quinta-feira, 6 de maio de 2010

Avatar II


Sistema Inteligentes 




É para mim a parte mais louca do filme. Porque atualiza todo os ritos primitivos dos iorubas, dos ameríndios e de tantos outros povos pagãos que viviam em ressonância direta com a natureza. O filme avança e mostra uma relação que é dita, falada pelos pajés, babalorixas, mas cuja apreensão nos é muito difícil, perceber: a natureza como luminosa, florescente, viva. O cara consegue dar pistas disso e conduzir os expectadores para uma analogia direta com os sistemas integrados e inteligentes. 

Na ficção científica hollywoodiana todos estes sistemas inteligentes referiam-se a máquinas, a computadores. Em determinado momento eles ficavam inteligentes e dominavam os humanos: Matrix, Eu Robô, IA são os que eu lembro e trabalham nessa linha. 

Avatar abre para um sistema inteligente orgânico, no qual tudo e todas as coisas estão interligadas, associadas. Toda natureza dialoga com todos os seres viventes. Predador e presa, árvores e bichos, humanos e animais compõem uma rede sistêmica na qual todos se afetam, se comunicam e compartilham de um mesmo princípio inteligente. A sabedoria esta no reconhecimento dessa conexão e no uso consciente da mesma. Aqui a piração foi total, porque recordei de uma psicografia que estávamos fazendo sobre o povo africano. E a moça que passava as mensagens chamava esse mundo de Encantado. E pelos olhos dela, eu ia vendo o Encantado. A saber, a natureza viva. Toda planta, todo bicho, cada arvore como sendo um ser brilhante, luminoso, falante de suas potencialidades e de seus usos. Nada era secreto, nada tinha segredo. Elas estavam lá falando do que viram, do que sabem, de onde vieram, dos nossos antepassados, em especial aqueles que conseguiam ver o mundo assim. Tão bem retratado, ilustrado em Avatar. 

Em Avatar além deles nos levarem para esse mundo encantado, luminoso, no qual a natureza é viva, inteligente e comunicante; eles exploram o recurso ficcional das "fibras óticas" para mostrar como se dá essa conexão. Cada ser teria em si mesmo o seu plug com os demais seres. Mostrando relações que seriam exclusivas e outras que poderiam ser coletivas. O filme então descortina um universo energético, campos energéticos que ignoramos, que desprezamos, mas que estão aí. Os índios ao montar em um cavalo dialogam com a alma dele, os indianos ao tirarem leite da vaca dialogavam com a alma delas, os africanos ao caçarem dialogam com a alma do animal a ser abatido. Tudo se conecta. Tudo se encontra conectado e integrado. 

Esse processo de conexão fica melhor representado quando da tentativa de cura da doutora. Ali tudo se une, inteligentemente, harmonicamente. É belo. 

É um filme belo. Não vi os recursos de 3D que são revolucionários. Não sei das pistas e do mito e a saga do herói captada por muitos. Para mim o fundamental é que foi o primeiro filme de grande produção que vê a natureza como um sistema integrado, inteligente. Com isso re-estabelece e da um novo olhar para as ditas culturas primitivas que sempre souberam disso. Ali no filme se aposta que não há necessidade de desacordo entre tecnologia e natureza, que evolução se faz com blocos de cimento ou com chips de silício; o filme aponta, diretamente, que tecnologia se faz com alma. Avançado tecnologicamente são os povos que sabem utilizar da sabedoria da natureza, a adaptando e a alterando de forma harmônica. Foi isso que Somater me disse em 1996, quando eu lhe pedia e reclamava que todo mundo recebia técnicas alienígenas e eu nada. Ele me mostrou o que eles entendiam por tecnologia e ficamos passeando por lugares e paisagens muito similares as de Avatar. Lugares com imensas grutas, grandes arvores, lagos, flores, no qual nunca faltavam o céu e o ar livre, nunca. E as possibilidades de cada povo ali eram imensas, os usos do magnetismo e de outras forças eram espantosas devido às impossibilidades instrumentais, mas os lagos eram telas de LCD, ou de plasma, as arvores eram bibliotecas digitais, eles viam e liam tudo o que havia para ser lido e visto, isto no nosso passado muito recente e igualmente muito distante. 

Depois ele me levou a lugares no qual havia grandes prédios, imensos laboratórios, todos os lugares hermeticamente fechado, higienicamente limpo, tudo branco, alvo, quase translucido. Eram imagens perfeitas de laboratórios científicos e logo pude reconhecer que se tratava de alta tecnologia. Qual não é a minha surpresa ao ver que estávamos no umbral. Tecnologia de ponta, que vem da exploração e extinção dos recursos naturais, da utilização de mão de obra escrava, da exploração do trabalho, da supra valorização da inteligência em detrimento do emocional e espiritual, enfim da desarticulação entre os seres humanos e os outros seres vivos. Os humanos dominam tudo e ficam maquinais. Otto Lara Resende ao fazer uma visita aos países desenvolvidos na década de 60 voltou de lá com um comentário que Nélson Rodrigues imortalizou: " o desenvolvimento humaniza as maquinas e maquiniza os homens." 

Creio que Avatar seja o primeiro filme de ficção que quebra esse ciclo. É o primeiro que re-integra os humanos a natureza. Aponta para a necessidade de se ter e de se criar corpos em melhores condições para suportar a energia luminosa do espírito. Mostra que uma civilização não precisa destruir a outra, elas podem cooperar mutuamente e aprenderem uma com a outra. Eu presto homenagens a Avatar, que se transforme em febre, que ative na memória de cada humano do planeta um momento no qual se vivia em harmonia com a natureza e tinha-se um profundo desenvolvimento tecnológico. Nem sempre instrumental, mas às vezes também. 

Kélsen André




Avatar I


Realidades Possíveis 

Certa feita, um grupo de amigos, farolescos em sua totalidade, me falaram que estávamos construindo uma nova Terra. Algumas vezes sou literal, outras metafóricos, nesse caso, depois de muito questionamento, fui literal. Fui ver e verificar o que seria isso. Neste tempo o conceito de multidimensionalidade começava a ser soprado, e com muita relutância, fui tentar saber o que outros Kélsens faziam por aí. 


As coisas no mundo real, físico acontecem em espaços de tempo que em nada, ou quase nada conferem com o tempo subjetivo, ou o tempo psíquico. Os sonhos, os traumas, as narrativas ficcionais nos deslocam para esse tempo no qual o que importa não é a cronologia e sim o sentido. É o sentido que alinhava ações tão diferentes, fatos tão dispares, seja a da dificuldade de alimentação e repulsa por sexo por ter visto um gato lambendo a dentadura da tia, seja por dizer que o garoto a um metro de distancia a empurrou, levando-a a cair e machucar os joelhos, seja em ver o termino de um relacionamento com outros olhos. Esta estrutura do tempo parece ser móvel. Os fatos não alteram, mas as interpretações que damos, mudam completamente a maneira de perceber os fatos e as coisas. Os exemplos são inúmeros e todos apontam para uma interpretação de que viver seria "corrigir", explicar o passado, dar sentido as coisas e as colocar no lugar. 

Escrevo isso, porque vou ilaçar as minhas visões do Projeto Terra com minha conversa e psicografia dos poetas do espaço. Não sei se cronologicamente as duas coisas ocorreram juntas, sei que no enredo psíquico do meu ser, uma é extensão da outra. 

Nos preparativos dessa minha viagem, alguém disse algo mais ou menos assim: para que você saiba o que estamos fazendo no futuro, basta olhar para traz e ver o que fizeram no passado. Tal dica é a base metodológica, imaginativa para os livros de ficção cientifica. 


 

De forma que ir adiante era voltar sobre si mesmo. Voltando sobre si mesmo poder-se-ia ir mais longe e mais adiante. Aspecto paradoxal, porque percebemos a nossa estrutura do tempo como linear e nesse caso ela era circular. Circular ao ponto de que o que eu vi naquele momento como o projeto Terra no qual construíamos poderia ser o projeto Terra de um local que ainda não foi feito. No final, tudo parece que dependerá do sentido que daremos, de como iremos alinhavar fatos, descobertas, impressões, etc... Fica em suspense saber, se este projeto é algo simultâneo ao nosso tempo atual, que podemos ter a impressão de acabado, porque aqui estamos e o julgamos completo, mesmo enquanto ele continua a ser realizado. Caso seja assim ele seria similar a um projeto, que como um jogo holográfico de xadrez, qualquer mudança operada nas peças do tabuleiro agora afetaria e reconfigura novos cenários e novas possibilidades de jogos, mesmos aqueles que não sabíamos que estávamos jogando e os outros que acreditávamos encerrados. Estaríamos deslocando o fluxo do tempo por uma mera questão consciencial. Se esta possibilidade for válida, a melhor maneira de perceber o universo seria como uma imagem musical, em que acordes tons e semitons abririam para novas freqüências e novas possibilidades. 

O fato é que foi a partir desse projeto Terra que os artistas puderam me falar qual o sentido da expressão artística deles quando encarnados. E, resumidamente, eles apresentaram tudo como sendo uma somatória de habilidades para algo maior. 


Já descortinei como que um gênio da música clássica do século XVII construiu essa sua genialidade tendo três, quatro vidas anteriores "simples". Vidas que ele poderia olhar e não entender e nem dar sentido, ou dar um sentido completamente outro. 


Em uma vida ele era monge budista e aprendeu sobre o silencio. Na outra ele era monge beneditino, em uma terceira camponês que ficava se maravilhando com o por do sol e o ritmo da natureza. Isso tudo se transforma em musica séculos mais tardes. 


Tendemos a olhar para isto como sendo três vidas diferentes, opostas e distintas: uma no oriente e duas no ocidente. Contudo, há algum lugar em nós e fora de nós, que alinhava essas histórias, tornando essas três vidas anteriores, em uma só. Não creio que o sentido da existência seja ser gênio, mas pelo que os artistas falam, seria manifestar você mesmo em plenitude. Parece que esta manifestação acontece quando a gente integra uma somatória de vivencias dispares, opostas e as integra em um momento, em uma vida. Vamos abrir a porta da ficção. 

 Poderíamos imaginar, como se fosse um roteiro de filme a ser rodado, que karma é a repetição de vidas, de cenas e de imagens até que façamos a integração. Assim quando o nosso musico integra essas três vidas a uma quarta, as outras três desaparecem, param de rodar, param de ser. Porque a idéia central é a de perceber que todas essas vidas estão vivendo agora de forma desarticulada e sem entendimento global das coisas. Por exemplo: nosso músico pode ter passado a encarnação inteira achando que o sentido dela como monge era alcançar a iluminação e ser Buda, ou enquanto beneditino era ser Papa, ou enquanto camponês, ser nobre. E ele fica nessa interpretação até que no século XVII, ele pega todo esse potencial de som, tempo e silencio e integra. Aquelas vidas passam a fazer parte de uma organização maior que se alinhava no novo sentido que ele deu. Subitamente aquelas vidas se iluminam, alcançam um grau de nobreza impensável para cada uma delas isoladamente. 


Avatar, reservada as devidas proporções brinca com isso. Brinca com um soldado paralitico da cintura para baixo, irmão gêmeo de um gênio, mas que morrera. Ele é aceito no projeto e antes de qualquer coisa é tido como burro, militar, seguidor irracional de ordens. 


O projeto é incrivelmente igual ao que vivenciamos no projeto Terra e relativamente similar ao projeto Nova terra. O ponto a ser destacado é o aspecto biotecnológico no qual possibilita a criação de corpos físicos, híbridos, fabricados laboratorialmente para uma melhor adaptação ao novo mundo a ser conquistado. Nesta relação cria-se ou estabelece-se um comando externo capaz de interagir diretamente com um corpo físico criado sem se esquecer da sua verdadeira realidade. Esse é o projeto ideal. 



No entanto, quando aquele soldado ferido fica de pé novamente, pode correr de novo, seu cérebro não diferencia do fato dele estar apenas movimentando um corpo fabricado, dele estar apenas vivendo uma ilusão. Ele fica em uma felicidade, quando, mesmo que dormindo, sonhando, consegue movimentar um corpo. Não importa se bonito, se feio, se grande, se magro, se negro, se branco, se vermelho, se amarelo, a alegria, o prazer em movimentar um corpo para ele é maravilhoso. Ele fica, na leitura tradicional que fazemos, preso e iludido nas teias de Maia. Mas será que isso é uma ilusão mesmo? 

Sem entrar no mérito, o filme de forma lúdica, abre campos de interpretações para o desdobramento astral, ou para algo muito maior. O de que de alguma maneira e forma aquilo seja a realidade de todos nós. Todos teríamos uma "mente" que plugaria nosso corpo e nos permitiria viver as experiências que vivemos. O que implica em sentir dor, sentir medo, amar, se apaixonar, sofrer, se trair, trair aos que você ama, perceber que o seu tempo interno alterou, antes o importante era conseguir duas pernas mecânicas e retornar à Terra e depois isso não importar mais e vc se sentir completo da forma que se é. 

O filme produz algo mais encantador e deslumbrante que é a demonstração de fusão e integração. Ele mostra as limitações de se viver "multidimensionalmente", de ter partes espalhadas pelo cosmos. Mostra as dificuldades em não se ter um corpo adaptado as intempéries do local. Mostra que a integração é difícil, mas é uma realidade possível. Escolher um corpo adaptado para vivenciar as habilidades do espírito. O projeto Pandora é a mais nova adaptação do projeto Terra, a saber, construir uma realidade na qual os seres possam e estejam integrados aos seus corpos. No nosso caso físico, fazer uso de um corpo biológico que possibilite a utilização plena dos conhecimentos do espírito. Realizar com o corpo físico o que se faz no astral com muita desenvoltura. 



De forma que quando vejo e escuto orientadores espirituais ensinando que o importante é a transcendência, que o obstáculo é o ego, que se deve perder o ego para ser melhor e coisas do gênero, sou tentado a acreditar que eles estão, cronologicamente, 300 anos atrasados. Desde o Iluminismo, no mínimo, a proposta é diferente, outra. Proposta que no final do século XIX começa a ser percebida, recebida, mas muito pouco compreendida, refiro-me as teorias eugênicas que redundariam na crença nazista de raça pura. 


De qualquer forma parece ser uma realidade possível.


Kélsen André

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O Haiti não é aqui

Assim destaca Eduardo Galeano:


Em 1803 os negros do Haiti deram uma tremenda sova nas tropas de Napoleão Bonaparte e a Europa jamais perdoou esta humilhação infligida à raça branca. O Haiti foi o primeiro país livre das Américas. Os Estados Unidos tinham conquistado antes a sua independência, mas meio milhão de escravos trabalhavam nas plantações de algodão e de tabaco. Jefferson, que era dono de escravos, dizia que todos os homens são iguais, mas também dizia que os negros foram, são e serão inferiores. A bandeira dos homens livres levantou-se sobre as ruínas. A terra haitiana fora devastada pela monocultura do açúcar e arrasada pelas calamidades da guerra contra a França, e um terço da população havia caído no combate. Então começou o bloqueio. A nação recém nascida foi condenada à solidão. Ninguém comprava do Haiti, ninguém vendia, ninguém reconhecia a nova nação.

O Haiti apoiou a liberdade e forneceu homens e armas para a luta pela independência da maioria dos países latinos americanos, em troca pediam apenas a liberdade dos negros escravizados. Estavam mais sintonizados aos ideais espirituais alardeados do que os franceses que já tinham vivido o Terror implantado por Robespierre e a expansão napoleônica e os americanos que como vimos na frase de Jefferson nem concebiam a possibilidade de libertação dos negros.

Papa doc "reativa" esse contato fundante do povo haitiano, invocando forças poderosas. Talvez ate forças opostas as que foram colocadas acima e que, provavelmente, auxiliaram na independência do Haiti. Sim, nesta época, enquanto Napoleão era temido em toda Europa, os haitianos expulsaram as tropas francesas do país. Para se ter noção do tamanho da façanha basta pensar que em 1808 a família real portuguesa estava fugindo das tropas napoleônicas para o Brasil. Antes disso toda a região das Antilhas abastecia o mercado internacional com as plantações de cana de açúcar, que tinham como oponentes apenas o Brasil. Eles herdaram então um poderio econômico fantástico, todavia sofreram os primeiros embargos da história da America latina.

Após a independência e ao longo de todo o século XIX, o Haiti aumentou a exploração de suas riquezas, mas esse processo lhe custou um grande endividamento externo, especialmente com capitais norte-americanos. Essa dependência cresceu até o momento em que os EUA, sob a justificativa do não-cumprimento dos contratos, invadiram o Haiti em 1915 e o transformaram em uma colônia até o ano de 1934. Era o Big Stick funcionando a todo vapor na América Latina.

Estes embargos foram repetidos agora no século XXI para derrubar Aristides e podemos dizer que o embargo só terminou agora quando o país mostrou os seus escombros e o que os assola a mais de 200 anos.


Fato é que Papa Doc se manteve tanto tempo no poder, primeiro, porque contava com a ajuda e os subsídios americanos para as suas atrocidades sociais. Segundo, porque contava com uma parte respeitosa de lideres vodus que lhe asseguravam o temor e o fervor necessário. E isso é louco. Parece ser um caso clássico de obsessão. Não por espíritos em si, mas por forças trevosas que impedem, ou tentam impedir quaisquer manifestação de luz, harmonia e amor em qualquer lugar do mundo.

Essas forças são estranhas, porque elas gerenciam o poder. Lidar com o poder político é em suma aceitar e compactuar com essas forças em maior ou menor grau. Elas pedem um controle que é realizado no nível da miséria, da carência, da falta, do medo, da mendicância e de tudo isso que faz com que o Haiti seja aqui também.

É uma energia que inviabiliza a expansão, a prosperidade. Essa força esta coligada com a corrupção. Ela pode ser vista e sentida nas faltas de saneamento, nos esgotos a céu aberto, nas adorações fanáticas seja por time de futebol, ou por Jesus Cristo é o senhor; enfim quaisquer manifestações que embotam e impedem as pessoas de perceberem a sua situação real. Essas forças dominam uma parte considerável do mundo e hoje se escondem e se revelam por trás dos tráficos de armas, drogas, animais, medicamentos e a rede pornográfica. Nenhum governo se opõe a estas forças, porque são eles que fazem a movimentação financeira e econômica do planeta. A pergunta obvia é: de quem você esta falando?

Estou falando dessa força sem nome, sem cor, sem direção, mas que esta em todas as partes, em todos os lugares. Não sei o nome delas, sei que elas atuam. Tinham e já tiveram mais alcance e potencia, mas continuam existindo. Parte da atividade dos trabalhadores da luz é auxiliar a neutralizar essas forças. Não de forma direta, indo lutar contra, se opor, mas apenas mostrando outras possibilidades.

Papa Doc parece ter sido apossado por essas forças. De forma geral, as pessoas a toleram, se entregam, fazem o que pode ser feito, mas ele parece ter se deixado ser instrumento dessas forças. É o caso de que o poder se faz maior que o humano e domina direta e indiretamente todos os que estão no seu entorno. Poucos alimentaram tanto a essas forças de maneira explicita como Papa Doc. Os outros as alimentam de forma implícita, velada e poucos são os que conseguem agir sem ser tragado por elas. Bush pai e filho foram os mestres desse jogo de luz e trevas, alimentaram e expandiram um mercado de paranóia, de dor, sofrimento, luto, como nunca. O interessante é que maniqueistamente somos conduzidos a acreditar do Ocidente para o Oriente, que os malvados ficaram sendo Sadan e Osama, o inverso é dito do Oriente para o Ocidente. O ponto de tensão é que todos são do mesmo time e atendem as mesmas forças.

Quando Papa doc morre, ele é sucedido pelo seu filho, Baby doc, com pleno apoio dos EUA e mantém uma relação mais amistosa com a igreja, que seu pai havia expulso do país. No entanto, mantém os mesmos níveis de insanidade e perseguição a tudo e todos que pensam e sejam diferentes. É imerso nesses ares de barbárie, no qual se matou toda e qualquer perspectiva de esperança, de possibilidades, tendo dizimado e explorado ao máximo uma nação inteira, ceifado-a, não apenas economicamente, mas animicamente. Um povo que perdeu as referências externas de cidadania, de gentileza, que não conseguiram nada a não ser pela violência. Mas não é a violência do tapa, do tiro esporádico. É a violência perversa de matar, arrancar a cabeça, beber o sangue da pessoa morta e coisas similares. É a violência a flor da pele, porque é a única linguagem institucionalizada haitiana. Desde a Independência na qual se matou todos os franceses da ilha, arrancando a cabeça, cortando pedaços e coisas do gênero que a pratica é repetida governo a governo. Toda oposição política, religiosa, social é tratada com morte e tortura. As predições de uma sociedade baseada na democracia, na cidadania não é um filtro construído. Sabe-se disso desde a manutenção e sustentação da familia Doc no poder pelos EUA. As cenas de barbárie que tem chocado o mundo são replays de tudo o que vem sendo feito desde 1990. Não há em absoluto nada diferente nos últimos 20 anos ou se preferirem 200 anos. É um país abandonado pela comunidade internacional, que permitiu, deliberadamente, que todas as atrocidades fossem cometidas em seu solo, inclusive com denuncias de testes de ataques viróticos na população. É essa comunidade internacional que financiou governos ditatoriais, deu asilo aos mesmos, recebeu suas fortunas roubadas do povo, que hoje se arvora a falar de civilização e barbárie.

Foi nessa atmosfera que apareceu Aristide.

Já na década de 1980, com a crise econômica e o empobrecimento da população, o regime de terror perdeu força, até que, em 1985, Baby-Doc fugiu num avião da Força Aérea Norte-Americana para um exílio na França. Entre 1985 e 1990, o Haiti procurou estabilizar sua situação política, mas uma sucessão de golpes militares impediu qualquer organização. Em 1990, Jean Bertrand Aristide foi eleito para governar o país, assumindo o posto em fevereiro de 1991. Sacerdote defensor da Teologia da Libertação, Aristide estabeleceu como eixos de seu governo o combate à corrupção e ao narcotráfico e a luta contra a pobreza. Mas, em poucos meses, seu governo sofreu um golpe, liderado pelo general Cedras. Aristide só conseguiu retornar ao poder em 1993, após longas negociações com o ditador, a Organização dos Estados Americanos — OEA — e a Organização das Nações Unidas — ONU. Os EUA lideraram um embargo comercial ao Haiti que acabou por desestruturar a economia do país, favorecendo o clima para golpes militares e a permanência de regimes de terror como aquele conhecido no período da família Duvalier (Papa-Doc e Baby-Doc).

Veja que Aristide teve a intenção de combater a corrupção, o narcotráfico e a pobreza. Foi deposto. A família Duvalier esteve no poder cometendo todo tipo de iniqüidade por 50 anos, Aristide não durou meses.

Os Estados Unidos invadiram o Haiti em 1915 e governaram o país até 1934. Retiram-se quando conseguiram os seus dois objetivos: cobrar as dívidas do City Bank e abolir o artigo constitucional que proibia vender plantações aos estrangeiros. Então Robert Lansing, secretário de Estado, justificou a longa e feroz ocupação militar explicando que a raça negra é incapaz de governar-se a si própria, que tem "uma tendência inerente à vida selvagem e uma incapacidade física de civilização". Um dos responsáveis da invasão, William Philips, havia incubado tempos antes a ideia sagaz: "Este é um povo inferior, incapaz de conservar a civilização que haviam deixado os franceses .
O Haiti não é aqui, mas esta em mim, em ti, em nós.

abraços em todos.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O Haiti é aqui

Salve a todos,

Desde o terremoto tenho lido muita coisa na internet sobre o Haiti, umas coerentes, outras nem tanto, mas as que mais têm me dado náuseas são as religiosas. O Haiti entra na minha esfera mental quando, creio que em 1992, Caetano e Gil, cantam este hino denuncia.

http://www.youtube.com/watch?v=M2mqbCNAugk&feature=related

Eu vou pegar carona no hit para ficar pensando uma série de coisas, de questões que foram levantadas, que foram abafadas na grande mídia. Nesta se da destaque as atividades sociais, aos salvamentos, as doações e as ações humanitárias. Na mídia on line, informal, o destaque é um informe religioso. Tentaremos unificar esses dois discursos em uma análise FiHOLOSofica.

Os informes religiosos têm em comum transformar a Bíblia em arma e Deus em carrasco, vingador, sanguinário que não pode tolerar, em absoluto, nenhuma manifestação religiosa contrária a que se interpretou no seu livro sagrado judaico-cristão, mais cristão do que judaico, se bem que... Todavia, eu queria retomar e pensar o Haiti no seu passado, antes do acontecido, antes desse momento desolador e aterrorizador. E o fato é que o Haiti encontra-se na situação de caos desde... desde.... desde que resolveu dar seu grito de independência contra a colonização francesa. Foi o primeiro país independente das Américas, para tanto fizeram nada mais e nada menos do que vencer o exercito de Napoleão Bonaparte em 1803.

De forma que minha tentativa será engendrar uma visão mais complexa, que enfoque a perspectiva energética dos problemas sociais, políticos, religiosos suscitados. Infelizmente, o raciocínio mais próximo dos campos energéticos que possuímos é o religioso e foi a partir dos comentários religiosos, que começaram as minhas perturbações, provocações e outros. Assim, ficarei falando de política e dessa relação espúria com a religião. Enfim, o que se denomina desde sempre de Poder.

I


O interessante desta oratória religiosa é que ela nos remete para um antigo presidente haitiano, François Duvalier o famoso e famigerado Papa doc. Médico, homem bom, tido para os camponeses como (papai doutor). Cuidava dos pobres, dos camponeses com zelo e afinco. Não sei por quais tramites chega à presidência e aí, consegue se tornar o ditador mais temido do mundo.

Ele re-estabelece uma relação direta entre o poder político e o poder religioso, fazendo uso dos Tonton Macoutes (bichos papões). Tudo o que você conseguir pensar, supor, imaginar de tortura, de loucura, de abuso de poder, de desrespeito a vida humana, eles cometeram. E aqui se refunda a liberdade haitiana, que foi conseguida, inclusive com um pacto que os lideres fizeram com as entidades espirituais do país, quando da Independência em 1803.

E esta é uma relação pouco visível, comentada, dita, falada, publicada e por isso aterrorizadora, mas está em toda parte- magia e política.

Antes de qualquer coisa o poder político é mágico. A função que a pessoa exerce tende a ficar maior do que a pessoa. Os escribas quando fazendo uso da pena capturavam a palavra escrita, na visão da maioria dos povos apreendiam a essência das coisas. Isso era mágico. Isso aferia poder. Blavastsky revela em seus livros um poder oculto do mundo, formado por mestres, que inspiram os governantes para um bom caminho (nem sempre alcançado). O ápice dessa integração-poder invisível e poder material- se deu nas revoluções iluministas do século XVIII: Revolução Francesa, Independência Americana, Conjuração Mineira, Conjuração Baiana, Independência Haitiana e outras. O comum em todas elas é a presença da maçonaria, nos tempos em que a maçonaria tinha iniciados comprometidos com a Igualdade, a Fraternidade e a Liberdade e não com o poder pura e simplesmente.

Essas articulações sempre buscaram um norte mais humano para os seres, mas sempre tiveram forças que se alimentam da opressão, da desigualdade, do fratricídio, das torturas. Um ponto energético dessas forças localiza-se na região do Haiti. Nada tem haver com o vodu e tem também. Pensando energeticamente é um erro chamar ali de ponto, porque é um processo energético de todo planeta, de cada ser vivente, pensante deste lado ou do outro. Ali na região do Haiti essas energias mundiais se acumulam, se avolumam e teve o desfecho que vimos. Mas para percebermos isso sem cairmos em dimensões de culpa, castigo, temos que perceber um pouco do desenrolar dessa história na sua dimensão político-econômica e logo após retornamos a uma visão energética, que faz com que o Haiti seja aqui, seja em mim.

bjs em todos.

Apresentação

Apresentação


Este espaço é a extensão visível de um blog que mantive oculto, quase que em segredo, desde 13 de fevereiro de 2008, a saber: Holos Consultoria FiHOLOSofica. Por diversos motivos e razoes, resolvi migrar para a estrutura bloguista trazendo o nome e a marca (FiHOLOSofia). Os motivos formam:

a) A agilidade maior do que a dos sites;

b) Os recursos melhores do que os e-mails;

c) A visibilidade mais ampla;

d) A busca de uma profissionalização, isto é, lidar com o que faço há anos de maneira mais midiática.

A proposta deste espaço é perceber a Filosofia como uma guardadora da idéia de integração. De maneira que Filosofia, Literatura, Cinema, Espiritualidade, Religião, Ciência irão compor este cenário, buscando uma integração inter e multidisciplinar entre si.

Se por aqui vocês encontrarão reflexões, provocações, no Holos Consultoria estaremos oferecendo nossos trabalhos, nossos recursos seja mediante cursos, oficinas, palestras, workshops. Em alguns outros blogs disponibilizaremos alguns livros psicografados, mas que não tem uma boa cara editorial para ser lançada no mercado formal. Firma-se também que este blog é parceiro, irmão do Cri-Arte, uma outra marca pela qual temos grande carinho, amor, simpatia, admiração e respeito. Diga-se de passagem, que não é apenas pela marca, como também pela idealizadora.

Assim, este é um espaço de divulgação de idéias, de cenários que ficaram restritas a um pequeno grupo e agora estamos abrindo para um universo maior.

Bjs em todos. Kélsen A.