quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Masculino e Feminino: parcerias e integrações.

Tenho feito uma pergunta a colegas, amigos, grupos. Algumas pessoas responderam, pontuaram, dialogaram com a pergunta. A pergunta é voltada aos homens e as mulheres. A masculina: é possível a um homem olhar para uma mulher percebendo-a como uma igual? Isto é, dando a ela as mesmas prerrogativas que se daria fosse ela outro homem?

A pergunta é surreal, eu sei, mas ela aponta para o patriarcado e a força dessa herança sobre todos nós. De modo que nenhum homem respondeu por escrito. Pelas conversas que tive com alguns, pude constatar que a maioria não compreendeu nem o que eu estava perguntando, ou seja, para eles tratamos as mulheres como iguais. Eles não se reconhecem ou não se vêem machistas. E quero ressaltar que de fato somos sem ser. O machismo consciente, deliberado é raro. Na maior parte das vezes ele é algo atávico, quase intrínseco, pode parecer por vezes quase inato. Vamos falar mais disso abaixo. 

A pergunta voltada às mulheres foi: é possível uma mulher olhar para um homem, no caso, namorado, noivo, marido sem super-estimá-lo? Isto é, sem se diminuir e achar-se menor do que ele? Bancando a si mesma?

As mulheres interagiram mais. Ainda assim, a grande maioria silenciou-se. Esse silêncio de ambos os sexos me mostrou sintomático, especialmente, quando estavam homens e mulheres juntos; o silêncio é maior. De todo modo, grande parte das mulheres não se reconheceram na pergunta. Elas não se viram sendo tratadas de forma menor pelos parceiros. Outras mostraram que seus relacionamentos foram construídos pela igualdade e na igualdade. Não questionei, em absoluto, nenhuma das respostas, muito embora a historicidade da relação, das rupturas pudessem dizer o contrário do que afirmavam.

No meu ponto de vista, quem melhor compreendeu a pergunta foi uma amiga homossexual e feminista. Ela conseguiu observar a soberba do olhar que estava me referindo e a estranha submissão que suas colegas de gênero, por vezes, muito mais capazes do que seus parceiros se auto impõe. Ela ainda destacava que não era uma imposição dada e, sim, quase voluntária. Mulheres altivas, persuasivas, debatedoras ferrenhas, por vezes até autoritárias, diante das idéias do marido acabam concordando, se submetendo. Ela menciona o exemplo de uma doutora política que faz palestras  e análises internacionais em universidades pelo Brasil afora, mas que se cala, se submete as concepções rasteira do namorado, empresário sem muito estudo.

Mas, qual a razão da pergunta? O FEMININO. O ETERNO FEMININO que amo, que busco, que tendo compreender, dialogar, visualizar.



Fiz duas oficinas do ACOLHENDO O FEMININO. E agora estou abrindo inscrições para uma terceira, mas em um formato de 4 encontros. 

E após ler o livro: “Não sou mais a mulher com quem você se casou” resolvi abordar o feminino discutindo a parceria, isto é, tirando o feminino de uma dinâmica estritamente energética, simbólica e buscar junto a ela uma integração tanto no campo psíquico, como no campo familiar, na esfera das relações. A abordagem já era um pouco diferente, porque trabalhava o feminino com homens e mulheres, ensinando a cada um observar essa energia dentro de si mesmo independente do gênero. 

Pois bem, tive a felicidade de ler o livro mencionado e vi que a situação era ainda mais grave, mais séria, numa profundidade que sai lançando as perguntas do início do texto para quem me desse brecha. Não contextualizei a pergunta o que reduziu o nível do entendimento, mesmo assim fiquei satisfeito com as interações. O que percebi escreve agora, mas me ficou claro que esse é um ponto cego da nossa sociedade. A dimensão patriarcal, ocidental, heterossexual, masculina, objetiva, externa nos alijou de entendimentos opostos a estes. Enfim...  


Até onde consegui recuar nos preconceitos não achei nenhum mais universal, permanente, constante, atualizado e repetitivo do que o voltado contra a mulher. Todavia, mais do que voltado contra as mulheres é voltado contra o feminino. A mulher, a natureza é a parte objetiva, visível em que repercute essa carência, essa falta, esse não lugar. Óbvio e ululante que existe o preconceito contra a mulher, mas não tão óbvio assim que esse preconceito trás no seu cerne o preconceito contra o feminino. 

Quero salientar que não visualizo até o momento como esse preconceito se perpetua a não ser com a opressão que as mulheres são levadas a fazer com o próprio feminino. De maneira análoga que nós negros por vezes nos escondemos, nos negando, ou ideologicamente sendo ensinados e ensinando que nossos valores e cultura são feios, inferiores. De maneira similar que se oprime pessoas com preferências sexuais diversas as aceitas. Isso parece que fica no ar, quando respiramos introjetamos esse olhar que passa a condenar, oprimir, separar, segregar o outro. Uma postura típica da cultura patriarcal que precisa separar, distinguir, analisar, classificar para determinar logicamente o eu e o não eu, a identidade e consequentemente, a diferença. 

Essa lógica fez com que a mulher fosse a primeira propriedade privada de cada homem. Independente da força, da inteligência, dos ganhos, ter uma mulher era uma honra, continua sendo. E é recente a diferença entre ter uma mulher e ter uma propriedade, ambos são posse. E a posse da mulher muitas vezes representa alijá-la dela mesma. A ficar despossuída de si mesma. 
A mulher como dona de si mesma é um fenômeno recente. A mulher ser dona do seu corpo, do seu gozo é uma conquista, é uma retomada, mas o que quero salientar não é a mulher e sim a parceria.

É a parceria que me interessa, porque se sonhamos uma sociedade diferente, é importante darmos atenção a como lidamos com o outro (a) e nós mesmos. Essa observação nos remete ao feminino, nos remete a percebermos como seres integrados- com aspectos masculinos e com aspectos femininos. E para essa integração é fundamental olharmos para o feminino. O feminino não é macho ou fêmea, não é homem ou mulher. O feminino é uma polaridade que pode ser assimilada na interioridade psíquica com que Jung denominou anima nos homens, ou pode ser visualizada no mundo da vida naquilo que os chineses denominaram energia Yin.


Ponto de acordo é que a energia Yin necessita da sua energia complementar e oposta- yang. É essa dinâmica que se realiza pela força dos contrários que eles denominam TAO. O Tao é a complementaridade do interno e do externo, do psíquico e do material , do interno e do externo, do eu e do outro, do macho e da fêmea, do homem e da mulher.

É sobre essa dinâmica que precisamos recuperar, retomar para consolidarmos espaços mais harmoniosos, integrados, sagrados. Espaços nos quais se compreendam que as diferenças e singularidades de gênero, raça, outras não podem estabelecer superioridade entre os seres. Os seres não se aquilatam pelas suas singularidades, pelo contrário, é na complementaridade que nos fazemos humanos, conseqüentemente belos. A beleza da vida esta nessa aceitação. E parece que uma das formas de encontrarmos essa beleza, essa integridade e interação é olharmos para dentro.



Estamos convidando homens, mulheres a olharem para dentro e visualizarem o feminino. Serão 4 encontros, as segundas-feiras às 20:00 horas em que conversaremos sobre como cada um percebe essa dinâmica em si, seja individualmente, seja nas parcerias, seja socialmente. Em cada encontro propomos uma prática bioenergética para ampliar nossa percepção e capacidade de lidar com o externo. Creio que o mais importante seja a interação de homens e mulheres conversando aberta e francamente sobre como cada qual compreende e se situa nessa dinâmica. 

Venham participar conosco.






Nenhum comentário:

Postar um comentário