terça-feira, 20 de julho de 2010

Urubus


Bruno limpou o Flamengo, limpou seus familiares, limpou a família da moça, limpou algumas coisas que estavam boiando no mundo do futebol. Não sei se as coisas não voltarão a sujar, mas algumas tantas estão sendo discutidas, pensadas, analisadas. Ele trouxe o escândalo e por ser motivo de escândalo esta recebendo tudo isso que estamos vendo, mas as vezes é necessário ir para onde as coisas nascem, criam e são geradas. É este movimento de mudança, de análise em vários setores da sociedade que o caso Bruno gerou, que quero me debruçar.

Aos meus olhos ele foi instrumento dessas forças Legião/nuvens. A iniciar, ele tem o perfil claro de abandono, de carência, de privação, de convivência com a violência e a crueldade, características que a Legião gosta de fazer uso. Não sei se era ambicioso, se cobiçava mais do que a boca seria capaz de morder. Sem duvida que era e é obstinado, determinado, o que pode ser facilmente conduzido para a cobiça. De qualquer forma tem um talento formidável, fantástico. Recordo que um amigo nosso de pelada, que é segurança do galo, dizia, quando Diego- seleção brasileira de base- estava ainda no gol, que o reserva era ainda melhor. O reserva era o Bruno. E no início, embora com personalidade altiva, ele nem abria a boca. Não dava entrevista. Quando dava falava poucos minutos. Ganhou dinheiro, mas mais importante do que isso, reconhecimento. Ele passou a valer alguma coisa. Não é o dinheiro que pira os caras. Pelo menos não sozinho. Se o Bruno ou qualquer outro recebesse 400 mil reais, ele seguraria a onda, a maioria segura. O que pira é o reconhecimento. Essa cifra formidável que recebem os jogadores de futebol, alguns empresários de mesma idade recebem também. Mas o que deixa a todos transtornados- e aqui penso em jogadores e artistas- é o reconhecimento.

Já jogaram porrinha? Imagine, você jogando porrinha e uma pessoa torcendo por você, gritando seu nome? Agora imagine a torcida do galo gritando seu nome! Imagine-se com 19, 21 anos? Tem alguém no mundo preparado psicologicamente para isso? Um dia você esta na categoria de base sem dinheiro para ir treinar, sua família sem comida e passando necessidade. No outro dia, você é capa de jornal, aparece na televisão, esta na internet. Daí um mês, você ganha um apartamento, um carro e um salário de 40 mil reais. No outro ano, seu salário vai para 100 mil reais. Até então o máximo de dinheiro que você teve foi uma rescisão na qual ganhou três salários mínimos de uma vez. Alguém esta preparado para isso? E a partir daí as coisas só aumentam. Você não paga mais nada, sua imagem é o preço pago a tudo. Quando vai aos pagodes, as boates, aos shows todos te colocam para dentro. Todos desejam sua presença, aparecer do seu lado. Todo mundo quer te dar tudo. Inclusive as mulheres. Tem condição de o cara saber e sacar que ele esta sendo usado? Que aquilo não é por ele, e sim, pela instituição que ele ocupa? Que o dono da boate libera para ele convidado, mulher, bebida, mas não é para ele Guilherme e sim para o centroavante do galo? Quando ele deixar de ser famoso, nem os porteiros vão lhe dar moral. Tem jeito de se saber isso antes de todas as merdas acontecerem?

Para mim o problema dá piração é a fama. Não sei se existe alguém psicologicamente preparado no universo para ser ídolo. Principalmente com um monte de puxa-saco que nunca dizem não. O cara de uma hora para outra, nunca mais escuta não. Ele pode tudo. Ninguém lhe coloca limite. Ninguém lhe dá limite. Igualmente grave todos fazem as coisas para você. Nelinho conta que ao casar e ir para a lua de mel, ele entrou no hotel e não entendia porque não tinha ido para o quarto imediatamente. Ele sempre chegou aos hotéis e ia para o quarto, imediatamente. Ele nunca tinha feito chekin na vida. Histórias como essas do hotel se repete ao infinito quando o jogador tem que fazer vôos internacionais, desconhecem, em sua maioria, como que o passaporte, o visto lhes chegou. Os caras fazem tudo para eles. O jogador de futebol só cresce quando aposenta e aí, geralmente, se destroem. Primeiro porque não sabem fazer nada. Segundo, porque os bajuladores somem, desaparecem. Terceiro, o reconhecimento diminui. E o reconhecimento é a chave mestra.

Aqui surge uma situação que não aprofundaremos, mas é a inserção dos jogadores no mundo das drogas e do álcool. Poucos vão para a vida política que reproduz a sensação de fama e notoriedade de tempos atrás. Os casos de alcoolismo nos jogadores de futebol depois de encerrada a carreira é enorme. E o uso de drogas, em especial a cocaína é o mais lamentável- Maradona, Reinaldo, Casagrande, para falar apenas dos mais notórios.

O estranho, no entanto desse universo do futebol é a indiferença da sociedade, da opinião publica, dos dirigentes, dos próprios atletas para esses pedidos de ajuda, de socorro, que são ignorados por todos. Edmundo antes de atropelar e matar várias pessoas, pintou demais. Guilherme antes de beber e acidentar, levando a óbito e ferindo outras pessoas, deu pala várias vezes. Ninguém toma providencia até que haja óbito, morte, ferimento grave. Somente assim fica visível para todos, que eles não estão bem. O caso Bruno não foi diferente.

O que passa despercebido na estória é: os caras que dão a garotos, jovens essa sensação de super homens se responsabilizam por algo quando as coisas acontecem? Tem menino de 12, 13 anos empresariados, recebem casa, comida, a troco de que? São cobrados como? Pagam essa divida de que jeito?

Messi foi levado para o Barcelona com 13 anos. Isso não é subtração de incapaz? Isso não é trafico de criança? Leonardo, ex-técnico do Milan, relata que encontrou um menino de 14 anos no aeroporto de Milão. O empresário arrumou uma barca para o garoto, ele foi sozinho, estava jogado lá sem falar nem português direito. Leo pagou a passagem de volta para o garoto, que não tinha dinheiro nem para lanchar. Quando estive na Bélgica morei com dois jogadores de futebol brasileiro, ambos “abandonados” no exterior. Foram para fazer teste em um clube quebrado. O contrato não vingou e ficaram em uma situação constrangedora. Não eram mais meninos, mas...

Essas coisas não são discutidas. A seleção brasileira aceitou ser patrocinada por uma cerveja. Os jogadores fizeram propaganda para a empresa. Acho essa associação espúria. O atleta não poderia estar e ter a sua imagem associada com bebida, drogas, mas este é um purismo meu. Ninguém liga, mas esta se falando por aí de imagem de atleta. E essa é a deixa para que eu fale diretamente dos Urubus. Para quem não sabe este é o símbolo mascote do Flamengo.
Patrícia Amorim e o conselho de notáveis do clube de forma covarde demitiram o Bruno por justa causa. Vejam vocês, que o Flamengo é caso de pagina policial há anos. Mas agora, eles demitiram o Bruno por justa causa e pedindo indenização a ele por ter denegrido a imagem do clube.

A ação causa estranheza, porque os subornos pagos na década de 80 para a federação carioca, tudo bem. O caso de um sem numero de dirigentes que enriqueceram vendendo, contratando e revendendo jogadores, caixa 2 mesmo, tudo bem. O envolvimento de dirigentes com o trafico e milícia armada, tudo bem. A maior torcida organizada fazer sinal e cantar palavras de ordem do Comando Vermelho, tudo bem. Marcinho ir para o sitio do Bruno, espancar garota de programa, tudo bem. Adriano tirar foto com fuzil tudo bem. Vagner Love subir o morro escoltado por traficantes tudo bem. Bruno nas proximidades do dia internacional da mulher perguntar a jornalistas e a opinião publica quem nunca saiu na mão com a esposa, tudo bem. Dirigentes saberem de tudo isso e às vezes acompanhar os personagens, em locais nada esportivos, tudo bem. Nenhum deles sequer recebeu advertência. Mais intrigante é que o clube sempre defendeu a postura de que o que se faz fora das 4 linhas não interessa. E interessa? Não deveria, mas não há como fazer essa distinção. Imerso nesse imbróglio que os notáveis resolveram demitir Bruno por justa causa e pede indenização por danos à imagem, por algo que aconteceu fora das quatro linhas!!! É o contra senso. O mais incrível é que entre eles, Bruno é o mais novo. Aquele que assistiu a impunidade crescente, galopante, diariamente sobre os olhares negligentes da presidenta e possivelmente do conselho de notáveis.

Para ser claro. Sem duvidas que o afastamento do Bruno era necessário. Sem dúvidas, que a rescisão de contrato tinha que ser feita, e agiu certíssimo o patrocinador. Agora, alegar justa causa e pedir indenização é ato de urubu que vive de carniça.

Aos meus olhos, que até então não associava o caso Bruno ao flamengo, sou convidado a ver uma ilação clara entre ambos. Esta ação publica e oficial de se chutar cachorro morto é ato de urubu, ato de quem espera carniça para se pronunciar e se posicionar. O conselho de notáveis deveria aprender com o presidente da Olímpikos, que sozinho, pediu para que recolhesse os materiais com o nome do atleta que patrocinavam. Preservou a sua marca, de certa forma preservou a imagem do próprio atleta. Não cuspiu no prato que comeu e nem ofereceu mais jantar ou banquete para outra nuvem de carniça e cães sardentos virem babando.

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