As
imagens chocam. Uma barragem de dejetos se rompe e avassala um distrito, muitas
cidades, toda uma região, um ecossistema. De forma leiga tendemos a acreditar
que esse foi o menor dos males, mas dias depois jornais noticiam que a
expectativa é de que os dejetos percorram quilômetros e chegue ao estado do
Espirito Santo. É mais do que assustador é avassalador.
Em
meio a noticias fico (nós leigos) querendo compreender: se é assim tão
perigoso, quais as normas de segurança para a população? Ensina-se para onde se
corre nas escolas, nas fábricas? É comum vermos em filmes americanos
treinamentos para incêndio. Sabe-se que no Japão há treinamentos para
terremotos. Ensina-se para onde se corre e o que se faz. No distrito de Mariana
não tinha nem sirene. Não teve aquele cuidado básico de se ensinar para onde se
corre, o que se faz. O mais louco, não há nenhuma medida de contenção. Nenhum
plano emergencial.
A
engenharia hoje consegue planejar o preço que se gasta de um centímetro cubo de
água, mas a Samarco, aparentemente, não tinha nenhum plano emergencial. É como
se eles tivessem a certeza de que nada, nunca aconteceria. Ou uma certeza pior,
a de se acontecer, não daria nada para eles. A certeza da impunidade. Insinuo
isso, porque essa é uma falha de engenharia que não se tem há no mínimo três
décadas. Digo não o acidente que pode vir a acontecer, mas a inabilidade de remediar
a catástrofe, de assistir os vitimados.
Uma
barragem é aos meus olhos, a partir de agora, análogo a uma
usina nuclear. Necessita de todas as normas de segurança. Necessita de
toda ordem de treinamento e disciplina não apenas para evitar acidentes, mas
especialmente está pronto e alerta para responder ao mesmo. Se eles que lidam
diretamente com a contenção dos dejetos não sabem o que fazer quem irá saber?
Eu? A população? O Chapolin Colorado? O Estado como querem alguns? O que
fez a engenharia, a física, a ciência de modo geral um saber tão mítico não é a
sua capacidade de acerto e sim a sua margem de erro.
É
dever moral, contratual de quem explora os recursos naturais saber que já se
extraiu tanto que não se tem mais condições nem de armazenamento. É dever moral
de quem explora esses recursos ser capaz de medidas mínimas de segurança e
proteção ambiental. É obrigação deles saberem o que fazer e como fazer no menor
tempo possível. É um absurdo um acidente ter acontecido e ir destruindo o meio
ambiente pelo caminho afora sem medidas protetivas aos seres humanos e ao meio
ambiente. Em qualquer lugar do mundo isso seria crime contra a humanidade.
II
Tempos atrás
conversava com uma amada sobre a mineração. A crise na qual ela se encontra. A
forma pouco clara que muitas obtém lucro.
Após
essa conversava me veio em ‘sonho’ o livro de Eduardo Galeano: “As veias
abertas da América Latina” e junto a isso os seres, as formas, as energias que
ficam por trás dessa manipulação de recursos naturais. Seres que na ocasião vi
como sombrias, maléficas, exploradoras da força e do trabalho humano. Eram
forças que se alimentavam da desvitalização não apenas dos corpos como que da
própria Terra. Quanto mais se suga, quanto mais se retira, mais poderosos eles
ficam. O poder deles vem da capacidade de gerar miséria, de produzir sofrimento.
Mentalmente fui
vendo as minas na África, na América Latina e como que essa energia de
exploração, de danação, de ganância envolve praticamente toda concessão mineral
dada no planeta. É avassalador.
Ainda nessa
direção energética não pude deixar de associar as empreiteiras nacionais e
internacionais, especialmente, no que tange a operação Lava Jato.
Deve
ser interessante acreditar que prendendo os donos de algumas se corrigiu a marcha
histórica e ética do nosso país. Deve ser bacana acreditar que as praticas
corruptas e nocivas executadas por eles começaram na administração petista.
Mas, vendo essas forças, o que compreendi é que elas devoram a tudo, a todos e
depois jogam fora. Deixam apenas as carcaças, os ossos. Todo o restante, eles
sugam, com volúpia, luxuria, de maneira esnobe e sofisticada. Pobre de quem
acredita que haverá riqueza e prosperidade lidando com essas forças.
Aqui em Minas as prefeituras tem vendido
sua qualidade de vida para obterem esses recursos glamorosos dos bilhões de
dólares, de reais. O prefeito de Mariana já disse: “ sem eles quebramos!!!” E o
louco é: com eles morremos. É triste e lama-tável que não consigamos fazer
política sem pontuarmos todas as ações sob a perspectiva econômica. É uma pena
que pessoas, estados, países tenham se tornado refém do capital, que agora,
definitivamente, compra tudo, até a qualidade de vida.
III
Mas, coloco isso para
pensar politica e energeticamente. Todos sabem da importância de Minas para a
ordem das coisas. Foi a extração mineral de Ouro Preto que enriqueceu Portugal
e permitiu a revolução industrial inglesa. É ainda de terras mineiras que saem
riquezas para se pensar novos desenhos para humanidade.
E, quando vemos o mar de lama tomando tudo. É interessante lançar um olhar simbólico e perguntar o que os governantes mineiros tem feito pelo e para o país? Que tipo de liderança e valores estamos promovendo? Temos dois senadores que um deles está diretamente ligado ao que se denominou mensalão mineiro. Para muitos a forma embrionária com que Marcos Valério conseguiu operar o mensalão da base aliada do governo.
Nessa direção,
temos outro senador que enquanto governador concedeu todas as regalias e
possibilidades de destruição ambiental para as mineradoras e empreiteiras. Não
que isso seja crime, não é, pelo contrário, sinaliza desenvolvimento. No
entanto, toda a discussão é: que desenvolvimento queremos e a que custo? Os
ambientalistas mineiros tem denunciado os impactos destrutivos dessa política
na qual o poder econômico coloniza todo o mundo da vida. Esses ambientalistas
são vozes roucas no meio do deserto, não são escutados. Agora mesmo, o atual
governo de Minas deu isenção fiscal para a exploração do Nióbio em Araxá. É um
preço muito caro, muito alto para ser de 'graça'.
Nessa
tristeza está o povo mineiro, assolado pelo mar de lama que reflete bem o
momento trágico, de traição que muitos tem sentido. Na verdade, assinala
as forças escusas, escabrosas, escondidas vindo à superfície, tomando a
consciência das pessoas envolvidas diretamente ou não. É o mar de lama. Agora
literalmente tomando conta dos reservatórios de água, poluindo os rios.
Contaminando os leitos dos rios. E nem falamos dos lixões. O que esperamos é que
nossos representantes legais e cada um de nós decida a que força seguem.
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