segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Falando de Nada.

Tem assuntos, temas que evito discorrer. O motivo é que de maneira geral, só a menção ao nome, já causa uma elevação conceitual, moral, espiritual aos olhos das pessoas apressadas. E, é importante frisar que as portas desses e outros ensinamentos estão abertas a todos os que se se predispuserem aprender.

Esta é uma predisposição que Nietzsche conceituava masoquista, não com esse nome, mas com o mesmo sentido. Aprender requer se curvar, abaixar, submeter. Aprender requer se colocar numa posição de inferioridade para que outro lhe ensine, lhe oriente, lhe dê pistas e senhas para prosseguir o próprio caminho. O mestre de maneira geral é aquele que te fornece as pistas para você chegar em si mesmo. E tudo isso requer dedicação, empenho, esmero. Quem quer aprender mesmo? E quem quer aprender sobre si mesmo? São as respostas a essas perguntas que decreta os desejantes do conhecimento e do autoconhecimento.   

Aprender um conhecimento que te leva a aperfeiçoar, mas não para ser melhor do que o outro, e sim, para melhorar a si mesmo. E esse si mesmo não tem conserto, não tem remendo, ele apenas cresce e habita outra morada, outro espaço. E continua se aperfeiçoando rumo a um infinito que dá volteios e abre para diversas direções. É incessante. 

Mas, entrando na temática do post. Alguns textos teimam em não ser. Este, primeiramente, fazia parte de outro que estou escrevendo sobre o Processo Terapêutico. Agora, ele faria parte de um texto no qual iria falar da raiva. Mas, ele insiste em ser NADA. E o deixarei assim, nessa forma e nesse formato de Nada. Quem suportar adentrar esse espaço, o saboreie.

HIERARQUIA INVERTIDA.


Entre nós buscadores do conhecimento o rei é o ápice da pirâmide e todos devem se curvar perante ele. Para os Espaciais, os Mestres, um grupo de seres mais sutis; quanto maior for o seu posto, maior a sua necessidade de servir, de curvar perante os outros. É a inversão da ordem, da pirâmide. Liderar é servir. Se elevar é se predispor a curvar mais. É o inverso do que pensamos e buscamos tantas vezes. Por aqui queremos nos elevar para sermos servidos. Nesses outros ambientes eleva-se a medida em que se serve aos outros. Os humilhados serão exaltados. Os últimos serão os primeiros e doideras assim.  

Essa simbologia pode ser compreendida na cerimonia do lava pés realizada por Sananda. Ali o Mestre nos ensinava a lógica dessa hierarquia. Ser o menor entre todos. Não se exaltar para não ser humilhado. Ser como uma semente de mostarda, a menor de todas. Voltar a ser como uma criança, porque elas herdarão o reino dos céus. Todos os ensinamentos do Mestre nos fazem refletir sobre essa Hierarquia que aposta no servir ao outro como sendo a condição básica e essencial de serviço.

Na contramão disso ficam os canalizadores do Comandante A.S, da GFB, dos espíritos evoluídos. Muitos deles não compreendem que um Comandante é o maior dos servos e não o mais alto dos imperadores. Assim, nós em nossas pompas, títulos, vaidades, conhecimentos, compreendemos pouco ou nada disso. Mas, os caras nos ensinam a servir. Ser o maior é ser aquele que se dedica mais, serve mais, se doa mais. E, de modo geral, nós estamos sempre voltados para nós mesmos. Por nós mesmos. Servimos muito pouco e quando servimos acreditamos que devem ser estendidos tapetes vermelhos, rufar tambores. Acreditamos que o nosso servir é especial. Sem ele o universo não seria o mesmo.

Nessa onda maluca, algumas pessoas acreditam, que falar com Jesus, com Nada, com Kuthumi é algo de profunda elevação. Que aqueles que conseguem falar com eles são puros, ilibados, imolados, santos.
A piração maior é que algumas pessoas acreditam e outros vão ajudando ao sensitivo-médium-canalizador a dançar esse samba do caos. Gente! É mais fácil falar com seres dessa envergadura do que comigo, do que com muitos canalizadores desses e outros seres. Eles estão e são muito mais disponíveis do que nós. Muito mais solícitos do que nós. 

As pessoas não tentam buscar o conhecimento e menos ainda o autoconhecimento. Elas acham muito longe voltar-se para dentro delas mesmas. Acham mais fácil encontrar alguém que percorra o caminho interno por elas. Não preciso dizer a impossibilidade disso, no entanto, muitos vão alimentando essas ilusões. Gostamos de nos prender e prender os outros a rótulos, a fórmulas. Ou seja, enquanto ‘eu’ adoro, bajulo, ‘eu’ não preciso servir. E a bajulação se torna um serviço no qual se vicia e se prende milhares de seres na vaidade. Assim, enquanto as pessoas ficam na adoração dos 'probos', distanciam-se e abandona-se a própria busca pessoal. Seja lá em que grau, em que instância é esse servir. Alguns servem auxiliando toda uma galáxia. Outros servem auxiliando todo um planeta. Alguns servem auxiliando uma família. Outros servem auxiliando uma pessoa. Em todos os serviços há um auxílio ao todo.



Porém, enquanto alguns pedem ao médium, ao ministro da eucaristia, ao pastor, ao canalizador pra rezar por ele; Este ele não precisa parar de ir ao bar na 5ª feira a noite. 
Nada contra ir ao bar na 5ª feira a noite, no sábado de manhã, no domingo a tarde, na 3ª na hora do almoço. Mas, é que se tem um ‘bom’ rezando pra mim. E esse ‘bom’ aceita esse lugar de prisão, cria-se uma relação doentia de adoração, submissão ao ser errado, a coisa errada. Volto a insistir- é mais fácil falar com Saint Germain do que com o pastor televisivo. É mais fácil ser ajudado por Buda do que pelo médium autor de best-seller. Em algum momento a nossa busca se cruza com o Outro. E nesta relação somos uteis na descoberta do outro. 


Parte dessa narrativa, podemos ler na mitologia de vários povos. Todos elas contam, narram, falam de como os deuses se disfarçavam de estrangeiros, de forasteiros e beneficiava os homens que lhes ajudavam sem saber quem eles eram.

Jesus conta isso também em Matheus 25:35  
Quando, pois vier o Filho do homem na sua glória, e todos os anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; e diante dele serão reunidas todas as nações; e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos; e porá as ovelhas ã sua direita, mas os cabritos a esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem ã sua direita: Vinde, benditos de meu Pai. Possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me acolhestes; estava nu, e me vestistes; adoeci, e me visitastes; estava na prisão e fostes ver-me. Então os justos lhe perguntarão: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber? Quando te vimos forasteiro, e te acolhemos? ou nu, e te vestimos? Quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos visitar-te? E responder-lhes-á o Rei: Em verdade vos digo que, sempre que o fizestes a um destes meus irmãos, mesmo dos mais pequeninos, a mim o fizestes. Então dirá também aos que estiverem a sua esquerda: Apartai- vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos; porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; era forasteiro, e não me acolhestes; estava nu, e não me vestistes; enfermo, e na prisão, e não me visitastes. Então também estes perguntarão: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou forasteiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos? Ao que lhes responderá: Em verdade vos digo que, sempre que o deixaste de fazer a um destes mais pequeninos, deixastes de o fazer a mim. E irão eles para o castigo eterno, mas os justos para a vida eterna.” 

Esse é o ensinamento mais bonito das mitologias, das narrativas sagradas: a ALTERIDADE. 

O OUTRO COMO SAGRADO.



O eu existe no outro. A divindade se faz na sacralidade do não eu. O divino que habita minha alma, re-conhece a divindade que mora em você e é você. E nesse encontro a gente constrói o sagrado. O sagrado é então humano. É profano. O sagrado é o abraço, o sorriso. O sexo, o beijo. O sagrado é o respeito infinito ao que nasce em mim, transborda de mim e é acolhido pelo outro, transpassa nós dois e cria algo que é maior do que nós. Vou chamar de Iglesia. O corpo de Cristo.


É nesse lugar então que habito. Mas, dentro do meu sagrado há feras, há monstros, há deuses que desafiam Jeová. Há danças que fazem Thor ficar corado. Há sexos e prazeres que somente Esú e Hermes são capazes de comportar. Somente Afrodite, Freya, Iemanjá e Isis são capazes de celebrar. Algumas até de participar. Inebriadas pelo vinho de Dionísio. Ou com o amor transbordante de se sentir desejada.
Sabem lá as deusas o que é ser desejada? Compreendem elas esse fogo que um olhar acende? Que consome uma mulher inteira, por completo e a transforma em chama ardente, fogo incandescente? Conhecem elas essa força do olhar desejante de um Outro? E a partir desse olhar conduz uma mulher para além do horizonte permitido as deusas e se faz mãe. Gera, gesta em seu útero. Transforma, transmuta em seu corpo. Tudo a partir de um olhar de desejo. Um olhar. 

Milhares de deusas largaram o Olimpo, deixaram Aruanda para experimentarem essa sensação. E depois que experimentaram gozaram outras tantas, milhares, aos montes.

Ter com-paixão por cada experiência, desvelar o sagrado em tudo o que se é, em tudo o que se faz é a marca reflexiva desse texto. É a experiência que aprendi e apreendi com a Mestra.



O FRUTO PROIBIDO. CONHECIMENTO


É natural em nós, olharmos para o os mestres, e aprendermos o que eles nos ensinam. Mas, tenho percebido que tudo isso ainda é ilusão. O conhecimento que marca realmente é aquele que fica gravado em nós. É a assinatura deles que transforma em nossa tatuagem. O verdadeiro conhecimento deixado pelos mestres é aquilo que eles não podem nos ensinar diretamente, mas é o que, verdadeiramente, fica. O conhecimento dos Mestres é o desabrochar da nossa essência. O desvelar de quem verdadeiramente somos. E é isso que venho retomar nesse texto. Mas, antes coloco somente uma narrativa e caminho para o desfecho.
Dizemos, ensinamos que ao nascermos recebemos 3 itens: uma espada azul flamejante. Um livro dourado. Uma rosa, rosa exuberante. A espada simboliza o poder. O livro a sabedoria. A rosa o amor. Os três juntos formam a singularidade do teu ser. É próprio. Nunca é igual.



Trabalhar com os mestres é re-cordar sua trajetória. Suas contribuições, seus tropeços. E se burilar. O burilamento. Tem sido a tônica desse milênio. Foi como nos preparam para esse milênio. As alquimias. As transmutações e transformações. O retorno dos dragões naquilo que eles simbolizam e sintetizam desse poder que se entrelaça e nos dota de sermos aqueles que somos.

OS ENSINAMENTOS.

Eu escrevi tudo isso, porque eu recordei de uma aula que tive décadas atrás com uma Mestra muito querida. Ela estava nos ensinando sobre com-paixão. Como expressar, acender esse fogo em nosso íntimo.


O exercício iniciava trazendo para o caldeirão a imagem de um desafeto nosso. Eu então, peguei o caldeirão e coloquei um cara da minha adolescência, juventude que me fez muita raiva. Ou seja, ele mexeu no meu orgulho e na minha vaidade. Geralmente, a raiva é isso. Orgulho e vaidade. Temos muito temor da raiva, mas ela pode ser uma aliada.

Todo mundo fazendo o exercício bonitinho. Os diversos alunos que lá estavam, colocaram a pessoa no caldeirão e a recobriram com o raio rosa e depois que conseguisse controlar o raio rosa, intensificava-se para o vermelho. Uma forma de nos dizer: ‘envolva a pessoa com amor’ e depois faça uso da sua visceralidade para encampar esse amor’.
Em outros termos, o treino não tinha quase nada a ver com perdoar o outro. O treino tinha a ver com a capacidade de lidar com as próprias paixões. Lidar com o pathos que nutrimos, que nos cerca, que nos avizinhamos, que por vezes nos consomem e nos devoram.

Pois bem! Eu não tinha essa reflexão de hoje. E que bom que não tinha, porque pude ser extremamente verdadeiro. Verdadeiro até demais. Eu fiz foi o inferno com a representação do meu desafeto. E isso estava relacionado tanto a uma dor latente, quanto a uma ferocidade bestial que existia, existe em mim. Aquilo que aquele moço era e é no plano físico, eu era no campo energético. E, por mais louco que possa parecer, eu o alimentava em suas atrocidades cotidianas. Energeticamente, havia uma ligação entre nós. Aquele cara manifestava fisicamente parte considerável da minha raiva. Os crimes que ele cometia tinha muito da minha energia negada, reprimida, não expressa. Não era tão melhor que ele, como eu achava. 

A chama que eu o envolvi era vermelha de ficar quase preta. Aí a Mestra vai até mim para ver quem era aquele desequilibrado. Era eu. Ela me ajuda a baixar as chamas, a controlar a ira, a observar minha paixão. Repito o exercício. Por muitas vezes até aprender a controlar e amar. Aprender parte disso que escrevo acima. Se houve identificação há uma relação. Os processos de cura, de perdão não tem o sentido de causar uma elevação interna e sim que aos poucos vamos vendo que todos somos um. Algumas expressões internas que tenho e não reconheço, ou aceito, ou nego outros irão vivencia-la. Há uma corresponsabilidade que a gente ameniza conscientizando e servindo. 


Aqui vale um parêntese de mil páginas. Estou relacionando raiva e amor. E usei ainda o termo controle. Enquanto chama, intensidade, fogo, ardência, de fato é a mesma coisa. Literalmente a mesma. A raiva é uma frustração. Ou melhor, a frustração vira raiva. A decepção vira raiva. O fracasso vira raiva. A raiva é um substrato de diversos estados emocionais. O orgulho é o endurecimento desse estado.


O orgulho é a cicatriz e a casca grossa dessas feridas. Já o abandono, a fragilidade são o pus desse estado. E, de modo geral, é a partir desses estados de ressentimento, amargura, traição, decepção, abandono, que amamos. Abaixo, uma cena muito significativa, entre o Professor Xavier ensinando ao Magneto a potencializar o seu magnetismo.  




Colocamos o amor num estado e estágio de elevação, mas é pelo fato dele conseguir englobar esses estados de raiva, magoa, frustração, dor, abandono e tantos outros, sem diminuir nenhum. Sem apartar nenhum. Então, quando eu vejo e escuto os canalizadores impedindo as pessoas de sentirem o que elas sentem. Buscando mostrar uma elevação amorosa como se o amor tivesse brotado da flecha de Cupido e não de um labor constante, um jardinar e adubar constante da própria interioridade, me chateia. Porque vão dando a entender que sentir desejo, raiva, medo, frustração, abandono é feio. É ruim. E ficam todos retesando esses estados que vão assombrando a todos mediante pesadelos oniricos, astrais, físicos, podendo culminar em abusos psicológicos e sexuais. Tudo porque preferem lidar com a energia da culpa, da vergonha, da magoa, do que com a da raiva, do desejo, do medo de maneira clara e sincera. O amor tem esse fogo integrativo.


Assim, eu fico me perguntando: elas treinaram com quem? Elas treinaram onde? Porque as portas estão abertas a qualquer um que deseje conhecer esses processos. Qualquer um mesmo. E esse fogo transforma, transmuta. Esse fogo é sagrado. É milagroso. É divino. E é esta divindade que possibilita a um Buda iluminar um assassino de 999 pessoas. A um perseguidor ser convertido na estrada de Damasco. E ambos que estavam repletos de ódio, de raiva, alcançarem um estado amoroso instantâneo. O fogo, simplesmente, sobe e transborda deles e por eles. Mas, isso só é possível a quem reconhece em si o seu sentir tido como feio. 



E a divindade desse fogo vem da nossa capacidade de aceitar que não temos controle sobre nada. Abrir mão do controle do que se sente é um passo muito significativo para permitir que o amor chegue. O amor não pode ser controlado. Não se escolhe a quem se ama. Ele jorra, ele foge. Ele transborda.


Isso me remete a outro exercício. Os exercícios são realizados individualmente, mas eles são demarcados, coletivamente. Enquanto todos não avançam, ninguém muda de fase. São experimentos conjuntos. Os treinamentos eram energéticos e físicos. Na vida física aconteciam situações, testes como o pessoal chama, nos quais éramos convidados a colocar em prática o que estávamos aprendendo no astral. Isso movimenta a energia da compaixão.

E se para alguns no astral era super rápido desembolar os exercícios, fisicamente, tomavam bomba todo dia, porque não conseguiam tolerância com os pais. Outros com os colegas de trabalho. Outros com os filhos. Ao final cada um de nós nos auxiliávamos e nos amparávamos. Cada um de nós ficava preso em um ponto. Por misericórdia a gente mudava de fase. A fraqueza de um, era fortaleza de outro, e assim sucessivamente. Até que formávamos um ‘todo’. Cada um com seus defeitos, suas faltas, suas qualidades auxiliava em toda a dinâmica do processo. Já era uma Constelação e nem tínhamos o nome disso ainda.



E um dos exercícios. Todo mundo com uma varinha na mão com o objetivo de transmutar o padrão de raiva, de ódio das outras pessoas de maneira amorosa. Então, simbolicamente, era trabalhado padrões de repugnância: cobras, percevejos, lagartixas, baratas, que eram projetadas a partir de nós mesmo. O meu foi ratos. Umas ratazanas do tamanho de gatos. E quando mais próxima elas chegarem de você, maior é a sua sintonia com esse padrão energético. Todo mundo já tinha acabado o exercício e só tinha uma moça mexendo sua varinha ‘contra’ as cobras e eu ‘contra’ os ratos. Eles foram se multiplicando, mas atuar na quantidade é fácil. Nisso um chegou muito perto. Eu achei que ia burlar o jogo, que eu iria conseguir fazer o pessoal ter pena, dó de mim, e engoli um rato. Aquilo já estava me cansando e fui buscar uma saída fácil e rápida.

A Mestre vem na minha direção e começa: que você é descompromissado nós já sabemos. Que vc não leva nossos ensinamentos a sério, eu já sei há séculos. Que vc quando não está na posição de liderança é um insubordinado e quando está é um anarquista, eu tolero; mas vir nos chantagear com esse truque vil e barato!! Querer que a gente sinta pena e dozinha de você? Faça-me o favor. Volte esse rato agora para fora e termine esse exercício com seriedade.

Eu ria de engasgar. Mas, a lição é clara e bonita e por isso que eu lembrei. Não dá para chantagear a vida. Os meus colegas não perceberam o que eu estava fazendo. Até se condoeram. Largaram seus postos para vir me ajudar. Mas, a vida, sabe o que a gente está fazendo. Não dá para engana-la. Você pode acreditar que consegue, que conseguira, mas é perda de tempo. Ninguém vence a vida. 

Esse ensinamento é muito emblemático. Milhares de pessoas boas, estão perdendo tempo com quem engole ratos. Centenas de pessoas estão brigando com Deus, com os anjos da guarda, por não entenderem, porque eles abandonaram essas pessoas. Dezenas de pessoas estão saindo de si mesmas, se colocando contra a vida, para ficarem ao lado dessas pessoas. Eu não preciso dizer o peteco que elas causam na própria vida e na vida dos outros. Como adoecem, como se perdem. 


E elas causam isso na expectativa de que se elas comprarem o boi, todo mundo ira com elas. Cada vez mais, vai menos gente. Esse é um padrão que está sendo alterado. Já foi bonito rezar para terceiros. Hoje é fundamental ensinar a rezar se é que é isso que a pessoa deseja aprender. Os joguinhos que encheram os olhos das pessoas, não geram mais uma patavina de peso na balança existencial. O cara que acredita que ser bom dá acesso ao céu. Não anda uma casa no tabuleiro da existência. A mocinha que acredita que sendo vítima o príncipe encantado vai salvá-la, lida direto com os sapos que estão no mesmo brejo. Não temos mais tempo de colocar seres para darem atenção para quem quer burlar as regras do jogo.

Então, se você está aí beijando sapo esperando ele virar príncipe. É melhor se tocar. Se você está no brejo, acreditando que um príncipe vai te resgatar, levanta e anda. Se você está lambendo ferida de lepra na expectativa que os anjos do senhor te beatifique; presta atenção. Faça somente aquilo que você acredita e não espere nem obrigado.

O sol nasce. A rosa desabrocha. A chuva molha. Jesus ama. Se quer esperar a sua escalação ser dada no Jornal Nacional. Se quer esperar o jogo ser anunciado em todas as mídias fique a vontade, mas não é o que acontece. 

Por tudo que há de mais sagrado, não dá para ficar fazendo pirraça.
Bora incendiar o mundo. Bora servir cada dia mais um pouco. 





quinta-feira, 20 de setembro de 2018

SILÊNCIO II: o orgasmo como fala. O outro como falta.




Fico ouvindo minhas partilhantes, algumas amigas, algumas namoradas falando de sexo, sexualidade, prazer, frustração, culpa... 

De forma machista, isto é, considerando o mundo a partir do nosso falo, somos levados a acreditar que na transa a mulher quer gozar. Que o que elas esperam de nós é que as levemos ao orgasmo. Como se elas não pudessem chegar a isso sozinhas, ou com outra pessoa. Temos essa fixação que é mesmo muito do nosso universo masculino no qual sexo é gozar e gozo é orgasmo. Feito isso, alcançamos o sucesso. Cumprimos a meta. 

É uma mecânica do prazer bem direta, simplista, altamente satisfatória viu minhas amigas. Rsrs.   Não tem complexidade nessa elaboração.


Já às mulheres, o sexo não se resume ao orgasmo. O prazer delas começa antes e termina depois do ato sexual em si. O durante é só um processo que a gente não dá conta. Como compreender que o bom dia das seis horas da manhã, ou a falta dele, tem uma relação direta com o sexo a ser realizado, ou não, às dez da noite?


Meu amigo, isso tem relação direta. Para elas é tão claro e óbvio quanto dois mais dois são quatro. É um esquenta, um aquecimento, dado em pequenos gestos. Sinais sutis tais como a brasa de uma fogueira. Em suma, o sexo para elas não é só genital. Mexe e envolve um carinho, um cuidado, uma atenção. Mas, não é o cuidado, a atenção, o carinho pre-m-editado. Vou falar/fazer isso para ganhar aquilo. Vou dar bom dia às seis da manhã para transar às dez da noite. Há uma relação com o acumulo, com o recorrente, com uma constância e permanência. Não é a gentileza de um dia. 

Então se o sexo para elas não se reduz ao orgasmo, não é meramente algo mecânico, se reduz a que? Primeiramente, não se reduz. Tenho observado que para todas as mulheres, especialmente, as que se dizem RESOLVIDAS, que o sexo sempre é algo especial. É sempre algo a mais do que uma transa, uma trepada; mesmo quando é só isso.  


A transa mais banal para as mulheres tem componentes mágicos, íntimos de quem abriu as portas do seu universo para outro visitar. De quem seja por qual for o motivo de escolha, permitiu-se, concedeu ao outro acesso ao seu mundo, ao seu universo. Assim, já não me iludo mais, com os dizeres delas: foi só sexo. É só sexo. Parece, que biologicamente, por pior e mais decepcionante que seja, nunca será só sexo. E que bom que não seja. O sexo carrega uma entrega, que para poucos de nós homens tem. O sexo guarda um sagrado, que em nossa forma exploratória, mecânica, simplista, a banalizamos.  




Então, quando na escuta mais atenta, compreendemos que há uma dor na relação na qual o cara entrou, visitou e foi embora. Fica uma coisa aí. Algumas anestesiam e têm se anestesiado. Não sentem nem a entrada, nem a saída. Ficam nelas, com elas e fazem um uso genital  da transa, como a maioria de nós (homens) fazemos. Aquele relaxamento gostoso que a ejaculação proporciona. Isso satisfaz algumas, pelo menos a curto prazo e numa dimensão mais epidérmica. Quando adentramos em camadas mais profundas, o emocional, por exemplo, há uma falta. E nessa falta uma queixa, uma angústia. Um espaço no qual a busca não é pelo gozo e sim pelo outro. Ou melhor, é esse encontro com o outro que plenifica o orgasmo. 

Torna-se bonito ver mulheres encontrando esse prazer no sair com as amigas, na ida ao teatro, na ida ao campo de futebol. É belo observar que os espaços de gozo, prazer delas tem se ampliado. Mesmo com uma identificação confusa em algumas que levam esse espaço para a mesma banalização que muitos homens. A ejaculação mecânica, que por vezes até prescinde do outro. O que Reich chamava de "masturbação vaginal".   

Que fique claro, não falo dessas mulheres. Estas tem se resolvido a sua maneira, ou seja, tem se dilacerado sem perceber, porque desativaram o corpo emocional. Nós homens fazemos isso há milhares de anos. Por isso é tão fácil, tão simples e tão mecânico algumas relações. Porém pelo que tenho observado, a desativação do corpo emocional, amplia feridas, dores, que poderiam estar remediadas. 


Busco então, falar com o outro polo dessa mesma vibração, na qual encontramos milhares de mulheres que mesmo com vontade, com necessidade fisiológica de transar, não conseguem fazer sexo por sexo. E, nisso há culpa e frustração. Falo das que estão casadas e os caras as silenciam durante todo o dia, toda a semana e na noite da folhinha, querem sexo. E, reclamam da entrega e do desempenho delas. Aumentando o vazio, a falta de uma cumplicidade. 


Falo das que estão solteiras e por terem saído de um casamento de muitos anos, ter conhecido o cara certo na hora errada, hoje tem receio de voltar para esse cara, de ver se ainda tem química. Acredito que ele esteja te 'esperando'. 

Falo para outras que estão vivenciando o celibato forçado por questão de raça. As preteridas por serem negras. Preteridas pelos homens brancos e também por nós homens pretos. Falo para as que sendo extremamente gostosas, foram convencidas de que sem um corpo tipo modelo exportação, elas não tem chance. E, assim se destroem internamente buscando um padrão inatingível, ou buscando se esculpir fazendo dietas intermináveis, cirurgias irremediáveis. Desejando ser aceita. Falo para as que se sentem velhas. Falo para tantas outras que não sei mapear. Falo para essas nas quais localizamos dor, amargura, e uma armadura. 


Para a maioria delas o sexo não se reduz ao ORGASMO e sim ao cuidado, a gentileza, a atenção. E, na cama, no ato sexual em si, o que elas desejam é o SILÊNCIO.


Não há nada mais erótico, sedutor para a maioria das mulheres, do que serem ouvidas, escutadas e ao mesmo tempo, quando isso resulta em ato sexual, encontrar alguém que as silencie. Alguém que numa transa por amor, por dinheiro, por pegação, por... consiga conduzi-la para um espaço no qual ela se escute. Ou melhor, nem ela mesma se escute.

É um lugar no qual toda agitação, toda falação se equaliza com o ato sexual. É o ponto certo. É o acertar a veia. Isso é raro de acontecer. Por vezes não envolve amor, nem técnica. É um encaixe, um ajuste que dois conseguem ter e encontrar. Isso é especial. 

Tão especial e mágico que suscita o silêncio. Um vazio que a preenche, a arruma. Similar a um closet que está organizado sem que ela faça nada, apenas fique lá. E as roupas fazem combinações perfeitas sem que ela precise montar. As peças se auto combinam da roupa intima até os sapatos, passando pelos óculos, a bolsa, a cor do esmalte, batom. Tudo se adéqua e se conforma sem esforço, sem pedido, sem luta, sem cobrança.

Quando a maioria delas falam dessa boa transa, elas falam que chegaram nesse closet. Nesse silêncio. Nesse lugar.

Nós homens nos silenciamos com maior facilidade, mesmo pq temos o falo para silenciar os outros a nossa volta. O silêncio para grande parte de nós não é uma questão. Nós homens conseguimos um alto nível de relaxamento vendo um jogo de futebol, com uma cerveja na mão. Podemos aumentar esse nível de relaxamento nos masturbando ou transando. Alcançamos esse nível sem muita complexidade.

Já a maioria das mulheres tem vozes na cabeça que falam com elas o tempo inteiro. Vozes imemoriais. Juro para vocês que muitas moças escutam Adão e Eva como você está escutando sua voz interna lendo esse post. Escuta de travar no lençol, lembrar da mãe e imaginá-la sabendo que ela está transando. Isso independe da idade. Vai dos 13 aos 91 anos. Tem vozes que acompanham as moças por toda a vida. Essas vozes as cerceiam, mas elas ainda escapam.

No entanto, há as vozes dos maridos, dos filhos, dos chefes, dos funcionários, das amigas, dos inimigos, dos pais, dos amigos do marido. Há vozes demais. E, para completar nós queremos transar com elas para elas gozarem, pq assim, segundo o que acreditamos, elas vão relaxar!

De modo geral, aumentamos a pressão.

Finalizando, elas me contam que a transa mágica não foi a que o cara fez o kama sutra em duas horas. Ou o cara que conseguiu seis seguidas sem parar. Elas falam que foi o cara que as silenciou.

Não é o silenciamento do cala a boca. 

É o silenciamento de estar com alguém e o pensamento não flutuou para outro lugar senão lá. O cara encontrou um ponto, um lugar no qual ela estava presente, inteira. Ela conseguia ser ela. Um ela que por vezes, ela desconhecia, mas achava fascinante e incontrolável. Por isso, magicamente, excitante. Ser e não ser ela, mas sobretudo, não se repreender, se controlar, se cercear. 


Então, se vc é marido, namorado, amante (esses fazem isso com mais naturalidade), comece transado com a sua esposa no café da manhã. No bom dia, na ajuda das tarefas, na escuta do que está acontecendo com ela no trabalho e com seu filho na escola. Pode parecer loucura, mas isso é excitante.

Se o seu colega de trabalho, seu amigo estiver reclamando da vida sexual dele, ajude a sua companheira de trabalho a não ser assediada, física, moralmente. Não a assedie. Quando, ela disser não para sua cantada não a chame de puta, vaca, piranha ou vagabunda; você vai estar contribuindo demais para a melhora da vida sexual do seu amigo.

Se você é filho, filha, não deixe que ela fale com você mil vezes a mesma coisa toda semana. Se ela for a sua professora, não pense que ela é a sua mãe. Só as mães amam incondicionalmente.


Finalmente, não vote no coiso. Você não pode transferir para terceiro a sua impotência. Ou até pode, mas o melhor seria, se perguntar e perguntar a sua companheira: como podemos ser mais felizes?

Essa pergunta, para elas já é uma forma de orgasmo. Poucos prazeres são maiores para muitas mulheres, do que o de se sentir compreendida, agradecida no seu cuidado e dedicação.

Bora, buscar o silêncio conjunto sem precisar de silenciarmos negros, negras, homo, bi, trans, mulheres, gordos, gordas, estrangeiros.



domingo, 26 de agosto de 2018

LEITURA ENERGÉTICA: refinando o como é para você.




Este post aborda várias coisas distintas e complementares. Eu o estou escrevendo há três meses, mas não o envio. Sempre falta alguma coisa. Ele fala desse momento mágico, singular, no qual entramos em contato pela 1ª vez com o outro que te procura e complementarmente fala também do primeiro acesso a esse mundo mágico que é o outro. Abordamos também, o que se passa enquanto estamos realizando a aplicação da energia, fazendo utilização da técnica energética, que fomos instruídos e treinados. Essa fala guarda o lugar de dúvidas, questionamentos, observações, receios, que vão se desenhando a cada percepção. E é nesse lugar que fazemos o CURSO DE SENSITIVIDADE, levando as pessoas a se perceberem e ao mesmo tempo perceberem como percebem o outro.

Muitas pessoas buscam compreender e lidar com esse fenômeno pelo viés acadêmico, bibliográfico, que de fato é bom, no entanto, não toca, não chega a questão central: COMO É PARA VOCÊ!? Pois é a partir dessa centralidade que se abre as possibilidades de diálogo, de troca, de segurança. Uma segurança não de que está certo, mas de que esta refinando, chegando mais perto da sua forma de ver, sentir, captar, compreender a si mesmo e ao outro.


E esse é um processo meditativo. Um transe que se refere a direcionar a sua atenção para uma prática, uma técnica e ao mesmo tempo está aberto e receptivo para assimilar, acomodar, receber, acolher as informações que lhe chegam. Para alguns chega pela tela mental, para outros pelas mãos, ou cheiro, ou... Isso não é bibliográfico, não tem como ser, não pode ser. Isso só se aprende quando se tem a disposição de se ver, se perceber, se olhar e dialogar com as muitas vozes que falam por todo o processo. Vozes da técnica, vozes internas, vozes externas de curiosos, vozes externas de amparadores, vozes do buscador a sua frente, vozes das pedras utilizadas e as vezes das que não foram, vozes dos músculos, da respiração, sua e/ou da buscadora; vozes moleculares, genéticas, ancestrais. Tudo isso fala, tudo isso diz, tudo isso está lá naquele momento da concentração, da atenção e é importante identificar qual é a SUA VOZ. Porque sem saber qual é a sua, qual é o seu centro, todas as outras lhe confundem, lhe perturbam, lhe desorientam.


O primeiro caminho para a LEITURA ENERGÉTICA é o silêncio. E, quando falamos de silêncio estamos falando de re-conhecer a sua voz, na verdade, as suas vozes. O médium, o sensitivo, a terapeuta que não as conhece mistura a voz da entidade a dele, avança sobre os silêncios dos outros e isso é uma invasão, uma intromissão, chega perto do abuso e nós médiuns cometemos muitas vezes, até com o consentimento de algumas pessoas encantadas, desavisadas, curiosas.
Então, eu falo um pouco desse processo na perspectiva que fazemos quando damos o Curso de Sensitividade, isto é, para quem vai aprender a lidar consigo mesma ou que já lida com o outro e não sabe ao certo.




Outro aspecto das coisas distintas e complementares é que tenho escrito pouco, quase nada sobre os atendimentos, porque acontecem duas coisas fantásticas, mas ao mesmo tempo desfocadas, a saber: 1- as pessoas têm certeza de que estou falando delxs. 2- As pessoas se identificam com a personagem abordada. Pessoas que por vezes tem uma matriz energética, uma historicidade bem diversa a apresentada, pelo menos é isso que eu pensava, tem certeza de que o escrito foi sobre elas. Geralmente, quando é, eu envio antes para a pessoa para ela ler, analisar, pontuar. Todavia, há uma sobreposição de vozes e consequentemente uma identificação, que se notabiliza por duas formas, não necessariamente, complementares. Umas com certo orgulho por terem sido retratadas, outras com muita desconfiança e ressentimento por ter sido expostas. Nos dois casos, em quase a totalidade das vezes, não me referia a nenhuma delxs diretamente.

Pois bem, tudo isso me levou a ter a cautela de não escrever sobre os atendimentos, nem os comentar, porém uns são muito belos. E a beleza deles está no fato de serem emblemáticos. São atendimentos que descortinam dezenas de outros. 
Dão respostas e esclarecimentos a pontos obscuros de nossa percepção. Dialogam de uma maneira tão singela e bonita com tantas pessoas que parece que a escrita permite isso, que aquela moça que não falava dela, se veja e se reconheça como tendo sido ela mesma de quem estou falando. E, aqui escrevendo, tenho que dizer que elas têm razão. É delas mesmas que eu falava. A identificação é correta. Similar a um novelo todo embaraçado, emaranhado, mas que de repente, quando não era esperado, alguém te dá um ponto que ao ser puxado tudo desembola. O emaranhado, enroscado e engastado constrói figuras geométricas intricadas e que se entrelaçam configurando figuras lindíssimas, belíssimas. E, não posso ter dúvidas em afirmar que cada uma delas é um ponto dessas estruturas.

De modo que o que vou contar aqui refere-se a um atendimento assim. Um atendimento que realizei há uns 3 meses atrás e explora os dois lados opostos e complementares que comecei afirmando: a 1ª vez que nos vemos, a singularidade de adentar o mundo interno, energético, privado de outra pessoa. Aproveito para descortinar um pouco desse eu interno que aplica a técnica, enquanto uma outra parte desse mesmo eu a percebe, para que num terceiro momento, a gente consiga transformar isso em uma linguagem, em um texto inteligível ao outro e para o outro.


Iniciando:


Ontem (3 meses atrás) atendi mais uma linda mulher. Nesses atendimentos “às cegas”, a gente depende muito da outra pessoa. Se ela se tranca, se ela não se conhece, se ela simplesmente negar o que estamos percebendo, o atendimento perde a força, o sentido, porque o que a gente vê não pode ser interpretado por nós, pelo observador. Como uma câmera fotográfica que faz alguns registros. A câmera não deve interpretar as imagens. Por mais convidativo que seja, por mais salutar que pareça. É fundamental manter-se na posição de lente. Isenta, neutra.

Isso tudo, porque o sentido, o significado se é que tem algum, é dado pela vida do outro. É elx e apenas elx que pode dar sentido ao que você observou. Nesse momento, é só isso que você tem a fazer e pode fazer. Claro que há outras vozes no processo dizendo mais coisas, porém a gente aumenta a precisão a medida em que nos aproximamos da imagem original.

É importante compreender que a imagem original não é passível de ser compartilhada. O ideal seria já termos os dispositivos que fazemos uso no astral de conectar um sensor ótico na região das têmporas e assim projetar o que estamos vendo para que a pessoa VISSE em tempo real. VISSE, porque esse ver é um sentir, um tocar, um cheirar, um respirar. Essa imagem é uma tela de plasma real que você atravessa e sabe tudo o que está lá. Sabe todas as sensações, todos os pensamentos, sabe. Esse seria o ideal, mas ainda não temos esse recurso. Alguns sensitivos desenham e precisam desenhar mais, porque seria uma tradução mais próxima desse universo. Eu só tenho a mal dita linguagem e com ela tento recuperar a imagem, que transcende e supera a grafia. Deveríamos fazer poemas. Mas, os poemas assim como os koans servem para direcionar as pessoas a esse estado de VER e o meu desejo egoico é o de compartilhar com ela esses estados primários e construirmos de forma dialógica um entendimento desse universo singular que adentrei pela 1ª vez.

Então para isso dar certo precisamos estabelecer uma troca de confiança na qual eu não confabulo e o outro interpreta. E quanto maior o conhecimento que o outrx tem de si, mais sentido as imagens ganham. Quanto mais consciência a outrx tem de si, mais tranquilo é o diálogo. Tanto para elx assinalar que me equívoco na elaboração linguística da imagem, quanto para me detalhar com mais requintes o acerto.
Imagine que você tenha um visor a sua frente e reproduz para a pessoa o que está vendo-ouvindo-cheirando-sentindo. Muitas vezes você não sabe o que é aquilo. Se você fizer esforço por interpretar para o outro, a leitura perde o sentido. O melhor é você apenas reproduzir o visto, similar a câmera. Suponhamos que você veja algo que não faz sentido, em absoluto. Como por exemplo três pessoas dormindo no chão, mas o chão é coberto por um negócio retangular parecendo palha entrelaçada. Você ainda diz, parece desconfortável, mas está todo mundo bem, que coisa esquisita. Sinto muita felicidade. A pessoa apenas te diz depois: "que é uma tradição do lugar de onde eles vieram dormir em esteiras de palhas, trançadas como a gente trança os cabelos. Vamos fazendo esteiras, redes, enquanto os homens trabalham. Eu e meus irmãos dormíamos juntos, abraçados e as vezes até hoje na minha casa, com cama Queen eu prefiro pegar minha esteira e dormir no chão."

O diálogo só é possível porque o observador foi fiel a imagem e a buscadora foi fiel a si mesma, ao seu passado. Um ou outro poderiam mentir. O observador poderia dizer que via um tapete persa felpudo, ou uma cama, ou só falar do chão batido. Mas, ao falar da esteira que ele nem sabia o nome, ele toca um ponto que evoca milhares de lembranças entrelaçadas, lembranças que dialogavam com a presença daquela mulher naquela hora, naquele atendimento. Lembranças que vão dar sentido a todo atendimento.

Claro que essa reprodução não é neutra. Porque ela depende de quem vê e de como a gente lê o mundo. Então, quanto mais próximo da ‘imagem original’ ficarmos melhor. É o peteco quando o observador tenta interpretar a imagem original sem conhecer a pessoa. E, por mais que você pense que conheça, você não conhece e o papel da interpretação é da pessoa. Searle fala de algo similar num dos capítulos mais famosos da filosofia da mente que é o Quarto Chinês.

http://iaexpert.com.br/index.php/2017/02/14/argumento-do-quarto-chines/

Deem uma olhada. Nessa hora não importa- sensitivo, médium- é um tradutor, não deve se arrogar a ser poliglota. Cada outro é um universo com linguagem própria, com idioma peculiar e particular. A forma com que associa ideias, pensamentos, tempera com sentimentos e emoções, colore com afetos e desejos denota particularidades, sabores, singularidades únicas. Por maior e melhores que sejam os padrões, temos que evitar as padronizações. Por mais cômodos que sejam as associações, não devemos nos arvorar a pensar que sabemos o sentido antes que a buscadora configure o sentido. 



Dias atrás (4 meses) jogando Tarot para uma partilhante saiu o 8 de copas na casa 8. Falei, falei, falei e era num dos poucos momentos de interação, até ali. E ela me disse: “Sim! Estou com vontade de sumir. Tenho vontade de sumir!” A expressão dela é uma ótima definição para o 8 de copas, especialmente naquela situação e no contexto do jogo. O que pode assinalar um momento de transição, de equilíbrio em seguida, mas em alguns momentos... sumir parece ser o mais oportuno e rápido.





Mas, a moça de ontem... portava um sofrimento na alma. Tentei de tudo compreender, se era devido a separação, as magoas, nada. Fui dialogando com as imagens que tinha percebido, algumas batiam, outras não. No final, acabaram tendo sentido. Uma Gestalt se formou e tudo ficou melhor, mais claro. Comecei falando o que as pedras me contaram, rsrss. Juro que elas contam, que elas falam. Uma a uma foram me contando.

As mãos sobre os chacras me falaram também muitas coisas, sempre conta. Chamou atenção uma ferida no lado esquerdo, similar a uma lança transpassando por entre as costelas. Não conseguia saber o que era aquilo, mas foi o ponto definitivo para perceber que tinha uma dor, grande, imensa, lancinante. Uma dor que vim a perceber mais tarde ser simbólica, altamente simbólica e representava muito da energia dela. Ela uma mãe, avó, sentia as dores dos outros, tinha dificuldade em se posicionar na vida, perante os outros. Não conhecia muitas ações na vida fora da entrega, da renúncia, mas isso não era algo prazeroso. Tinha uma dor em se sentir deixada, tinha uma magoa por se trair tanto. 

Com muito jeitinho perguntei se ela tinha alguma dor naquela região do corpo e ela respondeu que não. Não soube precisar o sentido daquela imagem até momentos depois e deixei pra lá. Num determinado momento da fala dela, ela conta da cadela que morreu, parece que foi câncer. Sofreu demais a bichinha. Não me pergunte como que um ser humano pode estar identificada com a dor de uma cadela, mesmo a cadela tendo já morrido. Eu também não sabia a resposta, mas uma das vozes me mostrou a imagem de uma rosa no asfalto. Comecei a falar dessa imagem. Eu estava falando da alma dela e de diversas outras mulheres, seres altamente sensíveis. Estava falando de um processo no qual uma mulher conseguia um nível de identificação tão grande que ela absorvia também as dores de um animal. Isso entrava no campo afetivo dela, igual a cara de gozo, ou a cara de repúdio do ser que você ama nos afeta. Ela sentia essa empatia por um cachorro. Então, imagina pelos filhos, pelo marido, por outros seres? Dá para compreender como seres como esses sofrem sem saber? Como que para eles um não da filha, uma resposta atravessada do marido lhe toma e lhe invade como um tapa? 

Me lembrou o poema a Flor e a Náusea de Drummond. 



A gente não acredita. Nós nos olhamos e nos vemos como carne e osso, porém quando a gente entra na epiderme já somos diferentes. Tem muita gente diferente entre nós. Os corpos sutis deles são diferentes, as cognições sinápticas deles são diferentes, o pensar-sentir deles são diferentes. São por vezes anômalos.
Esses seres têm sido direcionado para centros espiritas, mas eles não são médiuns. Podem ser, mas não são. São sensitivos, ou simplesmente são. Possuem habilidades que lhes são inerentes, adquiridas e adaptadas ao funcionamento energético deles. As religiões, provavelmente, vão trancar esse potencial deles que não é religioso.

Mas, falo isso, porque alguns seres têm esse formato de rosa. É difícil os descrever, porque não sei desenhar, mas conheço um monte de mulheres, seres que são rosas, ou as rosas são esses seres da delicadeza disfarçados. Realizamos uma reunião que em breve disponibilizarei o áudio no qual trabalhos com AS ROSAS DO INFINITO. Esse parece ser um padrão de sensibilidade, de desenvolvimento do feminino, parece. O dessa senhora era. Ela é uma rosa que nasceu no asfalto, brotou entre nós. Tem que lidar com nossa frieza, com nossa insensibilidade, com nossa indiferença. Muitas não sabem o que fazer com esse esterco, acabam se confundindo, se identificando com esse aspecto e não percebem a beleza que possuem. É basicamente sobre isso que vamos falar abaixo e finalizarmos o texto. 




Começo falar das rosas que nascem no asfalto. Na luta desesperada dessas rosas se tornarem concreto, asfalto e pó de pinche. E o que tenho observado é que não há dor maior para alma do que negar o que ela é. Rosas são rosas, estão fadadas a isso e tentarem ser outra coisa é energeticamente desastroso. Como ogros são ogros e não podem deixar de ser diferentes. Alguns arrancam a rosa do asfalto e comem só pelo prazer de ver as pétalas despedaçando. Eles não conseguem compreender níveis de beleza senão causando dor e sofrimento. O inusitado do malabarismo existencial é que as rosas germinam dentro desses seres. Um processo de antropofagia metafísico. Aqueles seres que não conseguem ser tocados por nada, usam armaduras medievais recobertas com roupas espaciais de quem faz viagem rumo ao Sol, quando ingerem as rosas, são transformados por elas por dentro. Uma antropofagia que o Evangelho nos ensina e só fui compreender aos pés de um preto-velho. Contava o amigo que quando Jesus manda as ovelhas em direção aos lobos, ele sabe que muitas delas serão mortas, mas elas renascerão na transformação que promoverão dentro dos lobos. Estes ao comerem as ovelhas, ou se alimentarem do evangelho, ou ao entrarem em contato com a pureza, são automaticamente transformados. Esse é o mesmo processo da eucaristia. Come-se o corpo de cristo na esperança de que ele habite em nós e nos modifique. 




Porém como explicar às rosas que elas têm vivências inóspitas, duras, desérticas com a função energética de sensibilizar os ogros? Como que a gente olha para a moça abusada e fala uma coisa dessas? Como que a gente identifica uma rosa no asfalto querendo ser tigresa nas horas noturnas e explica para ela: filha! De duas uma. Ou na secura da gota de orvalho, você vai se sentir a pessoa mais desamada do universo. Ou na intensidade dos gemidos apaixonados, você será rasgada ao meio. Das duas formas, você vai estar vazia antes da companhia ir embora. Deixa isso para sua amiga, ela é mesmo devoradora de homens, de mulheres, de corações. Ela se alimenta de sentir corações pulsantes entre seus dentes. Ela gosta desse gosto de poder dar a mordida fatal quando quiser, igual o polegar do imperador que se movimenta para cima, ou para baixo. Ela é uma tigresa.


Rosas não são assim. Rosas amam. Sentem-se atraídas por todo tipo de estrume e são colocadas em lugares desérticos, áridos. Isso as leva a se identificar com as mazelas. É uma loucura. Sabe a prostituta virgem? O dependente químico sóbrio? A pessoa ‘errada’, geralmente são rosas identificadas com o estrume e não com as pétalas.

Enfim, Rosas não podem ser construções robustas, firmes. Esses mecanismos de defesas arrebenta a pessoa: tromboses, artrites, pressão imensa nos membros inferiores, dores nos joelhos, rupturas de tendões. As rosas não podem deixar de ser rosas. Essa resistência a aceitar quem elas são, as arrebenta de todas as formas que podemos pensar.

Nesse mês de julho faremos um encontro com elas. Mulheres que sofrem, que amam dores que não são delas. Vou apenas as reunir. Não vou falar nada. Torcer para que se olhem, se abracem. Se cheirem. Saibam que ainda que distantes existe um roseiral. Elas estão entre nós e embelezam a nossa vida, mesmo quando soterradas por estrume.
É dever das rosas, imperativo, embelezar. Não podem outras coisas. Por isso a beleza, a esteticidade não pode faltar.