Sobre a minha vista se abre um lenço branco. Aos
poucos, o lenço vai se moldando a uma cabeça e forma como um gorro inteiriço
que desce até a altura do pescoço. Esta é apenas a primeira parte de um rosto
que vai se desnudando. Um rosto que vejo desde a minha infância. Uma vestimenta
que vejo desde há muitos anos. O lenço sobre a cabeça revela um rosto de homem,
um homem maduro, aparentando uns 40 anos, com traços duros, bem definidos, bem
marcados, barba cerrada, avolumada. Pele branca queimada pelo sol, deixando-o
bronzeado. O lenço se desvela como uma touca e desce até o pescoço. Uma outra
parte se estende daí pegando dos ombros até a cintura. Um pano branco se
desvela e uma cruz vermelha, imensa, esta estampada em seu peito. Sim, ele é um
cavalheiro, ele é um templário, seja lá o que representa isso. Em suas mãos há
uma espada, um juramento, um segredo, um compromisso, uma missão. Junto a ele
também se vê, um pouco mais afastado, um escudo, mas sem dúvidas fazendo parte
de seus pertencentes. Próximo a ele há uma rosa, vermelha, que nunca murcha, que
ele nunca se afasta dela. Sua vida é proteger e defender a rosa. Todo ele é
marcado de símbolos, de sinais e cada um tem um significado próprio. Cada
símbolo representa um nível dentro da ordem da qual ele pertence e revela as
cidades pelas quais passou, as missões que executou, o nível consciencial que
ele ocupa, a hierarquia e comando a qual pertence. São silenciosos com as
palavras, com os dizeres, com os pensares, mas os seus símbolos gritam e se
comunicam para aqueles que os sabem ler e os entender. São seres simbólicos.
Seres que aprenderam e ensinam mediante a simbologia sagrada do mundo visível e
invisível. São homens que transitam por entre mundos e esferas psíquicas
diferenciadas.
2.1 Mundos Simbólicos.
São pelos símbolos que eles atravessam os desertos,
as montanhas, os penhascos, os desfiladeiros, a vida e cumprem a sua missão.
São homens simbólicos. Preste atenção na marcha do cavalo! O cavalo é também um
iniciado. Seu adestramento, seu instinto natural é a captação da elegância e do
nível do seu dono. É possível perceber isso, enquanto eles marcham? Enquanto
eles combatem? Cavalo e cavaleiro se tornando e se fazendo um?
O cavaleiro deve aprender a domar seu cavalo, a
ouvi-lo, a compreendê-lo. O cavaleiro deve aprender a se conduzir pela noite
com o olhar do cavalo, percebendo o invisível que os cerca, que os ronda. Essa
é a primeira missão do cavaleiro, aprender a ser cavalo. Sendo cavalo,
transformando-se em cavalo aprender a ser cavaleiro. Um dos primeiros registros
simbólicos do cavaleiro é o centauro. O aprendizado de conciliar a razão com o
instinto, libertando a intuição. É a integração entre esses dois opostos que
gera um terceiro, mais claro, mais nítido, mais consciente. Muitos cavalheiros
se perdem no uso demasiado da razão. Outros se empolgam com a capacidade
inebriante dos instintos. Poucos conseguem se tornar Quiron: o centauro. De
todo modo o cavaleiro que não adestra seu cavalo não pode e nem consegue se
preparar para receber a sua donzela, cortejar a sua donzela e sem transpor um
nível, dificilmente outro se abre. Muito embora os caminhos se abram por vias
não lineares.
A donzela é o seu amor intocável. É a sua
Guinevere. É aquela na qual ele amará, pela qual ama. É um símbolo de um outro
encontro, de uma outra busca, de uma outra integração. Deve o cavalheiro
cortejar a sua donzela, buscar a sua donzela e saber que ela é um símbolo. Não
estamos falando da donzela de carne, com a qual terá filhos, casa, lar e sim de
uma donzela interna. Uma donzela que quando ele a desposar, encontrará uma
força dócil, suave, que existe dentro dele. Uma força que vence sem lutar, que
desarma sem ferir, que mesmo ao destronar o oponente, o acolhe. Receber a
donzela, encontrar a sua donzela é encontrar a maior arma do cavaleiro. É a
arma que nasce da fusão do escudo, do elmo, da armadura, da espada e da rosa. A
arma que vence sem lutar, derrota sem combater, submete sem humilhar. A fusão e
integração de cada um desses instrumentos é o véu da donzela, que poucos cavalheiros
encontraram.
Sim, a medida que o cavalheiro se arma, ele se
afasta da sua donzela. E a medida na qual o cavaleiro se desarma, ele se
aproxima da donzela. A donzela nunca se apresenta ela mesma, ela em si. Ela se
preserva ao máximo. Ao primeiro sinal de rudeza, agressividade, grosseria, de
truculência, ela foge, escapa, retorna ao vale da lua, ao mundo das sombras,
para a sua caverna, o local no qual ela habita e sente-se bem. E lá, fica a
espreita, a espera de uma ponte, de uma lança, que possa ajudá-la a atravessar
e entrar no mundo solar do cavalheiro. A donzela no mundo do cavalheiro pode
destruir o seu senso, seus julgamentos, seus instintos. Pode retirar dele a sua
virilidade. Por isso muitos passam a vida apenas deixando suas donzelas
trancadas em um castelo, em uma torre de marfim. Lá, ele sabe, que ela está
protegida, a sua espera. E protegida, eles não se perdem de si mesmos, não se
perdem em combate. Não deixam suas donzelas a mostra e desprotegidas. As
donzelas aceitam qualquer lugar no qual seu cavalheiro as coloque. Os cavalheiros
é que não conseguem se desculpar, nem em se entender ao deixá-las tão a parte
deles mesmos. Fique claro que a donzela é o prêmio máximo da iniciação. Poucos
encontraram a donzela, embora as tenha cortejado como musas, com poesias, com
várias artes. Pelas artes em geral o cavalheiro flertava com sua donzela. Dava
vazão ao seu lado mais sensível sem perder a sua virilidade e masculinidade. Pena
que aqui não é local para que se ensine a arte do cortejar, esse duelo mais
espiritual da existência. Esta preparação iniciática para se buscar o santo
graal.
Todo cavalheiro é símbolo e falamos de dois que
lhes serão a marca primordial. Um por representar o início da jornada (o
cavalo), outro por representar o fim da jornada (a donzela). Nada garante que
se será capaz de adestrar o seu cavalo interno e fazer-se Quiron. Nada garante,
que se adestrando, conseguira chegar diante de sua donzela. São caminhos que
não há garantias, apenas travessias. O cavalheiro de ontem jamais é o mesmo de
hoje e nunca será o mesmo de amanhã. E é isso que os mestres do caminho
observam, se atentam.
Os mestres dos caminhos se encontravam e se
colocavam pelas jornadas dos cavalheiros, diretamente nas estradas,
indiretamente, dentro das grutas, cavernas, templos e mosteiros. Eles eram
homens que conheceram a estrada, que receberam a visão das missões, das
conquistas, das buscas. Do Jihad. Não se espantem a guerra santa existe. A
guerra santa é uma necessidade. A guerra santa existe em todas as culturas, em
todos os tempos. A guerra santa é apenas um símbolo. Uma etapa da luta, do
cortejo entre o cavaleiro e a donzela. É uma etapa do processo no qual o cavalheiro
é impelido a lutar. Ele não pode não lutar, mas lutando ele perderá, mas
lutando, ele perde também. Se ele matar a donzela, ele morre. Se ele a deixar
viver, ela morre. E nesse Jihad os dois só podem existir como um. Os dois só
podem se realizar, aceitando o fim do que foram e sendo um novo começo, uma
nova etapa. Um novo surgimento. E isso é difícil de conciliar, de vivenciar, de
encarar e de aceitar. E esta é a Jihad interna que se colocada no mundo é
motivo de escândalo.
2.2
Mundos sem Símbolos.
Em algum lugar da história grupos perderam a visão
simbólica das coisas. Ao ouvirem lendas e histórias dos cavalheiros pela metade,
quiseram fazer e tornar literal algo que só fazia sentido, quando desvelado e
velado pelo simbolismo. Na ânsia em ser cavalheiros fundaram um novo imaginário
para o mundo, em especial, para o ocidente. Os cavalheiros nos quais nos
referíamos, inicialmente, muitos fizeram viagens de milhares de quilômetros sem
nunca terem saído de suas abadias. Sem nunca terem se deslocado de seus
lugares. Outros percorreram milhares de quilômetros, por diversas culturas e
lugares, mas todos eles sabiam incorporar a dimensão simbólica do universo ao
mundo, sem produzir atritos ruidosos. Esses cavalheiros viajantes de mundos
externos e viajantes de jornadas interiores, ambos em seus mundos, lutaram
contra os seus dragões.[1] Domesticaram as forças
mais primitivas e selvagens da psique e sabiam utilizar esse animal
sobrenatural para cuspir fogo, serem respeitados, serem temidos, serem amados.
Os dragões são um símbolo templário para demonstrar
que o cavalheiro adquiriu técnicas e conhecimentos orientais. Simboliza na sua
dimensão histórica o contato com a tradição chinesa, indiana, oriental. Aquela
que demarcamos páginas atrás como sendo semente dos aspectos femininos, voltado
ao feminino. E o detalhe é que tudo o que se relacionava com o feminino, no
advento do cristianismo, foi colocado na pecha da corrupção, da degeneração. E
assim, criou-se fantasias de dragões raptores de donzelas, salvas por cavalheiros.
Uma visão simples, mas que nos permite salientar uma fissura no imaginário pela
qual atravessariam muitas trevas retesadas e reprimidas. Afinal, quando
desvelamos os símbolos deste novo imaginário que se construía, isso
representava primeiro, a luta do feminino (dragão) contra a mulher. Segundo, da
mulher (donzela) contra o feminino. Terceiro, do homem contra o seu feminino,
isto é, a sua sabedoria interior (dragão). Representava um momento de luta,
disputa, de guerra de todos contra todos.
A única parte salutar dessa tensão era o resgate da
donzela pelo cavalheiro, no entanto, isso implicava ou em matar o dragão,
símbolo do feminino, do corpo, da natureza sexual, da energia sexual e outras
forças rejeitadas; ou em aprisionar a donzela em uma torre para que não
corresse riscos. Na primeira alternativa evidencia-se a gradativa demonização
do feminino. Na segunda o temor ao feminino, as mulheres. Mas se isso se dá nas
dimensões simbólicas, a incorporação desse símbolo, o uso dos dragões por parte
dos cavalheiros, representava que ele teve contato com forças da pólvora, do
fogo, dos raios, com um uso ainda mais vigoroso, intenso, do poder da mãe Terra,
da magia telúrica, sexual, feminina, originários na Índia, China.
Representava que conseguiram informações mágicas,
telúricas, acerca das grades cristalinas da Terra. E este momento dos cavalheiros
é muito emblemático, porque registra um momento no qual as coisas fugiram de
controle. No qual as coisas se inverteram. Essas inversões são tão naturais que
a maioria nem se dá conta, nem as percebem. Como este exato momento no qual há
uma inversão do campo magnético e a maioria não sente, não pressente, não
vislumbra. Naquele momento da inversão passamos a ter milhares de cavalheiros
amando donzelas platonicamente, negando contato físico com as mulheres. Outra
gama entrando em cavernas com fúria e temor a procura de dragões para matá-los.
Outra sorte encontrava-se fazendo de fato a Jihad, escolhendo um outro, um
diferente, para atacá-lo, para matá-los, em nome de Deus, ou de Alah. Matavam
em nome de Deus, sem piedade cristã ou mulçumana. E arrastavam para esse
universo fissurado, outros milhares de seres.
2.3 O hálito do dragão.
As atividades dos templários, dos cavalheiros,
mexeram nas estruturas cristalinas da Terra, principalmente, quando
incorporaram, novamente, o uso dos dragões. O dragão é também o símbolo dos
guardiões das grades cristalinas. Dessas forças não locais do espaço-tempo. Conseguem
entender o que é a grade cristalina?
Imaginem um prisma de luz, um espectro luminoso.
Antes de passar pelo espectro temos apenas a cor branca. Essa cor é o que se
denomina realidade. É a parte visível, objetiva, clara. Oposto a essa matriz há
a cor negra e a isso se denomina loucura, irrealidade, sonhos, devaneios. Por
milhares de anos viveu-se com essas duas matizes de cores: preto e branco. O
preto, o escuro, como sendo negativo e o branco, o claro, como sendo positivo.
Esse mundo não oferecia dificuldades de entendimento e permitia aos iniciados
atravessarem para outras freqüências cromáticas. Aqueles que assim procediam
eram respeitados, admirados, temidos. No entanto, o plano de interligar o
mundo, as sementes, levou cada povo a germinar sementes e a trocá-las entre si.
Essas trocas energéticas proporcionaram a re-abertura de uma fissura, pela qual
muitas imagens, muitos devaneios, muitas realidades não locais atravessaram.
Essa travessia gerou perturbações múltiplas em todos os planos.
Acompanhem-nos. Quando se esta fisicamente,
astralmente na Terra a vida é vista assim- preto x branco. A grade cristalina é
a possibilidade de se captar outras matizes de cores dentro desse espectro. O
que queremos ressaltar é que esses espectros às vezes “baixam” e colorem a
realidade, forçam um novo olhar e uma nova perspectiva para as coisas. De toda
forma o que faz com que esses espectros se tornem vivenciáveis é a consciência
dos seres. E nesse molde consciencial, nesse espectro consciencial, não há
tempo, espaço, linearidade, causalidade. As movimentações se fazem de imediato,
de forma não local. Ainda não temos como lhes fornecer provas materiais e
documentais, mas o que estamos dizendo, é que o contato do ocidente com a
simbologia dos dragões abriu uma fenda na grade cristalina que impactou a
distensão entre o objetivo e o subjetivo, o mundo interno e o externo, o sonho
e a realidade e a conseqüência disso foi a criação de um mundo de trevas,
acinzentado, que mergulhou a humanidade por milênios. Um mundo de culpa,
pecado, medo, expiação. Um mundo de dor, lágrimas, sacrifícios. Um mundo no
qual se vivia ao mesmo, simultaneamente, a idade média e os momentos finais de
Atlântida. Em verdade, Atlântida é a ferida de morte do imaginário do planeta.
As dores, as culpas, os medos, as sujeições e controles de todos os tempos se
articulam a retomada desse padrão vibratório.
Poucos conseguiram pontuar essa tensão com tanta
precisão como Rene Descartes em seu “Discurso sobre o Método” e Cervantes na
literatura com “Don Quixote de La Mancha”. Poucos viram que em plena idade
média, abriu-se uma fenda, que provocou uma inversão, similar à vivenciada nos
tempos finais de Atlântida. Poucos percebem que o que se vivenciou no período
da idade média foi um misto de sonho e pesadelo do grupo 2. E o que se
vivenciou do Iluminismo até os dias de 1999 foi o pesadelo e o sonho do grupo
1. Foram os medos, os dissabores, as culpas e as tensões de um grupo sobre o
outro. A demonização de um grupo pelo outro assombrando o astral, o imaginário,
a realidade das pessoas. Diante desses momentos de muitos séculos, eles puderam
perceber que são iguais. Seja pelas searas da fé, seja pelas searas da razão,
eles buscam a dominação pelo medo, pela subjugação, pelo controle do outro,
pela escravização dos mais fracos, pela não aceitação dos diferentes.
Nesses períodos medievais os cavalheiros iniciados
se recolheram para dentro dos templos. Nesses momentos muitos tiveram que
trabalhar esses símbolos em um nível ainda mais sutil e mais distante do que
era ostentado pela massa conduzida por lideres políticos e religiosos. Lideres
que sempre sonharam e desejaram possuir esse poder “sobrenatural” que eles
acreditavam que os cavalheiros possuíam. Acreditavam que as glorias seriam
alcançadas mediante a luta fratricida, os rancores e o ódio contra o diferente.
Não percebiam como que com tais praticas ficava-se a cada momento, mais
evidenciado, de que eles não eram iniciados, de que eles nada entenderam da vida
dos cavalheiros, do trabalho da Ordem. De que os feitos de justiça, de paz, de
lealdade, de princípios, de nobreza não eram dados pelo nascimento, nem pela
sua capacidade de comprar o alazão mais caro e de cortejar as donzelas mais
belas. Que de pouco adiantava a obtenção dos conhecimentos simbólicos sem
saberem por qual processo se realiza a incorporação desses conhecimentos na
própria vida. De maneira que se entenda que todo símbolo templário é o
cavalheiro mesmo. Ele é a um só tempo: o escudo, a rosa, a armadura, a espada,
o véu, o cavalo, a donzela, o cálice, o graal. Se ele não se faz o símbolo de
si mesmo, de nada lhe adianta os conhecimentos, as lanças, as pontes, as
travessias, os lenços e os brasões.
Os mestres do caminho conseguiam observar, clara e
cristalinamente, cavalheiros montados em jumentos. Cavalheiros cortando lenhas.
Cavalheiros desposando mulheres desprovidas da beleza física. Os mestres do
caminho conseguiam deixar claro e estampado que o caminho do cavalheiro não
passava exclusivamente pela vida monástica, ou militar, pelo contrário. E é a
partir desse contrário que a Ordem investe em outra modalidade de contato e de
busca interior. Essa modalidade será anos, séculos mais tarde imitada,
corrompida, representando a necessidade de se criar outra alternativa e uma
outra via. Esse tem sido a senda dos puros- percorrer caminhos de forma
pioneira e abandoná-los quando esses caminhos se fazem perniciosos e
corrompidos.
O novo caminho dos caminhantes. As novas sementes
dos jardineiros receberam o nome de comércio e de alquimistas. Os comerciantes
fizeram a aglutinação e o encontro das muitas sementes, riquezas dos povos e
dos mundos. Os alquimistas fizeram a contra partida dos monges, aqueles que
ilaçavam os símbolos, seus sentidos e significados, a partir da reflexão, do
silêncio, da jardinagem interior. Os comerciantes faziam as vezes dos cavalheiros
a andar pelos campos, a colher sementes, a plantar grãos. Mas poucos sabiam que
esse trabalho era um trabalho do espírito, de muitas vidas. Depois de muitos
grãos reunidos, muitas sementes plantadas, nascia-se como monge para auxiliar a
si e aos outros na compreensão do quebra-cabeça. Na compreensão dos plantios e
jardinagens que estavam realizando.
Mas é a partir dos comerciantes que unificações
serão realizadas e contatos estreitados. Comerciantes europeus com comerciantes
árabes difundem a matemática, os algarismos arábicos, retomam Platão e Aristóteles,
abrem as portas de entrada do mundo grego perdido, despedaçado. Aos poucos, o
Logos vai retornando ao seio da Europa, clareando e iluminando concepções
fechadas. O contato com os árabes enriquecem a Europa de conhecimentos. O mesmo
acontece quando encontram os africanos e descobrem o valor dos livros, das
universidades, dos centros de estudo. Tradição que os africanos mantiveram
intactas desde a destruição da biblioteca de Alexandria. E que acalentaram como
guardadores da semente de feitos prodigiosos de outros tempos. O contato com os
chineses abre os horizontes para novas paragens, novos lugares, novas terras e
o sonho de que deveriam ir ao outro lado do mundo. Lá onde existia o paraíso.
O comércio fez a fusão e a globalização do mundo
mediante um sistema de trocas, de interesses que não se restringia apenas ao
lado material e físico das coisas. Houve um comércio de informação, de bens
imateriais, só comparável com a Web no século XXI. O que se transportou, o que
se levou de um lugar para outro. Devolveu ao mundo, pelo menos a figuras de
relevância e importância um conhecimento que se encontrava disperso há
milênios. E esse é o tema do nosso próximo capitulo.
9/6/10
5- As rotas comerciais.
(30/6/10)
Genova e Veneza. Colocar o mapa dessa rota para se
chegar ao oriente, assim como outras. A busca de Portugal e Espanha para furar
o bloqueio e buscar além mar. Preste atenção nas informações. Lide com elas com
cuidado e destreza, habilidade e cuidado. Como disse o poeta:
“navegar é
preciso, viver não é preciso.”
Tutto va da Itália. Tuto pasa per la Itália. Era essa a frase mais recorrente no final do
século XIV, início do XV e meados do XVI. Os italianos, herdeiros de Roma,
filhos de César, berço de nossa civilização gozavam de um poder formidável, maravilhoso,
universal. Isso não é acaso, não é coincidência e tal fortuna, como diria
Maquiavel, pode ser entendida por um ângulo pouco explorado: o clerical e
espiritual. Vá com calma. Falaremos de coisa que não se diz, de segredos de
estado que não se revelam. Tenha paciência e destreza. Busque a comprovação
documental, elas estão aí à espera de serem coligadas, interligadas, mostrada.
Por poder clerical entenda-se o poder dos papas e do clero católico. Por
análise espiritual entenda esses desdobramentos que abordaremos.
Genova e Veneza eram as capitais do Ocidente. Tudo
passava por elas. Tudo, que entrava na Europa vinha por ali. Essa força foi
sendo reunida e acumulada desde o período das cruzadas. Não mais a cruzada dos
cavalheiros e sim a cruzada dos clérigos. Sim, eles também empreenderam as suas
cruzadas em busca de ouro, fortuna, riqueza e bens materiais. Como é sabido,
eles encontraram. O que não se sabe muito é que eles também tomaram, seqüestraram,
roubaram, saquearam, não apenas a mouros, na sua maioria, nossos irmãos
cavalheiros, nossos irmãos que nos deram inúmeras contribuições, que nos
forneceram inúmeras informações. Roubaram, seqüestraram, mataram, torturam,
queimaram na fogueira, principalmente, os templários e os cavalheiros das Ordens
secretas. Por detrás das cruzadas clericais escondia-se a busca e a batalha por
apoderar-se do poder dos templários. Sim, eles acreditavam que nós tínhamos
poder. E de fato o tínhamos. Nos moldes colocados páginas atrás, mas sempre
fomos vistos como uma ameaça. E ameaçados fomos perseguidos, mortos, queimados,
torturados, banidos, excomungados. Assim como nossos conhecimentos, assim como
nossas descobertas, assim como o mundo que vivíamos e habitávamos. Isso é
difícil de compreender, de explicar, de ensinar, de falar, de escrever, mas o
mundo já acabou várias vezes. Neste período em questão o mundo acabou.
O mundo acaba, quando subitamente e inesperadamente
a consciência dá um salto e muda de fase, muda de plano. Seja por susto, seja
por medo, seja por quantum de alegria e de esperança. Nesses sustos a
consciência salta, altera e mundos inteiros são deixados para trás, são
esquecidos. O mundo acabou no século XIII. Quando voltou estávamos todos no
século XIV, XV assistindo o poder infinito das crendices católicas. O terror
que eles impuseram aos seus, queimando vivo outros seres humanos, retroagiu a
humanidade em séculos, milênios. Sim, o medo pode produzir esse salto
consciencial. Na iminência do perigo, os seres, coletivamente, podem alterar a
percepção de realidade. Esses momentos aconteceram outras vezes e mais
recentemente como puderam observar em pleno século XX. O mundo também acabou.
Muitos ainda não perceberam e nem perceberão. Todavia desta feita o padrão de
alteração foi realizado por consciências esperançosas, confiantes em um futuro
agora, capaz de remodelar esse passado. E foi por esse presente ter sido
possível, que este retorno ao passado se faz realizável. Voltem comigo. Não sei
se chegaremos, mais voltem comigo.
É meio dia na Terra, mas tudo está escuro. Não há
luz. As trevas reinam e vencem. O meio dia é a hora mais sombria. O meio dia é
o momento mais doloroso. Os animais se calam. As vegetações secam. É o reinado
da morte. É a força das trevas reinando. As mulheres se escondem e os homens se
calam. Qualquer fiapo de luz pode levar à destruição, à ruína. As luzes são
caçadas. Mulheres, crianças, homens, pensamentos, verdades, tudo é caçado e
extinto. A alegria, o prazer, a satisfação, o gozo, a harmonia, a felicidade
são proibidos. A Terra pesa como se estivesse grávida. E a Terra pare ratazanas
monstruosas e abundantes. Rituais são feitos nos centros do poder para que as
ratazanas não parem de nascer, não parem de gerar e elas se reproduzem, levando
o medo, a morte, a fome, a peste. A escuridão repousa sobre a Europa, não há
possibilidades de saída, de alteração, de mudança. A opressão é grande e
aqueles que a desafiam são lançados à fogueira. Tem seus direitos cassados, são
mortos de forma infame, são torturados de maneira vil. Tudo alimenta as
ratazanas. Tudo fortalece a peste.
Missas negras são celebradas. A degeneração toma
conta dos centros de poder. O cetro se faz objeto fálico, e é instrumento de
gozo, orgias e delírios. Os Bórgias alçam voo, alcançam o poder, profanam a
Igreja, denigrem as Marias, sodomizam Jesus, bestializam seus fieis, seus
seguidores. Os templários são perseguidos. Os magos são perseguidos. As
mulheres são transformadas em bruxas.
As bruxas. Sabem o que era uma bruxa? Sabem quem
eram as bruxas? O sonho de todas as meninas, o dever sagrado de todas as
mulheres. Encontrar no contato com o amado o desvelamento do mundo. Encontrar
junto ao outro o sentido intimo da natureza. Ler o que a Terra lhes
confidenciava e juntas celebrar a alegria da mãe, no próprio útero, com os
próprios filhos. Essas mulheres de poder foram combatidas, dizimadas, seus
nomes esquecidos, seus segredos extintos da Terra, retirados da Terra e
lançados no fogo. Foram tristes estes momentos. Este momento só teve alegria e
gozo para alguns poucos. A totalidade sofreu as dores, os medos, as angústias
de ter tudo o que acreditava distorcido.
Poucas rotas existem para sair da Europa. A
opressão é legitimada pelo monopólio, pela exclusividade. É necessária a
criação de uma rota alternativa. É necessário encontrar frestas de luz nesse
universo de ratazanas, pelo menos antes que a amnésia contamine a todos. Antes
que os cavalheiros esqueçam quem são, qual mundo habitam, de onde saíram, de
onde vieram. As Ordens secretas precisam se tornar braços armados, pontos
estratégicos dos governos que desejam lutar contra as trevas. Por sobrevivência
os templários e as Ordens se ramificam, se descentralizam e oferecem serviços
de consultoria, aconselhamentos a padres, bispos, reis de outras
nacionalidades. Em Portugal e Espanha a gente trabalha com o mar. Com o
além-mar. Criamos centros de estudos de caráter secreto, com total autonomia
dos reis, que cooptamos para nosso lado oferecendo poderes inimagináveis e
jamais sonhados. Montamos a Escola de Sagres.
Conhecem a NASA? A Escola de Sagres tinha a mesma
importância. Em todos os sentidos. Em verdade, a NASA é Sagres. O que fazíamos
ali? Os livros de história não têm registros. O que ensinávamos lá, a história
não sabe ao certo. Restaram alguns artefatos como um astrolábio, umas vaus,
alguns mapas e eles nos são suficientes para brindarmos simbolicamente com o
mundo.
Acreditariam em chineses em Portugal no século XIV
e XV? Mas como há chineses que falam português? Por que nós chegamos até lá?
Não, eles chegaram até nós, muito antes. Acreditariam em informações de que
sabíamos a existência de terras além-mar, habitados por povos de peles
avermelhadas? Havia inúmeras espécimes trazidos de lá, desde antes a data do
descobrimento da América e da chegada de Cabral. Acreditam em negros habitando
as terras portuguesas e espanholas em pleno século XV? Dando aulas em nossas
universidades? Ensinando direito, filosofia do mundo grego? Vejam como a
jurisprudência portuguesa é diferente da jurisprudência francesa e inglesa e compare-a
com a do mundo árabe, em especial dos países negros de cultura árabe. Esta tudo
aí. As pistas, os registros. Precisam ler e olhar com outros olhos. Não mais os
olhos do medo, das sombras do mal e sim os olhos da alegria, da inocência, do
amor que nos permitiu sonhar em meio ao maior pesadelo da Terra.
Eles acabaram com o mundo, mas nós o reconstruímos.
Ainda dentro desse mundo de trevas, houve a luz do Renascimento. O sopro da
arte, da beleza, dos gregos. Da riqueza, do monopólio e das taxações alfandegárias
criou-se também o mecenato. E artistas puderam viver de suas obras. A arte
passou a ser valorizada. E naquele cenário de opressão a única possibilidade
era revisitar os antigos essa é a interpretação dada para esta fase. Todavia,
ele revisita não aos gregos, ela revisita o homem ocidental antes da peste e do
domínio das ratazanas. Eles falam não de um ontem, distante, cujos olhos não
viram, e sim, de um ontem próximo, que a memória se negou a esquecer, que a
alma se negou em calar. Os artistas renascentistas criam o homem que eram, que
foram, que voltaríamos a ser. O homem expresso por Leonardo de forma divina e
maravilhosa. O homem Davi esculpido em pedra por Michelangelo. Davi o símbolo
tão caro a nossa ordem. Davi a representação da batalha que travávamos naqueles
momentos.
Sim, ainda há lágrimas em meu peito. Ainda vejo o
mundo mergulhado em uma noite escura e em um sono profundo. Ainda vejo e ouço
as gargalhadas de Morfeu, enquanto outros cerram os olhos de meus irmãos. Ainda
vejo os olhares patrulhadores dos morcegos noturnos, a espreitar durante a
noite, os movimentos de nossos passos. Ainda vejo os ferros em meus braços, o
aço perfurando minha carne. Ainda vejo os rostos sanguinários pronunciando
palavras mágicas. Mas tudo isso em carne e alma como as nossas, nos fortalecem,
nos aumenta. E se um dia senti ódio a tudo isso, hoje, acho graça, porque aqui
estamos de novo. Por que aqui estamos mais uma vez. Aqui estamos trazendo o
perfume das rosas, a brisa do sol. Aqui estamos como colibris, pequenos,
diminutos, mas realizando um trabalho que acredita ser de parceria com o sol e
com toda primavera. Com todo outono e todas as estações. E tenho uma felicidade
que transborda o tempo, que abraça aquele homem carrancudo, cujo nome foi
lançado da história. Que abraça aquele peregrino que foi desterrado, jogado fora
lançado aos cães para morrer como lobo, mas sobreviveu. Vive e agora sorri para
mim, sorri comigo, porque nós não nos esquecemos de quem somos, o que somos, do
que somos feitos. Somos feitos da armadura das pétalas de rosas. Nossas
lágrimas é o nosso sol. Somos templários, cavalheiros do tempo, guardiões da
rosa. O irmão que zela e protege o irmão. Nós somos os guardiões de nossos
irmãos. E assim como eles vieram da África, da China, do mundo árabe e até das
Américas nos abraçar. Nós também fomos até eles retribuir os abraços. Somos
irmãos. Somos um. Somos da mesma Ordem, da mesma família: os guardiões do
graal. E se houve fel no cálice, agora o pulo, o lustro, o ofereço aos meus
inimigos: brindem conosco, bebam conosco. Nós não esquecemos quem somos. E só
podemos ser aquilo que somos. Não foi isto, meu irmão, que deixastes gravado
para ti mesmo, em muitas vidas nas quais não te apagaram? Aprendemos com tu.
Agradecemos a todos. Em resposta as ratazanas, nós criamos Sagres, que é um
capitulo a parte.
(30/6/2010)
[1]
CABÚS, Ligia. Dragões: fatos e lendas. Disponível
em: http://www.sofadasala.com/pesquisa/dragoes.htm
Acesso em: 14 jun. 2010.
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