição iniciática. O adentrar a trilha espiritual redimensiona o olhar e a percepção, os valores e o mundo se invertem, tudo fica de cabeça para baixo. O iniciado passa a ver o mundo de outra maneira e por outra ótica e nisso reconhecer, valorizar o que importa, ou seja, a vida nos proporciona diluições, abandonos, constantes e permanentes. A cada momento a vida nos convida a deixarmos de nos apegar, a nos soltarmos, nos liberarmos. No entanto, as nossas resistências nos força a sermos tragados pelos bueiros existenciais, ou as diluições das drogas, do álcool, do sem sentido, do vazio existencial. 

De uma forma ou de outra, vamos deixando partes nossa pelo caminho, vamos perdendo o que somos, quem pensávamos ser. Quem coloca atenção nisso está mais perto de um novo normal. Quem coloca atenção nas perdas que a vida nos traz, consegue dialogar melhor com o que a vida leva, reformula, sem nos pedir licença e por favor.

No momento, muitos de nós está querendo retornar a um mundo que talvez não volte a existir mais e longe de negar esse desconforto, um movimento interessante é mergulhar nesse vazio, nesse nada, nessa angústia e deixarmos que ele nos mostre um pouco aspectos e partes nossas que não identificamos, que não estão diretamente indexadas ao nosso ser, mas nos compõe e nos transcende. Aspectos netunianos para além de um sacrifício, mas que podem nos dar um sacro-ofício. Transformar o cotidiano em algo sagrado.