quarta-feira, 16 de outubro de 2024

É ASSIM QUE ACABA: Colocando fim para se chegar a novos inícios.

 

           

O filme tem muitos contornos, pontos de entrada e chaves de leitura. Eu vou explorar apenas dois: o amor e o abuso.

Ao abordar o amor e o abuso estarei discutindo o ciúme, a posse, a confiança, a entrega e a dificuldade de tudo isso nas relações sejam elas tóxicas ou não. De modo geral, renuncia-se muito do que se deseja, do que se é para estar em uma relação, para estar na sociedade. 

Hoje, mais cedo, sondava uma Moça Bonita sobre o ciúme. A sondava para que ela me trouxesse um pouco do olhar dela para a questão e sobretudo da leveza com que realizou o seu processo, a sua travessia do ciúme até o (si) acolher. Estabeleci o diálogo com ela tendo como pano de fundo  duas partilhantes que tenho a honra de atender. Uma que vivencia a pressão e a opressão que o ciúme coloca sobre ela mesma. Outrx que vivencia o poliamor e uma forma bem soltx de lidar com o outrx e as relações. 

Na prosa, Moça Bonita nos trouxe o ciúme como sendo aquilo no qual nos apegamos, nos prendemos, mas quase nunca é a coisa mesma. Tende a ser mais a representação de uma falta, de um buraco, de uma coisa, um verniz que camufla a coisa mesma.  Enfim...



“É ASSIM QUE ACABA” é um filme despretensioso, corajoso, sensível, que toca o ciclo e reprodução da violência nas direções e múltiplas camadas dxs abusadxs e dxs abusadorxs.

O filme consegue tocar as questões sem culpabilizar vítimas e/ou desumanizar abusadores. Sim, abusadores são humanos, alguns desenvolvem uma forma trágica, torpe de desumanizarem a outra pessoa para sentirem prazer, controle, poder. Mas, reputo importante tratarmos isso dentro da ordem do humano. Sem criarmos subterfúgios e alegações de estarem possuídos, de serem demoníacos; não- eles são humanos, demasiadamente humanos, parafraseando o filósofo. 

O filme de uma maneira muito sensível aponta para a complexidade do problema. 

E, qual é o problema?

O ciúme? A posse? O abuso? A ligação tóxica que esses vínculos estabelecem? Os padrões que são reproduzidos ‘anatematizadamente’ sem percepção dos envolvidos? Tudo isso junto? Afinal, qual é o problema? 

II

 

O filme apresenta como personagem principal uma jovem bela e sensível. Certo dia, essa jovem percebe um rapaz que vive em uma casa abandonada em frente à sua janela. Ele é colega de escola dela e senta algumas poltronas atrás no transporte escolar. Ao vê-lo revirando o lixo em busca de restos, ela, de forma quase despretensiosa, pega comida de sua própria casa, coloca em duas sacolas e as deixa onde ele possa pegar sem ser notada.

Na manhã seguinte, eles trocam algumas palavras, e a distância entre os assentos no ônibus começa a diminuir. A amizade entre eles se fortalece. O rapaz compartilha que sua mãe, vítima de violência doméstica, o expulsou de casa após ele tentar defendê-la. Em uma cena posterior, os dois conversam sobre as agressões que a mãe da jovem também sofria do pai. Eles se abraçam, e o vínculo entre eles aprofunda-se.

O tempo passa. Anos depois, a jovem, agora em Boston, está sentada em uma varanda quando escuta um homem chutando cadeiras. Ao perceber sua presença, ele se acalma. Eles conversam, flertam, quase se beijam, mas ele é chamado para uma cirurgia de emergência.

No denrolar do filme, ela se apaixona. Eles se apaixonam. Declaram que si amam. O cara é legal, interessante, apaixonável. (Não tem nada nele que o desabone, pelo contrário. É a parte de humanização dos personagens. Meio "Somos quem podemos ser!"). E, então quando ambos estão enamorados um pelo outro, ela reencontra o seu 1º amor. E aqui temos os primeiros volteios, que uso para trazer algumas digressões.

III

Tenho atendido um partilhante que vivencia o poliamor. Em uma das nossas conversas, ele mostrava como que todo o drama que a literatura, o cinema explora e se sustenta perde a densidade quando se tira a questão da monogamia, rsrsrs. Nunca tinha pensando na questão tendo a monogamia como foco, mas nunca deixei de pensar nestas questões no que tange a liberdade. Afinal: por que alguém não pode amar duas pessoas ao mesmo tempo? Por que pressionamos a pessoa para escolher apenas uma? Por que não podemos conviver com a possibilidade de a pessoa viver com os dois amores ao mesmo tempo? Por que temos que dar ao amor essa carga de tensão, sofrimento, dor e renúncia?

O filme não explora essa dimensão, nem carece. Aqui são devaneios filosóficos existenciais. No entanto, o filme explora com maestria os padrões de repetição de agressão, de violência, de desculpas, mas sobretudo de interrupção do padrão. E isso amplia a beleza do filme. Volto a ele.  

IV

O filme consegue tocar um tema muito sensível que é o da violência contra a mulher, mas aborda sem condenações e julgamentos. Aborda mostrando o horror e a paralisia da mulher que viu a cena acontecendo com a mãe e jurou que jamais permitiria que acontecesse com ela. Até ela se encontrar naquela situação. Qual situação?

Ela escolheu um cara amoroso, bonito, apaixonado, sincero. Como ela não viu? 

O cara a ama; a ama mesmo, de verdade, sem ilusão e sem mascara. Todavia, esse amor a agride, a machuca, a manipula, a diminui, a desencanta. E, por qual motivo, ela simplesmente não vai embora? Não sai fora? 

Simplesmente, pq isso não é claro e evidente quando estamos dentro. Quando estamos vivenciando. O diretor consegue nos manipular nessa distorção, ilusão do olhar da atriz e da manipulação do moço. Achamos que todas agressões de fato fora acidente. Somente o antigo namorado dela sabe o que está acontecendo, nos alerta, mas a gente o vê como um destemperado, por agredir o marido dela assim. Interpretamos como sendo uma cena de ciúmes, de rivalidade. Poderíamos colocar atenção ao pedido do marido a esposa: com qualquer um menos com ele! Mas, no contexto apresentado a frase também ganha a dimensão amorosa.  

As narrativas, os relatos diante de provas, evidências e acontecimentos ganham outros endereçamentos. Só sabemos o que acontece pela ótica dela e na ótica dela nenhuma agressão, violência está acontecendo. É a complexidade do existir que o filme adentra com muita elegância, com muita finesse, com muita sutileza na violência domestica. Uma violência que a vítima demora a perceber, compreender, nomear e mais tempo ainda para posicionar, procurar ajuda. E, mais tempo ainda para romper, separar, terminar. 

De modo que o diretor toca a questão com uma sutileza tão profunda que nos permite abordar o tema sem construir a visão do monstro. Possibilita ela olhar para o pai, um agressor e entender que o amou e o odiou. Possibilita ela olhar para mãe e pergunta-la, pq vc ficou com ele? E em mais uma verdade nua e crua, ela dar a resposta. Ela amava o pai dela e não tinha condições econômicas, financeiras, estruturais para romper. 

A resposta da mãe possibilita sobretudo, ela grávida, se afastar do marido agressor, ir aos poucos reestabelecendo contato, falar para a cunhada, sua melhor amiga o que estava vivenciando na relação e NINGUÉM sabia. Essa é a parte mais ferrada da agressão e ganha ares de toxidade.


A toxicidade não está na agressão física em si, porque essa é vista, percebida, pela própria pessoa. Fica registrada no corpo de delito. A perversidade vem quando o agressor convence a vítima de que não houve a agressão mesmo, ou que dói mais nele do que nela, ou que o que aconteceu, não está acontecendo, ela é louca, doida, está inventando, criando, fantasiando e isso sim é motivo para ela ser novamente agredida. É no ferrar o psicológico dx outrx que reside a crueldade da violência. E, estamos quase chegando ao problema. Mas, antes um outro mergulho. 

 

Uma cena impactante se dá no parto. A moça faz a maior homenagem que o agressor já recebeu na vida. Dá o nome da filha deles do irmão que ele matou em um disparo acidental na infância. É diante dessa emoção dupla, o nascimento e o nome da filha, que a personagem principal, consegue realizar um processo de compreensão, impossível até então. Uma compreensão que ela provoca, justamente após pedir o divórcio. 

O agressor tomado por uma emoção, com a filha nos braços, fala que vai protegê-la. Mas, é uma proteção raivosa, furiosa. Uma proteção mutiladora, castradora similar a que o pai dela fez com ela. Ela reconheceu a fala, o olhar. Ela não poderia permitir que isso perpetuasse. 

E a beleza do filme está em explorar essas reproduções sem desumanizar o outro. Sem re-criar padrões. Seguindo o estereótipo vinculado e utilizado o violento, o abusador deveria ser o cara que levava surra dos namorados da mãe, mas ele pelo contrário, faz de tudo para não ocupar esse lugar. 

O abusador vem de uma família na qual esse tipo de padrão não estava lá. De um cara que é apaixonado pela irmã 11 meses mais nova. Esse cara que nunca conseguiu estabelecer vinculo duradouro com nenhuma mulher. Vem do cara que não sabe o que fazer na possibilidade de perder a pessoa que ama. Aqui a trama nos leva a camadas e ligações insinuantes, interessantes, mas que não temos como saber sem investigar. Faço a ligação de forma tosca e superficial, embora parece evidente que o ciúme doentio do marido relaciona-se ao temor de perder o ser que ama tal qual aconteceu com a morte do seu irmão. Em algum lugar parece que houve uma sobreposição entre amor-perda que o transfigura, o remodela, desperta nele um lado que ele não conhecia, não  tinha e se manifesta nas pessoas que ele mais ama: a esposa e a filha. 

A filha recém nascida, a separação, o amor, cura a relação. Cura ambos. Horas de vida e a criança está promovendo um processo de cura em toda ancestralidade. A do pai que tendo tirado uma vida, concebe outra que honra a memória do seu irmão. A da mãe que consegue listar características positivas do pai e apresentar a neta, ainda que fosse na sepultura do pai. Consegue sobretudo levar o agressor a responder o que ele faria caso a filha se apaixonasse por um homem que a agredisse? 

 Ele responde que pediria distância, mas ele mentiu. Ele mataria o cara. Não teria nenhuma possibilidade fora da morte. Mas, então, pq ele fazia isso com a filha de alguém? 

Ele não consegue explicar, nem controlar, nem parar. Na ameaça da perda, ele agrediria, mataria. Na lógica do ciúme é melhor matar do que dividir. Mesmo porque a separação, a existência longe delx já é uma morte. 



É assim que acaba tem camadas de términos, de fins que são difíceis de lidarmos. Denotam tempos que não passam, que não terminam, que permanecem. 

Vários fins e reinícios brotam do filme, num ciclo natural, similar ao das plantas, ao da vida, ao dos jardins. 

A relação da personagem central com o garoto da casa abandonada parece que termina, mas tem reencontros, reviravoltas. O filme brinca com as situações nas quais parece que tudo está bem até que irrompe a percepção do inusitado, do que não temos controle. 

Um dia depois de uma transa, o pai da moça, os surpreendem na cama. Ele surra o garoto. Ele sai da casa dela na ambulância. Aparentemente nunca mais se veem. ACABOU? 

Não! Ela se muda para Boston, cidade natal do garoto espancado pelos namorados da mãe e agora espancado pelo pai da namorada. Um dia num terraço encontra aquele que se tornaria o seu primeiro marido. E, o casal numa visita da mãe a cidade jantam num restaurante cujo proprietário é justamente o ex namorado que nunca mais se viram. ACABOU? 

Aparentemente sim, mas ainda não é o fim.


Numa revista que escolhe os melhores points da cidade, o marido descobre que a tatuagem na parte do corpo da esposa que ele mais amava, era o símbolo de um carvalho que o namorado da juventude havia talhado para ela. A parte mais bela dela, era justamente a parte que ela tinha tatuado, esculpido o outro em si mesma. Como não odiar? Como não enfurecer? Ou revisitando: por que odiamos o amor? Por que nos enfurecemos em saber que alguém que amamos ama outrx? Nós precisamos sair desse paradoxo. Parece que essa raiva, essa negação, essa cegueira ao amor nos deixa menores, mais feios. Desperta o pior em cada um e de cada um. 

É tomado por uma fúria, um ódio, um ciúme o marido dela quase a estupra e ela apavorada corre, foge. Ela numa sobreposição fica paralisada. Relembra o pai fazendo o mesmo com a mãe também no sofá. Só que daquela feita, ela estava vendo a cena de fora, meio que por sobre ambos que se encontravam deitados. Dessa vez, ela estava deitada, impotente, sob um corpo raivoso, furioso, que só encontrava alívio para sua dor, agredindo. Infligindo dor a pessoa que ele mais ama. Ele a morde no lugar exato da tatuagem. Como querendo arrancar o outro de dentro dela. 


A insanidade da cena. É que ela ama os dois. Mas, essa divisão para o agressor era intolerável, insuportável. Era preferido matá-la a dividi-la. E, aqui respondemos diretamente ao problema. 

Nossa forma de amar é possessiva demais. E, é preciso um tônus de liberdade, autonomia para quebrarmos os padrões, ciclos, repetições de agressões, violências, abusos. É necessário flertarmos com a liberdade para que cada uma, cada um consiga se movimentar para longe da fúria possessiva do outrx. Precisamos ampliar a liberdade para acolhermos o amor. Construir outras relações nas quais o amor não fique restrito e reduzido a posse, ao medo, a perda, ao abandono. Amor pode estar mais perto da autonomia, da liberdade, da escolha, da vontade de ser e estar consigo, com outrx, com outrxs. 

A personagem central escolheu estar consigo mesma, com a filha, num ato de amor que traz a liberdade, a emancipação, as possibilidades como pano de fundo. 

Parece que é assim que acaba, mas ainda não é.

Acaba da forma mais linda e bela. Acaba com ela pegando a filha no braço, pedindo a separação, reconhecendo o amor que sente pelo agressor, reconhecendo que a filha é deles, mas sobretudo colocando fim a um ciclo de abusos, de violência, de agressões. 

O fim é um novo ciclo, uma nova poda, um novo recomeço. O fim é o surgimento de uma narrativa que para além de crucificar mocinhas e bandidos quebra o ciclo de repetições, padronizações. 

Se tornou quase filme obrigatório para pensarmos ciclos de violência sem revitimizar a pessoa.  



terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

O BALDE: UMA METÁFORA PARA NOSSOS DRAMAS E TRANSFORMAÇÕES.




Começo com o poema de Gilberto Gil, denominado Metáfora:

Uma lata existe para conter algo
Mas quando o poeta diz: lata
Pode estar querendo dizer o incontível

Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: meta
Pode estar querendo dizer o inatingível

Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudo, nada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha a caber o incabível

Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora

Uma lata existe para conter algo
Mas quando o poeta diz: lata
Pode estar querendo dizer o incontível

Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: meta
Pode estar querendo dizer o inatingível

Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudo, nada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha a caber o incabível

Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora

 

A partir do poema fica mais tranquilo retornarmos os conteúdos do balde que cada um de nós colocamos.


O Balde é uma metáfora para muitas coisas. Serve de expressão a outras inúmeras: fulano chutou o balde! A vaca deu 20 litros de leite e um coice no balde. O balde por vezes dialoga com o saco cheio, algo que esgota a paciência e de repente transborda. 

Nós nos valemos de uma cena vivenciada por uma partilhante que num ritual de Consagração da Ayahuasca nos contava semanas depois, uma cena em que um cuidador passava para limpar o balde dela. Foi o suficiente para ela se agarrar ao balde e vivenciar uma situação altamente ilustrativa que nos serviu de mote para discutirmos algumas questões desse psíquico que transborda, que comunica. Nas reflexões que ela fazia, ela percebeu o se agarrar ao balde como sendo uma dificuldade de largar seus conteúdos, no caso, cuspe, vômitos.


Ela foi explorando como que precisamos de um balde para chamar de nosso e assim dramatizarmos, vitimizarmos, manipularmos,

chantagearmos os outros, a vida, a nós mesmos.

É nesse sentido que produzo o vídeo: qual é o seu drama? Qual é o seu balde?


No final, mas não por último deixo o link do vídeo para verem no canal do Youtube.



terça-feira, 26 de dezembro de 2023

2024: O EQUÍLIBRIO DINÂMICO

 

Gosto de dar nome para os anos e suas vibrações. Depois que os amigos me ajudaram a compreender 2024 acabei o denominando de EQUILÍBRIO DINÂMICO e neste post tentaremos mostrar o pq.

 

Como a maioria já sabe, 2024 é um ano 8. Número relacionado ao poder, a justiça, ao controle, a organização. Características que estarão no ar. Não obstante, o 8 de 2024 vem tanto da soma 2 + 2 + 4, quanto e especialmente e magicamente da soma 20 + 24 = 44/8.

O bonito desta somatória é tanto o espelhamento que adentramos a partir de dois mil e vinte 20 20, quanto desse espelhamento via número mestre 44. Entendam por espelhamento a ideia mesmo de um espelho na frente do outro e os desdobramentos mágicos, ilusórios, sobrepostos que essas imagens produzem.

É assim 2020 nos lança a um espelhamento que vai se desdobrando, mas que se mantem com outras variações. 2024 guarda, tacitamente, o espelhamento 44.

O espelhamento de 2020 acirra as dicotomias, as disputas, os contrastes tendo como mote enquadramentos, encaixotamentos em busca de certezas e estruturações (4). Há desejos de se compreender a base da realidade, mas quanto mais se busca essa fundamentação, mais espelhos, reflexos, ilusões são criadas e construídos.


 

Nesse ano universal 8 destaco a importância de compreender dois pontos opostos e complementares que acabam sendo respaldados e clarificados pelos trânsitos astrológicos e o orixá regente do ano.

A saber, em 2024 teremos a entrada permanente de Plutão em Aquário por 20 anos. Trânsito que esteve presente na humanidade nas revoluções francesa, americana, conjuração mineira e diversos outros processos de emancipação dos sujeitos a um grau e entendimento de liberdade, igualdade, fraternidade é direito universal e não privilégio de alguns. Esse trânsito dará o tom e reflete em muito o ponto de catalisação para entrada na era de Aquário. Os outros dois trânsitos são Júpiter em Touro e depois em Gêmeos e Júpiter em Peixes.

Elucidando um pouco mais:

A vibração 8 evoca controle, poder. Esse 8 de um lado vem desse 4 4 (espelhamento) nos trazendo em direção a base, a solidez, a estrutura, implicando em desejo de posse, manutenção, conservadorismo podendo chegar a reacionarismos. Estas características podem relacionar tanto a touro quanto com aspectos de Saturno.

No entanto, embora isso reflita características tácitas do 8, não podemos perder de vista a parte dinâmica, fluida, serpentina de se chegar e obter esse controle. Movimentos dinâmicos que relacionam com Plutão, Júpiter. Relaciona-se a capacidade de sacudir, expandir, retirar as pessoas, as coisas, as situações do repouso, da estagnação em certa medida até mesmo em acelerar, revolucionar a inércia. Em outros termos flertaremos entre aquilo que desejamos manter e as mudanças e transformações que realizaremos e/ou que serão realizadas a revelia da nossa vontade e querer.


Os trânsitos dialogam com a dinâmica de resistir e mudar, preservar x transformar, mas deixando claro e certo que Plutão em Aquário ira promover um novo entendimento e significado de coletivo, um novo entendimento de individuo e individualidade.

É na tensão indivíduo-coletivo e/ou coletivo x indivíduo que o entendimento via tradições primitivas pode auxiliar, demasiadamente. Nestas matrizes o indivíduo é a tribo, a aldeia. Os dois se misturam, se fundem, se com-fundem, se interrelacionam, mas são ao mesmo tempo 1 e todo(s). Esse entendimento para nós que nos valemos de uma estrutura mais cartesiana de eu/ego é muito difícil de compreender e dimensionar. Mas, todo o trânsito de Plutão em Aquário revela essa tentativa de transitarmos, de sairmos do eu e compreendermos o nós.

A entrada de Plutão em Aquário é um catalisador desse entendimento que temos sido preparados há milênios e a maioria de nós escolheu estar aqui nessa transição. Uma transição que acontecerá seja por via consciente, atenta, respeitosa, ou a despeito do nosso querer, da nossa vontade, dilacerando nosso pseudo controle e posses.

É nesse sentido que trazemos Obaluae e a dimensão espiritual desse entendimento.

Em parte, essa compreensão espiritual pode ser alcançada quando subimos algumas oitavas (2³), que acabam indicando a capacidade de acessarmos potenciais mais elevados e compreensões mais refinadas a partir do cotidiano mais ordinário.  

Obaluae como médico dos orixás, senhor da cura e das doenças simboliza essa vida-morte, essa doença-cura; esse imponderável diante do inusitado que quebra as tentativas de controle mediante o medo e a paralisia.

 

Finalizando, seja pelo viés numerológico, astrológico ou do candomblé há um EQUILIBRIO DINÂMICO que todos seremos convidados a exercer. O que me traz a imagem do aprender a andar de bicicleta. Nada dificulta mais o equilíbrio do que a imobilidade. Por mais insano que pareça, a melhor forma de se equilibrar é em movimento. E é esse o equilíbrio dinâmico. Nossos medos, nossas posses, nossos controles serão mexidos, aqueles que tentarem se agarrar a eles ficarão paralisados e consumidos. Nossa melhor alternativa é cada um ao seu ritmo, ao seu modo, no seu processo, pedalar.

Um Feliz 2024 a todos nós. 

Para consultas entre em contato:

e-mail: kelsenfilos@yahoo.com.br



quarta-feira, 31 de maio de 2023

COMO FICAR RICO OU MELHOR- QUAL É A SUA VIDA RICA?

 

  

O título não é bom. Na verdade, é bom para quem gosta dessa temática e aposta no non sense dessas práticas que são uma febre na internet. Numa busca rápida pela busca do trailer do documentário voltaram centenas de pessoas mostrando, ensinando, explicando como ficar ricas. 99,8% mostrando como ficar rico num entendimento precário, escasso, mesquinho, torpe, vil, isto é, reduzir a riqueza a ficar milionário.

A proposta do analista financeiro Ramit Sethi é diferente. Ele alarga o conceito de riqueza, ou melhor, ele ao singularizar o conceito de riqueza a expande, a universaliza, a amplia, a retira da miserabilidade com a qual ela é pensada, justamente, para concentrar renda, criando grupos seletos de colecionadores de dinheiro (Ferrez) e dos explorados.

Ramit nos ensina a valorizar nosso trabalho e a partir dele compreendermos a nossa saúde financeira. Na verdade, Ramit adentra um campo existencial, terapêutico que poucos se atrevem a olhar, a entrar, a debater seja como terapeuta, seja como partilhantes. Sem colocarmos atenção nesse campo nos permitirmos sermos movidos por instintos, desejos, que herdamos, recebemos, compramos, vivenciamos, mas que não nos são escolhas conscientes e atentas.

Quem está no consultório tem recebido cada vez mais pessoas com compulsão por compras. E quem lida nos atendimentos energéticos e espirituais sabe como as dívidas, a questão financeira, econômica é o motivo da busca de mais de 80% dos homens.

Muitas mulheres sentem a relação no emocional e muitos homens no financeiro. Uma das intercessões de mundo dos casais é o sexual. Enquanto muitas mulheres desenvolvem a compulsão por compras para saciar uma falta amorosa, um problema na relação, maioria dos homens desenvolvem a impotência quando o financeiro é afetado.

No sexual os casais encontram um termômetro, um parâmetro de avaliação de como as coisas estão entre ambos: quente, frio, próximo, distante? Íntimo?

Interliguei todos esses campos, porque ele é casa de Esú. Os Esus na Umbanda lidam, trabalham, movimentam, justamente esse tema do maldito, do tabu, do não observado, falado, comentado: sexo, dinheiro para ficar nos dois.

Os pastores evangélicos da antiga também adentravam essa temática, hj os pastores se voltam também, mas numa roupagem à teologia da prosperidade que é o anti-Jesus. De modo geral, poucos toca o tema, ninguém fala do assunto. Como transamos, o que fazemos, o que gostamos, essa casa do prazer é um segredo que muitas vezes fica restrito a própria intimidade ou a confissão. Fala-se disso a padres, a entidades, as vezes para alguns terapeutas. No mais reina o silêncio.

O documentário é muito ilustrativo. Quando consegui superar meus preconceitos e cliquei no vídeo, logo de cara aparecia um casal no qual o cara tinha deixado o emprego para ficar tomando conta das filhas. A mulher era a chefa da casa e controlava o dinheiro nos mesmos moldes dos chefões e o cara trazia nas suas falas as queixas que ouvimos nas mulheres: o não reconhecimento do trabalho doméstico, a dependência econômica, o sacrifício de ter aberto mão da carreira. 

A esposa que faz 4 dígitos por mês, trabalha fora enquanto o marido, engenheiro fica em casa cuidando das crianças e reclama da forma com que é tratado por ela. Aquilo subverte toda concepção tradicional elaborada. Estampa-se de forma clara e definitiva como o poder econômico oprime. Mas, não é essa análise que me interessa. O maravilhoso é ela dizer que mesmo ele sendo o pai de dois filhos dela, ela o amar, ela NÃO CONFIA NELE no quesito dinheiro.

 


Isso me fez ver a série e indicar para muitas partilhantes. Assista e vamos prosear em seguida. 

E ver as dinâmicas dos casais nesse enriquecimento é muito interessante. Observar a dinâmica com o dinheiro dos solteiros é sensacional. E o documentário nos proporciona uma visão clara, direta, intimista, subjetiva, de que não estamos falando só de dinheiro. Os gastos, as compras, a poupança, a forma de lidar com o dinheiro reflete mais do que aparece. 

Indo em direção ao outro casal, a esposa explana a mesma queixa, a mesma desconfiança, no caso de terem uma conta conjunta. 

A medida que o documentário vai desenvolvendo vamos vendo as feridas de cada um. Como que a forma com a qual fomos criados define a maneira com que vemos e lidamos com o dinheiro.

A moça que faz 4 dígitos e não confia no marido explica como é ser filha de mãe solteira, as exigências feitas por ela e a gravação implícita de que ela não pode CONFIAR nos homens. Essa gravação ecoa na relação dela. A autonomia financeira que ela desenvolve é ao mesmo tempo uma couraça, uma proteção para não depender de ninguém, de nenhum homem.  

O outro marido, cuja esposa descarta completamente a conta conjunta, explica que foi criado numa família pobre. Via os colegas tendo tênis, calças jeans e outros e ele não podia. Hoje, ele gasta todo o dinheiro com isso, jogos de videogame e outros produtos que ele compra sem saber o motivo.

O documentário é muito mais do que análise financeira. A análise financeira é uma porta de acesso a saúde econômica. Uma saúde que é vislumbrada a partir de duas perguntas lindas:  

primeira- qual é a sua vida rica? 

segunda- qual é a sua psicologia do dinheiro? 


A primeira quebra essa visão capenga, universal, grotesca de que e na qual ser rico é ter um milhão de dólares. Pode ser, mas há pessoas que tem dez milhões e são pobres, miseráveis.

Então, qual é o seu modelo de riqueza? Singularizar essa pergunta é o diferencial de Ramit que o torna um best-seller.

Enquanto casal, qual é o nosso modelo de riqueza? O que é ser rico para nós? Responder essa pergunta, dialogar com essas questões nos aproxima da nossa vida rica. Na verdade, nos aproxima daquilo que nos mobiliza a trabalhar. 

A segunda agudiza a primeira. E me levou a entrada muito profunda, que me trouxe a associação com Esú. Eles sempre nos falam, nos mostram, nos apontam essa dinâmica, mas perceber o quanto o dinheiro está incrustado e em diálogo com a nossa forma de ver o mundo, de pensar o mundo, em especial, com a nossa fragilidade tocou pontos mais fortes.

O documentário vale a pena ser visto.



sexta-feira, 28 de outubro de 2022

MANIFESTO PELA DEMOCRACIA.

 

O Manifesto nasce de uma supervisão na qual a pessoa estava muito incomodada, a ponto de pensar em terminar a Filosofia Clínica.

A pessoa tinha visto, lido, manifestações de várias entidades terapêuticas- psicanalistas, gestaltistas, junguianos, reichianos, terapeutas holísticos e sentia falta de um pronunciamento nosso.

Expliquei que a FC não é partidária. Não temos ainda coletivamente uma consolidação estatutária para referendar um apoio, porque há FilCl com as mais diversas orientações e é nosso dever acolher as pessoas. No entanto, INDIVIDUALMENTE, muitos colegas se manifestam e passei nomes a ela.

Foi então que surgiu a ideia de reunirmos esses indivíduos que tem como intercessão a FC e fazermos um manifesto COLETIVO. Não o coletivo em nome de uma instituição, em nome da FC. Mas, como expressão nossa, do nosso lugar e das nossas representações.

Segue o documento:

NÓS Filósofos(as) Clínicos(as), especialistas e estudantes de Filosofia Clínica, viemos tornar público nosso apoio à Frente Ampla Democrática explicitada na figura do candidato à presidência da República Luís Inácio LULA da Silva. O apoio à candidatura de Lula, para nós, visa a restauração do Estado Democrático de Direito e a valorização da vida humana em todas as suas dimensões físicas, econômicas, psíquicas, mentais, sociais e espirituais. Preservando a pluralidade de pensamento e a singularidade existencial dos seres.


Subscrevem esse documento:

Ana Rita de Calazans Perine/RS

Ana Cauduro/SP

Angelo Ricardo de Almeida Guarnieri/SP

Barbara Martins/SP

Aparecida Carmem de Oliveira/MG

Andrea Boari/MG

Bernadete Rabelo/CE

Bob dos Anjos/SP

Carlos Eduardo S. Nascimento/GO

Cláudio Fernandes/SP

Denise Bueno da Fonseca/DF

Dilma Maria Pinto Fonseca/MG

Dora Regina Seben de Siqueira/RS

Élcio Joél Pastorio/RS

Elizabeth Matos dos Santos/SE

Everson Taco/SP

Francisca Rodrigues Carvalho/CE

Gabriel Oliveira/SP

Gláucia Tittanegro/SP

Iêda Batista de Jesus/BA

José Roberto Duarte Moraes/MG

Josue/SC

Julice Monte Blanco/RS

Kelsen Santos/MG

Lenita de Almeida/MS

Luciano Ribeiro/RS

Luiz Karol/RJ

Luiz Cezar/MG

Márcia de Paula/SP

Maria Bernadette Rabelo/CE

Marta Batalini/MG

Márcio José/SP

Nerjana Zorzetti/GO

Paula Prizo/RJ

Paulo Roberto Grandisolli/SP

Regina Célia Medeiros/MG

Rochelle Garcia/CE

Sedinei Lemes/SC

Sueli Calvet/SP

Taís Fiscina de Oliveira/SE

Tiago Thiago/MG

Valéria Sayão/RJ

Veronica Ferreira de Souza/CE


Se você sentiu contemplado(a) com esse manifesto e queira participar envie seu nome para o Zap (31)982262211.

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

ELEIÇÃO É GUERRA? VALE TUDO NO AMOR E NA GUERRA? HÁ LIMITES?

 

Dia 20/10/22 pelo final da manhã, eu vi em muitos canais, a dita retratação de um desviado, de um falso profeta, de um canalha. Tudo muito estranho. Estive meses atrás falando sobre o Background e como se faz, claramente, visível a percepção de uma coisa que está dizendo outra.

O fundo preto, a cara de deboche, as frases negativas ecoadas como reverberando uma mentira. Pensei comigo e não postei para os grupos: “ele não está fazendo retratação e sim propagação”.

 

A noite chega e os meios de comunicação trazem a notícia de que o infame não recebeu nenhuma intimação. Não estamos falando de uma pessoa cujas inverdades chegam no máximo a trinta pessoas. Estamos falando de um mercador que transforma o altar da casa do Pai em palanque, ora de show, ora político, invariavelmente de comércio e IDOLATRIA.

 

Isso me faz pensar: até onde podemos ir para vencer e ganhar? Há limites em nossa sede por vitória? Quando lutamos em nome de um time, um partido, um clube, uma família, uma divindade (Deus, Alá, Oxalá, Buda) podemos agir fazendo o que queremos? Do jeito que acharmos melhor?

Claramente que não. Nem nos esportes individuais essa prerrogativa é válida. Nos coletivos há um time, uma equipe, há uma elaboração conjunta. Na família, na sociedade, na Igreja, Terreiro, Templo menos ainda. Nesses espaços religiosos a vontade individual é claramente renunciada para que a vontade divina se faça. “Não mais a minha vontade, mas que a sua seja feita!” Esse ato de entrega, de renúncia, de submissão é o sentido da graça, da fé, da vida religiosa. Quando adentro esse caminho e percorro essa jornada morro para o mundo e renasço para uma nova vida. Esses são preceitos crísticos encontrados em todos os ritos de passagem religioso.

Destaco e reforço isso para deixar claro que estou horrorizado, estupefato com o que vejo, leio, escuto. Há limites! Limites que sempre nos forçam a preservar a honra, a dignidade, a integridade, seja nossa, do outro e da divindade que dizemos servir. (Lucas capítulo 22 versículos 42). 

Igualmente, óbvio, que em uma disputa, ninguém quer perder, cada equipe, jogador, faz de tudo para vencer. De tudo? 

Há uma máxima que dizia que no amor e na guerra vale tudo! Vale mesmo? Pode um atleta em nome da conquista desprezar as regras do jogo? Pode um fiel em nome de Deus violar os princípios básicos de Jesus, Alá, Buda, Olorum? Pode o soldado em nome da pátria vilipendiar a pessoa humana? Absolutamente, não. 

Disputas tem regras. Guerras tem regras. No Vale Tudo, hoje UFC, passou-se a ter regras. Isso é o básico da civilidade para lidar com nossos impulsos animais. Impulsos necessários, essenciais. No entanto, eles precisam ser regulados entre os jogadores. Regulação que pede um aviso prévio ao adversário, por exemplo, que doravante, ele será tratado como inimigo. Guerras precisam ser formalmente declaradas para dar condições básicas e mínimas do oponente se defender. Defender-se valendo-se de todas as armas e meios? Novamente, acreditamos que não. O amante não tem direito a matar, violar, abusar por amor. A guerra e o amor exigem respectivamente compartilhamento e consentimento, isto é, declaração. Precisa-se declarar as intenções.  

Diante disso me pergunto: tiveram a gentileza de declarar guerra, guerra santa, guerra civil a não evangélicos, a evangélicos que votam em Lula, a parte que discorda, politicamente da deles? 

O homem não pode por instinto, matar outro, por um celular. O homem por instinto não pode estuprar, ou assediar simplesmente, porque deseja. Tem regras que precisam ser claramente compartilhadas. O outro, ainda que adversário, inimigo precisa ser comunicado.

 

É este nível de violência que estamos vivenciando. Pessoas que querem participar do jogo, cujo objetivo não é vencer, derrotar o adversário e sim transformá-lo em inimigo. Eles carregam uma crença tácita e espúria de que jogos sem oponentes, sem adversários são melhores. Quando é reconhecidamente sabido que jogos sem igualdade de condições para os jogadores é quebra de regra. É invalidação do próprio jogo. Destruir, metralhar, executar, eliminar adversário não é democrático, republicano, cristão. É fascismo. É intolerância religiosa. É desumanidade. É barbárie.

Presos judeus, por serem judeus. 

 

Quando um pastor simula, divulga, propaga uma falsa intimação judicial do Supremo Tribunal Eleitoral, esse jogo não é mais divino, nem legal, nem constitucional. Espera-se que o adversário não tenha honra, palavra, mas nunca que essa quebra venha daqueles que pseudamente falam em nome de Deus.

André Valadão chafurda a Igreja da Lagoinha na lama. É um canalha, idolatra, sempre de homens. Ele já pode usar a carteirinha de canalha como diria Nélson Rodrigues. É, definitivamente, um Palhares.