É praticamente o sétimo
atendimento do bimestre em que o/a partilhante chega, querendo entender porquê
terminaram. Falam que se gostam, que se amam, mas tem alguma coisa que não os
deixa ficarem juntos. Escuto as histórias.
Faço a leitura
energética, isto é, organizo as informações que percebi da pessoa, da situação,
no campo físico, emocional, energético e
tendo observar qual a implicação da dimensão espiritual no meio disso tudo. Na
conversa com o/a partilhante, tento fazer o impossível: explicar para um
apaixonado que a sua vontade, no momento, não tem força de alteração da
realidade. Aqui é preciso uma parada.
Cada vez mais tenho
achado que sobrevalorizamos a vontade e o querer. No campo afetivo isso então é
demasiado, mas qual o problema? O problema é que isso aumenta consideravelmente
o nosso sofrimento. De certa forma, vontade e controle parece formar um par
conturbado e tumultuado. Como se estivéssemos dizendo: “eu quero, então eu
consigo!” Mas, isso esbarra na vontade do outro, no querer do outro. E esse controle
não temos. De modo que, você pode querer muito uma pessoa, mas se ela não te
quiser..! Você pode querer muito que a pessoa pare com o vício, mas isso não
está no campo volitivo apenas, tem mais coisas; especialmente, a vontade dos
outros. Assim, falar desse momento no qual a nossa vontade não é mais
determinante para uma ação é uma tarefa que requer carinho, atenção, mas que
não pode dar margens para falsas esperanças, contos vazios, histórias sem
sentido. É nesse campo, que entra o espiritual e a influência do espiritual. De
forma geral, é o espiritual que modula e regula os outros níveis, é ele também
que clareia e dá sentido aos outros campos.
I
Parceiros invisíveis é o
título de um livro de um padre, que ao fazer centenas de atendimentos de
casais, aborda os relacionamentos homem-mulher, numa perspectiva junguiana.
Nessa perspectiva, ele chama a anima e animus de cada um de nós de parceiros
invisíveis.
Para quem não sabe, anima
é como Jung denominou a parte feminina de cada homem e animus a parte masculina
de cada mulher. Todos nós possuiríamos assim essa outra parte, esse outro lado,
que se manifestaria, ou melhor, que perceberíamos manifestado em nossos
parceiros. Ou seja, nossas parcerias, representariam a projeção mais fidedigna
desses nossos parceiros invisíveis, e desconhecido da maioria de nós. Dá para
entender?
A pessoa com a qual nos
relacionamos refletiria, simbolizaria, a nossa parceira invisível. Essa
parceira(o) que não vemos em nós, que temos dificuldade em acessar
internamente, de dialogar e ouvir dentro de nós é melhor observada naqueles que
escolhemos, como parceiros. Pois bem, o inusitado na trama é que ao abordar
sobre anima e animus e explorar também o lado sombra das relações, o autor
descortina o lado invisível, mas agora na perspectiva espiritual, pelo menos é
assim que fazemos a leitura. Vamos por partes para irmos compreendendo e
integrando as informações.
II
É cada vez mais ponto
pacífico entre nós de que o invisível energético, psíquico existe. Sim, quando
nos relacionamos, achamos que diante de nós está apenas um outro, um ser único,
mas sabemos que esse outro trás para relação tudo o que ele é, que ela foi, que
ele será, que ela está sendo. Na relação levamos nossos pais, nossos irmãos,
nossa cultura, nossa vizinhança, nosso universo conosco. Quando nos despimos e
deitamos na cama, freudianamente, ainda estamos deitados com nossos pais. Para
alguns, nossos pais só ficam de fora das relações a partir do 2º casamento, no
primeiro, é quase uma repetição edipiana.
Energeticamente, lidamos
com maiores ou menores problemas com os parceiros invisíveis, sabemos que eles
estão lá, ou em nós. Sabemos que nossos hábitos, costumes fomentados em núcleo
familiar, numa dinâmica familiar se encontra em nós. Sabemos e por vezes
reconhecemos na fala de uma parceira visível a fala do seu pai, ou o
comportamento da sua avô, ou até mesmo a marca de outra relação, mas e
espiritualmente? Haveria a possibilidade de termos parceiros invisíveis que
conspirariam favoravelmente, ou contrariamente, algumas relações? Haveria a
possibilidade de termos parceiros invisíveis que não dão certo com o do outro e
possam atrapalhar a relação?
De fato, parece existir
esses tipos de parcerias. Diga-se mais, as grandes parcerias são as que se dão
em todos esses níveis. Elas se dão sem obstrução, como se todos os portais
estivessem abertos, ou mais precisamente, os caminhos. Uma boa relação parece
ser aquela na qual não apenas os parceiros se dão bem, como que os parceiros
invisíveis, sejam psíquicos, sejam energéticos, sejam espirituais também dão
certo. Quanto mais harmonioso essa relação, melhor.
Tentando responder a
pergunta acima, o que tem me chamado a atenção em todos os atendimentos citados
é que havia um componente espiritual que obstruía, dificultava, impedia,
inviabilizava o retorno. Na quase totalidade desses atendimentos, essa energia
estava relacionada a quem denominamos de EXUS. É difícil defini-los, já que
eles estão associados a todos desocupados, vigaristas, do plano astral. O
vigarista que morreu é chamado de exu, a bandida que desencarnou é chamada de
exu, o traficante morto se intitula exu. O que precisa ficar claro é que Exus
não são os vadios e desocupados da espiritualidade como muitos querem e por
vezes se autodenominam. Ou seja, não estamos chamando de exus, desencarnados
que estão dispostos a tudo e a qualquer coisa por um copo de cachaça e farofa
na encruzilhada. Exus são guardiões, vigias, no sentido mais preciso e exato do
termo. E, para ilustrar esse termo, os símbolos são importantes. Um dos símbolos
astrais dos Exus é o cão.
São cães que se educados,
adestrados servem ao seu dono, a sua casa, a sua família, aos seus, com lisura
e lealdade. Exu não perde a lealdade, não retira a lealdade, mas essa construção
é árdua. Um contrato de lealdade com Exu só é conquistado depois de muitas
provas conjuntas, aí ele se faz leal. É comum eles se virarem contra a gente,
quando não se acham suficientemente cuidados, respaldados. Nesse aspecto
visualizá-los como um cão e entendê-los como um cão é uma boa forma. Se esse
lado da guarda tem esse componente instintivo muito forte. Outra representação
muito forte que atribuo a eles é a de gênio da lâmpada.
Quem satisfaz nossos
desejos, atende as nossas vontades, nos coloca em direção e contato com aquilo
que desejamos são eles. Por isso é essencial tomar cuidado com o que pedimos,
porque eles não gozam dos mesmos compromissos morais que nós. Retomando o
aspecto lealdade, eles atendem as vontades e desejos dos seus donos.
Nos atendimentos, as
rupturas, os términos eram e estavam associados aos Exus. Não estou falando que
foi feito trabalho para afastar, separar uma pessoa da outra, estou falando que
um namorado, esposa, quebrou o contrato com a parceira, ou vive-versa e isso acarretou
rupturas no plano espiritual.
O que pude compreender é
que um relacionamento para acontecer envolve muitos parceiros e muitas
parcerias. Alguns envolvem empenho de palavra, a lealdade que falamos acima. Exu
funciona como avalista em muitos relacionamentos e por vezes pisamos na bola. Quando
isso ocorre, eles cortam o elo que unia os parceiros e as parcerias. Nas que vi
isso acontecendo não havia nada que pudesse ser feito, ser realizado. A vontade,
o desejo não eram mais imperativos, não tinham força de realização.
Sabe fera ferida? É igual.
Os Exus dialogam o mais profundamente, com essa parte nossa machucada, ferida,
que por mais que na superfície acreditamos estar bem, na essência, na
interioridade, tenhamos consciência ou não disso, está ferida. E, não adianta
falar em perdão, essa ferida precisa ser tratada, mas Exu nesse aspecto é
bicho, animal, fera.
III
Retomando, a pergunta
inicial: se nos gostamos, por que nosso relacionamento acabou?
Porque, não depende
simplesmente do seu gostar e da sua vontade. Há escolhas que fazemos que afetam
a confiança dos parceiros invisíveis. Por mais que dizemos concordar, por mais
que dizemos aceitar, há forças em nós, há aspectos em nós que jamais perdoarão
esse ato. Muitas vezes nem temos consciência disso, outras vezes só sabemos devido
a dor que a lembrança nos causa. De toda forma, o que fica claro é que essa
ferida aberta precisa de cura e é bobagem acreditar que o fato de tratar da
ferida provocada reata a relação. Muitas vezes não. Muitas vezes a única
possibilidade de reatarmos a relação é seguirmos em frente, é darmos tempo ao
tempo, é aceitarmos que a nossa vontade precisa perder o orgulho. O orgulho
entender que não tem controle. O controle compreender que nem sobre nós damos
conta da vida, que é fundamental respeitarmos e sermos leais a nós mesmos e aos
nossos parceiros, sejam visíveis ou invisíveis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário